Encontros Conversados
‘3’
Chegam os Vikings
Tal
como era esperado, estes textos, confusos, envolvendo Grandes desconhecidos,
não têm merecido o interesse habitual dos meus “seguidores”. E têm dado uma
trabalheira miserável!
Estão
confusos, porque têm que estar de acordo com as minhas meninges já bastante
bolorentas, e porque isto de conversar com pessoas que estão no Além há
milhares de anos, certamente sem abrirem a boca... é dose! Até para mim é uma
canseira.
Também
ninguém me mandou meter em sandas incógnitas... e tentar “ouvir” o que os
“passados” poderiam dizer-me!
Atrevimentos.
Primeiro
descobrir os que poderiam “dizer” alguma coisa, e depois procurar perguntas que
possam interessar.
Uma
canseira, para mim, não para os etéreos, que devem ficar a rir com esta
“aventura” em que me meti.
Mas
assim mesmo vou continuar um pouco mais. Pelo menos quando lá chegar a Cima,
vou encontrar uma mão cheia de “novos” amigos! E, com uma prévia conversinha
com o senhor Petrus (em latim), ex-Simão, que por aqui dizem ser o zelador lá
das Alturas, talvez ele autorize uma farra, com churrasco de mentirinha e
caipirinha de névoa, e uns copos de tinto falso, para continuarmos o papo agora
iniciado a correr.
Vamos
entretanto continuar chamando os talvez primeiros grandes, Grandes mesmo,
navegadores, os Vikings.
Tem
má fama, de serem uns brutos, beberem cerveja pelos crâneos dos inimigos
vencidos e degolados, levantando orgulhosamente esses crâneos, com cerveja ou
aquavit, e gritando “Skol”, como nós hoje dizemos “txim-txim”. Só que skol
significa crâneo que o vencedor exibe, e txim-txim, é aquele barulhinho que só
fazem os copos de verdadeiro cristal e não tem tradução!
Fizeram
e desfizeram o diabo entre os séculos IX e XI. Andaram mais de dois séculos na
doideira, a matar, pilhar, estuprar, destruir e só sossegaram quando se uniram
os três grupos: suecos, noruegueses e dinamarqueses depois de muito se terem
guerreado entre eles.
O
primeiro e mais que brutal assalto que se conhece terá sido ao Mosteiro de
Lindisfane (em 793), numa pequena ilha no norte da Inglaterra, onde só havia
monges em oração e meia dúzia de pobres pastores. Desconhece-se o nome do besta
que comandava. Gostaria de lhe dizer umas coisas. Entre elas: covarde.
Chegaram
nos seus belos drakkars, foram recebidos atenciosamente pelos monges, mataram
todos, saquearam o que havia – só material religioso – e foram embora no mesmo
dia.
Deixaram
os ingleses aterrados, eles que viviam em bom sossego.
Mas
havia muitos nobres e reis na Escandinávia, que se guerreavam constantemente. A
população ia crescendo, treinada para guerrear, e a “solução” encontrada foi...
roubar. Começa a era do terror viking.
Em
845 Ragnar Lodbrok, um rei tranquilo,
matou o rei sueco Fro que havia matado o seu avô, com 120 navios ataca e cerca
Paris, na altura em que a cidade se limitava à Ille de France (onde está a
catedral) e só foram embora quando o rei Carlos II, de França lhes pagou mais
de 2,5 toneladas de ouro e prata!
Em
865, parece que o mesmo Ragnar invade a Inglaterra, por Wessex. Vou chamá-lo.
- Ragnar, rei da
Dinamarca e Suécia, que necessidade tinha de ir atacar povos pacíficos e
indefesos?
- A vida na
Escandinávia, estava confusa. Guerra constante entre reis, entre jarls (earls – condes), e era difícil viver em paz. A população
crescia e o que mais tinham para fazer era guerrear! Assim fomos procurar
outras terras onde encontrámos muita riqueza mal distribuída que nos levou à
pilhagem. Só quem anda com homens valentes e sedentos de melhorar a vida, sabe
o quanto custa segurá-los em frente de tesouros que se podem raptar!
- E porque não deixou
destruir a abadia de Saint-Denis, quando os escandinavos ainda adoravam Odin?
- Já tínhamos atacado e
pilhado Rouen e achei que aquela igreja não nos poderia trazer nada de
interesse.
- Mas foi uma carnificina
terem feito 111 prisioneiros e os enforcado em frente do povo francês, só para
os aterrorizar. Talvez ajudasse a que Carlos de França pagasse altamente esse
vosso cerco a Paris. Esse dinheiro foi distribuído ou usado para pouco depois montar
outra esquadra e ter invadido a Inglaterra?
- É evidente que esse
despojo que levei de Paris me permitiu armar uma grande e forte esquadra.
- Quer dizer que alguns
anos depois, esquadra bem preparada, invadem Wessex e vão subindo a Inglaterra
matando tudo e todos, até estabelecerem um rei normando. Obrigado Ragnar, vou
consultar outros feitos.
Pouco
tempo depois o rei Rollo, Rolão, o grande viking saiu da Escandinávia, foi saqueando
pelo caminho, atacou Paris, cerca do ano 911, que saqueou.
Face
à constante força invasora dos
vikings o Rei Francês Carlos, o Simples, concordou em entregar uma ampla
região costeira ao controle viking em troca da interrupção das invasões e
saques. Esse acordo foi selado em 911, e Rolão foi estabelecer-se em Rouen, no que é
hoje a Normandia, sendo o primeiro Duque da Normandia, no norte da atual
França.
Este
pedacinho de história é para localizarmos e nos apresentarmos ao Rolão, senhor
duque.
- Duque Hrólfr (era assim o nome dele em língua
eslava!) porquê os Vikings estavam constantemente a atacar povos tranquilos, a
roubá-los, assassiná-los, etc.?
- Lá na nossa terra, além de muito frio,
tem poucas terras cultiváveis. A população crescia e não conseguíamos produzir
alimento suficiente. Além disso havia constantes lutas entre nobres e reis. Precisámos
de mais espaço, mais terra, e terra para agricultura. Também estivemos também muito
tempo em guerra com invasores bárbaros, e vizinhos orientais e decidimos partir
à procura de novas terras.
- Mas já tinham colonizado a Islândia,
grande parte da Bretanha, porque mais? A seguir as costas da Hispânia, e foram até à Itália!
- O povo achou fácil viajar e saquear,
além de estarmos em constante guerra com invasores do sul e do leste.
- Naquele mar do Norte, por vezes muito
bravo, os drakkar aguentavam-se bem ou perdiam muitos barcos e gente?
- Saíamos sempre muitos. Barcos e
guerreiros. Alguns ficavam pelo caminho. Mas o resultado era sempre positivo. Havia
muita riqueza que nos aproveitou e estimulou para continuarmos.
- Hrólfr, ou Rolo, continue a
descansar... mas sem os aparatos do ducado!
Entretanto
da Escandinávia não paravam de sair inúmeros grupos ou esquadras que assaltavam
a Frísia, hoje Holanda e Bélgica, a França e por todos os lados a Inglaterra
onde acabaram por reinar durante dois séculos até chegar William II, ele mesmo
um Normando, francês, descendente de vikings.
No
século IX saíram por esses mares “au diante” a pilhar e matar tudo que
pudessem. Já cristianizados encontraram no sul da Hispânia uns inimigos “ideais”,
os mouros, muçulmanos. Mas aí a luta ficou empatada, Os vikings perdiam tantos
homens nas lutas como os hispânicos, só que estes tinham gente para repor e os vikings
foram ficando desfalcados, de gente e barcos que lhes capturavam e pegavam
fogo. Chegaram à Sicília, mas pelo caminho iam dando porrada, matando e
pilhando quaisquer uns. Gente fina. Enfim.
Um
desses selvagens, “o povo pagão”, como de entrada lhe chamavam os britânicos,
foi outro nobre chamado Ulf, que ficou conhecido
como Galizu Ulf.
Ali,
sentado no chão à sombra da mesma árvore da minha casa, telecomuniquei-me com o
dito Ulf, um nobre dinamarquês, que sabendo das minhas intenções, respondeu de
“má cara”.
- Senhor Ulf. Porque
ficou conhecido por Galizu Ulf?
- Quando aportámos à
Galiza, a ideia era assaltar a cidade de Jacobus (São Tiago de Compostela) mas
como estavam em guerra os reis de Leon e Castilla, Bermudo III de Leon nos propôs
que o ajudássemos, fez inúmeras promessas e depois não cumpriu. Então fomos
atacando e saqueando tudo por onde passávamos.
O medo do povo foi tão
grande que nos chamaram “os lobos” da Galiza. Também apoiámos Rodrigo Romániz
num assalto a um castelo em Leon, e contra os Bascos, mas do mesmo modo não
cumpriu depois o que nos tinha prometido. Seríamos pagos com parte dos saques,
mas nada cumpriram.
- E como acabou isso?
- O bispo Cresconius,
juntou uma grande quantidade de homens veio contra nós e tivemos que zarpar. Já
tínhamos perdido muitos homens naquelas lutas.
Não há dúvida que
estes escandinavos eram bravos. E fizeram estragos em todo o lado onde
passavam!
Houve mais um que
teve que dar o fora da terra porque o seu pai tinha assassinado um outro nobre.
Filho de um grande chefe, Érico, o Vermelho, foi um explorador e o primeiro
europeu a criar um assentamento na América.
Leif Eriksson.
- Leif porque se meteu ao mar à procura de
novas terras, tendo os escandinavos já tantos assentamentos, e tantas terras
para colonizar?
- Muito se falava lá na Escandinávia que
haveria novas terras para poente. O meu pai teve que sair e eu aproveitei,
reuni um grande grupo de homens e barcos, e parti com ele à procura dessas
terras. Encontramos ao fim de longa navegação, no ano 984, uma terra cheia de
árvores, um clima talvez até mais agradável que o da nossa terra, e ali
fundámos duas colónias. Como no meio de tanto gelo havia uma grande área muito
verde chamámos-lhe a “Terra Verde” – Groenland”! Hoje essas colónias não
existem mais. O clima esfriou muito, o verde, que deu origem ao nome da terra,
quase desapareceu, a fome fazia sentir-se e tiveram que ser abandonadas, mas
muitos séculos mais tarde.
- E como foi o relacionamento com os
povos originais que ali se encontravam há milénios?
- Muito bom. Houve até casamentos entre
os povos. Nunca houve qualquer desentendimento.
- Mas o seu instinto também lhe dizia que
para sul havia terras ainda melhores. E o seu espírito irrequieto ajudou!
- É verdade. Embarquei, 16 anos depois,
com um grupo grande, homens e mulheres e encontramos uma nova ilha, essa muito
bonita, muito verde, onde pudemos até fazer vinho com uvas que lá encontrámos, e
assim se chamou Vinland.
- Mas aí os indígenas parece que não apreciaram
a vossa presença.
- Houve uns desentendimentos e somente
dois anos depois eles arrasaram tudo que tínhamos feito. Tivemos que abandonar,
e como o meu pai tinha falecido em Gardar, cidade que ele fundara na Groelância,
e era governador de uma terra na Noruega, voltei para casa, para assumir o
lugar dele.
- Tem noção de quantos dias, ao todo
andou no mar?
- Muitos meses, com dias de mar chão e
outros de grandes ondas, mas conseguimos fazer essas viagens graças à qualidade
e boa construção dos nossos drakkars, como ao espírito de luta do nosso povo.
- Obrigado Leif. Um dia continuaremos a
nossa conversa!
Estes vikings eram muito
duros de roer. Levou tempo a que sossegassem. Só depois que Canuto II se tronou
rei da Dinamarca, Noruega e Inglaterra, em 1035.
Que foram grandes
navegadores, e os primeiros em longas distâncias, parece ser uma realidade.
Depois só recomeçam
as “novas” grande navegações cerca de 500 anos mais tarde!
Chineses,
portugueses, espanhóis, muitos outros e árabes no Índico comerciando escravos e
ouro em África e especiarias na Índia.
Deixaremos essa
gente. Talvez volte para falar com eles, mas não tão cedo!
17/09/2022
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