A Fábula da Ignomínia
Procede sempre de
maneira que de tua sabedoria
Nunca sofra o teu semelhante.
Domina-te. Jamais te entregues
Rubaiyat – Omar Khayyam
A
história que vou contar, verdadeira, passou-se na Alemanha, e que eu presenciei
há mais de 50 anos.
Nos
arredores de uma pequena e muito bonita cidade, Giessen, um jovem engenheiro
cedo se lançou na construção e fabricação de componentes elétricos para fins
industriais.
Casou, e
com a ajuda da mulher que assumiu a contabilidade, cresceu rápido por fabricar
com grande qualidade e em poucos anos tinha já uma fábrica de grande referência
e uma razoável quantidade de trabalhadores.
A
fábrica era de um único proprietário, o engenheiro que a criou, mas estava já
com idade para se aposentar, e sem filhos.
Chamou
o advogado, reuniu todos os trabalhadores e no fim de um simpático almoço, num
rápido pronunciamento, disse-lhes:
- Estou
cansado, tenho direito a me aposentar, e, na presença do advogado que trouxe
toda a documentação necessária, a empresa vai ser entregue a vocês todos. Vocês
a partir deste momento, após a assinatura dos necessários documentos, serão os
donos dela. Fica também consignado que, enquanto eu viver será a empresa que me
pagará, a mim e minha esposa uma aposentadoria, também consignada na
documentação a assinar.
Irão
vocês escolher quem ficará no comando, em votação de todos, porque do mais
modesto ao engenheiro mais qualificado, todos são sócios, donos, da empresa; à
medida que forem saindo, ou se aposentando ou por qualquer outra razão, deixam
a sociedade. Novos contratados, se necessários, após um estágio de poucos
meses, se quiserem continuar na empresa, e merecerem, assumem a sua quota parte.
A
votação foi fácil, garantiram ao diretor geral um período de quatro anos, e a
empresa cresceu de forma ainda mais rápida, e era muito conceituada não só
dentro da Alemanha como fora, exportando os seus equipamentos.
Ao fim
dos quatro anos o pessoal quis mudar de diretor, um homem bem competente mas
extremamente exigente, e escolheram um outro, mais aberto, até um tanto
brincalhão, acima de quem logo começaram a cair algumas dúvidas sobre a sua
seriedade nas compras e vendas, porque estaria a viver com mais pompa, sempre
se tornando muito amável com os colegas.
Mandaram,
em sigilo investigar, e confirmou-se que esse sujeito estava a fazer
investimentos e comprar casa longe dali. Moral da história, estava a roubar a
empresa e já se notava que as finanças andavam demasiado apertadas.
Imediata
convocação para discutirem o futuro e foi apresentado novo candidato para
diretor geral.
O
alegre, brincalhão (e desonesto) tinha conquistado um bom número de colegas
que, por razões óbvias queriam que ele continuasse a ser o responsável da
empresa.
Discussão
acesa na assembleia acabou por vencer o bom senso e a rigidez dos mais
experientes e mudou-se novamente de diretor, sendo o que saía rebaixado no seu
trabalho e logo convidado a sair.
Foi
pena porque era um bom técnico, mas saiu. E não conseguiu trabalho em lugar
algum.
Entretanto
a fábrica continuava a progredir, muito bom nome entre os clientes, mas
precisou de um técnico para substituir o que tinha sido dispensado, que após
uma boa admoestação, foi readmitido.
Não
tardou para inventar calúnias e a envenenar a cabeças de muitos colegas, que em
nova assembleia, passados só dois anos, reconduziram o desonesto funcionário para
o comando.
E
recomeçou a empresa com dificuldades financeiras que jamais tivera. Logo se
concluiu que a nomeação deste indivíduo tinha sido um erro que estava a matar a
empresa. As vendas a cair, dificuldade de caixa mesmo para pagar salários,
etc..
Nova
assembleia geral.
Levantou-se
a voz de um dos mais antigos colaboradores – sócio, como todos – e expôs o
problema de forma dura e direta;
- Colegas e amigos
Estamos numa situação difícil, em risco
de termos que fechar a fábrica, que alcançou grande qualidade e crédito junto dos
seus cliente e dos bancos, fruto do trabalho do nosso antigo patrão e de todos
aqueles que com ele trabalharam. Depois nós nomeamos o que considerávamos mais
capaz, o engenheiro K... que, com seu grande trabalho e visão ainda elevou esta
NOSSA empresa ao mais alto conceito,
e quando um grupo de colegas, aqui presente, quis e conseguiu nomear uma pessoa
desonesta, coisa que jamais pensámos que poderia estar entre nós, a NOSSA empresa começou a afundar, está
neste momento a atravessar dificuldades nunca imaginadas.
Demos um passo para ir mais fundo quando
o readmitimos, pior quando novamente o colocámos como diretor, o que mostra que
esse homem deverá ter alguns parceiros nesta triste situação.
Ele está com um elevado património
pessoal ROUBADO do nosso trabalho. E
nós, todos, em risco de ver a fábrica fechar,
Vamos votar mais uma vez para ver se
ainda conseguimos salvar o que já está meio perdido. Tem dois grupos aqui e
cada um escolheu o seu representante. Não vale a pena enunciar o muito que por
nós todos fez o engenheiro K... e sabemos que se votarem por aquele que nos
roubado, a fábrica não terá mais que uns meses de vida.
Nós ficaremos pobres e o LADRÃO não
sei se continuará a rir de nós, rico, porque aqui, na sala ao lado, está a
equipa de investigadores da polícia, com o relatório de tudo o que esse homem
tem feito e mais, trazendo já uma ordem de prisão.
Agora vamos votar: Ou o engenheiro K..., sisudo, exigente,
correto, ou no ladrão para nos roubar o que nos sobra.
É fácil imaginar em quem se votou.
Eu que
estava, em 1966, naquela área em visita a duas fábricas de material
fotográfico, depois de ouvir o que acima escrevo, pedi para fazer uma rápida
visita a essa fábrica. Não recordo o nome dela, mas estava novamente em grande
recuperação e era um exemplo em toda a região. Vi e ouvi o relato que acima
transcrevo, certamente com algumas falhas porque são passados mais de 56 anos.
Aqui no
Brasil está a passar-se algo semelhante, bem sei que em proporções muito
maiores, onde estão envolvidos 225 milhões de habitantes, e a correr mal a votação,
a ladroagem, em velocidade louca, levará muito milhões à miséria e, ainda para piorar,
a toda a América Latina, que escumalha semelhante não deixa evoluir.
Pensai
e meditai. O que se passou naquela fábrica na Alemanha Eu vi.
16/10/22
Tomara, meu Amigo. Que muitos o leiam, mais o ouçam. Porque o saber dos ditados e adágios populares não falha . E “ quem te avisa,…”
ResponderExcluirHB
A fome é urbana. FHC distribuiu terras do Estado mas é mais fácil traficar droga no Calçadão.
ResponderExcluirQue pena , Brasil...
HSO
Francisco,
ResponderExcluirA grande diferença é que, por aí, não há candidatos alemães ao posto de comando.
É que das 2ªs, 3ªs e por aí abaixo gerações de emigrantes alemães, do espírito protestante germânico, só restará a paixão pelo chope e pouco mais.
Um, é descendente de italianos; o outro tem sangue lusitano. Estamos conversados.
Abraço
APM
E agora?
ResponderExcluirAssociando-me à avaliação preocupante, enfatizo que o sentimento é de perda, decepção, tristeza, vergonha e inconformismo.
Esse sentimento não apaga a noção de crença na Liberdade, Verdade, Coragem e Ética.
Brasil acima de tudo!
Quer dizer, que haja um Brasil bom e com igualdade de oportunidades para todos os brasileiros!
E agora?
ResponderExcluirAssociando-me com a avaliação preocupante, enfatizo que o sentimento é de perda, decepção, tristeza, vergonha e inconformismo.
Esse sentimento não apaga a noção de crença na Liberdade, Verdade, Coragem e Ética.
Brasil acima do tudo!
Quer dizer, um Brasil bom e com igualdade de oportunidades para todos os brasileiros.