Fico Pensando...
Pensar! A melhor
explicação para “pensador” é a que disse Descartes. Mas tem muita exceção; tem
muito animal que parece vivo, porque se mexe, come e consome, mas não pensa:
-
votam mal, e quase sempre assim o fazem porque não pensam nas consequências do
seu voto;
-
os que vendo que tudo vai mal não pensam no modo de melhorar;
-
aqueles a quem fazem lavagem cerebral, depois agem como autómatos;
-
e a lista pode prolongar-se até...
Ninguém
pode negar que os animais pensam. Têm por vezes atitudes que deixam os chamados
humanos surpreendidos, descrentes do que veem. Todo o ser vivo pensa como dizia
o nosso amigo do século XVII. Até as plantas lutam entre si para ver quem em
baixo da terra pega o melhor pedaço, fora dela lutam também para disputarem o
melhor lugar para a sua fotossíntese. Mas o homem, tanta vez e tantos milhões
ou bilhões, não pensam ou acovardam os seus pensamentos.
E
até ignoram uma máxima – MÁXIMA
– “A NATUREZA NÃO PRECISA DOS HOMENS, OS HOMENS
É QUE PRECISAM DA NATUREZA”, mas os tais humanos parecem empenhados em
destruí-la!
E
destroem-na e o pior e sobretudo destroem-se mutuamente, de todo o modo, até
pelo modo mais patético: a ideologia das religiões!
E
eu fico a pensar porque as religiões, todas, integralmente todas, nos seus primórdios,
eram extremamente simples e depois se complicaram e abastardaram tanto!
Começa
no zoroastrismo, depois o judaísmo, cristianismo e islamismo. Mesmo outras
crenças, que são menos religiões do que filosofias de vida, como budismo e
hinduísmo, nascem pela lógica da simplicidade.
Depois
apareceram os “doutores” das chamadas “leis sagradas”, e aí tudo começa a
complicar-se, a gerar disputas, lutas, guerras, insanidade.
O
zoroatrismo ou masdeismo, a primeira religião monoteísta foi fundada na Pérsia
por Zoroastro cerca de mil e tantos anos a.C. Admitia a existência de duas divindades, que representavam o
Bem e o Mal. Da luta entre essas divindades, sairia sempre vencedora o Bem.
Com
o aparecimento do Islão esta religião foi quase exterminada pela insana
perseguição dos maometanos que fuçaram por todo o lado para queimarem os seus
livros sagrados, Os Gathas. Sobrou
pouco!
A comunidade zoroastriana no mundo
contemporâneo pode dividir-se em dois grupos: os parses e os iranianos; em 2004 o seu número era estimado entre
145 e 210 mil. Falam uma variante
da língua persa, o Dari, e receberam
o nome de gabars, termo com
conotações pejorativas no sentido de "infiel”. (Para os muçulmanos TODOS
os outros são infiéis!)
Na Índia haverá cerca de 70.000, mais
uns poucos no Reino Unido, nos EUA e na Austrália.
Mais
ou menos coevo surge o judaísmo que, como Zoroastro, vai
buscar o seu início a Abraão, e impõe a Lei – não te portas bem e Deus manda-te uma desgraça qualquer, guerra, fome,
fogo ou dilúvio.
O judaísmo, cuja base é a Bíblia, o
Antigo Testamento, foi a Lei, através dos tempos interpretada e reinterpretada por
muitos “doutores”, que a re-redigiram como lhes pareceu mais conveniente. Daí
nasceu a Torá e o Talmude. Tiraram umas passagens da Bíblia, “torceram” um
pouco outras, e assim se fecharam, passando a considerar eventuais novos
convertidos, prosélitos, como “psoríase” (doença de pele, não contagiosa, mas
que causa coceira, queimação e
dor), isto é, mal aceites.
Com a expansão das populações, há uns
milhares de anos, dos primeiros judeus a saírem das terras do próximo oriente,
- Judeia, Mesopotâmia, Cáucaso – alguns terão ido para a Ibéria e outros para a
Europa Central. Os primeiros conhecidos como sefarditas e os outros como ashkenazis, ainda hoje
seguem ritos diferentes, sendo os sefarditas muito mais abertos do que os outros
que se consideram “superiores”, porque viveram numa região da Europa que se
desenvolveu mais que a Península Ibérica!
Curioso notar a hipótese
da origem da palavra Ibéria. Alguns “doutores” dizem que talvez seja derivado do rio Ebro, mas a verdade é que Ibéria ainda
é uma região ao sul do Cáucaso, ao norte da hoje Arménia. E não custa variar um
pouco a pronúncia da palavra para encontrar possíveis outras origens: ibera, ibero, ebreo, hebreu. Porque não?
Chegou Cristo, e não tardou muito que outros
“doutores” se envolvessem em polémicas imbecis como a interpretação da palavra filioque que acabou separando os
ortodoxos e a igreja de Roma. Mais tarde pela ganância e corrupção que envolveu
o poderio papal, veio a Reforma, e com o debochado Henrique VII o anglicanismo,
com a absurda situação de continuar nos dias de hoje a manter-se o rei ou a
rainha como chefe da igreja, misturando política com religião, parecendo imitar
os países com governos teocráticos, e dando origem a uma estúpida e sangrenta
guerra anglo-irlandesa. Mas a maior caricatura do cristianismo deve ser o
infindável número – centenas – de igrejas cristãs, com ritos particulares,
espalhadas pelo mundo, como católicos, ortodoxos, coptas, siríacos, luteranos, mórmons,
calvinistas, batistas, pentecostais, neopentecostais, congregacionalistas, anabatistas, adventistas, e mais um montão de
outras, cada uma procurando das tão simples palavras de Cristo interpretá-las a
seu bel-prazer e poder. Algumas não passam de lojas de venda de milagres,
enriquecendo estupidamente os bispos!
Seis séculos mais tarde é Maomé quem aparece, e
resolve criar uma religião para controlar os povos árabes que viviam em
contínuas lutas entre si. Escreve um livro com centenas de páginas em que
insiste que o único Deus é o que ele proclama. Os que não adoram o Deus dele
são “infiéis”.
Começa a perseguição aos judeus, cristãos, zoroastrianos,
brâmanes, budistas, hindus e a destruição de sinagogas, igrejas e todos os
lugares de culto de outras religiões. De todos os “infiéis”. Na história da
Índia, entre inúmeras barbaridades, um sultão, Ad-Din
Muhammad bin Ikhtiyar Bakhtiyar Khilji, ex escravo, no final do século XII, foi conquistando reinos e cidades e
apoderando-se de todas as riquezas que encontrava, dizimando às centenas de
milhares os “infiéis”. Atacou também o que ele julgou ser uma fortaleza. Não
lhe custou nada invadi-la e, para grande espanto, todos os homens que lá viviam,
não tinham uma única arma e andavam com a cabeça rapada. Não encontraram ouro
nem pedras preciosas. O único espólio eram livros. Milhares de livros. Mataram
os homens todos e levaram os livros. Depois como não apareceu ninguém que os
soubesse ler, queimaram os livros. Todos. Não era uma fortaleza, mas um
mosteiro-universidade budista, fundado no século VII em Odantapuri, nordeste da
Índia. Na história da Índia o nome de Muhammad Bakhtiyar e seus descendentes
Khilji são malditos por terem destruído tanta sabedoria e tanta história que se
perdeu, e atacado e matado constantemente hindus civis e religiosos.
De início os primeiros livros do Corão eram
decorados com bonitas pinturas, inclusive com a figura de Maomé. Muito mais
tarde os “doutores” islâmicos declararam que a representação de Maomé era uma
blasfêmia. Talvez o achassem feio! Quem sabe. Mas a verdade é que no século VII
as artes estavam muito desenvolvidas e certamente algum dos “retratos” feitos
na época deveria parecer-se muito com a pessoa. Mas hoje dá o resultado que
todos acabamos de ver, apesar de na Internet se encontrarem inúmeras imagens do
profeta.
Os muçulmanos que não alinham no extremismo querem
convencer o mundo que o islamismo é uma religião de entendimento. Impossível.
Quando eles consideram que só Allah, o Deus deles é o verdadeiro e que o Corão
diz que é preciso combater todos os infiéis, esta “guerra”, este posicionamento,
nada tem que leve ao entendimento.
Tal como no judaísmo, o Corão foi “interpretado por
“doutores” que criaram o Hadhit, com histórias metidas de permeio no Corão.
Mais tarde no século XVIII um pregador,
Muhammad ibn Abd al-Wahhab, cria um movimento extremista, o wahabismo - os próprios muçulmanos acharam o termo
pejorativo e passaram a chamá-lo salafista - acusado de ser "uma fonte de
terrorismo global" e causar desunião na comunidade muçulmana, rotulando
os muçulmanos não-wahhabistas como apóstatas (takfir) abrindo assim o caminho para o derramamento de
sangue, fora e dentro do mundo muçulmano.
Dizem que o arcanjo Gabriel durante a noite ia
sussurrar nos ouvidos de Muhammad as palavras do Deus que ele, durante o dia,
pedia a secretários que escrevessem. Alguém acreditará que o arcanjo Gabriel
fosse em segredo ao ouvido de Muhammad e lhe tenha dito: “Muhammad, logo que possas mata todos os cristãos e os judeus!”?
Hoje, os peregrinos que vão a Meca, enquanto
circulam a Caaba, ouvem nos microfones a seguinte e constante “oração”:
“Ó Deus vence os
injustos cristãos e os judeus criminosos, os traidores injustos; ataca-os com a
sua ira; faz de suas vidas reféns de miséria; cubra-os com desespero sem fim,
dor implacável e incessante de doenças; enche suas vidas com tristeza e dor e
acaba com suas vidas em humilhação e opressão; inflige suas torturas e punições
aos injustos cristãos e judeus criminosos. Esta é a nossa súplica, Deus;
conceda o nosso pedido!”
Fico a pensar se o arcanjo também disse isto a
Muhammad!
E pergunta-se: será isto uma religião do
entendimento?
No século XVI, Akbar, o Grande, o maior imperador de
toda a Índia, mongol, descendente de Tamerlão, foi homem de grande visão e
conhecia o pensamento de Kabir e do Guru Nanak, que desdenhavam de qualquer
filiação religiosa. Não era natural que os seus seguidores, muçulmanos ou
hindus, xiitas ou sunitas, brâmanes ou jainistas, se degladiassem quando afinal
todos acreditavam num Deus Único. No ano de 1579 convidou os jesuítas de Goa a
visitarem a sua corte e disponibilizou seus escribas para traduzirem o novo
testamento. Concedeu liberdade aos jesuítas para fazerem conversos e entregou-lhes
até um filho para que o ensinassem. Mas os jesuítas não se limitaram a expor as
próprias crenças, e terão “insultado” o Islão e o profeta! Suas observações
enraiveceram os imãs, que promoveram uma rebelião de clérigos muçulmanos
liderado por Mullah Yazdi e Muiz-ul-Mulk, o cádi chefe de Bengala, no ano de
1581, para derrubarem Akbar e colocar no seu lugar seu meio irmão Mirza Hakim
de Cabul, no trono Mogol. Akbar no entanto derrotou os rebeldes e aconselhou
mais cautela aos seus convidados nas suas proclamações.
Os jesuítas e outros clérigos na corte de Akbar
Tentou depois estabelecer uma religião sem divisões,
procurando aproveitar o que cada uma tivesse de melhor e maior entendimento.
Mas, assim que morreu em 1606, tudo voltou à mesma ignorância e luta.
Foi um esforço brilhante, isento, mas, infelizmente
infrutífero.
Há dias uma sobrinha ou sobrinha neta de Churchill
afirmou, veio nos jornais, que o “famoso” esteve quase a converter-se ao Islão!
Também já li algures que o próprio Napoleão se terá entusiasmado com o Corão.
Só falta o Hollande, o Obama e o Rei dos belgas!
Mas o que falta mesmo é o ensino de religião. A
França agora vai criar uma disciplina de Ética e Civismo, talvez para ensinar
os franceses a não imitarem a ladroagem do Brasil.
Mas não se pode compreender a evolução humana, e os Outros,
sem se estudar religião. As religiões todas. Mesmo a dos ateus!
Porque será que ninguém pensa nisso?
22/01/2015
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