terça-feira, 2 de janeiro de 2024

 

As Lágrimas Não Secam

 

Quanto mais longa a vida maiores e mais numerosos os momentos de luto.

Daí dizer-se que quanto mais idoso se é, e lhe chamam “bonita idade” é porque as pessoas não sabem o que é sofrer vendo desaparecer os amigos, irmãos, familiares e outros que durante tanto tempo foram o esteio da nossa vida, do crescimento em comunidade, melhor dizendo irmandade, do apoio que em diversas, e por vezes, em muito difíceis situações nos suportámos uns aos outros.

É impossível classificar os amigos, dando a prioridade a algum deles como número “um”. Mas quando ele, por fim, descansa, entre tão poucos, tão raros os que ainda por aqui andam, que dentro de nós soa algo que é verdade: hoje perdi o meu maior amigo.

Enquanto escrevo isto as lágrimas teimam em correr pela cara sem que as possa reter.

Vêm à cabeça inúmeros momentos em que estivemos juntos, em que demos as mãos, nos apoiámos, em que rimos, em que trabalhámos juntos, em que vimos irem nascendo os filhos de cada um, todos eles hoje sobrinhos muito queridos e, mesmo quando longe, insistíamos primeiro em trocar algumas cartas, depois faxes e finalmente pelo telefone, quando conversávamos, vendo cada um a cara do outro aproveitámos para dizer umas bobagens que nos fizessem rir, para tentar ignorar a distância que nos impedia de darmos aquele abraço de irmãos que muito se amavam.

Nenhum de nós já não sabia desde quando vinha tão profunda amizade. Desde sempre, sem cerimónias, com o á vontade entre irmãos.

Convidou-me um dia para trabalhar no banco que ele dirigia. Eu?!?! A antítese do bancário? Fazer o quê?

A resposta deixou-me sem fala: vais fazer o que vires que falta ao banco! Pensei que estava brincar comigo.

Trabalhámos juntos. Ele era o patrão, mas a confiança entre nós ultrapassava sempre os mais complexos problemas sem que fosse necessário pedir contas, e sei que o ajudei a resolver alguns problemas dentro daquela organização.

A amizade nem aumentou nem diminuiu. Desde há muito tempo que tinha atingido o ponto máximo.

Chegou a diáspora dos que viviam em África. Uns tempos ainda no Brasil e depois foi para Portugal. Aqui mais uma vez me encarregou de trabalhos novos e diferentes, sabe Deus se contra a opinião de alguns outros dirigentes.

Felizmente que todos os resultados foram positivos, até que eu regressei ao Brasil, obrigado a, uma vez mais deixar os amigos tão longe.

Tinha acabado agora de lhe mandar, pelo correio um retrato que fiz dele. Mandei pelo correio para que ele se risse da maluquice. Não sei se o chegou a receber. Era mais uma prova da nossa amizade e uma brincadeira.

Estava mal. Eu não sabia era quanto mal. E a notícia caiu-me em cima com dobrado peso.

Penso muito na Maria João, também cheia de problemas de saúde. Uma irmã que sempre esteve também ao nosso lado e que tanto estimamos.

As nossas vidas estiveram sempre juntas, mesmo quando a geografia nos afastou.

Meu querido Manel, não vou deixar de conversar contigo, de te dizer bobagens, de te desejar o melhor, mesmo sabendo que é onde agora estás.

Sento-me aqui no escritório, sozinho, e conversaremos. Eu sei que vou te ouvir.

Não que haja hipótese de te esquecer, mas para não deixar arrefecer tão forte amizade.

Até breve. Até sempre Manuel Carlos Teixeira de Abreu.


 

6 comentários:

  1. Ohhhh Não sabia. Mais um tio tão amigo a juntar-se a tantos outros. 😪❤️

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  2. Escorrem-me as lágrimas também Tio Chico, mais ainda com essa renhida, sentida, visceral homenagem. Como são as homenagens aos amigos mais amigos que a vida nos dá. Beijao de todos nós aqui e quero rir muito mas muito, como sempre, consigo. Portanto, tem um prazo ( médio curto) para secar as lágrimas.

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  3. Querido tio Chico, eu que estou em Portugal nao sabia. A verdade é que já ha poucos que passam a informação. Também eu gosto/ gostava mt dele e da tia M@ Joao. Um dia, vão/ vamos todos encontrar-nos no verdadeiro Lar. É no que acredito
    Um carinhoso abraço, ga

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  4. Que pena os comentários virem de anónimos!
    Fico sem saber de quem são. Não podiam dar-me essa informação?

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  5. Aos 72 anos, também já perdi bons amigos! Um dia iremos nos "juntar" a eles!

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  6. Queridos amigos um Bela e Chico, apesar deste grande desgosto,acho que ainda vou a tempo de vos desejar um bom Ano com muita saúde, esperança, alegria e gratidão por tudo o que vamos tendo e aqui quero destacar as palavras que escreveste sobre o Manel aliás bem merecidas, que muito me comoveram. Um beijinho à Bela e um grande abraço da Bé

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