quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Luanda !



Se a Cabral Moncada falasse...



Qualquer dia recuaremos um pouco mais no tempo, para passar uns momentos em Benguela, mas por enquanto “devido a pedido de várias famílias”, vamos revisitar a Cabral Moncada e seus primeiros arredores.
Esta rua, com menos de um quilometro de comprimento, acabava, e acaba, passado por baixo de um prédio, na rua Dom Manuel I, ao lado da Igreja da Sagrada Família, e as casas do lado de baixo davam para um belo parque, hoje muito ocupado, o Alvalade. Sem vizinhos por perto!

(Clic em cima para ver maior) A nossa casa assinalada.
Cruzando a Sá da Bandeira e por cima a Guilherme Capelo.
Por baixo "era" o parque de Alvalade


Segue uma relação dos moradores daquela rua, a contar, mais ou menos de cima para baixo, e mesmo em épocas diferentes, porque alguns dos indicados moraram, sucessivamente na mesma Casa, e de alguns mais próximos em outras duas ruas adjacentes, sempre acautelando a possibilidade de a memória estar como trapo velho, cheia de furos!
Quem morava talvez “mais longe” eram os Castro Ferreira, António e Maria da Luz. Ele o pediatra dos nossos filhos. Seguem-seo nosso medalhista olímpico, na vela, em Helsíquia, Francisco Rebelo de Andrade, o Chico d´Água e a Gracinha, Manuel e Luiza Mexia e suas seis filhas e o Luis e Ticha Ricciardi, não sei já em que cronologia, mas que moraram na mesma casa. O Fernando e Mariana Castelo Branco (Pombeiro), Sebastião e Luiza Calheiros, João e Teresinha Morais, João Cadete Leite, Zé Maria Mendonça, e no prédio na nossa frente, que mesmo em frente à nossa porta tinha uma pequena mercearia dum senhor já mais velho que os nossos filhos chamavam de “avô Mata”, e que usava a cintura das calças quase no meio do peito, e nos andares acima o Zé e Cíntia Cabral Ribeiro, Manuel Maia do Vale, Zé e Isabel Parestrelo, Tono e Nani Oliveira Lima com as seis filhas, Carlos Baião, Eurico e Isabel Burguete, Manecas e João Bernardo Leiria, família Sá Machado, e, lá em baixo, já onde curva para a rua Guilherme Capelo morou ainda o Neves e Sousa!
Além do nosso clã que contribuía com mais dez habitantes! Nem vale a pena dizer quantos filhos tinha cada casal. Primeiro porque eu já faria grande confusão, e sobretudo porque, de fato, aquela rua era uma alegria de criançada!
A meio da rua, onde ficava a nossa casa, começava a Avenida Sá da Bandeira com o Alfredo Helena Diamantino e a grande família Melo Vieira, Carlos e Fernanda, um pouco à frente o João e a Stusia Macedo a seguir o Martim e a Maria Dornellas com seus dez filhos! Não vamos mais em frente nesta avenida porque daríamos a volta à cidade apesar de dois ou três quarteirões adiante lá terem morado o António e a Ana Ravara Belo, antes de irem para Nova Lisboa!
Não posso é esquecer o Zé Neto e a Arlete, na rua Guilherme Capelo – hoje avenida Nkumah – meu grande amigo e grande companheiro de caça, e seus quatro filhos.
Como não ter inúmeras recordações deste tempo e dessa rua! Tantos amigos ao lado uns dos outros, amizades que se cultivavam sem qualquer cerimónia e muita freqüência, e que ainda hoje, mais de quarenta anos passados, muitos deles continuam a fazer parte inseparável da nossa família!
Era uma festa alguns jantares em nossa casa. Não cabiam mais de 30 a 34 e assim nunca se podia convidar os amigos todos, mas por partes, o que aumentava a nossa alegria, porque mais “festa” levávamos para casa. Melhor ainda nas noites em que se organizava uma sessão de fados! Ahhh! Que maravilha. Ainda tenho as gravações dos bravos cantadores e cantadeiras, de 1964. Volta e meia, as fitas K-7 já muito velhas, ainda me deliciam a ouvir aquela noitada, que normalmente terminava dia claro, os convivas saindo com óculos escuros, não exatamente por causa do sol, mas ... dos copos! Uma noite cantaram a Maria da Luz, a Zé Fezas, o Manel Teixeira de Abreu, a Minela e o Nestor Costa Figueira, o Zé Perestrello, herdeiro autêntico do Marceneiro, e até a Teté Rebelo de Andrade nos deu um ar da sua graça. A meio da noite continuavam a entrar mais amigos que não queriam perder a farra, sobretudo a Isabel e o Eduardo Cruz de Carvalho que sabia onde desencantar o guitarra e o viola profissionais para melhorar o sabor castiço dos amadores!

Zé Parestrello, Fernando Fezas, Eduardo e Isabel Cruz de Carvalho, "?",
Becas e Jorge Jonet, Isabel Perestrello, e de costas... adivinhem!

Pepe... (de Vitoria, Espanha, Don Vitoriano Arizti e a dona da casa!

E o “carraço” que comprei, meio desfeito, em Portugal, levei para Luanda, restaurei e passou a ficar ao serviço dos militares que iam chegando para cumprir “a guerra”? Morris Minor 1932, conversível, parecia um carrinho de criança, mas andava! Serviu a tantos, sobretudo aos que estavam no interior, ou embarcados, e quando em Luanda. um carro, mesmo que não ultrapassando os 40 km/hora – no pique da aceleração! – fazia as suas delícias e lhes dava independência. Lembro de vários “utentes”, a começar pelo Manel Teixeira de Abreu, o primeiro a fazer toda a sua “guerra de caneta” com o que os seus filhos chamavam o “jeepinho”, um capelão paraquedista, Pe. Frederico (?), que nunca mais vi, o amigo de infância e imediato de um navio patrulha, Eurico Burguete e seu comandante que... talvez... se chamasse Almeida Ribeiro, mas a memória já não garante nada! E outros. O “aluguer” do carro era simples: “Como o levas... devolves! Se avariar nas tuas mãos, conserta!” Nunca avariou!

A "grande máquina"! O Vitor Castanheira Nunes (arganilense até à medula) e um dos meus "patrões" oimpática José Manuel Martins


Um belo dia a casa ao lado da nossa ficou vaga e ali se foi instalar o quartel dos Voluntários. Uma força montada com o pessoal que teve que fugir do interior, sobretudo das fazendas ocupadas ou destruídas. Gente brava mas sem preparação militar. Uma manhã ouço um tiro de carabina, mesmo ali; saio e vejo um dos tais voluntários meio paralisado de espanto! “Estava a limpar a arma” mas... havia “esquecido” um bala na câmara! Não lhe atravessou os miolos, talvez porque os não tivesse, e foi espetar-se no teto da nossa varanda!
Em 1974 os Voluntários foram dispensados, acabou essa organização e como os novos vizinhos tivémos o comando do FNLA! Beleza. Em guerra com o MPLA, ainda, volta e meia havia tiroteio, de metralhadora, entre soldados dos dois Movimentos. Era a hora em que lá em casa todos se deitavam no chão à espera do fim dessa troca de gentilezas, que chegou ao ponto de meter bazucadas pelo meio.
Mas nada disso nos tirou o que de bom e durante mais de 10 anos se viveu naquela rua; e não foram mais anos porque entretanto estivemos também três anos e meio em Lourenço Marques, a Maputo de hoje, de onde há também boas histórias para contar.
Fica para uma das próximas!
Enquanto ali morámos, dez anos seguidos, nasceram, SÓ, mais o João, a Joana, o Tiago e o Lourenço. E chegou!


11.dez.09






16 comentários:

  1. Tio Chico:
    CÊ é LOUCOO!!!!!!!!!!
    Estou em Luanda, vindo de Mocamedes, de carro. Tudo nice.Amanhã sigo para o meu casmnto com a Marta minha Alentjan, em Pt., dia 6.1.10, sDq., quando o Alexandre Manuel fará 9 meses.
    Soh hoje li os ultimos, + a viagem ah Antartica!!!
    Não acredito!!!!
    Que lindo !!!
    Como dizia o Jonh Lenon:
    "A vida eh aquilo que acontece quando estamos a fazer outros planos...."...e não pára, para os gladiadores...para os Verdadeiros....para os puros... para os magificos loucos daquela loucvas maquinas voadoras... da vida...
    EU TE AMO, e tenho muito orgulho neste meu querido e "velho" amigo.
    Um grande abraco. Estamos juntos. Sempre!!!

    PTx
    Manuel João Pimentel Teixeira

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  2. Olá

    Acabei de escrever no google rua Cabral Moncada nºs 130-132 e fui parar a esta página. Mal vi o mapa reconheci a localização da minha casa em Luanda onde morei com os meus pais e irmãos até 1974. Lembro-me perfeitamente da familia Amorim, que eram os nossos vizinhos do lado,e da grande figueira no jardim que dava para o Parque Verde. Nós moravamos na casa do meio. Quando partiram nós fomos para a vossa casa e no lugar da Figueira foi construida uma piscina. Ao lado ficava o Quartel dos voluntários. Lembro-me de partirem e da imensa saudade que nos deixaram. O meu pai, Augusto Teixeira da Cruz, ou a minha mãe, Susana von Hafe, já não me lembro qual dos dois, disse-nos, na altura, que os Amorins tinham voltado para Luanda em 1974? e que estavam a morar na casa do meio? Como estão todos?
    O Chico, o João, a Joana?
    Ainda bem que foram para o Brasil


    Um abraço e cumprimentos a todos,

    Maria Manuel Teixeira da Cruz

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    1. eu morava bem atrás da casa da família von Hafe, na Guilherme Capelo, um prédio de dois andares

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    2. Olá Maria Manuel (Manel para as amigas...), sou a Nani, fui tua colega em Luanda, lembras-te?
      Ainda nos encontrámos aqui em Lisboa nos anos 70, mas nunca mais soube nada de ti!
      E a Suzy também morava na Cabral Moncada, não era? Soubeste alguma coisa dela?
      Beijinhos

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    3. Olá Nani, como estás? Lembro-me perfeitamente de estarmos juntas e já não me recordo porque é que não mantivemos o contacto.Que bom saber de ti . A Suzy está em Lisboa mas também não sei nada dela há muito tempo. Muitos Beijinhos, Manel

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    4. Olá Nani, que bom saber de ti. Lembro-me perfeitamente de estar contigo já em Lisboa. Não me lembro é porque é que perdemos o contacto. A Suzy também está cá mas já não sei nada dela há muito tempo.
      Muitos beijinhos, Manel

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  3. olá acabei de ler a sua descrição acerca das familias que moravam na Cabral Moncada e arredores ( Av. Guilherme Capêlo) e pergunto se por acaso conheceu uma familia que morava numa vivenda quase em frente ao prédio do livro cujo apelido era, se não me falha a memória, Vasconcelos e que tinha uma filha ou neta chamada Carla que na altura( em 74 deveria ter 9 ou 10 anos. Eles permaneceram em Luanda e nós fomos colegas. Ando à sua procura há algum tempo. Caso conheça e saiba do seu paradeiro agradeço informação. Cumprimentos, Clara Correia. o meu Email é kambutinha_lb@hotmail.com

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    1. Clara nos prédios em frente ao prédio do livro, no 110, tinha duas famílias Vasconcelos - a minha e mais uma respectivamente no segundo e primeiro andar opostos. Se souber algo deles, também gostaria de ter contato. Grata Maria João

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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    3. Eu nasci em Luanda, na Rua Cabral Moncada em 1964. A minha família estava em Angola desde 1957 (se não me engano). Voltamos a Portugal em 1967, no dia em que fiz 3 anos (20 de Outubro de 1967). Alguns dos nomes que refere no texto ainda no presente são-me familiares (a Família Melo Vieira, uma equipa de Futebol :)), se bem que também tenho filmes da época (em Super8) onde estavam os Dornellas.
      Por acaso conheceu os meus pais e os meus irmãos?
      Família Mendes dos Santos, António e Maria Manuela.
      Abraço

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  4. Tiago Cruz de Carvalho neto Eduardo e Isabel Cruz de Carvalho :)

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  5. Tiago Cruz de Carvalho
    Gostaria de o conhecer, mesmo via Internet.
    Um abraço

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  6. Não sei se o Tiago Cruz de Carvalho entrou en contacto consigo,ou se tão pouco mostrou à Mãe o artigo com a foto aonde estão os Avós. De qq forma posso entregar cópia da foto com a Tia Isabel eo Tio Eduardo à Isabelinha (mãe do Tiago)? Cumprimentos
    Ricardo

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  7. Eu tambem vivi na rua Cabral Moncada numero 212-214 e tambem me lembro da casa onde estava a FNLA. Costumava brincar na zona verde que ficava por traz da minha casa. Lembro-me que para ir para a zona verde, na esquina esquina passava por um café que penso que o dono era o sr.Vieira. Gostaria de saber alguma coisa sobre uns amigos, com quem brincava, moravam na casa em frente à minha e eram belgas, uma Dominique e o irmão. Ao lado dos belgas um rapaz que praticava pesca desportiva em alto mar dava-me explicações e oferecia aos meus pais peixes enormes que pescava. Nunca mais os vi mas nunca me esqueci deles. Marcaram a minha infância.
    Um abraço Jose Luis Ruivo da Cruz

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  8. Morei muitos anos no nº184. Aqui fica uma lembrança:

    http://bigamistonline.com/onlinefiles/RCML.jpg

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  9. Eu,jose manuel martins de alcunha "o ringo" vivi desde 1971 a 1975 na rua sa da bandeira no edificio das bombas de gasolina... belos tempos

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