domingo, 27 de junho de 2021

 

O  DNA

 

Desde muito jovem Gil se interessava por “brincar” de químico. O seu pai, engenheiro químico conceituado, que falecera quando ele tinha só oito anos, um dia deu-lhe de presente uma caixa, cheia de tubos de ensaio, placas e alguns pós e reagentes inofensivos para que uma criança pudesse começar a brincar de “analista”!

Dois anos depois, a família, agora só a mãe, Gil com dez e uma irmã de oito anos, Manuela, tinha suficientes recursos, mas com a falta do dono da casa, mudou-se para um andar mais simples, em Lisboa, onde nunca faltou, pelo menos, uma empregada, que pudesse fazer quase tudo.

Fizeram saber pelas terras das suas origens, na Beira Alta, que precisavam de empregada e não tardou a que se apresentasse uma jovem, simpática, filha de gente humilde, a Conceição, nos seus saudáveis e rijos vinte anos.

Gil entrara no liceu, aluno responsável, sempre interessado em seguir as pisadas do pai, crescia em “físico e sabedoria”, pesquisava cada vez mais o mundo quase ilimitado das químicas, fazia experiências na cozinha de casa, sem descuidar de exercícios físicos que lhe davam saúde, como futebol e outros jogos em que tinha sempre lugar garantido, até porque tudo levava a sério..

Ao fim de alguns anos, poucos, a mãe da família, vendo o bom comportamento, simplicidade e bons modos da empregada, decidiu, de acordo com os filhos, que não estava cero que ela não compartilhasse com eles as refeições, à mesa. De entrada Conceição sentiu-se constrangida, mas também não tardou a sentir-se integrada naquela família.

Gil foi crescendo. Aos dezesseis, um rapagão, boa pinta, pleno inverno, frio, acabou cansado e suado de um jogo duro e, como sempre voltou a pé para casa. Apanha uma grande chuvada, entrou em casa tiritando de frio e com o nariz a mostrar que, no mínimo se teria constipado.

Jantou bem, agasalhou-se e foi direto para a cama. De manhã estava com um pouco de febre, o tempo não melhorara e deixou-se ficar em casa. Tomou um qualquer analgésico que lhe deu para disfarçar a febre, mas quando chegou ao fim do dia parecia que a constipação se transformara numa gripe e forte. A febre subiu bem e dispôs-se a no dia seguinte ir ao hospital.

A Conceição atenta ao estado do “menino”, levava-lhe ao quarto um chá quente, com mel, obrigava-o a tirar a temperatura, e via-se que estava preocupada, assim com todos naquela casa.

A meio da noite, já todos a dormir, levantou-se para ver como estava o doentinho. Muito quente.

Conceição tinha visto um filme em que um cowboy chega a uma propriedade lá nos cafundós do Far-Oeste americano, cheio de febre, quase a cair do cavalo, e deram-lhe guarida. Durante a noite, a filha dos fazendeiros “apiedou-se” do doente e para o “ajudar” meteu-se na cama com ele para o aquecer. De manhã o cowboy estava quase novo! E o namoro com a bonitona (creio que era a famosa CC) começou aí.

Conceição assegurou-se que a Manuela e mãe estavam bem nos braços de Morfeu, despiu o roupão e só de camisola (a camisa de noite) de tecido fino meteu-se na cama do gripado para o aquecer.

Gil acordou, sentiu aquele corpo quente a abraçá-lo e começou logo a perceber que algo de novo estava acontecendo com ele! Ambos foram se ajeitando até que o, há meia hora, impensável, acontecesse, sem que algum dissesse uma única palavra! E assim estiveram até de madrugada, quando Conceição se retirou, meio envergonhada, antes que a “patroa’ e a filha acordassem. Antes de se afastar um longo beijo selou aquele encontro.

Gil ficou na cama, adormeceu sorrindo e só acordou por volta do meio-dia... sem febre. Passou a noite a sonhar com algo que lhe parecia o paraíso de Alá e esqueceu até a química dos tubos de ensaio. A química com que agora se estreava era muito mais interessante do que reagentes, ácidos ou alcalinos, e ficou a pensar que aquele “laboratório” era mais do que desejável. Tudo o que se passara e mais aquele beijo deixou-os ligados, mas ultrapassar essa situação era difícil para ambos.

Nesse dia, à cautela, Gil ainda não saiu, deixou-se andar pela casa sempre com um olho revirado para o lado mais interessante. Conceição um pouco cabisbaixa não queria encará-lo. Tinha sido loucura. Mas loucura que desejava também repetir.

Gil deitou-se cedo. Pediu à Conceição que, quando pudesse lhe levasse um chá bem quente.

O chá só chegou quase à meia noite. Ninguém o bebeu. Havia outros ensaios daquela “química” da véspera que tinham que se aprimorar. E foram.

Não podia ser todos os dias, mas a festa foi-se prolongando, com intervalos mais ou menos regulares, durante uns quatro anos. Sem o dizerem, sabiam que se amavam.

Conceição, apesar de mandar algum dinheiro aos pais, a verdade é que tantos anos sem gastar, tinha conseguido juntar um razoável pecúlio. Foi visitar os pais lá à terra onde encontrou um antigo colega da escola primária, Sebastião, agora responsável pela manutenção do equipamento duma grande adega. Quando do encontrou, viu-se que o seu coração havia disparado! Ela percebeu, e sentiu ali um futuro sossegado. Sebastião partiu à procura e encontrou trabalho, com boa remuneração, em Lisboa. Não tardou o namoro e logo casaram.  

Gil já na Universidade, engenharia, ofereceu-se para padrinho do casamento. Ele e a irmã bancaram o custo da modesta festa. Dez anos de uma pessoa dedicada (e como!), quase da família, merecia. 

Conceição, vestida de noiva, ia bonita, elegante. Uma bela noiva.

Pouco antes de cerimónia, um ou dois dias... a comovente e enérgica despedida do “padrinho e afilhada”, com a certeza que novos encontros nunca mais iam acontecer. Gil jurou que jamais a perturbaria.

Cerca de um ano passado Conceição foi visitar a família amiga, e mostrar o filhote acabado de nascer! Mais uma vez o quase senhor engenheiro se ofereceu para apadrinhar a criança. E prometeu que o havia de amparar até ele entrar numa universidade, o que foi grande alegria para todos.

Pretendentes a ocupar o lado vago da cama do engenheiro, surgiam com frequência, mas só algumas experimentavam aquele colchão, porque a maioria delas não passava dos primeiros testes de conversa.

Gil mantinha-se solteiro, estava bem assim, apesar de não esquecer a “sua” Conceição, foi sendo promovido até alcançar o lugar de engenheiro chefe.

Não esquecia o afilhado. Ia muitas vezes buscá-lo a casa dos pais, passeava com ele, mostrava-lhe a fábrica, o que encantava o pequeno, e incutindo naquela jovem cabecinha que a engenharia química era um bom projeto de vida.

Tal como seu pai lhe tinha feito, logo que viu que podiam ter interesse, ia dando uns brinquedos temáticos, e brincavam os dois juntos.

Era grande a afeição; o pequeno João, foi crescendo, o padrinho, como afirmara, subsidiava todas as despesas de estudos, até que viu o garoto entrar também na universidade.

Tão juntos andaram sempre desde que ele era bem pequenino que as pessoas pensavam que seria seu sobrinho ou até filho. Havia até quem os achasse parecidos!

João, engenheiro, foi trabalhar na mesma empresa que o padrinho. Um dia Gil convenceu-o de que era bom fazer um check-up de saúde. Melhor prevenir do que remediar. Quando foram fazer as análises, sem que o afilhado notasse, mandou também fazer o exame de DNA dos dois.

Poucos dias depois vem o resultado. De saúde o jovem engenheiro estava em perfeitas condições. Jovem, forte, boa presença, perfeito.

E o DNA? Gil desconfiava do resultado! E ali estava. João era seu filho! Agora, o que fazer? NADA.

Ficou chocado. Não queria que tivesse sido assim. Não podia dizer a ninguém, nem aos seus, nem aos pais do João. Ia estragar a felicidade em que vivia o casal. Muito menos ao seu “filho”.

Gil, com cinquenta anos, principal sócio da empresa onde começara a sua vida profissional, já tinha como coadjutor o novo engenheiro, e carregava na consciência o peso de que não sabia como livrar-se.

Um dia uma notícia triste: Sebastião, nas suas deslocações pelo interior, dando assistência técnica a diversas empresas, sofreu um terrível acidente. Um caminhão descontrolado, numa curva, embateu violentamente de frente no seu carro. Sebastião teve morte quase imediata.

Gil e a família fizeram o que foi possível para ampararem a Conceição e o filho. Mas na cabeça de Gil um novo tormento ocupava. Visitava assiduamente a viúva! Deixou passar algum tempo e quando viu que não era mal recebida, fez a proposta:

- Conceição. Nós nos amámos. Na altura eu não tinha meios de criar uma família e creio que seria um choque social, tanto para o meu quanto para o teu lado. Mas eu jamais te esqueci. Fiquei feliz quando encontraste um homem bom que te deu uma família. Agora, que somos ambos livres venho propor-te algo muito sério. Quero casar contigo. Não me preocupa que haja uma diferença de idade entre nós. Estamos suficientemente maduros para podermos tomar uma decisão sem nos precipitarmos. Nunca casei, apesar de não faltarem pretendentes. Mas era em ti que eu pensava. E se com saúde teremos ainda muito tempo pela frente.

Conceição ficou como que paralisada. A verdade é que ela também não o esquecera apesar de ter sido sempre esposa e mãe exemplar. Pediu um tempo para pensar. E teria que ouvir o filho.

Quando, por fim se decidiu, e disse o tão esperado “sim”, Gil chamou o afilhado, para na sua frente “oficializar” o pedido de casamento. João disse à mãe que o padrinho toda a vida se comportara como pai dele, que achava bem, mas que era assunto que só a ela cabia decidir.

Reunidos, havia agora que abrir o jogo todo!

E contou o conhecimento que tivera com o resultado do exame de sangue:

- João, tenho pela tua mãe a maior consideração e saudade. Guardei, até hoje, por muitos anos o que só agora vos posso dizer. Nunca o disse a ninguém. Nem a ela. O exame de DNA, que sem tu saberes fizemos os dois, quando te disse que devias fazer um check-up, mostrou que tu eras meu filho. Não penses, NUNCA, mal da tua mãe. Ela, na sua modéstia, foi sempre uma senhora. Depois que casou nunca lhe faltei ao respeito. Nem antes. Só que quando ela trabalhou em minha casa, ambos jovens... aconteceu., e sei que nos amávamos. Por isso nunca casei. Apadrinhei, por retribuição do tanto tempo que ela esteve conosco, o seu casamento e quando nasceste, sem suspeitar de nada, também quis ser teu padrinho porque sabia que teria condições de te dar toda a educação possível.

Tu Conceição, talvez suspeitasses, mas sempre te portaste com grande dignidade. Grande senhora.

Ela devia saber, ou desconfiar, sem nunca o ter denunciado, quem era o pai daquele filho querido.

- Peço-vos que me perdoeis se vos magoo. Talvez tivesse sido preferível que este segredo fosse comigo para a terra. Ao mesmo tempo também pensei que a verdade, mesmo quando dói deve ser posta na mesa.

Mas agora que a tua mãe aceitou em se unir a mim, a nossa família está completa. Recordo, com saudade e amizade o Sebastião, que sempre muito considerei. Tenho a certeza que ele teve uma vida de família tranquila. Mas a vida continua, e o pedido que fiz não envolve a mínima hipótese desrespeito.

Sei que com tudo o que se tem passado podemos ainda ser felizes, mais agora com a vantagem dos netos, os teus novos filhos, João, de quem tanto gosto. Vou poder sentar os netos no colo e acarinhá-los sem vergonha.

Andei tão preocupado que cheguei um dia a pensar ir embora. Não sabia para onde. Desaparecer. O peso que carreguei sozinho tantos anos foi difícil muito pesado.

João ouviu tudo com imenso espanto. Não sabia que mais dizer, mas atreveu-se a fazer uma pergunta:

- Se eu não sou filho do Sebastião, deveria trocar de nome!?

- Não João. Deixa o teu pai descansar em paz. Não vejo vantagem nenhuma nisso. Podes, se assim o entenderes acrescentar o meu sobrenome aos teus filhos. Um dia, talvez, te perguntem porquê. Talvez.

A seguir disse que, logo que casassem, ia fazer um a dois meses de férias. Viajar, para lugares tranquilos, estarem juntos, muito juntos, depois de mais trinta anos separados. No regresso iriam curtir e ajudar a cuidar dos netos e, se Deus quiser, esperar bisnetos! João sabia como assumir o trabalho e a administração da empresa.

E mais, já tinha feito, há um bom tempo, em cartório, a transmissão das suas cotas para o seu filho João. Agora só faltava reconhecê-lo igualmente como filho e herdeiro.

No casamento, que não demorou, pouca gente presente. A irmã Manuela, segredou ao ouvido do irmão:

- Eu sempre desconfiei que entre vós havia algo muito sério! Era difícil disfarçar! Penso até que a nossa mãe também o deve ter percebido, mas como a Conceição fazia parte da família, nunca disse uma só palavra.

 

Quem espera sempre alcança!

 

22/06/21

segunda-feira, 21 de junho de 2021

 

A Igreja pode Proibir ?

 

Em 2016 escrevi este texto que recebeu uma enxurrada de insultos por parte de um monge beneditino! Um dos remanescentes da Santíssima Inquisição. Mas valeu. Deu para rir. Aqui vai a “conversa” toda além de alguns comentários de amigos. Um pouco longo, mas creio que com interesse.

 

Agora vamos ao Vaticano, e começo por reafirmar que sou fã do Papa Francisco e procuro seguir, tanto quanto a minha fraqueza mo permite, a palavra de Cristo.

Mas algo de estranho se passa no Reino da Dinamarca, perdão no Reino do Vaticano, quando a

Igreja Católica proíbe fiéis de jogar as cinzas dos mortos ou guardá-las em casa.

O descumprimento da medida pode impedir funeral do falecido!

A Igreja Católica ainda prefere enterrar os mortos, mas quando — por razões de higiene ou por vontade expressa do finado — se optar pela cremação, proíbe (!) a partir desta terça-feira (em 2016) , que as cinzas sejam espalhadas, distribuídas entre os familiares ou conservadas em casa. Segundo um documento escrito pela Congregação para a Doutrina da Fé – famigerado e maldito para sempre, o antigo Santo Oficio - e assinado pelo Papa Francisco, a proibição se destina a evitar qualquer “mal-entendido panteísta, naturalista ou niilista”.

O ultraconservador líder da Congregação, o cardeal alemão Gerhard Müller, chegou a dizer durante a apresentação do documento: “Os mortos não são de propriedade da família, são filhos de Deus, fazem parte de Deus e esperam em um campo santo sua ressurreição”.

Que terrível engano ou presunção. Quem pensa o cardeal Müller que é? O próprio Deus? Torquemada? Ou já está senil? Deve ter feito contato, profundo, com o seu parente Alzheimer!

Deus cedeu-nos um corpo, corrupto, corrompível, para aí depositar o seu Espírito. O Espírito pertence a Deus, o corpo às cinzas. Nós somos pó, viemos do pó e ao pó retornaremos.

O documento aprovado, intitulado Instrução Ad resurgendum cum Christo e que substitui um anterior de 1963, adverte que “não é permitida a dispersão das cinzas no ar, na terra ou na água ou em qualquer outra forma, ou a transformação das cinzas em lembranças comemorativas, peças de joias ou outros artigos” (1). E o documento vai mais longe: “No caso em que o falecido tenha sido submetido à cremação e ocorra a dispersão de suas cinzas na natureza por razões contrárias à fé cristã (2), seu funeral será negado”. A Congregação para a Doutrina da Fé justifica a elaboração de um documento tão drástico como reação às novas práticas na sepultura e na cremação “contrárias à fé da Igreja”.

Segundo esta Congregação, as cinzas devem ser mantidas “como regra geral, em um lugar sagrado, ou seja, no cemitério, ou, se for o caso, em uma igreja ou em uma área especialmente dedicada para tal fim por autoridade eclesiástica competente”. Embora a Igreja admita que “não vê razões doutrinais” para proibir a cremação - “a cremação do cadáver não toca a alma e não impede a onipotência divina de ressuscitar o corpo” (3) -, o secretário da Comissão Teológica Internacional, Serge-Thomas Bonino, a descreveu como “algo brutal”, por se tratar de “um processo que não é natural, no qual intervém a técnica, e que também não permite que pessoas próximas se acostumem com a falta de um ente querido”.

Parece estranho que o Papa Francisco tenha pactuado com tamanho absurdo.

Onde assinalado com (1), a frase parece outra piada. Aliás de muito mau gosto. Desde os primórdios a Igreja tem feito milhões na venda de relicários, 99,999% falsos, como um pedaço do lenho da Cruz, que todos juntos devem ter alcançado milhares de toneladas de madeira, ossos de alguns santos, que tanto poderiam ser do santo como de um cachorro ou de uma vaca, pedacinhos da roupa usada por alguma santa, que ninguém sabe se ela a usou ou se foram comprados a metro num tecelão, e muitos desses relicários as pessoas usavam e ainda usam como uma jóia, pendurada no pescoço ou no pulso, numa caixa, num altar, etc. E agora vem dizer que não pode! Esgotou o estoque? Ou esqueceu de se desculpar, perante os incautos, sobre as toneladas de dinheiro que através dos séculos embolsou com essas falsidades?

No ponto (2) o que será que os Alzheimers do Vaticano consideram “dispersar as cinzas na natureza por razões contrárias à fé da Igreja? Para já a Igreja não tem fé. Quem tem fé ou pode tê-la são os fiéis, e não há igreja nenhuma no mundo, nem haverá, que possa impor uma fé. Fé não se adquire como um relicário. Nem o relicário protege dos ataques e tentações do demo.

E acrescenta que pode negar o funeral. Absurdo, e crime contra a consciência e fé de cada um. Além disso o que será o funeral de cinzas, e melhor, de cinzas dispersadas no ar?

Eu já vivi este problema. Não perdi a fé em Cristo, mas abomino a hierarquia que se julga ainda com direito de queimar qualquer Joana d’Arc ou Jacques de Molay! O que terão feito com as suas cinzas?

No ponto (3) vem um choradinho que hoje já só e aceite por... por quem?

A ressurreição dos mortos, queimados, cinzas espalhadas ou não, o que eventualmente, um dia, “ressuscitará” será o Espírito que se unirá ao TODO e NADA. Nada de corpos. Do pó viestes...

Por fim o senhor Bonino, descreveu a cremação como “algo brutal”, por se tratar de “um processo que não é natural, no qual intervém a técnica, e que não permite que pessoas próximas se acostumem com a falta de um ente querido”.

O tal Bonino acha que a cremação é algo brutal, que não é natural, onde intervém a técnica, etc. Seria bom que ele se explicasse melhor, dizendo qual técnica usou a Inquisição, na fogueira da Joana d’Arc e de milhares e milhares de outras e outros infelizes, que tiveram, ou não, a coragem de não dizerem amém, às ideias da Igreja assistidas e aplaudidas por reis, cardeais, bispos e babacas em geral.

Nunca imaginei que o pensamento medieval continuasse a imperar no Vaticano e que obrigasse o bom Papa a assinar absurdos.

Seria melhor que o cardeal Alzheimer e o secretário Bonino respeitassem o luto de cada um.

Não é por dispersar as cinzas que vamos esquecer os entes queridos. Eu sei bem disso.

Jamais seria capaz de erigir um Mausoléu em mármore com esculturas de Michelangelo, para depositar o corpo de qualquer dos meus entes mais queridos, só para exibir perante a sociedade o meu, imaginário, padrão financeiro.

Papa Francisco, a minha consideração por si não diminuiu. Mas deixou-me triste.

Pior, as igrejas dissidentes vão dar risada.

 

27/10/2016

 

Comentários:

 

As cinzas de meu pai esperaram que eu chegasse da Europa para que eu as espalhasse ao redor da casa dele na fazenda...e as de mamãe foram lançadas no mar da pedra do arpoador...obedecendo vontade dela...a igreja católica, tão progressista depois da chegada do Francisquinho, meu primo, está pisando na bola !!!!!!!!!!!!!!!!!! 

Ivan

 

Francisco,

Por estranho que pareça, concordo com esta do Vaticano.

Não com os argumentos que sustentam a decisão vaticana. E, vá lá, não haver ameaça de excomunhão já é um enorme progresso.

É evidente que a hierarquia eclesiástica (e não a Igreja), desde sempre (ou quase), quis impor a ideia de que é ela - e só ela - o caminho para os Fins-dos-Tempos e a Ressureição. Mas, não é isso mesmo que fazem os Governos (quando se confundem com o Estado que representam)? Ou a burocracia da União Europeia (quando se refere a ela própria como sendo a Europa)?

Agora, porque concordo com o Vaticano, não sendo eu católico praticante:

º Porque casos caricatos que, por cá e do m/conhecimento, me parece configuram grande desrespeito com as cinzas e, acima de tudo, a memória dos mortos: cinzas guardadas em latas de bolachas; cinzas esquecidas dentro de frigoríficos; cinzas espalhadas ao vento que vão cair sobre os que assistem ao acto, ou os simples circunstantes que nada têm a ver com isso, e que provocam uma generalizada sinfonia de espirros, etc. Não me admiraria que, dentro de anos, com o render das gerações, alguns dos novos residentes das casas venham a deparar-se com um pó em lata sem rótulo e que acaba no lixo.

º Acresce a segurança. O enterramento permite a reconstituição de histórias e episódios até muitos séculos depois do falecimento - e, com isso, detectar crimes, identificar criminosos e, principalmente, reabilitar inocentes. A cremação torna estas reconstituições mais difíceis, mas não as impossibilita de todo, excepção feita a sinais de agressão. Como esclarecer dúvidas sobre as causas de uma morte, quando as cinzas tenham sido dispersadas pela Natureza? Nos tempos de chumbo de Al Capone&Cia, as vítimas eram "despachadas" em blocos de cimento, ora usados para alicerçar edifícios, ora lançados para o fundo do mar. Mas a reconstituição dos factos, ainda que improvável, era possível. Houvesse então cremação e a livre disposição das cinzas e estou convencido que máfias, camorras e que tais teriam uma vida mais despreocupada.

º Mas a razão principal é o respeito pelos mortos. Nada garante que, uma vez entregues as cinzas à família do de cujus (esta é boa!), elas sejam devidamente preservadas. No enterramento, nos cemitérios, é toda a comunidade, presente e futuro, que assume a obrigação de delas cuidar (no caso, em Portugal são as Juntas de Freguesia). Agora, quem cuida das cinzas que não sejam devolvidas à Natureza com o devido respeito, que fiquem esquecidas numa prateleira da arrecadação? E como não confundi-las com as cinzas de uma lareira?

Abraço

APM 

Meu amigo

Ter que separar cinzas ou ossos de crentes, judeus e muçulmanos, não será uma ofensa maior?

Como sempre houve gente besta, e parece que é espécie que progride mais rápido do que o homo sapiens, sempre haverá quem queira guardar o cadáver em criogenia, o que me parece pior do que guardar as cinzas em latas de biscoitos.

O que me parece absurdo é a imposição: “a igreja proíbe!” É piada.

Quem tem respeito pelos mortos – e pelos vivos – vai sempre respeitar, cinzas, ossos, o que for.

O que eu não engulo é a ordem inquisitorial: É Proibido!

São estes alzeimeirados que ajudam a descrer na Igreja, que podia recomendar, aconselhar, mas jamais proibir. Pode, e talvez deva ser recomendado, e é só.

Qual o castigo ou a multa para o descumprimento da absurda ordem?

Não gosto destas imposições, que não afetam a minha linha de pensamento em Cristo. Mas que é um absurdo...é.

Um abraço

Francisco,

Recordo-lhe a fábula da rã, do lacrau e do fio de água que este queria atravessar, mas não sabia nadar.

Convenceu a rã a levá-lo às cavalitas com promessas e juras de que não lhe faria mal.

A meio do caminho, pimba! aguilhoada na rã.

Enquanto se finava com o veneno, arrastando o lacrau para um fundo do ribeirito, perguntou a pobre rã: Porquê, ó lacrau?

Responde-lhe este, entre duas golfadas de água: Que queres, filha? É genético!

É o que acontece com a hierarquia da Igreja Católica - não com a Igreja Católica. Está-lhe no DNA.

Abraço

APM

 

Esta foi a minha primeira leitura do dia. Gostei e foquei-me, especialmente, na cremação. Também penso que esta opção em nada contraria a lei de Deus, pois a alma não é cremada - pertence a Deus.

Lurdes

 

Estou consigo não há dúvida que a Igreja é feita por homens que bem podiam estar calados...; vale-nos e agradecemos o Papa que temos e o nosso Deus que é PAI.

Beijo

Bécas 

 

Creio que vão achar graça a esta troca de.... conceitos.

Comecem por ler de baixo para cima.

Quem me escreve é um dos padres do Mosteiro onde eu estive há exatos quatro anos. Uma comunidade que não gosta do Papa, venera Monseigneur Marcel Lefebvre, que votou contra a abertura da Igreja no Concílio Vaticano II, e continuam a celebrar missa em latim e de costas para os fiéis !

Quase fui excomungado... mas não deixei de ser chamado de herege, estúpido, pagão, estulto, bobo, soberbo, e ainda outras “amabilidades”!! E como me “manda” estudar mais... chama-me de inculto, burro, etc. e “soltador de excrementos”! Maravilha.

Mas leiam que até vão achar graça.

Como é óbvio não lhes escrevi mais. Sigo o sábio princípio que diz haver três assuntos que não se discutem: futebol, política e religião.

Mas haveria muito com que dar uma surra no tal monge, que me atira à cara com os mandamentos da Santa Madre Igreja, eles, que dizem mal do Papa a quem não obedecem!

 

De: Mosteiro da Santa Cruz [mailto:mostsantacruz@gmail.com]
sábado, 29 de outubro de 2016 21:53
 

Sr Francisco,

Minha mãe sempre ensinou-me a respeitar e reverenciar os anciãos. Todavia, não sei se poderei fazê-lo como convém neste comentário.

É extremamente espantoso como uma pessoa com talento para escrever (quanto ao uso das palavras) e já numa idade da qual dever-se-ia deduzir certa sabedoria e, mais ainda, por dizer-se católica, possa ao mesmo tempo demonstrar tanta estultícia, escrevendo tantas bobagens, que nada mais são que uma repetição das calúnias muito mal elaboradas contra a Santa Igreja. Tais asneiras não se poderiam esperar senão de hereges, mas não de qualquer herege, e sim dos mais estúpidos, que não se dão ao trabalho de estudar o mínimo sobre qualquer assunto que seja, antes de comentá-lo.

Talvez, ao contrário, não seja coisa apenas de um incauto, mas de um SOBERBO que, para demonstrar um conhecimento que não tem e fazer sucesso entre os tolos, profere toda sorte de excremento contra aquela que lhe deu à luz para a vida sobrenatural da graça (pelo batismo), que o nutriu (com o Ssmo. Sacramento do Altar, Verdadeiro Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo), e que está disposta a resgatá-lo (pelo sacramento da penitência) para poder, SIM, UM DIA RESSUSCITAR, para que o seu corpo, juntamente com a sua alma, receba ou o prêmio ou o castigo por toda a eternidade, segundo as suas obras (Romanos 2,6). Sim, pois o que o senhor faz, não o faz apenas sua alma, nem tampouco o seu corpo só, mas quem o faz é todo o ser humano que não é simples, mas composto de matéria e espírito (isto mesmo, com "e" minúsculo, pois com "e" maiúsculo é só o Espírito Santo, que é Deus. Digo-o para o caso de o senhor ter saltado está lição da doutrina cristã).

- "Credo in (...)CARNIS resurrectionem" (XI Art. do Credo Apostólico, ou Símbolo dos Apóstolos, a mais antiga

profissão de Fé GENUINAMENTE cristã)

- Profecia de Ezequiel sobre a Ressurreição da carne: "Eis o que vos declara o Senhor Javé: vou fazer reentrar em vós o sopro da vida para vos fazer reviver. Porei em vós músculos, farei vir carne sobre vós, cobrir-vos-ei de pele; depois farei entrar em vós o sopro da vida, a fim de que revivais. E sabereis assim que eu sou o Senhor." (Ez. XXXVII,5-6)

Sagrada Escritura, bem como a Tradição da Igreja, que são as únicas fontes de Fé dos verdadeiros cristãos (do contrário não haveria uma Fé verdadeira, mas uma Fé ao bel prazer de cada um) está repleta de provas desta verdade. Só um pagão para negar isto. Aliás, esta verdade já era crida até por certos pagãos, como por exemplo os egípcios, que se procuravam preservar seus corpos após a morte, por crerem em sua ressurreição.

A negação da Ressurreição nada mais é que gnose, isto mesmo, uma gnose barata que pretende engar a cristãos mal instruídos em sua fé.

Quanto ao monte de baboseiras que o senhor disse sobre a Igreja ter vendido falsas relíquias, mostre-me uma prova que seja, um documentozinho que seja, que possa respaldar essa afirmação sua. Quanto a ela ter queimado milhares e milhares, mostre-me uma única prova disso.

Desculpe-me mais uma vez, mas o senhor não conhece absolutamente NADA, nem da Fé Cristã nem de História Eclesiástica. Só repete o que professorzinhos de diplomas comprados e historiadores amargurados dizem contra a Esposa Imaculada de Cristo (São Paulo aos Efésios V, 25-27.32), Coluna e Fundamento da Verdade (São Paulo em I Timóteo III,15). Tais calúnias, porém, de nada valem, pois as portas do Inferno jamais prevalecerão contra ela (Cristo em Mateus XVI,18).

Estude mais, se quer escrever algo de útil ou ao menos de verdadeiro.

Que Nossa Senhora, Asilo dos Pecadores, obtenha-lhe de seu Divino Filho, um dia, uma santa morte e, por conseguinte, a gloriosa ressurreição da carne no dia do Juízo Final.

O senhor estará em nossas orações quotidianas.

R. ...

P.S.: Favor retirar o e-mail do mosteiro da sua lista para envio de artigos, pois somos cristãos, católicos e não liberais; cremos em todas as verdades reveladas por Cristo, as quais só são ensinadas integralmente pela Igreja e, portanto, não podemos admitir heresias como as ditas no último artigo enviado.

 

Padre R. M...

Agradeço muito os seus comentários.

Não os seus insultos.

A Igreja pode aconselhar, mas não pode PROIBIR o que quer que seja.

Os meus respeitos ao senhor Prior.

Francisco

Não receberá mais e-mails

 

Caro Senhor,

Obrigado por sua resposta. Não esperava que fosse nesse tom, nem sequer que responderia algo.

Peço humildemente perdão por toda qualquer palavra que lhe tenha parecido insultuosa. Minha intenção era nada mais que fazê-lo perceber os erros contidos em seu texto.

Todavia, hei de discordar do senhor ainda nisto: a Igreja pode aconselhar, não proibir. Errado.

A Igreja docente não só pode como DEVE ensinar, reger e santificar, pois ela é o Corpo Místico de Jesus Cristo na terra, do qual Ele é a cabeça e o Espírito Santo a alma que o anima. Sendo Cristo Profeta, Rei e Sacerdote, é pela Igreja que ele exerce e exercerá estas três qualidades na terra, continuando assim o seu ministério redentor até o fim do mundo.

Só a São Pedro, primeiro papa, disse Cristo: "Dar-te-ei as chaves do reino do Céu. Tudo quanto ligares na terra será ligado no Céu, e o que desligares na terra será também desligado no Céu" (São Mateus XVI, 19). Por isto professamos firmemente com os cristãos de todos os tempos: "Credo (...) in Spiritum Sanctum in Sanctam Ecclesiam Catholicam (VIII e IX artigos do Simbolo Apostólico, já citado no comentário anterior); Credo in Unam Sanctam Catholicam et Apostolicam Ecclesiam (Credo Niceno-Constantinopolitano).

Dito isto, a Igreja pode e DEVE infalivelmente proibir tudo quando seja contrário à sua doutrina, que nada mais é que a própria doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo - Caminho Verdade e Vida - para a maior glória de Deus e salvação das almas.

Minhas desculpas mais uma vez.

Seus cumprimentos serão transmitidos ao Prior, como pede.

R. Müller

 

Francisco,

Em bom português: toma, que já almoçaste!

Mas, no final, um excelente conselho: Estudar mais, sempre mais!

Pelos vistos, V. já tem o destino marcado: vai fazer companhia a Belzebú - e a mim, porque temo não vir a ter melhor sorte. Felizmente para mim, que assim terei toda a eternidade para conversar consigo. Uma benção.

Abraço

APM

 

Meu Caro Francisco

Neste mail enviaste algumas informações e fontes muito interessantes para um tema que sempre considerei muito importante na História da Igreja e verifico mais uma vez que haver algumas dificuldades no seu tratamento em particular no que se refere ao desenvolvimento do poder temporal da Igreja Católica de que ninguém nestas referências toca mas que penso esteve na origem de enormes convulsões religiosas e políticas desde as cruzadas passando pela Inquisição e pela guerra dos 30 anos e mais casos e que parece nestes textos nunca ter existido mas existiu e nos Evangelhos está escrito bem claro que a dois amos não servirás: a Deus e ao dinheiro. Ora de facto tem havido críticas mal fundadas à Igreja Católica mas também tem havido da parte desta excessiva colagem à riqueza material que o atual Papa já mostrou conhecer e querer corrigir. Bem hajas por teres enviado este mail e até breve com um abraço do

José Carlos Viana

 

Anda tudo virado de pernas para o ar... o PAPA argentino não se escapa... Alguns papas foram envenenados noutros tempos.

ZM

 

 

 

quarta-feira, 16 de junho de 2021

 

Dom Raimundo e Dom Urbano

(Do Cancioneiro de Amigo do Pau FerroSéculo ... ?)

(Arquivo Histórico de FGA)


Venham todos! Venham todos!

Olhem quem está chegando!

Dom Raimundo, nosso amigo.

Nós dele sempre falando,

Vem curvado, encanecido,

Parece muito cansado.

Estará envelhecido?


Dom Raimundo! Meu amigo.

Tanto tempo já passou

Quando de todos sumiste.

Por onde andaste? O que viste?

Conta, conta, dom Raimundo,

Se é que podes falar!

Mas antes vou-te abraçar.

 

Não sei como começar

A história da minha ausência.

Mas como é bom te abraçar.

Os tempos passados contar,

Foram de grande sofrer

Passou ano após ano,

E eu sem te ver, dom Urbano.

 

Uma noite, madrugada,

Não sei o que aconteceu.

Levantei-me, noite escura,

Corri como louco pró cais,

Eu sei que ninguém me viu,

Sem saber o que fazer

Entrei no primeiro navio.

 

Já tinham solt’as amarras

Quando o capitão me viu.

Perguntou-me quem eu era,

Que serviço ali fazia.

Era fim da Primavera.

Não soube dizer meu nome

Nem o que me acontecia.

 

Mandou-me então descansar

E voltar quando pudesse.

Adormeci, a sonhar

Pensando que em casa estivesse.

Mas era um sonho diferente,

Perturbado e agitado,

Estava muito inconsciente.


Os dias passavam calmos,

Só mar à volta se via,

Que rumo e destino tinha

Eu nem ideia fazia.

Um dia os céus se zangaram

Um forte trovão se ouviu.

As tempestades chegaram.

 

Durou dias a tormenta

O navio se destroçava.

Sumiam mastros e velas,

A água tudo inundava.

Descansar não se podia,

E se algum sobrevivia

Nem para comer já havia.

 

Procurei o capitão,

Não encontrei mais ninguém.

Sozinho naquele inferno

Só a chorar mais água vem.

Encostei-me lá num canto

Esperar que o mar me levasse

E me afogasse também.

 

Penso ter adormecido.

Senti-me até afogado.

Ao abrir um dia os olhos

O mar era um rio, parado,

O navio uma montanha

De restos de paus, aos molhos.

Nem me sentia acordado.

 

Ali não longe avistei terra

Com gente na praia olhando

Para os destroços. Desfeitos.

Com muito esforço ergui-me

E acenei àquele povo.

Não tardou a que viessem.

Para eu viver, de novo.

 

Era terra nunca vista.

Nem entendi seu falar.

Gente nova, de outras cores.

De tão cansado dormi

E quando voltei a acordar

Olhei à volta, sorri,

Sem saber se era a sonhar.

 

Passou tempo, muito tempo,

De lá não podia sair.

Arranjei quem me abrigasse

Parecia quase feliz

No meio de gente amiga.

Mas só na praia vivia

E nem um barco se via.

 

Sofri muito, envelheci.

Um dia a esperança chegou

Quando ao longe se avistou

Era um navio, que eu vi!

Fiz um fogo que se alastrou.

Ao longe o capitão viu

E o seu navio virou.

 

A terra foi um escaler,

No comando, uma mulher!

Era ela o capitão.

Aos seus pés ajoelhei.

Emocionado chorei

E pedi que me levasse

Sem saber onde aportasse.

 

Abracei a gente amiga

Que me havia recolhido,

E voltei de novo ao mar.

Quantos dias se passaram

Sou incapaz de contar.

Logo que vi terra antiga

Pedi para desembarcar.

 

Já não cheirava Pau Ferro

Desde o dia que partira.

Este cheiro tão gostoso

Que me traz de volta ao lar.

Dom Urbano, meu amigo

Nem quero nisto pensar

Após viver tanto perigo.

 

Dom Raimundo, receber-te

Hoje é um dia de festa.

Venham todos festejar,

Tragam vinho, acendam brasa.

Venha alguém para cantar

Reencontramos um amigo

Que voltou pra sua casa.

 


Notas:

1.- URBANO: o nome de um pequeno mercado no Rio de Janeiro

2.- PAU FERRO: nome da Estrada onde se situa o mercado

3.- RAIMUNDO: o encarregado do açougue (talho) do mercado