Um oficial em Moçambique - 5
O “nosso” heroi
Nasceu em Alter do Chão, a 3 de Fevereiro de
1865.
Sentou praça no regimento de Cavalaria 4 em 13 de Outubro
de 1880, cursou a Politécnica e passou a aspirante da Armada em 10 de Novembro
de 1882, sendo promovido a guarda-marinha dois anos depois, a 29 de Setembro.
Ainda não era oficial e já andava pela África, fazendo levantamentos no rio
Muíte, defronte da ilha de Moçambique. Comandou, como guarda-marinha, naquela
colónia, os iates de vela “Luzio” e “Tungue”, e depois as canhoneiras “Maravalt
e “Cherim” da esquadrilha do Zambeze, o vapor “Auxiliar”, e mais tarde a
“Liberal” e o transporte “Salvador Correia”. Em 1885 combateu o régulo Sangage,
que avassalou. Contava, então, vinte anos. Continuou a sua acção no Moguinquale
e no Infusse.
Comandou a “Cherim” quando Serpa Pinto chegou à
África com a sua missão encarregada de operar pelo lado do Zambeze, Chire e
Ruo, nas vésperas do ultimato. O fim da expedição consistia em manter o predomínio
português naquelas regiões onde os ingleses iam captando alguns régulos e entre
eles o de macololos.
Em 1889 foi encarregado de reduzir aqueles povos à
obediência, em Chilomo, onde o gentio se entrincheirara. A tripulação da “Cherim”
compunha-se de dez brancos e trinta e
quatro negros, que chegaram para vencer os rebeldes. O moço
comandante viu o seu chapéu varado pelas balas. Os indígenas admirados pela
vitória, espalharam a sua fama e passou a ser conhecido por Musungo Icuro ou
M'Pezene. Tomou a seguir as terras de Massea e Katunga; aprisionando o filho do
soba e logo o régulo Gambi, estendeu o domínio português do Ruo ao Milange.
Portugal celebrou as suas vitórias e o nome do
bravo tornou-se ilustre. Comandara vinte ações militares. O consul inglês
Johnston, declarou que os macololos estavam sob a protecção britânica e
pretendeu impedir o avanço dos expedicionários, o que não conseguiu. Nasceu
desta questão o ultimato. O seu nome ressoou mais intensamente e o Parlamento
proclamou-o
“Benemérito da Pátria”, tinha vinte e quatro anos!
Paralisadas as operações em virtude das exigências
britânicas, ficou comandando as forças a fim de manter a neutralidade. Nomeado
para vingar no Mataca a morte do tenente Valadim, cumpriu o seu dever e, no ano seguinte, comandou a
expedição denominada Júlio de Vilhena, que bateu o Maconga e logo apaziguou os
povos revoltados de Muíra, bongas e baruístas. Em 18 de Novembro de 1891 ficou
gravemente ferido no ataque à aringa do Mafunda, em virtude de tiros e da
explosão dum cunhete de pólvora. As suas forças sofreram mais de trezentas
baixas; chefiou a retirada em trágicas circunstâncias, pois tinham morrido
dois belos combatentes, Barbosa de Meneses e Carlos Paiva e o capitão Andrade
estava tão ferido como ele. Durante dois meses esteve em perigo, tendo o corpo
em carne viva. Ia ficando cego, mas logo que melhorou pensou em resgatar o desastre. Mostrara-se tão
bravo soldado como hábil marinheiro e nos seus comandos de frágeis embarcações
demonstrou tanto estas qualidades que os seus camaradas lhe votaram grande
admiração. Cognominaram-no “João Trabalhador”, tal era a sua faina. Navegou no
Zambeze em péssimos barcos, mas destemidamente.
Em 17 de Dezembro de 1896
foi comandar voluntariamente a companhia de guerra de marinha que ia combater
os namarrais. Ganhou a medalha de prata de Bons Serviços, que se juntou ao
oficialato da Torre e Espada e à insígnia de cavaleiro de Cristo, recebidas em
1891. Mousinho escrevera a seu respeito, ao propô-lo para aquela condecoração: “pela maneira como comandou as forças
engajadas na Nagüema, Ibrahimo e Mucuto Muno e pela boa ordem e disciplina que
manteve na sua companhia”, e nomeou-o governador da Zambézia.
Começara uma revolta com assassínios nas proximidades
do Sena e tão seguramente os indígenas esperavam vencer, que chegaram a atacar,
em Tete, uma lancha carregada com material de guerra e, apoderando-se de duas
peças “Hotchkiss”, dispuseram-se a maior resistência. Era em 25 de Maio de
1897; quatro dias depois saiu de Sena à frente duma coluna de cento e cinquenta
soldados indígenas e dois mil cipais irregulares de Maganja, e em 4 de Julho
atacava a aringa de Mayuca, que foi defendida com a artelharia tomada no rio
Tete, e a qual recaiu em poder dos portugueses. Foram arrazadas doze aringas
após vinte combates.
No ano seguinte já estava em Maganja da Costa a
castigar as ofensas feitas pelos cipais desta região a Aires de Ornelas e o
trucidamento do l° tenente da Armada Simeão de Oliveira e de oito angolas que
ali o tinham acompanhado em 1886. Tomou a aringa, subjugou o Mocuba e o Robe e
não ocupou Angoche porque demorou a autorização pedida a Mousinho, governador
geral de Moçambique, que o propôs para a comenda da Torre e Espada.
Quando o poderoso gentio do Barué se revoltou,
muito animado por suas anteriores proesas, foi-lhe entregue, em 19 de Abril de
1902, o comando da expedição contra eles. Arrazou cerca de noventa aringas e
entre elas a do célebre Inhachirondo, na qual fora morto um grande amigo dos
portugueses, o índio Manuel António de Sousa, capitão-mor de Manica.
Aprisionou-se o Macombe e o seu chefe de guerra, Combuemba, pereceu. Recebeu a
medalha “Rainha D. Amélia”, e a Geografia entregou-lhe a sua medalha de honra.
Por decreto de 9 de Dezembro de 1904 foi nomeado
governador geral de Moçambique, e, dois anos depois, adido à Comissão de
Cartografia, tendo dirigido acertadamente a província que lhe fora confiada.
Fez parte da comissão de reforma administrativa das províncias ultramarinas, e
recebeu a nomeação de vogal da Junta Consultiva do ultramar.
Após a morte de D. Carlos, aceitou o difícil cargo
de governador civil de Lisboa, e, desde 11 de Março até 14 de Maio de 1909,
ocupou a pasta da Marinha, cargo que voltou a exercer em 22 de Dezembro
daquele ano, demitindo-se em 26 de Junho de 1910.
A queda da monarquia encontrou-o em Sintra, pois
residia naquela estância. Foi para Mafra, onde o soberano se refugiara.
Dispôs-se logo a defender o paço com as forças que encontrou, apesar de não lhe
parecerem muito seguras em virtude das hesitações do seu comandante.
Aconselhou a partida de D. Manuel II com a família real para o Porto,
afirmando-lhe que iria ter à capital do Norte.
Foi lugar-tenente de D. Manuel.
Após a morte de Sidónio Pais, em Janeiro de 1919,
estava doentíssimo no hospital de S. Luiz, quando ali o foram buscar para, com
a sua presença, dar valor ao movimento monárquico de Monsanto. Pensou num ataque
mais directo e decisivo, que Aires de Ornelas evitou, e o resultado foi cair
nas mãos dos vencedores, comandados pelo seu antigo camarada, e companheiro nas
lutas em Moçambique, o capitão-tenente Afonso Julio de Cerqueira, a cuja
grandeza de ânimo se deveu a salvação dos presos. Esteve recluso na
Penitenciária, em S. Julião da Barra, no Lazareto e na ilha da Madeira,
beneficiando da amnistia e voltando à política como julgou do seu dever.
Depois da morte de D. Manuel aceitou o cargo de lugar-tenente do pretendente, D.
Duarte Nuno.
Além de grande oficial da Torre e Espada e de
Aviz, por serviços distintos, recebeu a carta de conselho, as grã-cruzes de
Cristo e do Império Colonial, medalha de Filantropia, medalhas de ouro de bons
serviços no ultramar com as barras comemorativas das suas campanhas. Oficial
da Legião de Honra e grã-cruz da Estrela Brilhante de Zanzibar, comendador de
Mérito Naval e Militar de Espanha. Foi ajudante de campo de D. Carlos e de D.
Manuel, deputado em 1900, senador monárquico, pelo distrito de Portalegre, em
1925 e 1926.
Quando governou Moçambique recebeu as visitas dos
duques de Connaught, em 1906. oferecendo-lhes magníficas festas e o celebrado
batuque de vinte mil guerreiros que produziu assombro.
Não foi apenas decorativo o seu período
governamental; fez a ocupação, com Massano de Amorim, das capitanias de Angoche
e Macuama, como já ocupara mais de metade da área da Zambézia quando ali
estivera, e tratou da
reforma administrativa da província.
Publicou: Do Níassa a Pembe, Relatório da
Campanha do Barué, em 1902, O combate
de Macequece, as Duas Conquistas
de Angoche, etc.
Este homem
chamou-se
João de Azevedo Coutinho.
Abaixo a sua
assinatura, quando estava preso em Lisboa
Muito
jovem, nas suas campanhas em Moçambique.
Segundo um
dos seus netos, grande amigo meu, o avô teria
1,90 de
altura e era robusto como um carvalho!
Vamos
continuar com assuntos moçambicanos, mas, por ora deixemos o “nosso” heroi
descansar.
A
verdade é que gente desta estirpe parece que desapareceu. Pelo menos em
Portugal !!!
Junho
2017
Junho 2017
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_de_Azevedo_Coutinho
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