quarta-feira, 30 de março de 2011

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Um Caso De

Falência Múltipla De Órgãos


Quantas vezes vem no necrológio dum jornal a morte dum, ou uma, velhinho/a, tendo como causa “falência múltipla de órgãos”. Quer dizer, não tinha mais por onde lhe pegassem.
Conheço um país que está à beira dessa falência e que pensa protelar o RIP com medidas que, mesmo aprovadas (?) por alguns grandes crânios, se tem visto que só aproximam o paciente do desfecho final.
E, pior ainda, a moléstia é de tal forma contagiosa, que se esse paísinho, mesmo pequenininho, explodir, pode provocar um trágico desfecho de contaminação geral. Um perigo. Um tipo de radiação euronuclear!
Apesar dessa previsão de falência, múltipla, de todos os órgãos da economia e da governação, há sempre no fundo do túnel uma esperança, e como para tudo há solução, sem necessitar que me paguem como, por exemplo, ao presidente da TAP ou da Caixa Geral de Depósitos – faço isto de borla! – sugiro aqui um plano de salvação do velhote de mais de 850 anos!
Vejamos:
A.- O presidente da República decreta, depois de amigavelmente convencido, nem que seja com uma pistola encostada à cabeça, estado de emergência, melhor ainda estado de guerra, em face da tremenda derrota que se avizinha, pior do que em Álcacer Quibir.
B.- Dissolve a assembléia e manda os deputedos, perdão, deputados, TODOS, para casa, sem indenização. Idem aos membros do (des) governo. E das autarquias.
A história nos mostra que os países sem governo são os que melhor progridem!
C.- Nomeia-me primeiro ministro, com carta branca, branquissima, e eu decreto logo:
1.- Não se mexem nas aposentadorias, até € 2.000. Revisão de todas as outras, sobretudo as absurdas.
2.- Diminuição geral de impostos, como IVA e alguns outros.
3.- Aumento de 100% nos impostos de tabaco e produtos considerados supérfluos e de luxo, como carros, e muitos outros.
4.- Corte nas despesas administrativas – governo, autarquias, etc. – de, no mínimo, 33%, incluindo pessoal, e 50 a 100% nos benefícios de cargo, etc.
5.- Redução de 50% nos salários dos “grandes” administradores de empresas estatais, ministros, deputados, etc.;
6.- Eleições para a Assembléia, reduzindo para menos de metade o número dos atuais deputados;
7.- Ministros, deputados, autarcas, etc. deixam de ter carro particular. Os carros passam a ser uso exclusivo em serviço, até para o primeiro ministro.
8.- Aumento do imposto de renda até 90% para quem ganhar acima dum teto a estabelecer.
9.- Dos eventuais lucros bancários estatais ou privados, proibição de distribuir sequer um cêntimo a acionistas, até os bancos terem suas dividas saldadas.
10.- Isenção de impostos para novas empresas, por um prazo mínimo de cinco anos.
11.- Idem para a criação de novos postos de trabalho.
12.- Redução das taxas de juros.
13.- Cadeia para todos os que se aproveitaram, roubaram, em empregos públicos e na banca. Dez anos na solitária, e reposição dos valores roubados e/ou desviados.
14.- Idem para especuladores, de qualquer ordem.
15.- Limite do valor a pagar em aposentadorias.
16.- Lei trabalhista e social igual para todos os trabalhadores, da função pública ou privada.
17.- E o que “mais audiante se ouvirá”.

Quem quiser governar tem que agradar ao povo.
Os mais poderosos, com habilidade, serão controlados.
Todavia, logo que isto seja posto a andar... demito-me! Antes que me matem.

Se assim mesmo não resultar... chamem o velho Salazar.

28 mar. 11

domingo, 27 de março de 2011


Grandes Homens – 3

Ainda Silva Porto e o seu tempo


Não vale a pena repetir que Silva Porto foi um grande sertanejo, homem honesto, trabalhador, que, enquanto sempre português, conseguiu um bom entendimento e amizade com praticamente todos os sobas de Angola. No século XIX.
Muito choram alguns ignorantes, a “desgraça” que foi para o povo das “colônias” portuguesas os “500 anos de colonialismo”!
Até 1890 Portugal tinha alguns lugares fortificados, que talvez não ocupassem um por cento do território! Para circularem e comerciarem pelos outros noventa e nove, tinham os “pombeiros” que pagar tributo aos sobas, por vezes tributos pesados, quando não assaltados e roubados de toda a sua “fazenda”! O próprio Silva Porto sofreu um violento ataque à sua libata em Belmonte, tendo ficado gravemente ferido, mesmo sendo, com o mais velho sertanejo Guilherme José Gonçalves, “homens de reconhecida capacidade, e que os povos têm muita consideração.”
A região do Bié pode considerar-se o centro geográfico de Angola. Planalto, com altitude média de 1.200 metros, daquela região nascem quase todos os rios que banham o país, o que permitia estabelecer ligações fáceis (?) em todos os sentidos.
Já vimos que Livingstone chamava mulatos aos comerciantes portugueses, incluindo o “chefe do bando”! Tinha alguma razão nisso, porque naquele tempo, entre 1843 e 1846 foi possível fazer uma lista dos “moradores-comerciantes” que viviam no Bié. Cerca de cem. Cinquenta e quatro eram negros, quarenta mestiços e somente seis brancos. Todos sabiam ler e escrever e haviam adotado algumas “regras européias”, como por exemplo usarem calças! “Nestas paragens dão o nome de brancos a todas aquelas pessoas que vestem calças, sem exceção de cor e menos de condição, é bastante para isso possuir alguma fazenda.” Bastava esta “indumentária” para serem reconhecidos como comerciantes e brancos! (Alguém imaginaria isto possível em colônias inglesas?)
Coisa curiosa, porque, um século mais tarde, sobretudo em Luanda, passou a usar-se o termo “calcinhas”, aplicado ao indivíduo africano, vaidoso, normalmente ignorante, mas que queria parecer “evoluído”! Será que o termo virá do século XIX ou XVIII?
Boa parte destes comerciantes, brancos ou não, recebiam as primeiras letras ensinadas pelos “professores” ambaquistas! Homens inteligentes, da região de Ambaca, onde foi grande a ação missionária.
Escreve Francisco Castelbranco, na sua História de Angola (Luanda, 1932), que “o ambaquista é ladino e manhoso. Conta-se que “tendo os ambaquistas que dirigir uma representação ao governo contra certa autoridade provincial, ao assiná-la se levantou a dificuldade de quem o faria primeiro, porque nenhum queria figurar à cabeça; resolveram então inscrever as suas assinaturas em circunferência de círculo, que mostra bem a manha de que são dotados!”
Sensacional.
Esta capacidade do português conviver com outros povos mereceu do grande sociólogo Gilberto Freyre o conceito de luso-tropicalismo, de que se aproveitou Salazar para justificar a continuação do tempo colonial. E criou na maioria das cabeças africanas, que Gilberto Freyre teria, quase, incentivado o colonialismo! Ignorantes!
Mas há outro “retrato” dessa convivência. Está escrito num relatório enviado à coroa portuguesa em 1776, pelo então governador do Piaui, João Pereira Caldas, que “encontrou uma região tipicamente brasileira, misturada, miscigenada, sem distinções de raças e cores”. E mais: “Neste sertão, por costume antiqüíssimo, a mesma estimação têm brancos, mulatos e pretos, todos, uns e outros, se tratam com recíproca igualdade, sendo rara a pessoa que se separa deste ridículo sistema.” (Laurentino Gomes, em “1822”).
Voltemos ao Bié. Nos primeiros anos após a abolição da escravatura, que Portugal decretou para todo o império em 1836, o movimento comercial no Bié caiu muito, e entre 1840 e 1846, a situação dos comerciantes era de extrema penúria, “vivendo os descendentes de portugueses ao desamparo, vestidos à moda gentílica, sujeitos a serem vendidos, como têm sido a maior parte deles pelo gentio!” (segundo Joaquim Rodrigues Graça, sócio e talvez amante da famosa D. Ana Joaquina dos Santos Silva, uma das mais poderosas comerciantes e traficantes de Luanda, em “Expedição ao Muatayânvua”, 1848). Só lentamente se recuperou o comércio, com marfim, urzela (1), cera, e a goma copal (2), sendo os dois primeiros os de maiores valores. E um pouco de óleo de palma e couros.
A “fazenda”, que era a “moeda” usada nas trocas comerciais no interior, era quase composta de zuartes, fazenda de lei (esta constando de quatro variedades todas de fraca qualidade: chita ordinária; crumadel ou coromandel, chita indiana); tapulins ou mabala, nomes brasileiros para uma espécie de tecido de algodão; birola, fazenda de algodão importada de Inglaterra para o Brasil e daqui reexportada para Angola e manguina (também inglesa e reexportada), pintados, lenços, riscado, algodão cru, baeta (tecido caro mais utilizado para presentes ou tributos), missangas, coral verdadeiro e falso, campainhas e outras miudezas, armas lazarinas e reúnas (3) e pólvora.
No entanto os tecidos representavam mais de 37% do total.
Ainda voltaremos a Silva Porto e o seu tempo.

(1) – Urzela: uma espécie de líquen tintorial – Rocella tinctorica – que fornece uma bela cor azul-violácea.

(2) – Goma copal: é uma resina vegetal, de alta qualidade, usada para fabricar vernizes, sendo chamada em Angola também de Kausi.
(3) – Lazarina era uma arma de fuzil comprida e de pequeno calibre, primeiro de fabrico português, mais tarde belga e por fim em Inglaterra. Trazia gravada a legenda “Lazaro Lazarino Legitimo de Braga” enquanto fabricada em Portugal e na Bélgica. Por fim chamada de "reúna".

15/03/11

sexta-feira, 25 de março de 2011


REMEXENDO EM PAPEIS VELHOS

COM  IDÉIAS  ATUAIS



Volta que não volta, remexo em livros já lidos, por vezes mais do que uma vez, por que a memória começa a ficar perdida, sem saber o que sabe! Já Dante dizia que não podemos nunca atingir o conhecimento se não o conservarmos!
E encontro coisas curiosas!

O tal pai da psicanálise teve tiradas de “mestre”! Uma delas ao analisar um escrito de Leonardo Da Vinci, em que este descreve um sonho de infância - “Um abutre desceu até mim, me abriu a boca com a cauda e bateu com ela muitas vezes contra os meus lábios” - Freud afirma logo que este sonho era prova de homossexualidade latente! Está mesmo a ver-se Leonardo da Vinci a fazer amor com um urubu! Segundo estudiosos, Freud interpretou mal os escritos de Leonardo, mas “glorioso”, assim mesmo, emitiu a sua opinião!
Eu não me lembro de ter sonhado com qualquer urubu, mas com passarinhos bonitos, delicados, borboletas e outras “mariquices”. O que diria Freud de mim?
Mais tarde o mestre concluiu que o olhar da Mona Lisa, Santa Ana e a Virgem, eram o reflexo do seu carinho pela mãe, uma pobre criada de servir.
Sabia “à brava” o tal de Sigismund! Até de criadas de servir.

Em outro livro reencontro a evidência do princípio das grandes crises financeiras que hoje enfrentamos. O enriquecimento baseado não na produção, mas nas transações financeiras! Tal como hoje, quando com um só telefonema se podem ganhar, ou perder, milhões, sem que haja trabalhadores a produzir o que quer que seja.
Começa esta “festa” na Itália quando são “inventados” os bancos. Para se evitar que os comerciantes que cruzavam a Europa em todos os sentidos, carregassem consigo grandes quantidades de dinheiro, sujeitos a assaltos e roubos, uma rede de “agentes bancários” foi-se estabelecendo, emitindo “lettere di credito” e... ganhando, ganhando.
Mas não foram só estes que enriqueceram. Foram também aqueles que, sobretudo, comerciavam mercadorias de luxo. Como hoje, quando um mesmo relógio cheio de brilhantes pode valer entre 1.000, 2.000, ou 20.000! Valor arbitrário.
Este ano a Forbes apresentou um bilionário francês, cuja fortuna aumentou 45% em 2010. Como? É dono ou sócio majoritário de grandes marcas de luxo, desde roupas a jóias, relógios e outras inutilidades!
Quando a Europa se viu invadida com as imensas quantidades de ouro roubadas da América pelos espanhóis e, quantas vezes aproveitadas pelos corsários, o ouro excedeu de tal forma o ritmo de produção de mercadorias, que o resultado foi a primeira grande e catastrófica inflação que a Europa sofreu.
E para que servia o ouro? Para ostentação! Porque na realidade vale tanto como papel moeda. Se um indivíduo se perder, no meio do nada, esvaído de fome e sede, e tiver baús cheios de ouro e notas... de que lhe valem? De nada. Daria até toda essa “fortuna” por uma galinha, ou duas batatas ou bananas! E até por um copo de vinho!
Hoje vemos os preços das malfadadas commodities a subir, quando o custo de produção baixa, porque os intermediários são os mesmos, que parece pretenderem levar o mundo à ruína.
A “coligação” está entretida a destruir o máximo de material de guerra de que dispõe o louco assassino da Líbia. Claro que ele, assassino perigoso, como já o provou, merece ser enjaulado, julgado e esculhambado. Mas assim que a Líbia entrar na normalidade (quando, e se ???) a primeira visita que receber desses “amigos coligados” será para venderem novas armas!!!
Está tudo louco.

Praticamente na mesma data, e sem se conhecerem, dois homens escreviam duas teses diametralmente opostas, sobre a conduta dos homens e dos governantes.
Enquanto um, meio platônico, cristão, preocupado com o sofrimento do povo e a arbitrariedade dos governantes, escrevia sobre a igualdade, e classificava o dinheiro como a origem de todos os males, um autêntico utópico, o outro, pés no chão, diz-nos que aquilo a que temos que nos ater é ao que os homens fazem e não ao que deviam fazer!
Para aquele, simples montanheses, em quase nenhum estado de civilização, quando ainda são puros, poderiam fundar uma república ideal, enquanto que os que vivem em cidades, se habituam depressa à corrupção e ao mal.
“Os homens são perversos e não guardarão a sua palavra perante ti! Um príncipe não hesita em intrujar o seu povo e enganá-lo.”
O primeiro enaltece um quase paraíso na Terra, onde não houvesse dinheiro, a raiz de todo o mal. E vislumbrava já a conspiração dos ricos procurando vantagens em nome da comunidade; “inventam e planejam todos os meios e possibilidades para usar do trabalho dos pobres, pelo mínimo possível de dinheiro. E estes planos quando os ricos os decretam... tornam-se leis.”
Enquanto um “ensinava” os governantes a aparecerem perante o povo ricamente adornados, o outro dizia que odiava ver os homens mourejando para fazerem coisas frívolas e inúteis, ávidos da própria vaidade, para superar os outros, com a vã ostentação de “inutilidades gloriosas”.
Um rejeitava a idéia do Estado onde governantes impõem os seus desejos pessoais. E ia mais longe: “será extremante raro encontrar um homem bom, disposto a usar de meios perversos para se tornar príncipe, mesmo quando o seu objetivo é bom, como encontrar um homem mau que, depois de príncipe, esteja disposto a trabalhar para bons fins, ou que lhe viesse ao espírito usar para bons fins a autoridade que adquirira por meios depravados.” O outro considera que os fins justificam os meios, e daí a psicologia da guerra.
Depois destes fracos considerandos, imagino o que Freud diria de mim: um platônico, utópico... um idiota! Aqui, sou obrigado a aceitar o veredito do mestre psicanalista!
Resumindo:
1.- O primeiro, o bom, acabou decapitado.
2.- E quem alguma vez chegou a governante sem ter feito trapaça, corrompendo, ou entrado em guerrilha contra os próprios irmãos?
Lembram-se de Príncipe Perfeito português?

24 mar. 11











terça-feira, 22 de março de 2011



Grandes Homens – 2



Ao contrário do que está escrito na Wikipédia, foi em 1521 que a pequena península de A-mao Gao, foi concedida, pelo Celeste Império, a um punhado de marinheiros portugueses, por terem exterminado o famoso pirata Tchang-sy-láo, que assolava os mares da China. Concessão feita para que os portugueses a partir dali pudessem comercializar não só com a China, mas com todo o Oriente.
Esses privilégios foram não só confirmados, mas prometidos a seus sucessores e compatrícios, no ano de 1809, quando, mais uma vez os portugueses deram prova do seu inigualável valor, ao derrotarem outro temível pirata, Apocha, com o nome de Qua-apou-Chay e seu parente Ajuo-Chay, descendentes da antiga dinastia que os tártaros haviam expulsado do trono.
Em 1785 estes chins revoltaram-se, querendo retomar o trono que lhe havia sido usurpado, conseguindo uma multidão de apoio às suas idéias, e começaram a atacar navios chineses e algumas ilhas de Quang-tong. Satisfeitos com os sucessos obtidos e engrossando cada vez mais adeptos, em 1807 chegaram a ameaçar o interior de Cantão, que aparelhou 80 taós (juncos de guerra) e várias lorchas (embarcações semelhantes aos juncos, mas de menor porte), que acabaram completamente derrotados.
Qua-apou-Chay e Ajuo-Chay eram os donos dos mares da China, e sua frota alcançava 600 juncos, 350 do comando do primeiro e 250 do segundo, além de auxiliados por milhares de lorchas. Diariamente apresavam centenas de barcos e recrutavam mais gente, chegando a contar com 40 a 60.000 combatentes! Com este potencial nada parecia resistir-lhes. Decidiram por fim dar também caça aos portugueses, que até 1805 haviam sido respeitados.
O Senado de Macau mandou logo construir um brigue “Princesa Carlota” entregue ao tenente Pereira Barreto, uma fragatinha “Ulisses” ao capitão de artilharia José Pinto Alcoforado de Azevedo e Sousa, e uma pequena lorcha de 20 toneladas ao piloto José Gonçalves Carocha.
Saídos para o mar, no primeiro encontro desbaratam 50 juncos e táos, entre eles um grande táo de 20 peças e 350 homens que foi abordado pelo tenente Barreto, seguido de trinta marinheiros; de espada nas mãos mataram toda a tripulação, que não se rendeu nem um! O valente chefe do táo, o último a ser vencido, à vista da derrota, agarrou a mulher pelos cabelos, decepa-lhe a cabeça com um só golpe e abraçado ao cadáver atirou-se às ondas. Tal a fama deste português que passou a ser chamado de Tigre!
Para se desforrar da derrota sofrida, os piratas chins decidiram ficar também pairando perto de Macau, e ao saberem da partida do Tigre na Ulisses, para o Rio de Janeiro para cumprimentar o príncipe regente, que o promoveu a capitão de fragata, saquearam algumas ilhas próximas de Macau, e voltaram a atacar ferozmente a esquadra imperial, que mais uma vez desbarataram.
Pouco tempo depois um brigue vindo de Goa foi acometido pelos piratas com toda a sua esquadra, que o cercou. O brigue foi abalroado, centenas de homens o invadiram, e depois de totalmente vencido foi conduzido à vista de Macau com a bandeira portuguesa arrastando na água em sinal de desprezo.
A situação tornara-se difícil para Macau, e para o imperador, que assinou uma convenção com os portugueses, em que a China acordou em pagar 80.000 taéis de prata (cerca de 40 gr. cada) e Macau poria em serviço as seis embarcações de que dispunha.
A “marinha” de Macau não dispunha de mais do que 6 navios, com 118 peças de pequeno calibre e 730 homens.
- Inquestionável, de 400 toneladas e 26 peças, com 160 homens, com o comandante em chefe o capitão de artilharia, atrás mencionado;
- Palas: 18 peças, 130 homens sob o comando de Luiz da Costa Miranda;
- Indiana: 24 peças, 120 homens comandado por Anacleto Alves da Silva;
- S. Miguel: 16, com 100, comandado por Félix José dos Remédios;
- Belizário: 18, com 120, comando de José Alves; e
- Princesa Carlota: 16, 100 comando do piloto António José Carocha
A estes juntou-se a armada chinesa composta de 60 táos, 1.200 peças de artilharia e 18.000 soldados e marinheiros.
No primeiro dia de combate a maior parte dos juncos inimigos fugiu e se dispersou, alguns foram queimados, outros afundados. Dias depois, à vista de Macau, apareceram os revoltosos com três grandes grupos de navios, e ali mesmo perderam mais quinze, sem que alguma baixa se fizesse do lado português.
Qua-apou-Chay viu que tinha a temer só dos portugueses, e propôs respeitá-los, não se intrometendo eles comigo, pedindo que o avisassem para não perseguir os vasos portugueses que navegarão livremente! Recebeu como resposta que se sujeitasse ao imperador, que em Janeiro de 1810 propôs anistia ampla a todos que se entregassem. Três dias depois encontraram-se os combatentes novamente e cortada a retirada a Aguo-Chay este mandou parlamentários para se entregar com 100 juncos, 30 lorchas e 8.000 homens, que o magistrado, ministro Arriaga, escolhido pelo revoltoso chin como medianeiro, aceitou. As embarcações foram entregues e as tripulações dispersas.
A mesma proposta foi feita a Qua-apou-Chay, que recusou, apesar de se ver sem o apoio do primo e de tantos navios, e continuou rondando as saídas de Macau, julgando-se capaz de derrotar os portugueses.
A 12 de Abril apresenta-se com a sua esquadra de 300 juncos, 20.000 homens e 1.500 bocas de fogo, manobrando para formar três divisões, procurando dispersar os poucos portugueses. Alcoforado, comandante em chefe, ataca sobre a sua frente com os seis navios, de tal forma que a vanguarda inimiga, composta dos maiores juncos não pôde resistir ao choque. Dez ou doze foram logo desmastreados, quatro afundaram e os restantes dispersaram-se, dando espaço à segunda divisão já agrupada em torno dos portugueses. O ataque foi feroz, mas estes, ao fim de uma hora puseram os juncos inimigos fora de combate em completa fuga. Restava a terceira divisão aumentada com os dispersos das duas primeiras, ao centro da qual flutuava a bandeira de Qua-apou-Chay. O comandante português não hesitou em segui-lo e mandou atacar, jogando artilharia em todas as direções, sem que algum tiro deixasse de acertar o alvo e ferisse horrivelmente.
Um dos navios mais importantes era o táo pagode, sempre escoltado por grandes juncos e várias lorchas, mas o Carlota ataca todos, atraca-o de tal forma que em poucos minutos o mar ficou coalhado de ídolos e figuras infernais, sem escapar um único bonzo (sacerdote), nem pessoa que nele estivesse! Esta terrível perda para aqueles fanáticos, e a morte pavorosa dos bonzos com a destruição dos ídolos, acompanhada do fogo incessante que os portugueses continuaram fazendo, todos os que puderam, fugiram. Os mais afoitos acabaram bloqueados, e Qua-apou-Chay, convencido da inferioridade dos seus meios, mandou parlamentário, propondo capitular. Pedia ainda ao comandante Alcoforado a honra de uma visita para conhecer de perto tão grande capitão.
Temiam oficiais e marinheiros que isso seria um ardil, e aconselhavam-no a não aceitar o convite, mas Alcoforado foi-se encontrar-se com o grande adversário que lhe disse:
- “Senhor, tinha intenção de forçar o bloqueio, sacrificando parte da minha esquadra, composta ainda de duzentos e setenta juncos... mas a galhardia com que acabais de confundir-me tira-me todos os desejos de lutar contra os portugueses. Vou entregar-me nas suas mãos.”
Foi aceite a capitulação, mas o entendimento entre o chefe revoltoso e o governador de Cantão, era de desconfiança mútua. Foi mais uma vez Alcoforado o homem de confiança a quem, ambos os lados, entregaram o desfecho da guerra, sendo Qua-apou-Chay recebido a dignidade de mandarim e almirante chefe do Celeste Império.
Saiu a frota imperial chinesa para o mar, passando por Macau. O inimigo vencido e reconciliado foi recebido com solenidade no Senado, e disse:
- “Deus imortal! Estão completos os meus desejos, vendo e abraçando os únicos homens que eram capazes de arrostar e destruir o meu poder. Onde está o valoroso comandante da Lorcha Carlota?”
- "Às vossas ordens" , respondeu Carocha, oferecendo-lhe a mão.
Qua-apou-Chay, com a gravidade chinesa, deu-lhe um demorado abraço, dizendo para os que o rodeavam:
-Eis o homem que mais dano me causou. Ele só, e a sua lorcha, inquietavam a minha esquadra; mas quem pode igualar os portugueses?

 
Eram assim os portugueses de antanho! Grandes homens que a história, medíocre ou covarde, esqueceu.
Hoje choram pelo comodismo a que se entregaram, deixando os governantes desbaratarem o país!

Condensado do livro “Quadro Navais”, do Comte. Celestino Soares, Lisboa, Imprensa Nacional, 1941.

21 mar. 11

sábado, 19 de março de 2011


Tributo ao Japão

O mundo inteiro tem assistido, horrorizado, ao descomunal desastre a que o Japão está sendo acometido. E se acompanhamos a sua dor, ao mesmo tempo nos rendemos à sua extraordinária capacidade de sofrimento e serenidade.
Hoje fui buscar um texto do sempre grande admirador e apaixonado pelo Japão, Wenceslau de Morais, que nos dá uma pequenina idéia da filosofia deste povo, que apesar de tudo não elimina a sua dor. A dor de cada um não há quem possa medir. E toda a dor merece o nosso respeito.
Transcrevi há dias um texto do livro “O Bon-Odori em Tokushima”, mas vem agora a propósito a explicação do título deste livro.

A dança do Bon-Odori

Bon-Odori. Estranha frase japonesa ; mais do que estranha, - incompreensível -, para leitores da minha terra. Eu explico. Bon é um vocábulo budístico, que significa a festa dos mortos. Com efeito, há no Japão, em cada ano, um período, geralmente de 13 a 15 do 7° mês do ano lunar, durante o qual se festejam os mortos; festejam, o que marca profunda distinção entre esta comemoração japonesa e a comemoração católica do Dia de Finados. Odori quer dizer simplesmente: dança. Bon-Odori é pois a dança da festa dos mortos, mística cerimônia congratulatória, persistindo desde os remotos tempos bárbaros, pela qual a família japonesa honrava por todo o império os seus defuntos; honrava e honra ainda, onde a ocidentalização dos costumes, na sua ação demolidora, ainda não abriu brechas nas velhas crenças, nas usanças populares.
Tokushima, onde me encontro, é uma cidade tranqüila da costa da ilha de Shikoku, pouco distante de Osaka e de Kobe; mas cujo povo se mostra estranhamente conservativo nos seus costumes. A cidade é famosa, desde tempo distante até hoje, pelo seu Bon-Odori.
Ora, em Kobe, onde fiz uma longa permanência, gente de Tokushima contava-me frequentemente maravilhas do seu portentoso Bon-odori. Tantas vezes as alusões se repetiram, tantas vezes o shamisen, a guitarra indígena, me tocou aos ouvidos a toada com que a chusma vai rompendo pelas ruas e dançando ao mesmo tempo, que há cerca de seis ou sete anos, desejoso de ver pelos meus olhos o Bon-odori em Tokushima, decidi-me por uma excursão de poucos dias, indo à cidade em época própria. Completa desilusão, porém tempo perdido. A quadra é traiçoeira. É então que se desencadeiam vulgarmente os terríveis tufões do mar da China; atingindo por vezes as costas do Japão, já enfraquecidos de ímpetos, mas ainda bastante tormentosos para causarem no país graves estragos.
Mas falemos da excursão. Já quando eu ia de viagem, a bordo de um pequeno vapor de carreira, de Kobe para Shikoku, o vento começou a soprar rijo, o céu a anuviar-se, o mar a enfurecer.
Em Tokushima, um temporal tremendo, rajadas formidáveis; chuvas diluviais; a cidade inundada; perdas de vidas; destroços importantes; um, de entre muitos, foi a completa demolição da ponte de Tomidá, só há pouco reconstruida. Claramente, não se comemorou naquele ano o Bon-odori em Tokushima.
Há pouco arremessou-me o destino de novo a esta cidade, não por alguns dias, mas por muitos dias; onde venho viver; onde, talvez venho morrer.
Vi, há alguns meses, por uns belos dias estivais, o Bon-Odori em Tokushima, em todo o seu clássico brilhantismo, em todo o seu místico frenesi de festa consagrada a todos os defuntos; dias de excepcional confraternização terrestre entre vivos e mortos, cada qual acarinhando os seus entes queridos que se foram e que envolvem, em espírito, ao lar familiar, por curtas horas; eu, pobre ignaro, de mistura com a multidão dos crentes, evocava também, por sugestão do meio, alguns mortos do meu conhecimento.
Comento agora: provavelmente, continuarei a ver aqui o Bon-Odori, por mais um ano, por mais dois anos, por mais três, eu sei lá... e após um ano virá, próximo, sem dúvida, em que o Bon-Odori volte a animar as ruas da cidade com as suas procissões festivas, Bon-Odori que eu então não verei, mas de cuja comemoração piedosa a minha alma penada, de forasteiro, que teve o capricho de vir aqui depor o mísero despojo do seu invólucro terrestre, poderá reclamar, não sei se com pleno consentimento de Buda, uma parte em seu favor...

Gostaria de me juntar a um próximo Bon-Odori. Mas como ocidental, em vez de dançar, eu choraria pelos seus mortos.
Com a lição que o mundo está a receber do civismo e da filosofia dos japoneses, muito lhes desejamos que não deixem enfraquecer, muito menos desaparecer, as suas tão bonitas tradições.

18/03/11

quarta-feira, 16 de março de 2011



COVARDES !!!

 
Estamos a viver uma época de horrores. Não há palavras que possam descrever o que se está a passar no Japão, que nós assistimos estupefatos, horrorizados, boquiabertos, pela televisão, sofrendo por aquele povo que, no meio duma imensa calamidade, está a dar ao mundo uma lição admirável de civismo. E pior, o que ajuda a doer, é nossa total incapacidade de fazer por eles alguma coisa!
Uma desgraça. Mas o Japão vai sair desta, e prosseguir a sua vida. A sua extraordinária filosofia de vida, cada vez mais me espanta, e mais admiro.
Outro, é a guerra na Líbia.
Depois da facilidade da Tunísia e Egito, era de calcular que o facínora, nojento, do Kaddafi, não ia sair de rabo entre as pernas. Ele que foi o centro de irradiação do terrorismo mundial, agora culpa, “para inglês ver”, a Al Qaeda, pelo que se passa no seu país. A chacina já vai grande e será muito maior.
Os bravos libianos, com umas espingarditas e umas metralhadoras, contra tanques e aviões de bombardeamento! Se a comunidade internacional não lhes acudir, serão implacavelmente esmagados. E nós, pela mesma televisão, a assistir.
Vemos o presidente Sarkozi “dar uma de macho”, mas... ficar-se por isso mesmo!
Vemos a Liga Árabe a condenar o Kaddafi, e... mais nada. Por todo o lado congelam-se as contas bancárias do gangster, e... por aí se ficam.
O Conselho de Segurança da ONU, uma autêntica palhaçada, uma vergonha, declarou que “ia impor” o embargo da venda de armas! Isto não é nem ridículo, é por demais ofensivo, porque se sabe que o bandidão tem armas que chegam para uma guerra de vários anos.
O G-8, que não serve também para nada, fica em cima do muro! E o povo líbio a morrer.
Ninguém toma decisões porque a Rússia e a China opõem o seu veto! Que história de veto é esse, em infelicissima hora inventada pelos americanos, que tolhe as ações da ONU?
Claro que a Rússia não pode dar o seu aval ao que quer que seja a favor dos revoltosos. Ela tem os mesmos problemas, pelo menos, na Chéchenia.
E a China? Tem o Tibete a pegar no pé dela.
Parece que não seria muito difícil, à sorrelfa, fazer chegar aos opositores da Líbia, pelo menos, uns quantos mísseis terra-ar e terra-terra. Já dariam cabo dos aviões e dos tanques, tornando a luta menos desigual.
Quem devia fazer isso era a França, que reconheceu como válido o governo dos revoltosos.
Mas... se o Kaddafi os esmagar, o que parece vai acontecer, ele que já está indiciado pelo tribunal internacional a responder por crimes contra a humanidade?
Vai acontecer: NADA.
Devolvem-lhe o dinheiro congelado, continuam a recebê-lo na ONU, e tudo fica por isso mesmo.
Mundo de covardes. Covardes sobretudo os europeus, que bem podiam mandar a Rússia e a China p’rá... e ajudar os revoltosos.
Sempre fui anti Che Guevara, porque ele foi um assassino frio. Implacável. E por isso também covarde. Mas nestas alturas até a mim me dá vontade de me alistar ao lado dos mais fracos.

16/03/11

terça-feira, 15 de março de 2011


Curiosidades

Portugal - 1814


É difícil imaginar o descalabro que foi, durante vários reinados, o governo “português” nos antigamentes, mas vamos dar uma pálida idéia do que se passava em 1814.
Só entre 1808 e 1814 devem ter morrido centenas de milhares de homens, mulheres e crianças, com a guerra, a miséria e a fome.
Com a família real no Rio de Janeiro, Portugal foi pasto dos exércitos ingleses. Eles, só, mandavam. Mas é impressionante ver a quantidade de oficiais, nas Forças Armadas, tanto em Portugal quanto no Brasil, sabendo-se que no Brasil praticamente não havia nem exército nem marinha, e o português estava desmantelado.
Era “rei” de Portugal o Duque de Wellington, que não abriu mão de ter no comando da maioria do exército, oficiais ingleses. Os portugueses “enchiam” os postos de major para baixo, os mais altos eram de nomeação inglesa.
Ficaram de fora os regimentos de artilharia e cavalaria, porque certamente eram menos importantes do que a infantaria, e nesse tempo não havia tanques!
Do mesmo modo a “marinha portuguesa”, i.é, os seus poucos navios, mantiveram os seus comandantes, uma vez que todos eles estavam subjugados à marinha inglesa.
Mas o que mais espanta é a exorbitante quantidade de marechais, generais, coronéis, etc., portugueses, quando se sabe que o nosso exército estava extremamente reduzido.
Também impressiona a quantidade de oficiais que foram atrás de D. João VI para o Brasil.
Se a corte já era mal administrada, perdulária, basta imaginar o que seriam estas largas centenas de oficiais, a grande maioria sem nada o que fazer, a não ser espavonear-se nas suas fardas cheias de enfeites, quais carnavalescos!
Para se ter uma idéia da organização das Forças Armadas em Portugal basta ver um pouco da sua composição, segundo o Almanach de Lisboa de 1814:

Estado Maior do Exércitos
Marechal General – Arthur Wellesley, Conde do Vimeiro, Marquez de Wellington e de Torres Vedras, Duque de Ciudad Rodrigo e da Victoria, Grande de Hespanha de primeira classe, Cavaleiro da mui distincta Ordem Militar do Banho, Grão Cruz e Comendador da Torre e Espada, e da Militar e Nacional de S. Fernando de Hespanha, Feld Marechal do Exército de Sua Magestade Britânica, Generalissimo dos Exércitos de Sua Majestade Católica, do Conselho do Príncipe Regente de Portugal, Marechal Real dos seus Exércitos, e Comandante em Chefe das forças aliadas na Península.

Marechal dos Exércitos - William Carr de Beresford, Marquez de Campo Maior, Conde de Trancoso.
Havia um terceiro Marechal de Exército, graduado - Marquez de Vagos... no Rio de Janeiro!

E mais:

Vinte e três Tenentes Generais, dezanove Marechais de Campo efectivos, sete Marechais de Campo graduados, oito Marechais de Campo reformados, vinte e cinco Brigadeiros efectivos, dos quais oito eram ingleses, cinco Brigadeiros graduados e quinze Brigadeiros reformados.
Além de inúmeros outros oficiais de menor patente.
Estado Maior do Marechal General Duque da Victoria
O coronel, João de Vasconcellos e Sá e mais dois ingleses, um coronel e um capitão
Estado Maior do Marechal Marquez de Campo Maior
Quartelmestre General, inglês, brig., além de cinco ajudantes às ordens, dois ingleses e três portugueses
Comando Geral da Engenharia (Todos portugueses)
Comandante Geral Mathias Dias Azedo, Ten.Gen., e mais um Marechal de Campo, três Brigadeiros, dez Coronéis, Tenentes Coronéis, Majores e mais um monte de capitães.
Inspeção Geral de Infantaria
Inspetor geral, John Hamilton, Ten.Gen.
Dos vinte e quatro Regimentos de Infantaria, dezesseis eram comandados por ingleses. Dos oito restantes, sete tinham como segundo comandante um inglês!
Mais doze Batalhões de Caçadores, dez comandados por ingleses
Depósito Geral de Recrutamento da Infantaria e Caçadores
Inspetor geral, Richard Blunt, Marechal de Campo
Cor. John Watling
Regimentos de Cavalaria
Dezesseis Regimentos, um só comandado por ingleses
Depósito Geral de Recrutamento da Cavalaria
Com. Cor. John Browe e Ten. William Leach
Marinha de Guerra
Nove Chefes de Esquadra, dos quais cinco no Rio de Janeiro, vinte seis Chefes de Divisão, vinte e um no Brasil, cinquenta e cinco Capitães de Fragata, mais quarenta e cinco no Rio de Janeiro, e um “mar” de outros oficiais.
Tudo isto além de muita outra gente colocada especificamente no Brasil.

Com toda esta parafernália, e os ingleses estavam unicamente interessados em manter Portugal como base para proteção das suas bases no Mediterrâneo, como Gibraltar, ameaçada pelas forças de Napoleão, e a prova desse desprezo pelo “pequenino aliado”, está por exemplo em permitir que as tropas francesas ao retirarem do país, vexadas, após as derrotas que sofreram, saqueassem igrejas, conventos, palácios, etc. “Essas coisas” não preocupavam o senhor Wellington. Portugal que empobrecesse...
A Universidade de Coimbra, tinha a seguinte estrutura:
O Reformador Reitor, o Bispo de Coimbra, e o Conde Arganil que vivia em Lisboa.
Mais um Cancellario, um Vice Reitor e um Secretário da Reforma que vivia também em Lisboa.
Na Faculdade de Teologia, oito lentes, mais sete substitutos e dezesseis “oppositores matriculados” *;
Na Faculdade de Canones, oito lentes e oito substitutos e quinze “oppositores matriculados”;
Faculdade de Leis, nove lentes, sete lentes substitutos e oito “oppositores”;
Faculdade de Medecina; seis lentes, quatro substitutos e seis “oppositores”, entre este os “demonstradores” de Anatomia, em Lisboa (!), e de Matéria Médica;
Faculdade de Matemática, sete lentes, três substitutos e quatro “oppositores”
Faculdade de Filosofia: cinco lentes, dois substitutos e cinco “oppositores”
Real Colégio das Artes

Professores de Filosofia e moral, Antiguidades e história, Rhetórica e Poetica, dois de Língua grega, dois de Língua latina, além dois outros sem função anotada, mais seis substitutos;

Lisboa tinha cerca de setenta médicos e quase cem cirurgiões! Negociantes “nacionais” no Rio de Janeiro eram cerca de duzentos!

Podiam indicar-se mais um imensa quantidade de números de ocupações que hoje nos parecem absurdas, porque produzir-se... produzia-se muito pouco!
Foram complicados aqueles tempos... e continuam ainda hoje! A diferença é que hoje não são as ordens religiosas e a imensidão de militares “penduras” que empobrecem o país, mas a sua substituição por uma democracia partidária, que permite a uns quantos da camarilha que esbanjem, destruam e roubem o quanto quiserem, enquanto a miséria, que é visível, cresce nesse velho torrão lusitano.
* Oppositores - Eram os candidatos ao lugar de professores. Possivelmente doutorandos, estagiários.

12/03/11















sexta-feira, 11 de março de 2011


Grandes homens - 1


Muito se fala de David Livingstone e das suas explorações em África. Sobretudo por causa do famoso encontro com o jornalista Stanley, e da inusitada frase deste ao encontrar o explorador, missionário e comerciante: “Dr. Livingstone, I presume?”
O grande sertanejo Silva Porto, nascido no Porto em 1817, e onde estudou as primeiras letras, chamou-se Antonio Francisco Ferreira da Silva. De família pobre, seu pai tinha sido condecorado com distinção, como soldado do 18° regimento de infantaria, na chamada Campanha Peninsular, e sua mãe, criada em casa duma família. Aos 12 anos, terminada a instrução primária, seu pai pergunta-lhe que profissão queria seguir e ele respondeu logo: “o comércio, mas no Brasil”, porque “desde a infância sonhava com uma linda árvore cheia de patacas”; embarca então para o Rio de Janeiro, onde foi trabalhar na rua de S. José, armazém de louça de Gregório José Teixeira. “Um dia recebi uma bofetada de um serviçal, por ter vendido uma peça de louça e ter colocado o dinheiro em cima da mesa e não na gaveta. Sebastião, que assim se chamava o meu agressor, chegando próximo e por detraz, assenta-me a bofetada, e eu voltando-me, retribuo a ofensa com outra bofetada, mas criança, ferida no meu pundonor, ponho-me a chorar. N’este entrementes entrando meu amo, e informando-se do ocorrido, ao contrário de mandar castigar o preto, passa a repreender-me do meu descuido; eu porém não o deixei acabar. Pego no chapeo, que ponho na cabeça, e incontinente ponho os pés na rua. Que havia de ocorrer? Ir queixar-me a D. Pedro II e pedir-lhe emprego!”
Não chegou a tanto, porque no meio do caminho, depois de ter passado “a rua de S. José, Largo da Carioca e Rocio, Campo de Sant’Anna ao tempo, e mais ruas da cidade, até chegar na de São Christovam,” é abordado pelo dono de uma taberna que lhe deu abrigo até encontrar novo trabalho.
Espírito irrequieto, criança ainda, na sua estadia no Rio passou por nove empregos, mas desejoso de independência, em 1835 vai para a Bahia, e em 1836 adota o sobrenome de Silva Porto, não só em homenagem à sua terra natal, mas para evitar confusões com outras pessoas que tinham o mesmo nome.
Em 1837, na sumaca(1) Novo São José, vai a caminho de Angola, onde não lhe corre bem a vida; regressa à Bahia, que encontra em plena revolução do Sabino, que paralisara todos os negócios, e no ano seguinte está de novo em Luanda, a trabalhar num pequeno estabelecimento pré falido!
Depois de dois empregos em tabernas pobres, e “na impossibilidade de continuar ao serviço de um comerciante pobre, e das idéias com que estava, influenciado com as entradas de todos os pontos do interior, e desgostoso por me fazerem sentar praça no batalhão de voluntários de Loanda”, reduziu as suas pequenas economias à compra de algumas “fazendas”(2), e ainda em 1839, “dei princípio à minha carreira de sertanejo”, que só terminaria, em tragédia, em 1890, quando se sentindo desprestigiado e desamparado pelas autoridades, pôs fim à vida, enrolado na bandeira portuguesa, fazendo explodir oito barris de pólvora.


Estátua de Silva Porto que esteve na cidade que começou sua existência com o seu nome, hoje se chama Kuito... e a estátua... sumiu! Além disso parece que Silva Porto, quando usou barba, e foi pouco tempo, teria a barba curta!

Apesar de ter só a instrução primária, escreveu, sempre, muito, e os seus apontamentos são uma magnífica fonte de conhecimento do interior de Angola.
Um dos assuntos que também muito o “ofenderam” foi a maneira como Livingstone descreve a sua caminhada por África.
Primeiro, porque se vangloria de ter descoberto “tudo” por onde os portugueses andavam já há muito, muito, tempo. Mas Livingstone percorreu África sempre com bastante dinheiro e acompanhado dum engenheiro, que lhe permitiu definir com mais precisão a região que era conhecida por pouco mais do que “a tantos dias de viagem”, sem qualquer rigor geográfico.
Além disso, pela forma como trata Silva Porto, que se prontificou a ajudá-lo em tudo quanto necessitasse, inclusive lhe arranjando guias para poder ir a Luanda.
No seu trabalho, Livingstone, diz, que quando estava em Naliele (3) os negros eram tão negros como os de Barotse, às margens do Zambeze, mas “vive entre eles grande número de mulatos, distintos pela sua cor peculiar de amarelo doente!” Mais adiante: “os mulatos, os portugueses nativos, todos sabem ler e escrever e o chefe do bando, se realmente não é português, tem o cabelo europeu!” O “chefe do bando” era Silva Porto!
Também afirma nos seus escritos, o inglês, que se vangloria de ter estado em regiões onde jamais qualquer branco tinha aparecido, o que Silva Porto refuta categoricamente, e ainda que tenha sido o primeiro branco a atravessar o continente de costa a costa.
Em 1802, o também sertanejo tenente coronel Honorato da Costa, foi encarregado de promover a travessia de Angola a Moçambique. Os angolanos Pedro João Baptista e (seu irmão?) Amaro José – há ainda algumas notícias de um terceiro acompanhante, Anastácio Francisco – saem de Luanda em 1804, e após terem ficado detidos durante quatro anos em Cazembe (4), chegam finalmente a Tete em 1811. (Estava Livingstone ainda sem ter entrado sequer na barriga de sua mãe). Em 1815 os mesmos estavam de regresso a Angola. Mas... não eram brancos. Eram angolanos portugueses.
Em 1798 Francisco José Lacerda de Almeida, nascido em S. Paulo em 1750, licenciado em Matemáticas em Coimbra, de regresso ao Brasil, trabalhou na comissão da definição de limites Sul do Brasil. Oficial da Marinha, matemático e geógrafo, feito sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa, foi por esta encarregado, em 1798, de fazer a ligação entre as duas costas, aproveitando para explorar geograficamente o continente. Saiu de Tete em 1798, mas morreu ao chegar ao Cazembe em 1802. No mesmo lugar onde poucos depois os emissários de Angola ficariam retidos por quatro anos.
Voltaremos a Silva Porto, mas por ora deixemos só o esclarecimento de que, muitos anos antes do Sr. Livingstone, já os portugueses, quer fossem brancos ou pretos, ou “mulatos com cabelo europeu” haviam detalhado conhecimento do interior de África.

(1) - Pequena embarcação americana de dois mastros
(2) - Fazendas eram chamadas todas as mercadorias que levavam para o sertão para negociar
(3) - Localidade na margem direita do Zambeze
(4) – Cazembe. Região Norte da hoje Zambia

03/03/2011




domingo, 6 de março de 2011



Mais umas “Máximas”...
 
de quem?

(O primeiro a responder, e a acertar, com o nome de quem disse, e escreveu, estas máximas...
terá direito a um prémio!!!)

Só se pode ter orgulho de uma nação, quando nela não haja uma classe que a envergonhe.

Não há princípio que, considerado objetivamente, seja tão errado como o princípio parlamentar...

O parlamentarismo é uma estufa onde se cultiva a irresponsabilidade.

Que pode fazer o estadista que só consegue pela lisonja conquistar o favor da aglomeração parlamentar para os seus planos?

Uma nação em que metade da sua população vive na miséria, trabalhada pelas maiores preocupações, ou mesmo corrompida, dá de si uma impressão tão pouco edificante, que ninguém por ela pode sentir orgulho.
 
A massa popular, nos seus profundos sentimentos, não é consciente e deliberadamente má. Devido à simplicidade do seu caracter e menos corrompida, é mais frequentemente vítima das grandes mais do que das pequenas mentiras. Em pequenas coisas elas também mentem, mas das grandes têm vergonha.
 
O maior perigo que pode ameaçar um movimento é o exagero no número de adeptos adquiridos em conseqüência do êxito fácil.
 
É prejudialissimo erro julgar que a grande massa é tola: é-o menos do que parece.
 
O efeito imediato de uma guerra é o devorar os melhores entre os melhores.
 
A idéia de poder dividir para sempre o mundo em Estados com direitos desiguais, será sempre aceita apenas por uma das partes.

Os armamentos são uma ameaça para a paz, e então são-no em todos os Estados; ou não constituem ameaça de guerra, e, nesse caso, não o são em nenhum Estado. O que não é admissível é que um grupo de Estados apresente os seus armamentos com um pacífico ramo de oliveira e ou outros como a forquilha do diabo.
 
Os direitos humanos estão acima dos direitos do Estado.
 
A autoridade do Estado não se apóia no palavrório dos parlamentares, nas leis de proteção ou nas sentenças judiciais destinadas a amedrontar os covardes e mentirosos, mas na confiança geral que a direção política e administrativa de um país deve inspirar.
 
A economia não pode prosperar se não se encontrar uma síntese entre liberdade do espírito criador e a obrigação da coletividade nacional.
 
A economia dirigida é um empreendimento perigoso. Facilmente provoca a burocratização e com ela o estrangulamento da iniciativa individual, ternamente criadora.

No domínio da vida econômica há uma lei que determinará todos os atos: O povo não vive para a economia e a economia não existe para o capital. O capital serve a economia e esta o povo.

Foi possível que o dinheiro se tornasse o poder dominante na vida de hoje, mas um dia virá em que os homens venerarão outros valores bem mais elevados.
O sindicato, só por si, não é um elemento de luta de classes. O marxismo é que fez dela o seu instrumento.
 
Não há doutrina que se possa impor como doutrina de destruição, pois tudo tem que servir a vida.
 
Toda a força que não provém duma firme base espiritual torna-se indecisa e vaga. Faltar-lhe-á certa estabilidade que só repousará no fanatismo.
 
O mundo não foi feito para os covardes.
 
A humanidade tornou-se grande na luta eterna; na eternidade ela perecerá.
 
Não se deve estudar história somente para saber o que aconteceu, mas para que ela possa orientar o futuro das nações.
 
A escola deve reservar mais tempo para os exercícios físicos. A função dos esportes não é somente tornar os indivíduos ágeis e destemidos, mas ainda de prepará-los para suportarem todas as reações.
 
A fé, auxiliando o homem a elevar-se acima do nível da vida vulgar, contribui verdadeiramente para a firmeza e segurança da sua existência.
 
Para o chefe político, as idéias e as instituições religiosas do seu povo, devem permanecer sempre invioláveis.
 
Em todas as épocas houve indivíduos sem consciência que não tiveram pejo de fazer da religião um instrumento dos seus interesses políticos.
 
É fácil iludir os homens, não é possível subornar o Céu.
 
O mais alto resultado obtido pela comunidade humana, ao contrário do que pensam em particular os economistas, não é o que se chama a economia, mas a cultura.
 
O nosso ideal de beleza deverá ser sempre a saúde.
 
Nenhum povo sobrevive se não subsistirem as obras que testemunham a sua cultura.

Rio, 20/02/2011