Do Brasil
e do Vaticano
Cheio
de boas intenções está o inferno! E assim estou eu, que já prometi a mim mesmo,
e aos que têm coragem de ler o que escrevo para o blog, que não falaria mais
sobre as “coisas brasilienses”. Mas é difícil ficar muito tempo com a garganta
cheia de podridão e não a poder pôr para fora.
Nada
de falar em política porque então a boca enche-se de trampa, para não usar
outra palavra de tonalidade mais sonante e malcheirosa.
Vamos
só a “pequenos detalhes” da vida quotidiana.
O
juro anual do cartão de crédito atingiu os píncaros da insanidade: 480% ao ano!
Façam as contas. Quem estiver um ano devendo dez mil reais e finalmente tiver a
sorte de arranjar alguma graninha para pagar vai ao banco e recebe uma notícia
esplendorosa: afinal você SÓ deve $ 58.000,! Beleza, né?
O
cliente diz logo que não paga e deixa correr. Ao fim de um, dois, três anos, o
banco quer resolver a situação e propõe um descontinho,
quando a dívida já vai, especulativamente em centenas (58 mil no 1° ano, 116 no
2°, e 570° no 5°). Melhor negócio do que isto só abrir uma igreja e fazer
milagres aos domingos e dias de feriado!
Há
dias precisei de uma moto serra. Pequena, elétrica. Pesquisei e, por acaso, fui
parar a um site em Portugal. Achei
estranho o preço 29,90! Só depois reparei que era em Euros, o equivalente por
estas bandas a cerca de cem Reais. Depois encontrei a mesma máquina, no Brasil,
só que o precinho era um quanto diferente: $ 195,00. O dobro. Mas também não é para
admirar. O brasil é mais de 100 vezes maior que Portugal, deve vender milhares
de motosserras mais do que em Portugal, e paga, de certeza muito mais impostos.
O
jornal de hoje traz mais uma notícia surpreendente: em 2015 foram cobrados a
mais, por engano, SÓ mais de R$
1.825.000.000, - isso mesmo um bilhão oitocentos e vinte cinco milhões de reais
–nas contas de energia elétrica dos consumidores. Engano curioso! Nunca mais
vão devolver esse dinheiro extorquido do zé-pagante!
Só
mais uma: na semana passada a Petrobrás, a “senhora” do maior escândalo de corrupção
da história da humanidez, anunciou que ia baixar o preço da gasolina, já que o
preço no Brasil é igual aos mais altos níveis do mundo! E temos petróleo.
Magnífico.
No
dia seguinte as distribuidoras informaram iam aumentar 3% nos postos. Ora digam
lá se isto não é sincornia perfeita. Eu disse sim, CORNIA! Um baixa, ou outro
sobe e assim se mantém o desiquilíbrio deste insano desgoverno.
País tropical... abençoado
coqueiro...
Maledetti!
# # #
Agora
vamos ao Vaticano, e começo por
reafirmar que sou fã do Papa Francisco e procuro seguir, tanto quanto a minha
fraqueza mo permite, a palavra de Cristo.
Mas algo de estranho se passa no Reino da Dinamarca, perdão no Reino do
Vaticano, quando a
Igreja Católica proíbe fiéis de jogar as
cinzas dos mortos ou guardá-las em casa.
O descumprimento da
medida pode impedir funeral do falecido!
A Igreja
Católica ainda prefere enterrar
os mortos, mas quando — por razões de higiene ou por vontade expressa do finado
— se optar pela cremação, proíbe (!)
a partir desta terça-feira, que as cinzas sejam espalhadas, distribuídas
entre os familiares ou conservadas em casa. Segundo um documento escrito pela Congregação
para a Doutrina da Fé – o famigerado e maldito para sempre, o antigo Santo
Oficio - e assinado pelo Papa Francisco, a proibição se destina a evitar
qualquer “mal-entendido panteísta, naturalista ou niilista”.
O ultraconservador
líder da Congregação, o cardeal alemão Gerhard Müller, chegou a dizer durante a
apresentação do documento: “Os mortos não são de propriedade da família, são
filhos de Deus, fazem parte de Deus e esperam em um campo santo sua
ressurreição”.
Que terrível engano ou presunção. Quem pensa o cardeal Müller que é? O
próprio Deus? Torquemada? Ou já está senil? Deve ter feito contato, profundo,
com o seu parente Alzheimer!
Deus
cedeu-nos um corpo, corrupto, corrompível, para aí depositar o seu Espírito. O
Espírito pertence a Deus, o corpo às cinzas. Nós somos pó, viemos do pó e ao pó
retornaremos.
O documento aprovado, intitulado
Instrução Ad
resurgendum cum Christo e que substitui um anterior de
1963, adverte que “não é permitida a dispersão das cinzas no ar, na terra ou na
água ou em qualquer outra forma, ou a transformação das cinzas em lembranças
comemorativas, peças de joias ou outros artigos” (1). E o documento vai mais
longe: “No caso em que o falecido tenha sido submetido à cremação e ocorra a
dispersão de suas cinzas na natureza por razões contrárias à fé cristã (2), seu funeral será
negado”. A Congregação para a Doutrina da Fé justifica a elaboração de um
documento tão drástico como reação às novas práticas na sepultura e na cremação
“contrárias à fé da Igreja”.
Segundo esta Congregação, as cinzas devem ser mantidas
“como regra geral, em um lugar sagrado, ou seja, no cemitério, ou, se for o
caso, em uma igreja ou em uma área especialmente dedicada para tal fim por
autoridade eclesiástica competente”. Embora a Igreja admita que “não vê razões
doutrinais” para proibir a cremação - “a cremação do cadáver não toca a alma e
não impede a onipotência divina de ressuscitar o corpo” (3) -, o secretário da
Comissão Teológica Internacional, Serge-Thomas Bonino, a descreveu como “algo
brutal”, por se tratar de “um processo que não é natural, no qual intervém a
técnica, e que também não permite que pessoas próximas se acostumem com a falta
de um ente querido”.
Parece estranho que o
Papa Francisco tenha pactuado com tamanho absurdo.
Onde assinalado com (1),
a frase parece outra piada. Aliás de muito mau gosto. Desde os primórdios a
Igreja tem feito milhões na venda de relicários, 99,999% falsos, como um pedaço
do lenho da Cruz, que todos juntos devem ter alcançado milhares de toneladas de
madeira, ossos de alguns santos, que tanto poderiam ser do santo como de um
cachorro ou de uma vaca, pedacinhos da roupa usada por alguma santa, que ninguém
sabe se ela a usou ou se foram comprados a metro num tecelão, e muitos desses
relicários as pessoas usavam e ainda usam como uma jóia, pendurada no pescoço
ou no pulso, numa caixa, num altar, etc. E agora vem dizer que não pode!
Esgotou o estoque? Ou esqueceu de se desculpar, perante os incautos, sobre as toneladas
de dinheiro que através dos séculos embolsou com essas falsidades?
No ponto (2) o que será
que os Alzheimers do Vaticano consideram “dispersar as cinzas na natureza por razões contrárias à fé da Igreja? Para
já a Igreja não tem fé. Quem tem fé ou pode tê-la são os fiéis, e não há igreja
nenhuma no mundo, nem haverá, que possa impor uma fé. Fé não se adquire como um
relicário. Nem o relicário protege dos ataques e tentações do demo.
E acrescenta que pode negar o funeral. Absurdo, e crime contra
a consciência e fé de cada um.
Eu já vivi este
problema. Não perdi a fé em Cristo, mas abominei a hierarquia que se julga
ainda com direito de queimar qualquer Joana d’Arc ou Jacques de Molay!
O que terão feito com
as suas cinzas?
No ponto (3) vem um
choradinho que hoje já só e aceite por... por quem?
A ressurreição dos
mortos, queimados, cinzas espalhadas ou não, o que eventualmente, um dia, “ressuscitará”
será o Espírito que se unirá ao TODO e NADA. Nada de corpos. Do pó vistes...
Por fim o senhor Bonino,
a descreveu a cremação como “algo brutal”, por se tratar de “um processo que
não é natural, no qual intervém a técnica,
e que não permite que pessoas próximas se acostumem com a falta de um ente
querido”.
O tal Bonino acha que a
cremação é algo brutal, que não é
natural, onde intervém a técnica, etc. Seria bom que ele se explicasse
melhor, dizendo qual técnica usou a Inquisição, na fogueira da Joana d’Arc e de
milhares e milhares de outros e outras infelizes, que tiveram, ou não, a
coragem de não dizerem sem amém, técnicas
da Igreja assistidas e aplaudidas por reis, cardeais, bispos e babacas em
geral.
Nunca imaginei que o
pensamento medieval continuasse a imperar no Vaticano e que obriguem o bom Papa
a assinar absurdos.
Seria melhor que o
cardeal Alzheimer e o secretário Bonino respeitassem o luto de cada um.
Não é por dispersar as
cinzas que vamos esquecer os entes queridos. Eu sei bem disso.
Jamais seria capaz de
erigir um Mausoléu em mármore e esculturas de Michelangelo, para depositar o
corpo de qualquer dos meus entes mais queridos, só para exibir perante a
sociedade o meu, imaginário, padrão financeiro.
Papa Francisco, a minha
consideração por si não diminuiu. Mas deixou-me triste.
Pior, as igrejas
dissidentes vão dar risada.
27/10/2016