quarta-feira, 8 de maio de 2013

Este pedaço da história é dedicado especialmente aos meus amigos cavaleiros
Chico da Calçada, Carlos de Alpedrete e Henrique de Lisboa!


RELAÇÃO HISTÓRICA
(RESUMIDA)


CAVALHADAS

ou

TORNElO-REAL

 
QUE SE FEZ NA CORTE E CIDADE DE LISBOA

NO ANO DE 1795

POR

JOSÉ SEBASTIÃO DE SALDANHA OLIVEIRA E DAUN

SENHOR DE PANCAS
UM DOS 32 CAVALLEJROS
 
LISBOA
NA IMPRENSA LUSITANA
Calçada de Santa Ana. N.° 74, junto. ao Campo
----------- 1842---------





INTRODUÇÃO

Os Torneios, estes exercícios de Guerra, e de galantaria que faziam os antigos Cavaleiros para mostrarem sua dexteridade, e bravura, e que compreendiam todas as qualidades de corridas, e combates militares; abrangendo também e ligando entre si os Direitos do Amor, e do valer vieram dar uma grande importância à galantaria a esta perpétua ilusão do Amor; mas renovados em Lísboa em 1795, vieram dar a maior importância aos sentimentos de Fidelidade e de Nacionalismo da Nobreza de Portugal.
Recordarei pois as Cavalhadas, o memorável Torneio Real, que a Nobreza da Corte de Portugal fez em Lisboa no ano de 1795 para solenizar, e festejar o nascimento de Sua Alteza Real o Príncipe D. Antonio presumptivo Herdeiro da Coroa, nascido em 21 de Março de 1795, Filho de Suas Magestades Fedelissimas El Rei Dom João 6.° (Ainda naquele tempo Principe Regente de Portugal) e da Rainha Dona Carlota Joaquina de Bourbon.
Não era nova em Portugal esta espécie de Festejo público. O Senhor Dom João 1.° depois da Guerra com Castela convocou tanto os Grandes, e Nobreza do Reino, como estrangeiros para que em um ano continuado se fizessem sempre Festas, e Torneios; e neles forão armados muitos Cavaleiros; e querendo El Rei, que fossem armados dois Infantes seus fílhos, e que mais se tinhão destinguido, eles respeitosamente recusaram esta Distinção, mostrando o seu grande desejo de serem armados cavaleiros, não nos Torneios de Liça, mas sim no Campo de Batalha, e por esta ocasião o persuadiram à empreza de Ceuta.
Por ocasião do casamento de El Rei D. Duarte com D. Leonor Irmã do Rei de Aragão D. Afonso houverão muitas Festas e Torneios. O casamento do Príncipe D. João filho do Snr D. João 2.° foi festejado na Cidade de Évora, onde então se achava a Corte, com grandes festas, e sumptuosissimos Torneios.
Nesse tempo estavam muito em voga os Torneios a que também chamavão Justas Reaes: é memorável a chamada do Cavaleiro do Cirne em que El Rei desafiou a Justa, e veio com tanta riqueza e galantaria quanta no Mundo podia ser, segundo a expressâo do Chronista, e acrescenta — Que em uma quinta feira, El Rei depois de comer fez a sua mostra com seus 80 mantenedores; apoz ele todos os chamados aventureiros, que passavão de 50, aos quaes todos em cavalos, arnezes, paramentos, cimeiras, moços de esporas, e todas as mais cousas da Justa se ostentou a maior riqueza, dizendo os antigos Cavaleiros, nunca haverem visto pompa igual. No Domingo seguinte por noite se desfizerão as Justas e El Rei e a Rainha, e Principes foram para o Paço em triunfo: os Juizes das Justas adjudicarão a El Rei ambos os preços, que erão um rico anel para o mais galante, e um Colar de ouro ao que melhor justasse; mas El Rei somente quiz para si a honra de os distribuir, dando o anel a um Justador Valenciano, que se tinha distinguido, e o Colar de ouro a Diogo da Silveira.
Segundo Francisco de Morais foram muito celebrados os Torneios com que defronte do Palácio d’Enchobregas se festejaram os desponsórios do Príncipe D. João, Filho de El Rei D. João 3°.
No ano de 1627, a nobreza de Entre Douro e Minho festejou em Braga a entrada do Arcebispo D. Rodrigo da Cunha, com um famoso Torneio.
Mas parece que já no reinado do Senhor D. Pedro 2° não estavam em moda, nem em uso os Torneios, porque pelas ocasiões do casamento da Senhora D. Catarina de Bragança com Carlos 2° de Inglaterra, e do segundo casamento de El Rei com a Senhora D. Maria Sophia Isabel de Sabóia, houveram somente Touros Reais, distinguindo-se muito pela primeira ocasião os Condes de Sarzedas e da Torre; e pela segundo os Condes de Atalaia, e de Vila Flor, D. Christovão Manoel de Vilhena.
Em 1795, em tão fausta e solene ocasião agradou muito a idéia de um festejo português, e esta aprovada lembraram-se de um Torneio Real, a que também chamam Cavalhadas.
Lembrou-se de um Torneio, ou Cavalhadas feito em público com toda a possível magnificência, em todo o rigor da nobre arte de Cavalgar, ou Picaria e segundo os trajes, os usos, e estilos antigos, mais aproximados aos nossos tempos, e obtida a licença do Principe Regente procedeu á nomeação dos Cavaleiros; mas como os empregos, a idade, as moléstias inhabilitavam muitos Nobres para uma função tão desusada, e tão violenta, encarregou-se o Marquez de Ponte de Lima, Mordomo Mor da Casa Real de fazer por Avizos as convenientes nominações.
Os Senhores de Casa forão os primeiros nomeados porque representavam as famílias: e achando-se nesse tempo meu Pai impossibilitado com Gota, e assim mesmo sempre activamente empregado na Inspecção Geral do Terreiro Publico, e no Gabinete de S. A. R., e nessa occasião gravemente enfermo meu Irmão primogénito, recaiu sobre mim (ainda Solteiro) essa organização.
Foi encarriegado da direção Geral das Cavalhadas o Sargento Mor e Mestre de Picaria Manoel Carlos de Andrade, aissim como também aos ensaios gerais, que se fizeram na Tapada Real da Ajuda, exercitando-se separadamente os Cavaleiros nos Picadeiros de Belém, Quinta da Praia, Colégio dos Nobres, do Conde de Óbidos, do Marquez de Abrantes, e do Marquez de Castelo Melhor.
Assentou-se que fossem 32 os Cavaleiros, que formariam 4 Turmas, ou divizões, a que chamaram FIOS, que cada FIO se formaria de 8 Cavaleiros; e destes um seria o Guia, o outro o contra-Guia; que o vestuário seria o rigoroso antigo á picadora; que cada Fio teria uma diferente cor; que as 4 cores seriam Verde, Escarlate, Azu1 ferrete, e Amarelo; que os Fios Verdes e Azul seriam agaloados de ouro; e de prata o Escarlate e o Amarelo, que os Guias, e contra-Guias fossem nomeados pelo Marquez Mordomo Mor; e que as cores dos Fios, e os 6 Cavaleiros correspondentes a cada Fio fossem sorteados; que os arreios, jaezes, e enfeites dos cavalos fossem á antiga, e rigorosa moda portuguesa; que cada Cavaileiro montaria um cavalo de manejo para a Entrada, e para o CARROUSEL acompanhado de mais três Corseis, ou rocins, destinados para as escaramuças, e diferentemente arriados; que cada Cavaleiro seria seguido da 6 Criados de Libré ricamente fardados segundo os estilos das suas Casas, 8 para lievairam na mão, ou braço, uma lança, outro o escudo com timbre das suas armas, o terceiro o teliz, e os outros 3 para cada um levar á mão os três rocins, o que multiplicado por 32 dava um total de 128 cavalos, e 224 criados de libré; que cada Fio seria precedido da uma Banda de musica militar a cavalo de 20 Músicos fardados com as correspondentes cores de cada Fio, vindo a fazer o numero de 80 músicos a cavalo, e que as carruagans, dos Cavaleiros em grande Fiochi com os seus Moços de estribeira, ou ferradores seguiriam a Cavalgada nos dias das Cavalhadas.
E com tanta actividade, boa vontade, e inteligência se aprontaram os Cavaleiros, que S. A. R., o Principe Regente ordenou que os dias 2 e 11 de Novembro fossem os dias destinados para as Cavalhadas; o tempo estava sereno, e seguro; era o Veranico chamado S. Martinho.
No dia 2 de Novembro ao meio dia partiram os 32 Cavaleiros nas suas carruagens para o passeio publico, onde se reuniriam, assim como as suas equipagens e trens; na Rua larga do centro montariam a cavalo, reunindo-se separadamente os Cavaleiros aos seus respectivos Fios formando em linha ao som das 4 Bandas de musica; a um sinal convencíonado metaram em coluna, e desfilaram para a Praça das Cavalhadas, (onde o Príncipe Regente com a Família Real deveria chegar ás 2 horas da tarde) marchaindo a passo na Ordem seguinte:

«Dos Cavaleiros o estrépito parece
«Que faz que o chão debaixo todo treme;»
«O coração no peito, que estremece,»
«De quem os olha se alvotoça, e teme.»
Cam. C. 6.

Um luzido esquadrão de Cavalaria precedia os Cavaleiros, e depois de um intervalo regular rompia a marcha a Banda militar de 20 músicos a cavalo do primeiro Fio, formado dos seus 8 Cavaleiros a saber:
FIO VERDE
GUIA
Duque do Cadaval.
CONTRA-GUIA
Conde de Aveiras (1) — Nuno.
CAVALEIROS.
Marquez de Abrantes.
Marquez de Lavradio.
Conde de Sampayo (2) —Manoel.
D. Vasco da Camara (3).
Conde de Caparica (4).
José Telles da.Silva.

(1) Depois -— Marquez de Vagos.
(2) Depois — Marquez de Sampayo.
(3) Depois — Marquez de Belmonte.
(4) Depois — Marquez de Valada

Marchavam os Cavaleiros a 2 de fundo, o Guia na frente o Contra Guia na retaguarda, e ao lado de cada um dos Cavaleiros marchavam da parte de fora, e em linha três criados de libré respectiva a cada um, levando um a lança, outro o escudo, o terceiro o teliz.
Atraz do Contra-Guia de cada Fio seguiam-se os 24 Cavalos, Rocins para mudar, pertencentes aos 8 Cavaleiros do mesmo Fio, três para cada Cavaleiro, e levados á mão pelo cabrestilho pelos outros três criados de cada um.
Esta ordem de marcha do Fio Verde foi seguida em tudo pelos seguintes três Fios, com as suas distancias necessárias para a boa ordem, e brilhante desenvolvimento da Cavalgada.

FIO ESCARLATE
GUIA.
Marquez de Alorna.
CONTRA-GUIA.
Marquez de Angeja -— D. Pedro
CAVALLEIROS.
Correio Mór do Reino (5).
Marquez das Minas.
Visconde de Asseca — Salvador
Marquez de Ponte de Lima – D. Thomaz
Conde da Ega- (6) -— Ayres
José Sebastião de Saldanha Oliveira e Daun.(*)

(5) Depois — Conde de PenafieL
(6) Por falecimento da Condessa da Ega a 3 de Novemhro do mesmo ano,foi substituído por seu Irmão Joaquim de Saldanha de Albuquerque.
(*) Mais tarde 1º Conde de Alpedrinha

FIO AZUL FERRETE
GUIA.
Conde de Óbidos.
CONTRA-GUIA.
Marquez de Niza — D. Domingos
CAVALLEIROS.
Marquez de Penalva.
Conde de S. Lourenço (7)- José
D. Nuno Alvares Pereira de Mello
Visconde de Barbacena (8).
Francisco de Mello (9).
Conde de S. Miguel.

(7) Depois — Marquez de Sabugoza.
(8) Depois -— Conde de Barbacena.
(9) Depois — Conde de Ficalho.

FIO AMARELO
GUIA.
Marquez de Tancos — D. António.CONTRA-GUIA.
Marquez de Marialva — D. Pedro
CAVALEIROS.
Conde de Valadares (10) — Álvaro
Marquez de Tancos — D. Duarte
Conde da Sabugal
D. Fernando de Lima.
D. Gregório Ferreira d'Eça (11)
D. Pedro Manoe1 de Menezes

(10) Depois — Marquez de Torres Novas.
(11) Depois -— Conde de Cavaleiros.

Seguia-se um Corpo de Cavalaria, e atraz dele seguiam-se as 32 Carruagens dos Cavaleiros puchadas por 4 cavalos, ou machos em grande gala com seus moços de estribeira, ou ferradores ao lado, e a cavalo, e que fecha, vão a marcha da Cavalgada a qual se dirigio á Praça do Comércio, atravessando diagonalmente o Rocio, hoje Praça de D. Pedro e a rua Augusta por entre Alas e um imenso concurso de Povo apinhado nas ruas e nas janelas aplaudindo, e dando insessantes Vivas aos Cavaleiros.
(Continua)

08/05/2013

Um comentário:

  1. Gostei
    Quando eu tinha cerca de 15 anos, um tenente de cavalaria gaseado da 1ª Grande Guerra.organizava umas cavalhadas com muares das diversas casas agricolas de Fronteira... cada equipa era formada por 4 muares e cada cavaleiro vestia uma blusa e calças a duas cores e uma manta em cima do lombo da besta montada em pêlo , tambem com as mesmas cores..o resultado economico era a favor do asilo dos velhos
    Eu montava um macho russo e ganhei diversas provas e tenho ainda um trofeu de recordação..era bonito...hoje não há uma mula em Fronteira...lembro-me de serem 12 equipas... e antesabria o cortejo o dito tenente e o meu pai como Presidente da Camara
    Ainda vinhem de Extremoz uns clarins a tocar umas marchas a cavalo.
    José Brito e Castro

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