Silvana
e Vittorio * Encontrados
Quem
se lembra deste simpático casal de velhotes que sumiram “atrás da neblina que
às primeiras horas da manhã subia das águas do Laco di Garda”, cuja história
contei há em 2014 e só coloquei no blog há 5 anos? (https://fgamorim.blogspot.com/search?q=Silvana)
Passou-se
muito tempo, e parecia que eles tinham “sido sugados” por uma nuvem, como hoje
se faz com arquivos do computador!
Até
que surge nova personagem que nos elucidou sobre o final da história.
Lembram-se
que Silvana tinha já 80 anos e Vittorio 85, estavam de boa saúde, a prova foi
aquele passeio matinal, onde desapareceram das vistas de quem os procurava.
Um
jovem motorista passou àquela hora da manhã pela mesma estrada. Viu o casal de
velhotes, muito agarrados (estava fria aquela neblina) e parou o carro para os
ajudar.
O
curioso é que esse motorista os reconheceu, a todas as família eram daquela
região e, o curioso é o jovem ainda é da família da minha mulher, Meunier, e
mais curioso ainda, tem o mesmo nome do avô dela!!!
A
família Meunier, com várias gerações engenheiros especializados em tecelagem,
em meados do século XIX dividiu-se e parte foi para Portugal e a outra ficou em
Schio, onde até hoje têm fábrica de equipamentos.
Este
parente seguiu a mesma profissão que lhe vinha de há uns dois séculos, veio há
dias ao Brasil estudar um projeto de nova indústria, e sabendo que em Portugal
havia família com o mesmo nome de família, ao passar por Lisboa tomou
conhecimento da existência de uma senhora da sua família aqui no Rio de Janeiro
e, muito amável veio visitá-la. Almoçou conosco, conversámos muito e no meio da
conversa eu disse-lhe que tinha escrito uma pequena história sobre dois
italianos, que haviam “sumido” passeando à bordas do Lago di Garda, e que quem
leu se “zangou” comigo porque não tinha dado fim à história! Como podia, se eu
não sabia o que lhes tinha acontecido?
Adriano
(nome também do avô da minha mulher) fez uma cara de espanto, e disse que havia
alguns anos tinha encontrado na estrada um casal idoso, que até conhecia bem as
famílias, que moravam a menos de 20 quilómetros, e fez com que entrassem no seu
carro, disposto a levá-los de volta ao hotel ou até a suas casas.
O
casal entreolhou-se, abanaram significativamente a cabeça com um “não” e pediu-lhe
que os deixasse onde houvesse um taxi para os levar a Milão.
-
Adriano espantado: Milão???
-
Sim, Milão. Decidimos ir para a Austrália.
-
Para a Austrália???
-
Sim. Tu, Adriano, sabes bem que eu vivo lá desde que saí de Vicenza, há mais de
60 anos!
E
contou ao jovem como tinha encontrado a sua velha amiga de infância, e que
tinham decidido juntar-se.
-
E as malas onde estão?
-
Vamos assim mesmo, antes de nos arrependermos. Compraremos no Aeroporto o que
for necessário para a viagem e lá em casa, em Melbourne, teremos muita roupa!
-
Mas sabem se tem voo, lugares marcados, etc.?
-
Tem a toda a hora algum voo que vai para aquele lado, sabemos que haverá que
fazer uma conexão no caminho, mas vamos lá chegar sem dizer nada a ninguém! Tudo
quanto agora queremos é passarmos juntos o tempo que nos resta de vida, e não como
dois viúvos meio isolados, mesmo com filhos e netos, e vivendo só de memórias.
Tenho lá três filhos e uma boa quantidade de netos e bisnetos que nos irão
ajudar. E mais, muito melhor para a Silvana, do que ficar só, num hotel, à
espera de visitas de favor.
Minha
mulher e eu, aqui em casa, ficámos espantados com a incrível história, mas não
deixámos de aplaudir a coragem e decisão do casal.
Cada
minuto que nos sobra de vida deve ser vivido com a mesma alegria de todos os
outros. E a vida a dois é muito melhor do que a viuvez!
Perguntei:
Adriano, você depois disso teve notícias deles?
Adriano:
Eu pedi-lhes que me dessem dissessem alguma coisa após a chegada, mas só quase
um ano depois é que soube, sem ser por eles nem alguém da família, que estavam
muito bem. E nada mais. Imagino que nesta altura podem até estar já a dormir o
sono dos justos, depois de terem aproveitado muito bem o que lhes restava.
Achei sensacional.
Adriano
pouco depois do almoço teve que seguir para o seu objetivo, e nós ficámos a
cogitar como o mundo é pequeno: do nada surge-nos um parente, com o mesmo nome
do avô da Dona Bela!
E
mais, podendo finalmente dar a conhecer a uma amiga, carioca, que há anos nos
pergunta se sabemos algo do casal “que desaparecera na neblina” e, por curiosa coincidência
também através de um Adriano!
Tout
est bien qui fini bien! Deo Gratias.
22/10/2022
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