O BURRO
Burro! Grande burro! Muito burro! Asno! Ganda burro (à moda de Portugal)!
O grande burro, o Equus asinus, é, de fato um animal extraordinário!
Dócil, incansável, frugal, teimoso “que nem um burro”, o que mostra a sua personalidade, o melhor de todos os equinos para montar e fazer longas jornadas.
Houve um tempo, no velho Portugal, que cavalgar burros era reservado aos reis, alguns nobres e a abades e abadessas! O restante só podia cavalgar mulas. Os cavalos, simbolo de poder, eram, além de muito custosos, reservados para guerras, e extremamente incomodos para viajar. Também se sabe que Maria, quando da matança de crianças por Herodes, fugiu para o Egito em cima de um burro. E foi ainda um burro que carregou Jesus, na sua entrada em Jerusalém, onde foi condenado, torturado e crucificado.
Os burros são mesmo uns “burros de carga”! Carregam pesos enormes, e lá seguem, seu ar humilde, submisso, passo vagaroso, cadenciado, andando por veredas e encostas, com frio ou calor, sem parecerem jamais cansados, sem reclamarem, ajudando os homens nas suas tarefas mais difíceis.
E há quem se atreva a chamar burro a um homem como de um insulto se tratasse!
Todos nós, na vida, e quanto mais longa pior, fizemos disparates, dissemos barbaridades, e houve quem teve a misericórdia de nos chamar de burros, ou nos dizerem que fizemos burrice!
Que honra, que elogio, que cumprimento amável, poder ser comparado a um burro!
Lembro de, por mais de uma vez, quando eu tinha aí uns dez ans, uma mestra me colocar na cabeça umas orelhas de burro e me mandar para a janela, na intenção de me enxovalhar perante os que passavam na rua. Não me lembro já se alguém olhou para mim, mas lembro que aquilo era motivo de grande risada entre mim e meus irmãos! E a professora, pobre de espírito, acabava sempre perdendo o confronto!
Hoje creio que já ninguém me chamaria de burro, talvez levando em consideração as minhas barbas e cabelos brancos!
É pena. Porque me sentiria honrado com tal comparação!
Por isso, que ninguém se atreva a chamar burros aos políticos! Seria elogiá-los!
Chamem-lhes ladrões, mal intencionados, estelionatários, sem vergonha, cafagestes, não insultem a mãe deles por muita vontade (e hábito) que se tenha, porque a senhora nada tem a ver com o descaminho dos filhos, mas jamais lhes chamem de burros.
Burros somos nós, bestas de carga, que temos que aguentar toda a sorte de incompetências e ladroagem dessa gente, e continuarmos humildes, a levar nas costas as nossas cargas, a procurar cumprir com os nossos deveres, a sermos espoliados, a perdermos a esperança no futuro, sobretudo o dos nossos filhos e netos, e ainda sorrir com a família para lhes manter um pouco de ânimo e alegria.
Tal como o maravilhoso burro, o jumento, o jegue, o asno!
O problema é quando os burros começam a escoicear.
25/09/2011