sábado, 23 de julho de 2022

 

Carta aos portugueses


É tanta a falta de valores na governança do país, que me envergonho de “ainda” ser português.

Nos mais altos postos do país, o senhor M. R. das Selfies e o senhor Costa do Risinho Falso parecem entretidos, e divertidos, a destruir o pouco que esse país ainda tem.

Lembro de há alguns anos a Senhora Merkel ter feito uma crítica aos portugueses, sempre de mão estentida a esmolar fundos da UE, para os desbaratar, quando Portugal era o país com melhor clima e melhor comida da Europa, adormecido nas cantadas socialistas que o veem arruinando.

O Costa, a qualquer crítica que se lhe faça, responde como a hiena: a rir. Ri de quê, imbecil?

O Selfista, anda de cuecas nas praias, tira fotos com idiotas que o aplaudem, ofendeu e levou com a porta do Presidente do Brasil nas ventas – muito bem dada – e, incapaz de pôr ordem na governação passeia, exibe-se e, imitando o seu superior, ri também.

O país arde, arde todos os anos, prejuízos milionários, e não se vê um plano sustentável para proteger o pouco que sobra.

O medo que os clientes da celulose (parece que serão italianos) se zanguem e que país perca “essa boquinha” de exportação, fecha os olhos à expansão dos eucaliptais, bombas à espera de um verão um pouco mais quente, e que levam na sua frente casas, vidas, arrasando áreas imensas.

Plantar árvores que resistam ao fogo que, como é evidente, levariam muito mais tempo a crescer, parece estar fora de cogitação.

Mas os carvalhos, oliveiras e outras renderiam mais tarde bem mais do que a atual celulose, sem o perigo de se verem dizimadas pelo fogo.

Porque não se faz uma consulta geral ao país, aos técnicos e agricultores, para ouvir que soluções eles poderiam propor para evitar a repetida e sempre esperada catástrofe?

Porque o país não investe no futuro e esbanja os milhões e bilhões (o que por chamam de mil milhões!) que lhe chegam da UE?

E tem mais: o desgoverno apoia o concêlho nacional de saúde quando este, em pronunciamento oficial se regozija com as mortes de idosos pelo Covid, porque rejuvenesceu a população portuguesa! Tamanha atitude de imbecilidade e os seflies e costas não se manifestam! Talvez não tenham morrido todos os idosos dos cãosseituados membros de tal cãoncêlho, o que quem lastima sou eu, porque gostaria de saber se estariam na mesma felicidade com esse rejuvenescimento.

É exagero de estupidez, incompetência e inguinorança.

Devem estar mais felizes ainda com o mais de milhar de mortes causadas agora pelo fogo!

Portugal rejuvenesce com mortes!

E assim vai o país sendo desgovernado e atirado para o lixo.

A dívida do país é impagável, tal a monstruosidade do seu tamanho, que obrigam os selfies-costas a baixar as calças e sorrir, porque não sabem como fazer melhor.

A UE vai financiando, aliás vai investindo e assim não precisa de Napoleões ou Hitlers para ser ela – os credores – a tomar nas mãos as rédeas desse “belo país à beira mar plantado”.

Para já vai-se arrastando com o turismo, uma inflação que não existiu durante os tempos da feroz ditadura do Estado Novo, mas… e daqui a dez ou vinte anos?

Outros selfies-costas continuarão a rir ou virão os que vão chorar?

Pelo mundo fora “as coisas” não estão muito boas, também.

Cada vez mais é de esperar que a África venha a dominar o mundo. Não os chins, muito menos os russos e seus tártaros, bashkires, tchetchenos, bielorussos, chuvaches e outros.

Melhor estão aqueles, como eu, em frente das portas do Além, para não assistirem à depravação dos que não forem capazes de trabalhar para o futuro.

Podemos lamentar o que netos e mais descendentes virão a enfrentar, mas a própria história nos mostra que os povos, as etnias, as fronteiras são como água: quando esquentar, desfazem-se.

Cada vez com mais frequência assistimos à eleição de incapazes e vorazes ganaciosos.

E depois?

"The rest is silence.

20/07/22

Em 2003 e em 2005 escrevi os textos abaixo a propósito de fogos:

Portugal a arder e...

Portugal arde no continente e até na ilha da Madeira; a devastação e os desastres são horríveis.

2003 – há 19 anos !!!

Pegou fogo! Ainda a propósito e... a tempo?

Todos os anos a mesma cegada. Vem o verão, um calor insuportável, uma secura tremenda e aí está o país a arder.

Este ano, um dos anos mais quentes que a história regista desde há vários séculos, tinha que arder mais. E foi uma catástrofe. Grande parte fogo posto, grande parte os mesmos incendiários e, pelos vistos, por todo o lado a mesma insana benevolência, a que algumas almas obscuras chamam de direitos humanos, poupando duros castigos a semelhantes canalhas.

Há uns quinze anos ardeu uma grande parcela das matas da Serra de Sintra. O fogo andou por onde quis e o vento o levou mas, chegando a uma área de belíssimos cedros (uma das taisPináceas), e não entrou. Rodeou os cedros, que se limitaram a ficar chamuscados na orla, e seguiu adiante na sua destruição. Passada a desgraça lá restava imponente, de pé, ligeiras feridas do duro combate, uma, infelizmente pequena, mata de cedros, heróicos sobreviventes daquela violência.

A pergunta que surge de imediato a qualquer um: porque não se plantam mais cedros? Porque não se fazem “cinturões” ou “aceiros” de cedros, já que, por diversas vezes ficou demonstrado que estas árvores não deixam o fogo propagar-se, pelo menos com a impressionante velocidade dum pinhal ou eucaliptal?

A resposta é simples: um pinheiro ou um eucalipto levam pouco mais de meia dúzia de anos a crescer para corte - se entretanto o fogo não os devorar! - e um cedro uns trinta! Quem quer fazer investimentos a trinta anos?

Onde está o grande Rei (“R” maiúsculo!) D. Dinis? Imaginem que esse Rei tivesse a mentalidade tacanha que, de há muito, vem presidindo os destinos de Portugal? O que tinha acontecido? O mar já teria levado uma boa parte da costa e a grande epopéia que honra e mostrou ao mundo a fibra dos portugueses... nem sequer teria acontecido! Naquela altura ainda não se faziam embarcações em fibra de vidro.

Sempre ouvi dizer que governar é prever, segundo os chineses. Não será possível fazer um plano de reflorestação a 30, 40, 50 anos? Foi o tempo que demorou a completar a auto estrada Lisboa-Porto, iniciada pelo também Grande ministro o Eng. Duarte Pacheco no início dos anos 40. Se uma auto-estrada (auto-estradeca de 300 km!) leva 50 anos a concluir, o futuro do interior do país não pode ser planificado para um prazo desses?

Todos sabemos que depois do terreno queimado os problemas que se levantam são imensos e enormes: empobrecimento, erosão, assoreamento de rios e barragens, destruição total ou quase de todo o eco sistema, etc., mas insistir naquilo que todos sabem que não resulta - plantar somente pinheiros e eucaliptos - é sem dúvida estar a jogar dinheiro fora e continuar a pôr em risco a vida de muita gente e deixar para os vindouros um deserto!

Será isso que as gentes, e porque não os governantes, querem?

15/Set/03

Dois anos depois, 2005, voltei à carga:

Os fogos “populares”

Há dois anos, grassava por Portugal um fogaréu imenso, como habitual, escrevi uma pequena crônica sobre os fogos, e lembrava um episódio que salvara uma boa área da serra de Sintra. Arderam eucaliptos e pinheiros mas o fogo não penetrou nos cedros.

Mandaria a lógica plantar mais cedros. Pelo menos fazendo com eles cortinas que pudessem conter a voracidade das chamas que sempre, sempre e cada vez mais, se declaram nesta época do ano em Portugal e não só. Temperaturas que rondam os 40° C e umidade do ar muita vez abaixo dos 30%, não há floresta que agüente.

Não se sabe qual o fenômeno que num passado não tão remoto, provocou, sempre no hemisfério norte, as glaciações com seus períodos interglaciares, mas o que se sabe é que com o aumento de temperatura do nosso planeta, e o também visível aumento da área de influência do deserto do Saara, somados à falta de limpeza das florestas e rarefação de agricultores, gente do campo, nas aldeias, que ao primeiro sinal de fumo acudia com baldes e boa vontade, a ameaça dos fogos só tende a piorar.

Vão talvez dizer que o problema não terá grande solução, visto que só se podem plantar pinheiros e eucaliptos, que são os que mais rapidamente crescem e melhor servem as celuloses!

Os que mais rapidamente crescem, vírgula, quando crescem, se o fogo os não destrói, o que está acontecendo com cada vez maior e mais rápida intensidade. As celuloses terão que estudar alternativas, porque entre material talvez não tão adequado - e nem saberia dizer se isto é verdadeiro ou não - e troncos queimados com terras cada vez mais improdutivas, a solução não parece difícil de tomar.

O projeto de conservação (?) das matas e florestas, em Portugal, é um projeto a prazo médio. Vinte, trinta anos. Talvez caro. Mas entre a hipótese de termos um país minimamente decente para os vindouros, ou um campo arrasado, queimado, improdutivo, e um gasto anual imenso para combater o incombatível, não parece haver muita dúvida no caminho a seguir.

Tem que plantar outras espécies a intervalos regulares. Porque não frutíferas? Até atraem alguma fauna, esta a flora, etc. Ou será melhor continuar a esterilizar as terras com a ganância da venda rápida de madeira (de paupérrima qualidade) ou aumentar os lucros das celuloses?

Tem muito engenheiro florestal que saberá dar uma reposta conveniente.

A pergunta que fica é simples, como a faria qualquer criança: porque não se começa a executar um tal plano? Não temos em Portugal engenheiros silvicultores capazes de elaborar, com muita rapidez, um plano destes, à escala até nacional? Temos, muito bons, com arquitetos paisagistas, à frente dos quais me atrevo a sugerir o prof. Gonçalo Ribeiro Telles. O que falta então? Vontade e força política? Para variar deve ser isso. Sempre a maldita política que, em nome do desenvolvimento do país, muitas vezes só isto faz: atrasa-o.

Passam os anos e nada muda. Lembro outro episódio passado também há anos no Norte de Portugal. Grassava outro incêndio. A chefe dos Serviços Florestais conseguiu prender o incendiário e, de acordo a lei (direitos humanos e outras cretinices) entregou-a à polícia. Já não recordo o desenvolver do drama: ou a polícia ou o tribunal, ouviram o delinquente e... soltaram-no!

Hoje continua a passar-se o mesmo. E a “justiça” parece não perceber que esses delinquentes são ferozes assassinos. Destrói-se o meio ambiente, as propriedades particulares – casas e bens – morre gente queimada e... os assassinos ficam à espera da próxima oportunidade.

Ou há um lapso de dignidade, de lei ou de coragem para pôr esses energúmenos na cadeia por 40 ou 50 anos. Ou, para um tratamento mais rápido, ser levado de helicóptero e deixado no meio do fogo. Lá bem no centrinho onde o churrasco fosse mais quente. De certeza que a aprenderia... tostado.

Lembro ainda um juiz que proferia sentenças inéditas que eram criticadas nos jornais, sempre positivamente;

Uma delas: um jovem que ao andar nos carros elétrico (bondes) sempre tinha mão baixa para a meter nas bundas das jovens ou senhoras. Apanhado, preso, foi a julgamento. Sentença: durante dois anos não pode andar nos transportes públicos! Perguntaram ao juiz: E como ele se vai deslocar? – Nos mesmos transportes; mas vai ser o indivíduo mais bem comportado lá dentro. Se prevaricar apanha uns quantos anos de prisão!

Aceiros para evitar a expansão do fogo... não valem muito. Limpeza dos ramos secos nas matas... quem vai apanhá-los, como se fazia há 50 anos para ter lenha em casa?

As florestas estão cheias de combustível, a terra aquece cada vez mais, e ninguém parece querer ver mais além do que o “próximo ano”, pedindo aviões emprestados para ... para o que? Atenua? Talvez, mas não resolve.

Parece que quem comanda o país tem como lema “Deixa arder que eu pago!

É triste ver como se abandona o pouco que se tem.

13-jul-05

21/07/22

domingo, 10 de julho de 2022

 

Deus É


Milhões, bilhões ou ainda mais livros se têm escrito sobre Deus, ou D’us ou Alá, ou qualquer outro, a começar pela Bíblia, o livro mais vendido desde sempre, traduzido em todas as línguas, para “explicar” quem é Deus, o que ele terá dito e feito.

Verdade, verdadinha, é que ninguém sabe nada, e então, ao longo de séculos, milénios, alguns homens, pensadores, certamente corretos, éticos (que hoje estão em falta) foram interpretando os fenómenos da criação conforme o que lhes sugeria o que observavam e, sobretudo, o que pensavam que poderia ter acontecido lá… longe, milénios para trás, sempre dando as opiniões que consideravam honestas.

Muitos desses homens foram ficando conhecidos como “homens santos” - Noé, Abraão, Moisés, Josué, Samuel, Ruth e Ester, etc. - que teriam falado com Deus, e de quem tinham recebido orientação.

No século XVIII, alguns filósofos depois de muito estudarem e discutirem problemas metafísicos, concluíram que nada, relativamente à existência de Deus é passível de conhecimento pela razão, e para isso criaram uma palavra, do grego, agnóstico, como aquele que crê que “um Ser Superior” existe, mas que a inteligência e conhecimentos humanos não podem comprová-lo.

Mas o homem, esperto, vivaço, e mesmo vigarista, consegue no meio de toda esta dificuldade, tirar proveitos, criando deuses, seitas, religiões, com belos contos, sermões e ou livros, e levarem o pensamento dos que não pensam, para “acreditarem” que o Deus está “lá em cima” de olho neles, para ver se se comportam bem ou mal, se depois vão para o paraíso - alguns até com doze mil virgens à sua espera (haja virgens!) - ou para o inferno.

Por aqui há milhares de carros com dísticos colados no vidro traseiro, no mínimo, curiosos, como “Deus é Fiel”! Uma delícia.

Além de sinagogas, mesquitas e igrejas católicas, por este país há mais de uma centena de outras “igrejas”, com base em Cristo – que é martirizado com o que os seus pastores e “bispos” conseguem extorquir dos incautos fiéis – mas que atraem milhões de pessoas. Algumas dessas igrejas acabam tendo uma importante papel social, mas outras são um escândalo de extorsão.

As pregações de muitos destes conseguem até convencer os tais fiéis a votarem neles para cargos públicos, e a encher mais ainda os seus bolsos.

Também há humildes e sinceros. Raros.

Pregam, afirmam, que Deus faz, Deus ajuda, Deus resolve, e se quisermos acreditar em Moisés, fiquemos com a definição dada por Deus de si mesmo, quando apareceu no meio da sarça ardente. Perguntado quem Ele era, Deus disse-lhe: “Eu sou Aquele que é”.

Depois D’us terá entregue as Tábuas da Lei com os 10 Mandamentos, dos quais se destacam o 6° - Não Matarás, o 8° - Não furtarás e o 10° - Não cobiçarás nada que não te pertença.

Mas os hebreus não fizeram caso disso. Primeiro Moisés terá quebrado as Tábuas e teve que as refazer, e para resolver o problema do assentamento do povo hebreu declarou que o seu – deles – D’us era quem os apoiava e incentivava nas guerras de conquistas.

Há até, entre muitas outras passagens, um Salmo de David que é bem explícito, frontalmente contra aqueles três Mandamentos. Reza o Salmo:

Bendito seja o Senhor, a minha Rocha,

Que treina as minhas mãos para a guerra e os meus dedos para a batalha.
Ele é o meu aliado fiel, a minha fortaleza, ... é o meu escudo, aquele em quem me refugio.

Ele subjuga a mim os povos.
Estende, Senhor, os teus céus e desce; toca os montes para que fumeguem.
Envia relâmpagos e dispersa os inimigos; atira as tuas flechas e faze-os debandar.


O “Não matarás, nem furtarás, nem cobiçarás...” só é válido para os outros?

Onde está afinal esse Deus ou D’us?

E Alá, que de acordo com algumas Suras, incita os “fiéis” (só eles é que são fiéis!) a nunca serem amigos dos “infiéis”, a passar-lhes a cimitarra no pescoço, etc. Será que foi o que o tal Anjo Gabriel disse a Maomé?

E para quê uns e outros, incluindo cristãos, vão aos templos de “oração”, citar frases feitas em livros, e pedindo coisas a Deus, nem sequer sabendo o que é ou quem é Deus, concordando todos, no entanto que esse Ser Superior, o Deus. é totalmente incognoscível,

Os ateus então são mais pragmáticos. Não lhes interessa saber se existe algo superior. Dá muito trabalho pensar nisso, para no fim não chegarem a qualquer conclusão, e comodamente desligam e com pensamento de superioridade sobre os “pobres crentes”, mesmo que sejam simplesmente agnósticos, orgulham-se do seu ateísmo, como também agora é moda de muita gente se orgulhar do que está errado, do que está fora dos desígnios da natureza.

Alguns homens, poderiam citar-se centenas, mas em relação à população total são raríssimos, que enfrentaram tudo e todos para demonstrarem que a finalidade do homem na Terra é alcançar a felicidade. Aristóteles, Buda, Spinoza, Kant e outros mais, “queimaram as pestanas” como se diz popularmente, à procura de um modo de se atingir o bem comum.

Veio por fim Jesus, Cristo, o Ungido, que com uma frase mais do que simples deixou o método definido com uma clareza total: Ama o próximo!

Frase de enorme simplicidade que resume todos os Mandamentos da Lei de Deus.

Mas Jesus, a todos os que o seguiram sempre foi alertando que a tarefa seria muito difícil, que eles iam sofrer por divulgarem a Boa Nova.

Divulgavam e apregoavam o Amor e eram “recompensados” com crucificações, enforcamentos e outras mortes violentas. Foi, e é, uma luta contra a maioria que retira dos Mandamentos a palavra “Não”, e assim matam, roubam, cobiçam.

Jesus, quando questionado só se referia a Deus como Pai. Pai só pode querer o bem de TODOS os seus filhos, sejam eles quem forem.

E um dia, perguntado “Quem és Tu”, deu a mesma resposta que o Pai:

Eu sou aquele que sou!

Tão simples poderia ser a vida!

Será que algum dia, daqui a anos, séculos, secula seculorum os humanos acabam por se amar, ou qualquer dia acabam mesmo por se matarem uns aos outros?

No fim de tudo isto haverá muitos que ainda vão perguntar: “E a Fé?”

Ora bem, Fé é a adesão de forma incondicional a uma hipótese que a pessoa passa a considerar como sendo verdade, sem qualquer tipo de prova ou critério objetivo de verificação, pela absoluta confiança que deposita nessa ideia. Tem uma vantagem; quem tem muita fé deixa com a Fé a solução de problemas, normalmente insolvíveis!

Pode ter fé em alguma religião, numa equipa de futebol, na cura de doença grave, na hipótese de ganhar na loteria e até num charlatão, como se tem visto por muito lado.

Essa fé eu não tenho. Nem quero.

Dei muitos dias, meses, da minha vida a ajudar outros desfavorecidos, crianças, adolescentes e até adultos. Não foi preciso ter fé, nem ser crente, bastou entender que o pouco que lhes poderia dar podia ser, e era, importante para eles, e ao mesmo tempo uma sensação de gratificação para mim.

A mão esquerda não precisou de saber o que a direita fazia.

Simplesmente… fiz.

Resumindo tudo basta pensar que

Deus É !


06/07/22




domingo, 3 de julho de 2022

 

Voltas e Reviravoltas


O caso que vou narrar passou-se no século XX, portanto há pouco tempo, e algumas personagens estão já no eterno e merecido descanso.

Caso conhecido através de alguém que foi muito amigo dessa gente.

No começo dos anos 20 do século XX, dois jovens portugueses decidiram deixar as suas terras e procurarem vida nova em África. Manuel Costa e João Pacheco, hm da região de Torres Vedras, o outro de Cantanhede, ofereceram-se como marinheiros e embarcaram para Angola na viagem inaugural do navio Guiné I.

Únicos “marinheiros amadores”, ganharam amizade durante a viagem, enquanto faziam projetos para o que deveria ser a nova vida que iam enfrentar. Nada de ficar na cidade, com empregos miseráveis. O futuro estaria no interior.

Assim que chegados souberam que um dos sócios da Companhia de Navegação, Celestino Correia, que ficou conhecido em Angola como grande empreendedor, estava a começar a construir o caminho de ferro do Amboim. Para isso precisava de pessoal responsável. Os dois amigos não exitaram. Era ali que iam começar a nova vida.

Bons trabalhadores, com algum estudo, não tardou a ocuparem cargos de responsabilidade, assim ganhando o suficiente para irem amealhando tudo quanto podiam. Levavam vida séria e de trabalho..

Foram ganhando respeito e o conhecimento de vários chefes – sobas – africanos, e decidiram que a melhor aplicação do dinheiro seria a compra de terras para o cultivo do café, e assim, independentes, mas sempre procurando terras vizinhas, quando o caminho de ferro chega ao seu término em 1941, ambos tinham já boas porções de terra, que paralelamente foram plantando e encontravam-se já reconhecidos fazendeiros, com boa situação económica, tendo ainda recebido um prémio pelo trabalho desenvolvido nas obras.

Já instalados nas suas propriedades, casados começam a chegar os filhos.

O casal Pacheco foi o primeiro a ser contemplado com um rapaz, o Carlos. Os Costa, só quase três anos depois porque a esposa teve problemas de saúde de adaptação, mas acabou pondo neste mundo uma linda menina, a Lúcia. Ao mesmo tempo desta nascia também a Sofia na casa Pacheco.

Nascidos em Angola, filhos de fazendeiros de café, onde não havia problemas de finanças apesar de não serem ricos, o mais importante, eram serem vizinhos, e assim terem criado profunda amizade entre os três.

Conheceram-se desde que a menina vizinha nasceu, que cedo veio a ser a sua grande companhia de brincadeira, e mais tarde uma espécie de namorico até que chegaram a noivar. Sofia sempre a par de todas estas evoluções.

Todos se gostavam como irmãos, mas à medida que iam crescendo esse amor fraterno mostrou que havia outro amor que podiam e deviam vir a partilhar.

Lúcia fazia-se uma linda jovem, viva, alegre, alta e Carlos rapagão forte, bonito, mais calmo.

Enquanto estudavam na Escola Industrial em Nova Lisboa), todo o dia saíam juntos, ele a deixava em casa, e volta e meia, mãe condescendente, arranjava maneira de os levar a verem um filme num dos cinemas da terra. Bons alunos, logo ele ocurso de engenheiro auxiliar é mandado para Portugal o curso superior de engenharia, coisa que o atraía desde muito novo, e já com boa prática, não só pelo curso feito em Nova Lisboa, porque não se livrava de dar manutenção às máquinas da sua fazenda e até de alguns vizinhos. Daí, também ser muito estimado por todos.

Na despedida para Portugal, promessas de amor eterno, mas a perspectiva era de uma separação longa… sempre perigosa para dois jovens namorados que se amavam desde crianças.

Cartas voavam de um para outro lado, com muita frequência, frases de amor e saudade a preencherem o papel.

Coimbra terra de doutores e amores, não perturbaram o estudante que sonhava só com a sua amada e com o final dos estudos para se tornar independente e até poder casar.

Os estudos corriam bem, em quatro anos estava formado, e foi logo chamado para cumprir o serviço militar. A guerra já tinha começado nas colónias portuguesas.

Lúcia, que da mesma Escola Industrial passara ao recém Liceu em Nova Lisboa, ingressa nos Estudos Gerais, em Luanda, que virou Universidade, e estudava Biologia.

Rodeada de jovens, de vida com liberdade, praia e passeios, coisa a que não estava habituada, curiosa e inteligente, não podia deixar de prestar atenção em alguns que lhe pareciam mais… mais atraentes. Não esquecia o seu amor, mas o panorama circundante davam-lhe que pensar.

Carlos, mesmo batalhando muito, ao ser incorporado não foi mandado para Angola, mas para Moçambique.

Requerimentos, queixas, etc., nada lhe valeu e teve que cumprir o serviço militar no Norte de Moçambique. Ao passar em Luanda encontraram-se os dois jovens, choraram com a continuidade da separação, mas não deixaram de marcar a data de casamento para o dia seguinte em que ele terminasse as suas obrigações.

O homem põe e Deus dispõe! O tempo e o afastamento… é que dispõem, e Lúcia começou a sentir que o calor e o entusiasmo que sempre sentia ao estar junto de quem amava, ia arrefecendo. Longe da vista… quantas vezes longe do coração, como o mostrou Gil Vicente dos Auto da Índia!

À sua volta outros Adonis iam ocupando o campo que o nosso engenheiro, militar, fora obrigado a deixar livre. As cartas começaram a aparecer mais secas. Via-se que o entusiasmo esmorecia. Do lado dela. Ele, no meio de uma guerra, dura e feroz, sonhava com o dia em que aquilo terminasse para correr para os braços daquela que amava e considerava noiva. Mas alguma lhe dizia que nem tudo estava a correr bem.

Chegava ao fim a comissão militar e uma carta trazia-lhe a notícia que o vinha roendo: ela dizia-lhe muito sumariamente que gostava de um colega, ótimo companheiro, não tinham namoro, mas ele era muito atencioso e, no mesmo curso, passavam várias horas a estudarem juntos!

Carlos não queria acreditar naquelas palavras; leu a carta várias vezes, se bem que nas entrelinhas, e nas linhas, percebia que o amor de toda a sua vida tinha voado para longe.

Esperou uns dias para lhe responder e, numa carta bastante seca, perguntava-lhe se o casamento, acordado entre eles, ainda era válido. Ia passar, já desmobilizado, em Luanda, dentro de duas semanas, e queria saber como proceder.

A resposta não demorou. Lúcia, habilmente disse que precisava de mais tempo para pensar, além de ainda lhe faltarem dois anos para terminar a faculdade.

Carlos caiu em si, e viu que o assunto estava arrumado.

Ao passar em Luanda, procurou-a e, direto, sem cerimónias disse-lhe

- Lúcia, tudo o que eu quero é que sejas feliz. Gostei de ti como de ninguém, e seria incapaz de te desejar outra coisa. Se algum dia precisares de mim, é só me dizeres. Mas não nos voltaremos a ver, a não ser, como te digo, que precisares de mim. Adeus.

Saiu, visitou pais, pediu à irmã que, em segredo, lhe fosse dando notícias da Lúcia, despediu-se também dos antigos prepostos sogros, e seguiu viagem para Portugal.

Engenheiro, experiente, com louvores obtidos no serviço militar, decidiu ir embora de Portugal sem sequer equacionar em voltar para a sua terra, Angola, que tanto amava.

Procurou trabalho nos lugares mais longínquos e não tardou a ir para a Austrália, já com promessas positivas.

Jovem, “boa pinta”, alto, inteligente, não lhe faltaram pretendentes. Mas Carlos perdera a confiança nas mulheres. No grupo de amizades que entretanto foi tendo, algumas descaradamente o queriam atrair. Homem bonito, com segura posição financeira… Era-lhe fácil aproveitar uns momentos de prazer, mas jamais voltou a equacionar uma união definitiva.

Todos os anos, no dia do aniversário da Lúcia, através de empresas que entregam flores em todo o mundo, ela recebia em casa um bonito ramo de flores, com um cartão simples; “De um amigo”, sem nome nem data.

Alguns anos passaram, chegou a independência de Angola, o êxodo dos portugueses foi quase total, os agricultores de café, os que não foram mortos, tiveram que abandonar tudo.

Tanto os pais de Carlos, como os da Lúcia, tinham já, havia alguns anos, à cautela, comprado casa com pequena quinta em Portugal. Estavam ainda de boa saúde, sexagenários, foram cuidar em Portugal de alguma coisa que lá tinham.

Carlos, há dez anos na Austrália estava muito bem economicamente, não ocasião da “fuga” ofereceu-se para financeiramente ajudar as duas famílias, o que não foi necessário, e com alguns intervalos de tempo ia até Portugal, mas só procurava estar com os pais que envelheciam.

Nessas viagens, a irmã saía com ele para passearem e contar-lhe o que sabia da Lúcia, de quem continuava amiga, apesar de se verem poucas vezes.

O casamento com o colega não fora feliz. O desmonte das vidas em Angola, abalou muitas vidas de famílias. O único filho que lhes nascera morreu muito cedo o que a deixou derrotada, e o marido era, além de pouco carinhoso, um “salta-salta” com outras mulheres. Lúcia tinha até confessado que ia se separar.

Tudo isso Carlos ouvia e sofria pelo antigo amor que jamais lhe saíra da cabeça.

Já de volta a casa, na Austrália, pouco tempo depois recebe da irmã uma notícia que muito lhe agradou. Sofia tinha arranjado férias e iria visitá-lo. Ela, marido e os dois filhos, um deles afilhado de Carlos, que logo lhe mandou uma boa soma para a compra das passagem e ficou ansioso pela sua chegada.

Dia da chegada, sábado, Carlos nervoso aguarda no aeroporto a chegada.

Mas leva um tremendo choque ao ver que a irmã não aparecia, e vê, com ar estupefacto chegar Lúcia, ar abatido depois de quase quarenta horas de voo e até envergonhado, continuando a ser uma bela mulher, vestindo com elegância, 1,65 m de elegância, simples e beleza.

A primeira reação de Carlos foi virar as costas e ignorá-la, o que seria uma tremenda falta de educação.

Lúcia, depois de um seco “Olá, Carlos” entrega-lhe uma carta da irmã, que simplesmente lhe dizia que, por razões de força maior – um problema de saúde de um dos filhos, pequenos, o afilhado de Carlos – teve que adiar a ida. Mas que esperava poder lá estar dentro de oito a dez dias.

Carlos fingiu que acreditava, e disse a Lúcia que a ia levar para um hotel na cidade. Não se preocupasse com o custo, seria de sua responsabilidade.

No caminho, pouca conversa trocaram. Só notícias dos pais de ambos, de Sofia e o problema da saúde do sobrinho, que Lúcia explicou o que tinha sido, e estava já bem.

Ao deixá-la no hotel, diz-lhe que descanse da viagem que “amanhã’ a ia buscar por volta do meio dia para almoçarem juntos.

Foi para casa, telefona à irmã, e diz-lhe que o que ela fez não foi decente. Sentiu como quem leva um tapa na cara! Ela desculpou-se com o filho, que estava já bem e que dentro de dias estaria lá em Melbourne e lhe explicaria tudo. E que a razão da Lúcia ter ido, não fora nenhuma brincadeira. Eram amigas de toda a vida, e agora que ela estava só e triste. Mais ainda porque a mãe lhe tinha falecido há pouco. Tudo isso deu a Sílvia a ideia de fazerem esta viagem juntas, o que infelizmente não foi possível.

Carlos não sabia como reagir. Tinha, no fundo, uma imensa mágoa, com a atitude que ela tomara. Ao mesmo tempo não esquecia o tanto que se amaram e compreendia que ela agora precisava dele mais do que nunca.

Passou uma noite difícil, a pensar como se comportar no dia seguinte. A verdade é que não podia simplesmente ignorá-la!

A sua cabeça não conseguia dizer-lhe o que fazer. Confuso, com a ferida aberta, vontade de sumir por algum tempo, foi buscar Lúcia.

Lá estava ela, elegante, atraente, com ar mais descontraído, à espera. Tudo isso Carlos ia anotando e tentando encontrar um caminho a percorrer.

- Teve coragem para lhe dizer: continuas muito elegante e bonita!

Ao que ela respondeu:

- Tu Carlos também continuas jovem. Não parece que passaram já tantos anos!

O bom-dia foi mais intimamente começado com um rápido beijo na face. Afinal eram amigos desde a mais tenra infância.

Já no carro Carlos disse-lhe que iam almoçar num parque para que ela pudesse começar por ver a fauna australiana, sempre agradável. Lá havia um pequeno restaurante, mesa reservada num discreto canto.

Lúcia, como todos os visitantes, encantou-se com os coala, wombat, cangurus e outros o que a deixaram bem descontraída.

Ao sentarem-se à mesa, Carlos diz-lhe:

- Lúcia, não vamos falar no que se passou com a tua vida. Podes contar-me sobre a tua vida profissional, mas nada de assuntos familiares. Desculpa, a minha ferida nunca fechou. Pelo meu lado pouco há para contar. Estou aqui há uns quinze anos, solteiro, a vida profissional corre bem, tenho alguns amigos, poucos, gosto de passear pelo interior deste imenso país e é tudo.

E a conversa começou a correr, cerimoniosa.

Nos olhos de ambos viam-se aflorar algumas gotas com o difícil momento que estavam a viver e recordar, e o coração do Carlos ia amolecendo. Chegaram até a momentos de riso quando algum detalhe das suas vidas o permitia.

Deram mais um largo passeio de carro e, no regresso ao hotel:

- Lúcia, quando a Sílvia chegar vão todos para minha casa que é grande. Lá terás também o teu quarto, mas por ora acho melhor que fiques aqui. Não deixarei de te vir buscar para um passeio ou jantar, mas amanhã tenho muito trabalho. Só posso aparecer tarde. O hotel está bem no centro da cidade, podes passear por onde quiseres. Tens aqui um envelope com um pouco de dinheiro australiano para o que precisares.

Outro beijo de irmãos, um “boa noite e obrigado; até amanhã”, Carlos saiu.

Saiu, mas ia diferente, não entendia se mais descontraído ou ainda mais perdido, sentindo um pedacinho de felicidade a aflorar lá no fundo. Sabia que continuava a gostar de Lúcia e previa que tudo aquilo ainda ia acabar bem. Mas como? Devagar, com cautela, sobretudo depois da chegada da irmã, que teria, de certeza muito para lhe contar. Não podia dizer a Lúcia que ainda gostava dela, mesmo sabendo que isso era o que sentia, era muito difícil afirmá-lo. Com Lúcia passava-se o mesmo, só não sabia como dar um passo em frente, depois do erro, grande, que cometera.

Ele disse-lhe, da última vez que se viram, que se ela precisasse dele era só lhe dizer. Chegara o momento.

Ela, desde há muito que estava precisando dele. E ele… desde aquele fatídico dia.

A ambos faltava coragem para falarem abertamente. Também não podia ser de repente que se dizem coisas assim que deixaram marcas dolorosas. Tinham que deixar o tempo fazer a sua parte, e a presença da família ia ajudar muito.

No hotel, sozinha, à noite, Lúcia chorava.

Domingo à noite um telefonema de Sílvia, avisa que vão chegar na próxima quarta feira. Que alegria Carlos recebeu. Com a irmã e sobrinhos em casa as “coisas” iriam encaixar-se.

Passaram esses três dias de espera, um jantar e um pequeno encontro no entretanto, e lá está Carlos na saída do aeroporto.

Foi grande a manifestação, muitos abraços e beijos à irmã e sobrinhos e, com carro extra, vão ao hotel buscar Lúcia. Outra manifestação entre as amigas.

Começa uma vida nova em casa. Alegria, descontração e a pressão de Sofia para que os dois, que ainda se amavam o dissessem um ao outro, para acabar com aquela situação falsa. A coragem para dar esse passo faltava aos dois.

Então, uns dias depois, no fim de um jantar com a família, tudo na mais descontraída disposição, Sofia, manda calar todos, porque tinha uma declaração a fazer!!! E dirige-se direto ao assunto:

- Carlos e Lúcia! Porque vocês não marcaram ainda o casamento? Alguém tem dúvidas que esse é o vosso destino, que está previsto desde que nasceram?

Uma salva de palmas e muitos “vivas” da família e os “noivos” a corarem com o susto. Mas Carlos logo tomou conta da situação.

- Lúcia e eu temos conversado muito nestes poucos dias que estivemos sozinhos. Nunca tocámos nessa hipótese, mas ambos sabemos que isto ia acabar desse modo. Faltava-nos sermos mais simples para o declararmos um ao outro. Eu sabia que a Sofia acabaria por nos encostar à parede! E ela tem razão! Assim: Lúcia, ainda queres casar comigo?

Lúcia não sabia como limpar as lágrimas que lhe corriam pela cara, não conseguia falar, e só abanava a cabeça em sinal positivo!

- Lúcia eu não tenho ainda 40 anos. Estou quase, e tu menos três. Ainda temos tempo para criar a nossa família, tu podes ainda ter uns quantos filhos. Já perdemos muito tempo. Não vamos fazer festa, mas vamos aproveitar enquanto aqui está a nossa família, já que os nossos pais não estão mais em idade de enfrentar 40 horas de voo para aqui virem. Nós depois vamos lá vê-los.

Levantou-se, pediu a Lúcia para se levantar também, abraçaram-se muito, ambos com lágrimas nos olhos e um beijo, a sério, selou, o destino deles.


N.- Talvez ainda por lá estejam e, desejamos, felizes.


03/07/22


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