Charlie
O meu
primeiro impulso ao ver pela Tv o que estava a acontecer em Paris foi de
indignação e da sensação de impotência e incapacidade de lutar contra o
jihadismo, covarde, que continua a avassalar o mundo. E logo me solidarizei com
as vítimas das chacinas perpetradas, a sangue frio, mais ainda com o “tiro de
misericórdia” ao polícia que, já atingido, estava estendido na calçada, e no
assassinato também a sangue frio, tão covarde quanto este, da jovem polícia.
Esta
sensação de estarmos a ser encurralados, fez com que me declarasse de imediato
a favor de “Charlie”, se bem que não conhecesse nem o semanário, nem o seu
histórico, mas a defesa intransigente da liberdade de expressão.
Depois
fui-me apercebendo que o semanário estava há anos condenado por ter feito uma
caricatura ridicularizando Maomé. E o Papa. E os judeus. E um sem número de
“piadas” que por demasiado ofensivas, deixavam de ter piada, e em vez de
levarem ao riso levavam à irritação, ao confronto, atingindo apelos racistas ou
homofóbicos.
No
Brasil tem um termo que define com precisão o que eles vinham fazendo: “Cutucando
a onça com vara curta”. E um dia a onça saltou-lhes em cima. Covarde e
friamente, todos sabemos, mas cansada de ser cutucada.
O senhor
Hollande com aquela sua carinha de cego perdido no meio dum tiroteio, conseguiu
um feito inédito: juntar nas ruas milhões de franceses que se dizem “Charlies”,
convidar chefes de outros Estados para a passeata, que acabou tendo, para
estes, um aspecto ridículo, mãosinhas dadas e afastados da verdadeira
manifestação. Ridículo. Mas ganhou um ponto: abriu a consciência de muitos para
a necessidade de convivência entre todos os credos e raças, o que, pode parecer
muito bonito, mas se nunca funcionou desde há milhares de anos até hoje... não
é natural que resolva alguma coisa. E uma quantidade de muçulmanos a dizerem
que repugnam a ação dos jihadistas, porque o Islão é uma religião de
entendimento. Não é.
É bem específico
o Corão quando diz na Surata 9.29 – Combatei aqueles que não creem em Deus e
no Dia do Juízo Final, nem abstêm do que Deus e Seu Mensageiro proibiram, e nem
professam a verdadeira religião daqueles que receberam o Livro, até que,
submissos, paguem o Jizya.
E
continua em 9.30 Os judeus dizem: Ezra é filho de Deus; os cristãos dizem: O
Messias é filho de Deus. Tais são as palavras de suas bocas; repetem, com isso,
as de seus antepassados incrédulos. Que Deus os combata! Como se desviam!
Só o
Deus “deles” é o único! Ninguém mais pode acreditar no que quiser!
A França
está em operações de guerra na Síria-Iraque, no Mali, na República Centro
Africana a “pedido dos governos democráticos” daqueles países em luta com a
jihad. A Nigéria está entregue ao babaca e super corrupto Jonathan Goodluck, que continua enchendo
os bolsos sentadão na sua poltrona de presidente enquanto a turma do Boko
Haram, que já matou e sequestrou dezenas de milhares de pessoas, domina mais de
um terço do país, com 50% de população muçulmana. Para estes o futuro é
simples: ou alinham com os terroristas ou são considerados traidores e...
O radicalismo islâmico espalha-se pelo mundo.
Todo o mundo. Parece que ninguém quer ou pode parar essa onda de primitivismo e
terrorismo.
Hoje não há mais Urbano II que convoque nova
cruzada, e resta-nos assistir à continuação dos genocídios dos cristãos e
judeus na Síria, Iraque, dos curdos, depois o que sobrou dos arménios, e os
ataques na Europa e Estados Unidos.
Na Espanha cresce uma onda libertária que quer
que a Junta da Andaluzia retire a Catedral de Córdova da Igreja e a torne um
lugar público – como se uma igreja não fosse um lugar público – com o “alto
apoio” de uma espécie de ONU islâmica, com sede no Marrocos, que afirma que
essa catedral foi uma mesquita. Foi sim. Mas antes de ser mesquita, cerca de
515 os visigodos ali construíram uma capela.
Uns
islâmicos do Maranhão vociferam num seu site contra a ida do Papa Francisco à
Turquia e à sua visita à ex-Igreja de Santa Sofia. Dizem que é uma afronta aos
muçulmanos! É uma tristeza, mas os extremistas islamitas não sabem o que é
amor, amizade, entendimento, nem sabem nada de história, porque a Igreja de
Santa Sofia - Agia Sophia,
que significa "Sagrada Sabedoria” ou “Sopro Sagrado”, o “Espírito
Santo” – foi construída entre 532 e 537, mais de um século antes de Maomé
ter nascido, e só transformada em mesquita entre 1453 e 1931, quando foi
secularizada para reabrir como museu em Fevereiro de 1935. Quase 1.000
anos igreja cristã e menos de 500 mesquita!
“Charlie”
parece ter ignorado um princípio fundamental da liberdade: “a liberdade de
cada um termina onde começa a liberdade do outro”.
Mas
ninguém lhes pode tirar o a coragem de se terem exposto, ridicularizando o que
todas as religiões e todas as políticas têm de negativo. Pisaram em terreno
minado. Abusaram da “graça e do riso” ultrapassando as fronteiras que pertencem
a cada um dos Outros. Ofenderam, insultaram, consciências cristãs, judaicas e
os muçulmanos. Os primeiros viraram-lhes as costas, souberam perdoar, esquecer
ou ignorar. Os segundos já têm com que se preocupar na Cisjordânia. Mas com
mentecaptos, a quem a lavagem cerebral foi completa, não se pode brincar.
Sou
Charlie em favor da liberdade mas não sou Charlie pelo insulto.
12 de janeiro de 2015
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