A GANÂNCIA E O “SOPHOS”
Diz a Bíblia que Deus, no fim de fazer uma porção de coisas, aliás tudo quanto existe, fez o homem, e depois descansou.
Por muito respeito que tenha por Deus, por Deus... não é difícil imaginar o quanto Ele devia estar estafado para ter feito coisa assim ruim, mal acabada, sabendo, com a Sua onisciência, que esse novo, último, bichinho, ia pôr tudo a perder. E pior, descrente até de quem o criou.
Mas Deus, sabia o que estava a fazer. Esta última criatura estava fadada a escolher a sua vida, o seu ambiente e, sobretudo, o seu futuro! Fez o homem de matéria e espírito, embalagem reciclável e conteúdo etéreo, carne e alma, Deus e Demônio, o ego. O EGO !
E porquê? Uma vez que lhe deu essa embalagem reciclável – “tu és pó e ao pó voltarás” – de duração pouco mais do que instantânea, e assim algo sem futuro, soprou-lhe o tal Sophos, o espírito, a alma, a consciência, para lhe dar a escolher entre esta vida que são uns escassos átimos no Cosmos, e o seu verdadeiro Futuro.
Mas deixou-lhe o Ego (a embalagem, o Diabo) à ilharga, e esse não descansa nem no sétimo dia! Nunca. Porque ganhar o Espírito Eterno sem combater, só é próprio dos irracionais ou dos vegetais. Estes vivem de forma pacífica, não são invejosos nem vaidosos, e tudo quanto fazem é unicamente pela preservação da espécie.
Desde há muito que os homens pensam que com orações, peregrinações, doações, sacrifícios físicos, promessas e outras atitudes semelhantes podem livrar-se do seu Ego e assim substituí-lo pela verdadeira Vida, a do Espírito. Quanto engano. Como os homens se enganam a si próprios tão facilmente! Aliás, fingem que enganam!
É evidente que orar é bom, importante, mas muito mais eficaz serão os momentos de silêncio e meditação, do conhecimento do seu interior, da “discussão” da escolha, da procura do “conhece-te a ti mesmo”, da luta pela escolha do caminho que, logo, logo, o pode levar a uma vida melhor!
Que “silêncio” “vemos” hoje? O som das bombas, o estampido das balas, os pregões de bolsas de valores falsos, os berros para comprar ou vender o que não se tem, os sons das boates cheias de gente inútil, os discursos acintosos de total mentira a ecoar por todas as assembléias do mundo, um enriquecimento cada vez mais ostensivo, e do outro lado o verdadeiro silêncio de milhares, milhões, centenas de milhões, que não têm mais força para pedir um pouco de comida ou um golo de água, a tristeza de milhares de trabalhadores que todos os dias perdem os seus empregos não só em África, mas na Europa orgulhosamente falida ou nos EUA orgulhosamente fortes pelo seu incomensurável armamento, mas também doente.
Assistimos à Grécia a não dar um passo para sair da desgraça que está a acabar com o país, aos ditadores a matarem milhares do seu próprio povo, como fizeram Stalin ou Mao, para segurarem o seu asqueroso ego e as suas fortunas incalculáveis.
E ao negócio de armas, drogas e medicamentos a extorquirem o quanto podem à custa de tantas vidas!
Todos os dias as notícias que ganham as manchetes dos jornais ou os destaques das televisões, nos mostram o contínuo roubo, a guerra, o descalabro, o desequilíbrio, mostrando que se vendem cada dia mais e mais objetos de luxo, como iates de mais de centena de milhões, relógios de ouro com diamantes. A especulação está completamente louca.
Ali mesmo, ao lado desta vida escabrosa... a miséria.
Vai durar ainda quanto tempo isto? Não pode durar muito, no entanto o suficiente para matar mais uma quantidade inconcebível de excluídos.
Quem pára para um profundo exame de consciência? Quem luta, sem tiros, para levar um pouco de conforto, seja ele qual for, aos excluídos do mundo? Meia dúzia! Heróis que partem para a sua batalha sabendo-a perdida, e assim mesmo não desistem!
Meia dúzia perdidos no meio dos sete bilhões de habitantes deste planeta que também agoniza!
Resta-nos a vida do Espírito.
07/09/2011
E quem não cuidar dela agora, e sempre, impossível que não venha a pagar. Será tarde.
07/09/2011
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