Uma Noite na Farra
Encontrado e “interpretado” do jornal
“Edimburg News Evening” - April, 2001
Thomas Douglas, antigo sargento das Forças Especiais, da Guarda Negra, ou 3º Batalhão do Regimento Real Escocês (3 SCOTS), escocês, 1,90 m. de altura, cabelo já todo branco depois de ter sido cor de cenoura, aquele olho azul vivo e atento, estava viúvo, Mrs. Aileen went away havia três anos, o único filho há muito emigrado na Austrália, vivia só, sempre na mesma casa em Dean Park Mews, Edimburg, onde mantinha a mesma mobília e as cortinas com folhos desde que para ali fora quando casou. Nada mudara, só a solidão viera para ficar.
Rodava a casa, olha para as roupas deixadas pela mulher, com vontade de as oferecer para uma das Ox Fam, e ao mesmo tempo sabendo que aquilo lhe trazia alguma saudade e boas lembranças.
O mesmo uma pequena caixa com algumas joias, poucas, que não tinha a quem dar, por tinha só dois netos homens.
Casamento tardio, porque no fim da I Guerra, com 25 anos, Thomas ainda foi servir na Índia e diversas colónias em África, até que passou à reserva como 1° sargento, louvado e decorado diversas vezes, pela sua coragem e comportamento exemplares.
Com 80 anos estava ainda forte, todos os dias fazia uma longa caminhada para ir de sua casa até ao mar nadar naquelas gélidas águas durante uma a duas horas, e não deixava passar o fim do dia sem se encontrar com alguns amigos, poucos já do seu tempo de menino, no World’s End, o pub na High Street eleito há anos, para falar sobre futebol, rugby e beber uns pints.
Já ninguém se interessava em recordar momentos das guerras em que participaram. Evitavam até esse tema, que sempre lhes foi triste de enfrentar.
Não era homem para se embebedar, como tantos outros, mas aquela conversinha ao entardecer, sabia-lhe muito bem porque em casa, desde que perdera a mulher, só tinha para enfrentar aquele silêncio frio e pesado.
Mas Thomas tinha decidido comemorar os seus 80, rijos, anos. Fazer qualquer coisa maluca! Nada de levar amigos que iam rir dele, e escolheu para uma farra oo Baby Dolls - No1 Showbar, uma das mais famosas casas de Strip Tease da cidade, relativamente perto de sua casa, coisa que ele não frequentava mas, como não se fazem 80 anos todos os dias… uma brincadeira de velhotes faz até bem à saúde.
Vestiu uma calça de flanela, que o frio estava a chegar, um belo blazer de tweed, gravata da cor do seu regimento, sentia-se elegante e lá vai ele.
Além disso, discretamente, Thomas, quando saía à noite sempre levava como companhia a velha e eficiente Springfield 9 mm., porquê, porque se sentia mais seguro. Já não tinha idade de se andar a esmurrar com arruaceiros. E os havia!
E ainda num dos bolsos levou uma das joias da mulher para fazer uma brincadeira com alguma bonitona que o desafiasse.
A entrada na boate foi um tanto complicada. Raro, muito raro ali entrava gente daquela idade e o porteiro quis pôr objeções, porque não era muito seguro para gente idosa e desacompanhado, porque isto, porque aquilo, mas Thomas ainda valente oriundo das Forças Especiais, dava até risada na cara do severo porteiro.
Acabou por entrar, foi-lhe cedida uma mesa bem perto das jovens que se iam apresentar, pediu um doble Single Malt e aguardou, enquanto olhava à volta a tentar ver aquele escuro e macabro ambiente. Mas estava feliz.
Começa o show, as garotas todas procuram mostrar-se mais para ele, coisa rara, e Thomas apreciando o que há muito lhe estava vedado, aplaudia, ria e devagar bebia o seu Scotch.
Não tardou a que uma das belezinhas se fosse sentar a seu lado. Semi vestida, como seria de esperar, fingindo que tapava alguma coisa e mostrando eroticamente o essencial, não só para ser amável, mas sobretudo para obrigar o cliente a gastar o máximo possível em bebidas.
Apresentou-se, com um nome falso, ouviu outro como resposta e começou a contar uma historinha chata, como aquela “de estou farta desta vida, etc.”, na esperança de ter encontrado um velho caduco e estúpido que estivesse disposto a fazer-lhe todas as vontades e a assumir como… amante!
Thomas entrou no jogo. Mostrou-lhe a simples mas bonita joia e disse que lha daria se ela fosse passar uma noite com ele!
A striper não gostou da proposta, e como percebeu que a coisa não ia funcionar como desejava, ela e todos os outros – todos eram ela, os barmen e o gerente da casa – fez um gesto “codificado” ao gerente para ele entender que o “velho” não ia beber mais do que aquele whisky que havia pedido logo de início. E como isso não era negócio de interesse para a boate, o gerente decide fingir que era amável e logo lhe vai dizendo que assim que acabasse aquele whisky tinha que sair dali porque aquela mesa era muito procurada e estava até reservada!
Thomas, do alto do seu metro e noventa, sorri para o ganancioso gerente e diz-lhe que só sairá quando entender. Estava ali muito bem, não atrapalhava a vida de ninguém e deste modo ficaria enquanto lhe apetecesse.
A conversa não adiantou, mas começou a gerar-se à sua volta algo que ele sentia como uma espécie de atitudes para o incomodarem. Quando um dos seguranças finge que tropeça na sua cadeira, Thomas deita-lhe a mão – e olha o tamanho daquela mão - ao pescoço e diz-lhe com ar o mais doce possível: “aconselho-o a não voltar a tropeçar na minha cadeira!”
Segurança agarrado pelo pescoço logo surgem mais dois, para levarem o “tropecista” para longe.
Thomas ficou para ver mais uma habilidade de desnudamento e decidiu que chegava de complicações. Levantou-se para ir embora.
À saída lá estavam três seguranças que queriam, no mínimo, assustar o “pobre velho”, mas, experiente, Thomas já levava a mão na sua companheira de 9 mm.
Os “valentões” rodearam-no, ar ameaçador e Thomas muito calmo disse-lhes que era melhor o deixarem em paz. Um dos “valentões” deu-lhe um pseudo tapinha nas costas, mas com força suficiente para o desequilibrar.
Foi o suficiente. Ainda mal começava a rir da ousadia, já tinha uma bala de 9 mm num dos pés. E gritava de dores. Os outros afastaram-se, Thomas deu-lhes as boas noites e começou a caminhar. Mas sentiu que alguém lhe chegava por trás. Virou-se encostou a Springfield na testa do babaca e disse-lhe: “quer que eu dispare?”
Baixou a arma devagar e quando encostou no sexo do infeliz, puxou o gatilho. Só saiu um pequeno som seco e… logo as calças do macho estavam molhadas. Prudentemente tinha tirado a bala da câmera.
Voltou para casa a rir, e aí sim, pensou na mulher, quando ela era uma gatinha como as que tinha visto e lembrou alguns momentos da sua vida militar quando teve que usar, a sério qualquer arma.
Aqueceu um pouco de água, tomou um chá e um biscoitinho Shortbread, e foi-se deitar pensando que tinha bem festejado, numa bela noite, cheia de novidades, o seu octogésimo aniversário.
Na farra.
28/04/22