Cheiro a Podridão!!!
Há
muito que não dou notícias simpáticas desta terra das maravilhas, das Terras da
Santa Cruz (já venderam até a Cruz a alguém...) mas que no meio a tremendo e
insuportável cheiro a podridão endémica ainda se encontra muita coisa para rir
em vez de chorar. As lágrimas, como a chuva em muitas regiões, secaram. Há que
rir.
A
madama dona presidenta, que é raro dar as caras (ainda bem, pois vá ser feia lá
para os quintos do inferno) volta e meia solta frases que envergonhariam
Platão. Uma das últimas sobre a economia (atenção, economia por estas bandas sempre é
piada!):
“Nós não temos uma meta, mas quando
atingirmos a meta então dobramos a meta! ”
Brilhante.
Camões, Machado de Assis e outros que se supunha saberem muito da língua
portuguesa se envergonhariam com esta brilhância.
Entretanto
o juro básico, o tal SELIC, está em 14,25%. O campeão absoluto do mundo! Com
isto o resultado dos bancos é estratosférico. O juro do cheque especial atinge 350
a 400% ao ano, cresce a inadimplência, a venda de carros está 21,5% abaixo do
ano anterior, os pátios das montadoras estão inundados de carros (à chuva e sol
para se conservarem...), a indústria encolheu mais de 6%, comércios fecharam
diariamente por todo o país, a dívida pública do Brasil está em 2,587 trilhões,
cerca de 66% do PIB (que este ano será negativo), e só para ir “pagando” os
juros da dívida o orçamento do governo, perdão, total desgoverno, terá que prever
mais de 500 bilhões de Reais, o que impede quase totalmente investimentos em
infraestruturas. (Ver, para 2014 http://www.tesouro.fazenda.gov.br/necessidade-de-financiamento-e-metas
)
Os
bancos continuam rindo com lucros impensáveis! Falar da Grécia, por aqui, é
outra piada. Creio que se deveria propor uma troca: Syriza (incluindo Tsipras
& Cia) x pt (com sapo barbudo, madama & os inumeráveis ladrões)!
Mas
ninguém precisa ficar preocupado porque, de acordo Stefan Zweig, este é o país
do futuro? Quando?
Quando
é que o problema. Enquanto o Ebola pode dizer-se que foi endémico em África,
aqui a corrupção está enraizada em todos, todos, mesmo todos os lugares. Não é
só caso já internacionalmente conhecido da operação Lava Jato que surripiou,
segundo cálculos, mais de 6 bilhões de Reais, mas é a Eletrobrás donde sumiram
mais uns tantos milhões, Eletronuclear, ministérios dos transportes, da saúde,
da educação, no exército, nas polícias, nos governos estaduais, nas prefeituras,
no pagamento aos capangas do MST, do foi generosa e carinhosamente doado
(leia-se dado) a Cuba, Bolívia, Venezuela, Angola, e uns tantos outros países,
pelo ladrão chefe da ocasião, enfim em todo o lado, que somam mais um monte de bilhões
de US$. Nada escapa à ferocidade desta endemia mortal.
Divirtam-se
um pouco mais lendo esta crónica dum grande jornalista brasileiro, Carlos Alberto
Sardenberg, que apareceu hoje no jornal “O Globo”
Ilegalidade permitida
Pode parecer coisa pequena neste
momento de grandes crises, mas serve para demonstrar um padrão de estímulo à
ilegalidade. Seguinte: de cada dez motoristas já apanhados dirigindo bêbados,
seis continuam por aí guiando seus carros e com a carteira de habilitação na
mão. Tudo dentro da lei. Isso foi medido em São Paulo, mas pode apostar que o
padrão se repete pelo país.
Reparem agora em ambiente, digamos,
mais importante, Brasília. O senador Ivo Cassol (PP-RO) está condenado no
Supremo Tribunal Federal desde 2013, por fraude em licitações, crime cometido
entre 1998 e 2002, quando ele era prefeito de Rolim de Moura. Se quiserem
encontrar Cassol, podem procurar no seu gabinete no Senado. Ele está dentro da
lei.
Nos dois casos, os recursos
garantem a permanência legal da ilegalidade.
Apanhando bêbado, o motorista recebe
uma multa, da qual pode recorrer em três instâncias. Se perder em todas,
tendo, portanto, a multa confirmada, e se cometer outras infrações, chegando
aos 20 pontos, ainda assim não perde a carteira. Tem direito a mais três
recursos. E segue por aí, barbarizando com carteira em ordem.
Cassol foi o primeiro senador condenado
no STF desde a vigência da Constituição de 88. Foi recentemente condenado outra
vez, na Justiça Federal, por improbidade administrativa. Tudo somado, são
quatro anos e oito meses de cadeia, mais cerca de R$ 2 milhões entre multas e
dinheiro que deve devolver. Deveria. Tem recurso pendente no STR. A reparar:
ilícitos, na sentença do tribunal, cometidos há 13 anos, condenado há dois e,
tudo bem, continua ativo no Senado.
Entre suas recentes tarefas, aliás,
relata um pedido de investigação de contratos da Procuradoria-Geral da
República, apresentado pelo seu colega Fernando Collor.
Diante disso, qual o problema de dirigir
bêbado? Ou ainda, qual o problema se os presidentes da Câmara dos Deputados,
Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros, são oficialmente investigados no
STF, no âmbito da Lava-Jato, e continuam no cargo?
Nos Estados Unidos, o sujeito apanhado
dirigindo bêbado vai para a cadeia, de lá para o juiz, já recebe a pena e
perde a carteira. Pode recorrer, mas fica sem o documento. Aqui, vai para a
delegacia, assopra o bafômetro, se quiser, e vai para casa. Se bobear, dirigindo
o seu carro.
(Um amigo meu, homem honesto, tomou
os 20 pontos. Em vez de recorrer,
deixou o carro em casa e foi se matricular em um curso de direção, condição
legal para reaver a habilitação. A atendente deu o preço e informou que incluía
estacionamento. Ele estranhou: mas é um curso para quem perdeu a carteira! E
ela: ora doutor...).
Em países eticamente mais desenvolvidos,
como no Japão, o político, quando denunciado de maneira maios ou menos
consistente, mesmo que seja só na imprensa, renuncia e vai se defender. Na
Alemanha, um ministro renunciou ao ser acusado de plágio numa tese académica
apresentada vários anos antes.
Não vale simplesmente colocar a
culpa nos políticos e legisladores. Sim, é fácil mudar o sistema de punições no
trânsito. Basta alterar a lei no Congresso Nacional. Mas por que não se toma
essa iniciativa? Porque mesmo políticos honestos não gostam de se meter nessas
pautas ditas impopulares. Já anistias de multas passam facilmente nas
Assembleias Legislativas.
Também são populares as reclamações
contra radares. Por isso mesmo, até 2012, a lei determinava que o radar deve
ser colocado em lugar visível e com sinalização avisando que o
"pardal" está logo adiante. A mensagem: caro motorista, a velocidade
máxima aqui é de 100 km/hora, mas você, perdão, o senhor ou a senhora só
precisam respeitá-la nos trechos imediatamente anteriores aos radares,
convenientemente sinalizados. Mais: no caso de se distrair e for flagrado,
fique tranquilo, tem direito a seis recursos.
O Conselho Nacional de Trânsito
eliminou a exigência de aviso prévio dos radares, mas há vários projetos de lei
no Congresso restabelecendo a sinalização anterior (curiosamente, um desses
projetos é do ex-deputado Luís Argolo, preso na Lava-Jato). Em câmaras de
vereadores, toda hora aparece um projeto proibindo radares móveis, por
exemplo. A Assembleia Legislativa de Santa Catarina foi mais longe: chegou a
proibir a instalação de radares de qualquer tipo nas rodovias estaduais.
São coisas pequenas e coisas grandes.
O padrão de ilegalidade é o mesmo. Dos "pequenos crimes" chega-se a
uma Lava-Jato. O desmonte da grande corrupção deve fazer o caminho inverso e
levar o pessoal a perceber que, convenhamos, tem que respeitar a regra, do
estacionamento proibido até a licitação de uma plataforma de petróleo.
Carlos
Alberto Sardenberg é
jornalista
País do “Faz-de-Conta” onde o impossível é fácil e
o normal parece impossível. Onde canta o sabiá e onde todo o mundo espera ver o
cefalópode na cadeia. O miserável, vidente, até já “pôs condições” para
quando for preso, o que ele sabe que tarda mas chega: algemas, não nas
costas, mas na frente para poder disfarçar dentro do casaco, e aviso ao público
só 24 horas depois para não ser xingado no caminho para a gaiola.
06/08/2015
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