Histórias
da Velha do Arco
Como o
Ali virou Ali Baba
(Relembrando...)
Há uns
poucos meses escrevi um pretencioso poema, em que falava numas noites passadas
com a famosa e formosa Sherazade!
Contou-me
imensas histórias. Algumas delas, garantia ela, como se tendo passado,
autênticas, mas tão embebido estava eu a contemplá-la e ouvi-la que não me
interessou acreditar, mas simplesmente ouvir aquela voz doce e carinhosa
contar-mas para me entreter... malgré
houvesse outros entretimentos entremeados! Mas esses são íntimos, que não seria
correto contar.
Passou
algum tempo e comecei a recordar umas quantas dessas, aliás famosas, histórias,
que me fizeram pensar que tinham até sido sugeridas pelo, igualmente famoso
Nostradamus, tal a coincidência de premonição.
A bela
história de Ali Baba.
Todos
sabem que Ali era um jovem, modesto, dizem uns que era lenhador, outros que andava
à procura de notícias, correndo o reino, para informar o rei lá daquela banda,
a Pérsia, outros ainda afirmam que ele nada mais fazia do que limpar as
cavalariças do rei, cheia de cavalos e camelos, o que é confirmado por
historiadores mais recentes.
Assim
corria a vida do alegre e descuidado Ali.
O pobre
Ali pertencia à dinastia dos Ghznévidas que fugira dos Seldjúcidas quando estes
ocuparam toda a área da Pérsia, e depois dos mongóis, comandados pelo simpático
Gengis Kan, e a seguir por Tamerlão, que conquistaram novamente a Pérsia,
destruíram tudo na sua passagem, e o Ali perdeu o emprego de estafeta/limpador
de cavalos, pois teve que dar o fora... Se ferrou!
Fugiu,
desempregado, analfabeto, foi ter a um lugar escondido, onde seu pai, o Baba,
era o chefe dum bando de ladrões, assaltantes, e estava cheio de riqueza.
Quarenta era o número dos bandidos, conhecido na época por Κλέψτε ό,τι μπορείτε (está escrito assim, nos
livros antigos, em grego), fora os que por fora o iam informando onde havia
riqueza para assaltar, e que recebiam uma “comissão” pelo “serviço de
informação”.
Papai
Baba, assim que viu o filho na pior chamou-o para “trabalhar” nos assaltos e
roubos, a seu lado.
Foi
nessa altura que Ali passou a usar também o nome do pai e virou Ali Baba. Os 40
ladrões eram comandados pelo Baba, e estavam com um enorme depósito cheio de
riquezas, até de presentes que adversários lhe tinham dado para fazerem
acordos. Todos ricos. Compravam juízes, políticos, etc. Tudo.
Um
deles, que se chamaria algo como Dhan Dhantass, rico, havia já pago
generosamente ao Baba para que o deixasse continuar a negociar, e nessa altura
Baba lembrou-se que o parceiro ideal pra o Dhantass seria o seu Ali Babazinho que,
apesar de fraco de meninges e raciocínio, lhe serviria, não para levar mais
notícias ao rei que havia sumido, mas para seu papai, o Baba, vulgo o καλαμάρι. Era um portador de notícias, como hoje
são os telefones celulares, para fofocas, fake news e informações ‘.
Ali
Babazinho, com o que o tal Dhantass lhe ia dando para manter o Baba quieto, não
tardou a ficar rico, riquíssimo, e logo era grande proprietário e, agradecido,
para recompensar o Dhantass, abandonou-o e o traiu!
O Baba
quis até que ele fosse ouvido em tribunal... de malandros. Surgiram vários
indivíduos que tanto queriam defender um quanto atacar o outro, ambos com nomes
complicados (persas...) como o sr. Proto Genius Sathyagrah e o sr. γκρινάλντα.
Baba
viu que o filhotinho, o limpador de cavalos, corria perigo com o desjo de
vingança do Dhantass, chamou o seu secretário que ficou conhecido – e ainda é –
por Guyl Querqus, o feroz, o sanguinário, obediente
aos maléficos desígnios do Baba.
Logo o Querqus mandou liquidar o Sathyagrah (até pelo nome parecia
que ia suceder o contrário), o Dhantass fugiu e refugiou-se na Mongólia, e o γκρινάλντα, subiu mais uns pontos na esfera do
Baba.
Ali Babazinho, vendo a fortuna do Dhantass, parada, a dar moleza,
meia abandonada, deitou-lhe a mão e ficou tão rico quanto o Baba. Isto é um
pouco de exagero, mas que ficou riquíssimo, para os padrões da época – século
XII – quanto mais para os padrões atuais, é o que reza a história.
Nunca mais cheirou as fezes de um cavalo, nem as dele, porque
comprou logo uma privada japonesa (eles já as fabricavam nesse tempo) que lhe
lavava as “partes” com água morna, fria ou quente conforme as estações do ano.
Não andou mais a pé, mas em carruagens cobertas a ouro, puxadas
por quadrigas de zebras que outros escravos limpavam e, mesmo cada vez mais fraco,
meningiticamente falando, logo se atreveu a fazer pronunciamentos políticos
contra todos aqueles que não tinham um papai tão bonzinho. Se em vez disto se
ter passado há dez séculos, hoje o Babazinho andaria de avião a jato.
Deixou de beber água de poços e, para satisfazer as suas sedes, e
mandava buscar à Arménia e à Galiza (não é a da Espanha) os melhores e mais
caros vinhos (reza a história que ele e o Baba gostavam muito de um chamado Tariri,
que corresponde ao Chateau Lafitte deste tempo moderno, um dos mais caro vinhos
do mundo naqueles tempos) e que bebiam nele como quem bebe água que os deixava
normalmente αλκοολισάδος.
Também se entretinham, nas horas de folga da roubança, a fumar
umas opiáceas, reclinados em camas de seda roubada aos mongóis.
Bem tentou o Danthass oferecer-lhes umas caixas dessa preciosidade
enológica, para ver se recuperava parte do que lhe haviam subtraído. Mas não só
não se livrou do ostracismo, como teve que sumir.
E assim anda, até hoje, o mundo: uns bebem do bom e do melhor,
roubam, riem até que...
Outros bebem o que o diabo amassou.
São, uns as zelites, e os
outros...
Eu sou dos “outros.
N. Quem souber grego... que
se vire. Procure Aristóteles
09/11/22
Boa! Haha.
ResponderExcluirMuito legal Tio Chico, perfeita analogia com a situação atual ! com uma ressalva apenas: no seu texto o estrago do Babazinho é menor rsrsrs
ResponderExcluirgrandissimo abraço!
André
Hahahahaha!!! Ammeeiiii essa versão!!!
ResponderExcluirMuito melhor!!!
Meu tradutor do Google não tem grego 😒 sequer consegui pronunciar as palavrinhas lançadas no texto interativo e com essas pegadinhas...
Mas estou a pensar aqui, cá com meus botões, se não seria o Arco da velha...e Não a velha do arco...🤔
Meu Amigo, como admiro a sua criatividade, o seu humor, a sua capacidade, agora comprovada, na arte das analogias! Tiro-lhe o chapéu pela capacidade primorosa na didáctica do grego: num ápice aprendi que quando quiser insultar alguém, direi, de forma veemente, «kalamári alkoolizado»! Seguro de que não correrei o risco de ter um processo crime em tribunal... Aguardamos o próximo.
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