PÁTRIA
Estamos
a viver momentos que parecem estar a mostrar-nos que a civilização Ocidental,
conhecida por greco-romana, esta a chegar ao fim.
Baseada
em conceitos que sempre foram fundamentais, sobretudo a família, o respeito
pelos pais, avós e mais ancestrais, a ética, a história e outros de valor
moral, que hoje são atacados, desmoralizados, destruídos, até em leis votadas
em parlamentos, que como é evidente, estão cheios de gente envenenada,
corrompida, talvez mesmo acéfala, que não vêm, ou não querem ver, que estão a
destruir países, povos, para os deixarem entregues a invasores famintos.
O
conceito de Pátria é algo tão volátil, tão difícil de entender e concretizar,
que acabamos por concluir que a “nossa” Pátria não é mais aquela onde nascemos
e vivemos, ou para emigrantes aquela que foi de seus pais, porque nessas nações
já não há Pátria, conceito que poderia definir-se como sendo a terra onde nos
sentimos bem, seguros, respeitados, onde se poderia antever um futuro, mesmo
que só próximo.
Não
há mais “disso”.
Fingem
que se dão bem aqueles que enriquecem, mas Pátria não significa riqueza, mas
comunidade, respeito.
Eu
sou emigrante desde os meus 22 anos. Fui para Angola. Estive por lá mais de
vinte anos, entre os quais quase quatro em Moçambique, onde, em ambos os
territórios, estivemos dezesseis sob uma guerra estúpida, inútil e assassina.
A
guerra não era entre brancos e africanos. Era contra o colonialismo, prova
disso foi a quantidade de portugueses que se alinharam com nacionalistas, e
comigo, que nunca deixei de viajar por terras onde as forças armadas de ambos
os lados se enfrentavam. Aí conversava com nativos e sempre de lá saía com a
sensação de ter deixado mais uns amigos.
Todos
éramos gente.
E
do meu país de origem?
O
maior respeito pelos meus antepassados, uma saudade imensa dos meus pais, irmãos
e amigos que têm ido descansar, mas da “terra”, como local de nascimento ou da
infância guardo uma pequena saudade pouco mais que turística.
No
Porto, onde nasci, saí de lá com 5 anos, depois em Lisboa, andando de casa às
costas por falta de finanças que nos proporcionassem uma vida estável, foram
cerca de 10 anos, intercalados com 5 quando fui estudar para Évora.
Fui,
com este peregrinar por bairros e cidades, sistematicamente me separando dos
amigos que criava na escola ou dos filhos dos amigos dos meus pais, e ganhando
outros.
Finalmente
em África comecei a minha vida, casado, reencontrei amigos, ganhei
muitos novos, e foi nessas terras que me senti bem.
Fui
obrigado, por razões políticas, sempre estúpidas e erradas, a sair de África,
mas foi lá que deixei o meu coração e pensamento, foi lá que encontrei a minha
Pátria, que depois a revolução comunista portuguesa m’a roubou.
Roubou
a Pátria que tantos portugueses tinham adotado como sua, e, até hoje, em
Portugal continua a esquerda a destruir a cultura, a dividir as famílias, a
incutir-lhes falsidades nas cabeças e a venderem para estrangeiros o que
receberam do anterior governo.
Nasci
em Portugal, mas não é mais a minha Pátria, nem vou naquela utopia de Fernando
Pessoa de “a minha Pátria é a língua
Portuguesa”.
Pátria
seria o lugar onde pudéssemos viver em paz, em que as comunidades, fossem de
esta ou aqueloutra origem, mas unidas, respeitando-se a ajudando-se, onde
houvesse segurança física e jurídica, e também que não se mantivesse, à força
de governos ineptos e altamente corruptos, a abissal diferença entre o salário
mínimo (hoje em R$ 1.320, = a US$ 250) e os salários dos políticos, generais
estrelados, juízes (do supremo então é loucura, que atingem valores entre 10 a
25 mil dólares... fora o que escorre escondido!)
Fernando
Pessoa não previu a catástrofe babilónica, destroçando a sua visão de Pátria,
porque se o sentido era do entendimento, hoje prevalece o TOTAL
desentendimento.
António
Quadros tem uma visão clara de Pátria (Portugal
– Razão e Mistério II – 1987):
“Se a Nação é a
comunidade natural dos nascidos ou oriundos do mesmo território e se o Estado é
a expressão política desta comunidade natural, a Pátria é a relação viva,
profunda, substancial de um povo, não só com uma tradição contínua, transmitida
de pais a filhos e articulada por laços culturais, políticos e jurídicos, mas
também com um projeto teológico original.”
Onde
está mais essa relação viva, essa
tradição, esses laços políticos e jurídicos, quando sabemos que isso hoje
está tudo desfeito, atacado, desfigurado?
Sonharam
bem, Bandarra, Pe. António Vieira e Agostinho da Silva com o “Quinto Império”,
que seria uma visão de paz, prosperidade e relações de amizade e enriquecimento
cultural entre os países lusófonos. Talvez, um dia, quando?, esse V Império se
torne realidade. Quando se der a Parúsia, a segunda vinda de Cristo. Talvez.
Como
na eternidade tempo não coonta... um dia poderá ser uns milhares, milhões de
anos!
Assim,
hoje quem somos? Alguns filósofos dizem que não há apátridas, quando se limitam
a uma pátria pouco mais que geográfica, a um cartão de identidade, como local
de nascimento.
Portugal
canta o Fado, o destino, o sofrimento, chora nas guitarras e ao tomar
conhecimento dos candidatos eleitos!
Entretanto
quem podia votar com mais consciência, parece viver só na sofreguidão de
ganhos, sejam eles lícitos ou ilícitos.
Não
é só Portugal que está nesta derrocada. Estão assim TODOS os países das
Américas, USA incluído, onde só lucro e ganhos contam e o Outro só serve para
servir os poderosos. E seguem-se os países da Europa Central e Ocidental.
No
Brasil é flagrante a luta que o governo faz para manter quase metade da
população de mão estendida a favores. Os pobres a esmola que irão depois
agradecer votando na canalha e a maioria dos ricos, os espertalhaços que
veneram a esquerda porque é dali que lhes vem o lucro monumental,
enfronhando-se na corrupção, passiva ou ativa, ninguém quer ficar de fora sem
comer uma parte deste país e do sangue do seu povo.
E
os outros?
Vou
contar o que disse Pio Baroja, um escritor espanhol (1872-1956) quando numa
reunião em 1904 em que se discutia sobre as diversas classes de espanhóis:
“A verdade é que há sete
classes de espanhóis.
São como os sete pecados
capitais.
A saber:
1.- Os que não sabem
2.- Os que não querem
saber
3.- Os que odeiam o
saber
4.- Os que sofrem por
não saber
5.- Os que aparentam que
sabem
6.- Os que triunfam sem
saber
7.- Os que vivem graças
aos outros que não sabem.
Estes últimos se chamam
a si mesmos políticos e, às vezes, intelectuais.”
E
assim vai o mundo. Tal como o escritor espanhol definiu há quase 120 anos. E a
piorar.
Sofrem
os que na Pátria perderam ou estão a deixar que lhes destruam a sua cultura e
dignidade e sofrem aqueles que acabaram por se sentirem sem Pátria.
Pátria,
hoje, é lucro, poder, corrupção.
21/05/23
Francisco,
ResponderExcluirConheci o Pio Baroja só no final de Setembro do ano passado quando, em Donostia, me alojei por uns curtos dias num hotel situado justamente na Av. Pio Baroja (um nome que me pareceu bem patusco.
Não conhecia a sentença do nosso Pio, mas não poderia ser mais sábia. Registei-a.
Os europeus, traumatizados por duas guerras brutais, perderam o ânimo para confrontos cara-a-cara - a não ser em desacatos de taberna.
Não é assim ainda, nas restantes partes do mundo - e o Putin é o melhor exemplo disso.
Na Europa, a violência militar e, até a velha luta de classes - foram substituídas pela estratégia gramsciana (ou orwelliana) dos temas fracturantes e da desmontagem semântica. O objectivo é levar as Nações a diluir-se num amontoado de indivíduos e cortar todos os laços que possam prender os indivíduos uns aos outros.
A ideia, que me parece um bocado ingénua, é que todos esses indivíduos assim despidos de qualquer relação social, sem redes familiares ou sociais que lhes inspirem segurança, se lancem nos braços dos "iluminatti" que, na sombra, manipulam a estratégia e mexem os cordelinhos.
Se alguma lição recolho da História é que, desencadeada a convulsão, os indivíduos vão recriar novos laços sociais, agora de natureza tribal, sob as ordens do primeiro qualquer caudilho que mostre força, que goste de ser violento e que inspire confiança. Recordo a figura do commendatio, no final do Império Romano. Acabou como regime senhorial na Alta Idade Média.
Numa outra vertente. A economia de base contratual foi um avanço civilizacional insofismável, mas é um modelo muito incompleto (tenho passado a vida a escrever sobre isto). Um dos problemas bicudos é, precisamente, o dinheiro, aquilo que torna possível a base contratual e a liberdade de escolher, quando não há alternativa à divisão do trabalho. Ora, aqui o pessoal ainda não percebeu muito bem como é que o dinheiro funciona - nomeadamente, como dar a todos o acesso a fontes de rendimento. É o que se vê aí, no Brasil - e que também existe por cá, embora mais dissimulado.
Filosoficamente, só posso dizer isto (com o ar sério que a ocasião exige): Isto está difícil mesmo!
Abraço
APM
Espero que esteja tudo bem. A julgar pelas belas e lúcidas palavras, o pronúncio é bom.
ResponderExcluirAproveito para mandar um abraço amigo.
Luís Santos
,🙏👌
ResponderExcluirMeu mano do coração
ResponderExcluirDe uma forma geral sempre tenho estado de acordo com os teus escritos o que não tem nada de especial. São momentos ou vivencias da vida, contemporânea ou de tempos passados ,mas que se revestem de importância suficiente para nos levar a querer compartilhar
Só que este tema da Pátria é bem mais complicado para ser definido e é nele que eu penso de forma diferente da tua. Sinto-me profundamente ligado a Portugal, independentemente dos factos e das enormidades que muitos cometeram temperadas igualmente, pelas virtudes tão próprias que nos fazem diferentes de outros povos e culturas.
Amar Angola ou Moçambique é reconhecer o quanto me deram na minha formação e no meu bem estar mas não senti por elas a mesma relação de afeto que tenho pelo país onde estou integrado e onde o meu sangue resulta de tudo o que foi vivido pelos que tudo me deram e a quem venero e amo
Aliás, basta ver como o povo emigrante se mantém ligado a este pequeno país
Querido mano lamento não concordar contigo mas acredito que tudo o que se passa na vida possa levar ao que tu sentes
Um grande xi-coração
Manel