Entrevista a um PC
Após
inúmeras diligências, mensagens e até contatos através de conhecidos,
finalmente conseguimos que um influente (mais ou menos ex-influente!) e antigo
membro do PCB (Partido Comunista do Brasil) aceitasse dar uma entrevista, tendo
ficado estabelecido que jamais seria dado a conhecer o seu nome, de modo que
aqui ficará somente como PC e eu... FA.
O
local escolhido para nos encontrarmos, durante a semana, foi num restaurante
afastado do Rio de Janeiro, local sossegado, junto ao mar, que nesse dia estava
praticamente deserto. Mesa escolhida no lugar mais discreto, PC virado para o
mar para que não lhe vissem a cara, cada um chegou no seu carro, eu mais cedo
para estudar como fazer para ele ter o mínimo de hipótese de ser visto e
reconhecido, mesmo sabendo que o entrevistador, FA, não era político, nem
policial, nem nada. Somente alguém que o encontrou por acaso e decidiram tomar
uns chopes juntos.
Quando
nos encontrámos fizemos a mesma pergunta: É você? Um aperto de mão e pronto.
Tivemos
que ser rápidos, não perder tempo e comecei logo por pedir:
FA
– Por favor comece por me contar um pouco da sua vida.
PC
– Filho de portugueses, nasci no interior de São Paulo, como meus dois irmãos e
irmã. Eu sou o mais velho. O meu pai era mecânico em uma fábrica de café e, com
muito equilíbrio mandou todos estudarem. Foi o contato com alguns outros
mecânicos que, desde pequeno, me meteram na cabeça o comunismo. O meu pai, não
gostou de saber disso, e disse-me várias vezes que ainda me havia de
arrepender. Nunca falámos em política porque ele detestava o comunismo! E eu
era ainda um moleque a querer mudar o mundo. Mas ele faleceu tinha eu 15 anos e
todos tivemos que ir trabalhar para sustentar a família. Nessa altura mudámo-nos
para São Paulo, onde a vida nos foi muito difícil. Mas estudámos alguma coisa e
eu, sempre metido em mecânica, não tardei a estar no centro do que veio a ser o
sindicalismo. Hoje vivo razoavelmente bem, sou gerente da oficina de uma
concessionária de automóveis.
FA
– Há quanto tempo o senhor é membro do PCB?
PC
– Desde os 17 anos e estou agora com 60! Há 43 anos.
FA
– O que o levou a tomar essa atitude?
PC
– Com 17 anos é-se sonhador, e creio que todos passamos nessas idades por uma
fase de querer ver o mundo igual para todos, e logo que acabou o governo
militar, sem mais perseguições a quem fosse oposicionista, e muito estimulado
por ativistas, achei que o programa do PC poderia trazer a igualdade entre
todos. Mas eu já era simpatizante, não ativo, no tempo dos generais.
FA
– Eu também fui um sonhador no meu tempo, mas jamais apoiei qualquer partido
político, nem me quis meter em política porque na minha já longa vida o que
aprendi sempre me fez desacreditar nessa gente. Sabe o que disse um diplomata
brasileiro, pensador, que escreveu vários livros, falecido há quase vinte anos?
A falta de princípios éticos criou um campo fértil para a
proliferação de ideias marxistas no Brasil, pois os pensadores de esquerda
estavam desobrigados a prestar esclarecimentos sobre suas atitudes, e mais, com sua larga experiência pelo
mundo, onde conheceu toda a espécie de governos e políticos, asseverava com ironia que discutir com marxistas
era como dialogar dom marcianos!
PC
– Todos os partidos têm gente boa e aproveitadores, o que leva a que jamais
algum partido, pelo menos aqui no Brasil, possa ter o crédito verdadeiro da
população. Todos mentem, todos se aproveitam e por vezes os que mais pareciam
confiáveis viram os piores.
FA
– Exatamente o que se vê. E o senhor acha que a Justiça Social pode ser
alcançada pelo Socialismo que em todo o lado só tem conduzido a uma estagnação
econômica, ao desmedido crescimento do Estado e à criação de uma nova classe
privilegiada de burocratas?
PC
– Repare que desde que entregaram o país aos civis o que tem sido de roubar! E
da forma mais inadmissível ao empreguismo, ao nepotismo à incompetência. Desde
o primeiro governo que entrou no lugar do Tancredo Neves, e recebeu a faixa com
250% de inflação entregou-a cinco anos depois com quase 2.000%! E como encheu
os bolsos! A seguir foi o moleque Collor. Depois... depois a turma foi
seguindo, já há muito a prepararem a entrada do atual presidente. Tudo feito no
escuro. Eu participei em inúmeras reuniões, muitas vezes em desacordo mas,
teimoso, não desisti do meu combate por um país melhor.
FA
– Mas o senhor acha mesmo que o comunismo, tal qual se viu na União Soviética,
Cuba, China e Coreia do Norte podiam, ou podem servir de modelo para o Brasil?
PC
– Isso foi pouco discutido, mas o que se viu foi uma aproximação com governos
esquerdistas que deixaram as populações arrasadas, como diz, e muito bem, Cuba,
Angola e outros. E que nos custou muito caro.
FA
– Mas vendo esses erros e sendo como eu já sei que você é– Posso tratá-lo de você? – Pode claro – é uma pessoa de princípios,
porque insistiu nesse partido?
PC
– Essa coisa de mudar de partido como quem muda de camisa, lembro sempre uma
história que meu pai contava e que trouxe de Portugal: no tempo da monarquia, como foi também aqui, os reis vendiam títulos de
nobreza, mesmo sem nobreza alguma; e o que o povo dizia então era: “Foge ladrão
que te fazem barão! Para onde, se me fazem visconde!” Veja por exemplo
Sarney que passou por cinco partidos. Como macaco de galho em galho. Eu posso
dizer-lhe porque ninguém nos ouve, que acho uma violência feita ao país. E foi
ele quem desde o começo procurou cativar os presidentes de quase todos os países
de esquerda, como Portugal, Rússia, Argentina, já preparando a entrada do PS
que não é mais do que uma sigla, visto que o próprio presidente de afirma
comunista. Além disso se eu sair do partido, sei que vou sofrer perseguição e
até perigo. Então estou lá... por estar, disfarçando o quanto posso.
FA
– Mas se Sarney e FHC se mostravam centristas, como foi possível conduzirem o
país para a situação em que hoje se encontra e que a eles se deve?
PC
– Simples. Dinheiro. Muito, muitíssimo dinheiro, com a garantia que um dia o PS/PCB
não lhes iriam pedir contas! E não esqueça: quem fez tudo para que o marxismo
se impusesse foi o “santinho” do tal FHC. Hoje o país está como se vê, a ele se
deve.
FA
– Na altura ele parecia um centrista, preocupada “entre aspas” com o seu
sociologsmo, mas criando o ambiente para entrar o socialismo marxista. E qual
foi o seu papel no PC? Desempenhou algum cargo político?
PC
– Nunca. Fazia um pouco de barulho na altura das eleições, circulava à vontade
no meio daquela gente, mas nunca aceitei qualquer cargo, mesmo que tivesse tido
algumas ofertas. Sempre me esquivei e
sobrevivi. Limitava-me a distribuir, por obrigação, alguns folhetos.
FA
– Você sabe que do modo como o país está a ser conduzido há sempre a
possibilidade de revolta. O desiquilíbrio social é imenso e nada se faz para
melhorar a situação. O sangue correrá, a maioria do lado dos civis. Que atitude
o senhor tomará num caso desses?
PC
– Nunca pensei nessa possibilidade, e Deus permita que não se concretize.
Mas... se... enfim creio que vou dar parte de doente ou passar para outro país.
Seria incapaz de dar um tiro em outra pessoa.
FA
– Estando lá dentro ou tendo acesso a quem lá está, o que ouve ou sabe sobre
planos sociais sem ser o MST da terra e o MST das casas? O MST da terra é uma
forma de destruir o país porque agricultura, nos dias de hoje só se faz em
larga escala e grandes investimentos. A pequena agricultura só serve para horta
e pomar e terá que estar junto a centros de consumo.
PC
– O que o PCB quer é destruir os poderosos, mas sabem que se o MST tomar conta
de grandes propriedades, num instante aquilo vira baderna. De modo que mantêm o
Movimento só para ameaçar, meter medo, mas sempre esperando que não resulte!
Anacrônico mas verdadeiro.
FA
– E o que pensa do STF?
PC
– Talvez o mesmo que você – também o vou
tratar por você! – mas evito falar sobre isso.
FA
– Gostei do “você”. Quebra a
cerimônia! O melhor é pedir mais um chope!
PC
– Sobre o STF a única coisa que se pode dizer é que acabou com a justiça no
país e que está a conduzi-lo para uma catástrofe. A esperança é imaginarmos que
isso não pode durar para sempre. Não se importa que seja eu agora a fazer
perguntas?
FA
– Evidente. Pode perguntar o que quiser. Apesar desta minha longa vida nada
tenho a esconder.
PC
– O que você pensa dos governos do PC?
FA
– Um crime, maior ainda quando lhes chamam democracias. Traduzem a palavra do
grego mas esquecem-se de dizer que o povo são só eles. Aqui no Brasil somos
mais de 200 milhões e quem enriquece? Eles e a camarilha. Raros os que não
apoiam os governos. O Sarney que foi da velha Arena, o único partido do tempo
dos generais que o escolheram para vice do Tancredo, hoje abraça, apoia, beija e
dá festas sumptuosas em sua casa cheia de esquerdistas e ladrões. Até o
presidente do Pão de Açúcar deu uns largos milhões para a primeira campanha do
PS/PC. E havia alguém mais à direita do que ele? Moral da história: o comunismo
é uma fraude, todos os que comandaram governos comunistas enriqueceram. Como é
possível um país com mais gente recebendo o bolsa família dos trabalhadores com
carteira assinada? São 56 milhões de pessoas ociosas, em quarto da população do
país! Em vez dessa esmola o governo poderia pagar mais mas obrigando as pessoas
a trabalharem em alguma coisa: estradas, escolas, etc. Aí, sim o país daria um
grande salto.
PC
– Infelizmente não foram só os governos do PS que se beneficiaram do bolsa
família e dos dinheiros públicos.
FA
– Mas sobre o tempo dos militares nada consta, pelo menos com os generais. E
disso eu até tenho prova. Não foi um tempo fácil, mas o comunismo queria, à
força impor-se no Brasil e o exército não deixou, mesmo sabendo-se que havia
uns quantos simpatizantes. Mas depois disso foi uma corrida vertiginosa aos
dinheiros públicos.
PC
– Tem razão. Quando todos pensávamos que o país ia entrar no tal futuro em
termos de igualdade, parece que regredimos, e cada vez parece estarmo-nos a
afastar do bem social. Dá vontade e chorar quando sabemos que o país é talvez o
país com maior potencialidade em todo o mundo, continuarmos a assistir ao
descalabro da desigualdade, à corrupção, à justiça vendida, etc., apesar de no
meio de tudo isso, e todos partidos terem uns poucos, bem poucos, quixotescos
que ainda lutam para progredir.
FA
– Meu amigo – espero que não se importe que o trate por amigo; aliás eu não
tenho inimigos – desde que o mundo é mundo o que se assiste é à divisão de
classes. Uns bilionários e outros só Deus sabe como conseguem sobreviver. E
para se ser bilionário muita gente está a dar o seu sangue para esses
enriquecimentos.
PC
– De entrada eu pensei que o comunismo era uma espécie de paraíso na Terra.
Depois fui vendo com mais clareza e conclui que era um das mais violentas
formas de ditadura. Pensei em sair, mas quem lá entra uma vez fica de rabo
preso. Então deixei-me ficar, desiludido, sempre com cautela para não sofrer
nenhuma retaliação. Por isso ainda hoje lá estou, mas os meus filhos, com quem
falei já várias vezes nisso ficam desorientados, porque o que lhes ensinam nas
escolas é a mentalização. Eu sei de muitos pais que não conseguem falar com os
filhos sobre política. Eles vão ter que aprender com a vida que os irá
desiludir.
FA
– É verdade. E vai demorar para endireitar. Enquanto os governos de esquerda
estiveram aqui no poder, não vão fazer absolutamente nada para dar cultura ao
povo, para que ele possa pensar e analisar. Como parece já começar a fazer-se
tarde, vamos deixar a conversa por aqui. Para descontrair vamos andar um pouco
na praia que está deserta. E muito obrigado por ter aceite vir falar comigo.
PC.
Foi um prazer, mesmo que lhe pareça impossível. Vamos lá espairecer um pouco.
E
assim terminámos. Andámos um pouco na praia, falando de vulgaridades e do pôr
do Sol, e deixei-o sentado na areia, certamente a mastigar o que lhe disse.
13/05/24
SAÚDE E UM ABRAÇO. A NAVE VAI...MAL. MAS VAI INDO.
ResponderExcluirSe no é vero, é bene trovato.
ResponderExcluirO raio do problema da política e dos políticos é que uma comunidade organizada não consegue existir sem política e sem políticos.
Por outro lado, somos já muitos para regressarmos ao isolamento e à auto-suficiência, apenas quebrada por esporádicas trocas directas.
Assim sendo, a solução é só uma: regular bem a actividade política e ser criterioso na escolha dos políticos. Solução mais difícil do que cruzar o Atlântico a nado.
Abraço