O
NOSSO ZOO - lógico !
Obrigados a olhar, primeiro para dentro de nós (os que conseguem) e depois, não só continuar a apreciar as visitas que diariamente nos aparecem, como a juntar fotos e descrição desses “amigos”.
Não tenho dúvida de que o melhor animal que habita este planeta é o cão.
Tivemos dois em Luanda e, bem mais tarde, a partir de 83 chegou o primeiro Pointer Alemão, o Zimbo. Com dois anos deste entrou um novo outro, Kuvaz, húngaro, o Bolinha. Depois uma Pastora belga, a Uanga, inteligente e dedicada. Animais maravilhosos.
Viemos para o Rio e conseguimos um novo Zimbo e um outro Kuvaz. Por pouco tempo ainda esteve conosco um Fox Terrier pelo liso, lindo, inteligente, o Candengue, que fomos forçados a dar porque não se entendia com o Bolinha II. Um pesava meia dúzia de kilos e o outro dez vezes mais!
Por último veio, de São Paulo, o Mike. Filho de Pastor Alemão e São Bernardo, um autêntico Leonberger, cão lindo, que fechou os olhos há poucos dias,
deixou uma imensa saudade, e esperamos agora adotar um vira-lata!
Os cães não fazem parte do nosso zoo, mas da nossa família.
Aqui no Rio, a nossa casa fora das áreas “centrais, rodeada de árvores por todos os lados, sentimo-nos um pouco no mato, e neste tranquilo ambiente, todos os dias, todos, temos visitas que nos encantam.
AVES
Como se sabe, 98% dos pássaros acasalam para toda a vida. Ali não há LGBTs nem outras variantes.
Normalmente acordamos (eu, que acordo cedo) com a passagem duma porção de Papagaios, maiores do que o Verdadeiro, os Curica, Amazonia a. amazônica, sempre aos pares, que se demoram um pouco nas árvores mais altas do nosso terreno, e ficam numa bem sonora conversa, uns com os outros. Nunca passam em silêncio e é um prazer especial ouvi-los. Depois lá vão à vida e voltam à tarde, sentido inverso, a caminho de suas casas que não sabemos onde são, sempre em alegre ruido de conversas amicais! Vê-los é sempre difícil porque se confundem com a folhagem.
Depois vêm os Tucanos, Ramphastos toco albogularis. Lindos demais. A conversa deles parece a voz de alguém que se engasgou a comer uma alcagoita (vulgo ginguba!). Macho e fêmea por vezes pousam em árvores diferentes e parece que ficam discutindo as despesas de casa ou os prognósticos covídicos, assunto que não lhes deve interessar.
O (senhor) Jacuaçu, Penepolope obscura, do alto da sua impecável postura (73 cm), deve estar solteiro, porque raro se apresenta com a parceira. Esquivo, faz pouco barulho, não tem com quem conversar (!) e segue viagem, deixando no ar um sorriso trocista: “queriam que fosse um peru, hein?” Não, não queríamos!
Sobrevoando e assustando e comendo (quando pode) pássaros, macacos, cobras, e outros descuidados, o Gavião, o Caracoleiro, Chodrohierax uncinatus, porte pequeno, olho vivo, ar de inspetor de serviços secretos. Descansa um pouco por aqui e, de quando em vez solta um chamado, meio rouco, que imaginamos seja uma mensagem para a sua apaixonada.
Depois dos “viajantes” que só por aqui fazem um stop-over, normalmente de manhã e ao fim do dia, temos os que ficam se alimentando de insetos ou de plantas, durante quase o dia todo. Além dos que vêm comer as migalhas de pão que lhes são dadas todos os dias pelo João.
O Bem-te-vi, Pitangus sulphuratus, ave linda também, num coqueiro da casa do vizinho já lá vivia uma grande família, que vinha diariamente abastecer-se um pouco da ração que dávamos aos nossos cães, Quando o pedaço era grande voavam um pouco mais alto para o deixar cair e levar depois a refeição já no tamanho certo, possivelmente para dar aos filhotes. Mudaram de casa e hoje aparecem poucos. Talvez os malandros dos saguis lhes tivessem invadido o ninho!
Beija-flor, o Tesourão, Eupetomena macroura, está por aqui todos os dias. Tem muito o que sugar. Dizer que o beija-flor é lindo é disparate. No Brasil há mais de 320 espécies desta maravilha!
Rolas, a Juriti, Leptolila verreauxi decipiens, durante uns anos faziam ninho no arbusto em frente da nossa casa. Um dia algum malandro descobriu o lugar, encontrámos as cascas dos ovos no chão e... elas mudaram de endereço. Só vêm agora comer as migalhas do João e mandam-se.
A Lavadeira Mascarada, Fluvicola nandeta, 15 cm., vem só de vez em quando. Na foto está em cima do coqueiro, mas ela gosta é de estar à beira de água lamacenta e correr sobre a água.
O Saí-Azul, Cyanerpes cyaneus, também não é um visitante muito assíduo, Esquivo, gosta de floresta.
A Cambacica, ou Mariquita, Coereba flaveola, uns 10 cm. e pesando 10 gramas, vem frequentemente. Gosta de bicar em alguns arbustos de caule oco, à procura de alguma comidinha. Tipo pica-pau. O barulhinho daquele picar faz-me sair do meu canto e ir cumprimentá-la.
O Tico-tico, Zonotrichia capensis, cliente assíduo às migalhas de pão. Vivaço, come rapidinho e nem sequer se vira para trás para agradecer! A Pega Azul, que aqui se chama Gralha Azul, Cyanopica cyanus, um corvídeo, só uma vez nos veio visitar. Chegou, pousou numa das árvores, gralhou – grrá, grrá, grrá – fui vê-la, repetiu a conversa, não aceitou o convite de passar uns dias conosco e... nunca mais voltou!
(As fotos do tucano, beija-flor, pega, cambacica e tico-tico não foram tiradas aqui em casa)
Lavadeira Mascarada Saí-Azul
Cambacica Tico-Tico
Vamos agora a REPTEIS e outros animais mais esquisitos (para quem não gosta!)
Como vamos sentindo a deterioração do meio ambiente! Viemos para esta casa há mais de 27 anos. Todos os dias uma razoável quantidade de Morcegos, Chiroptera, frugívoros e sobretudo insetívoros que representam 70% de todos os morcegos, ao fim da tarde sobrevoavam toda a nossa área e era um gosto saber que eles estavam a comer a mosquitada. Hoje é muito raro aparecerem. Construção, construção, desmatamento até e sobretudo aqui na cidade... É uma pena.
Lagartixas, Hemidactylus brookii, no nosso jardim (jardim... ?!) são aos montes. Comem tudo que é inseto, não se incomodam muito com a nossa presença, mas devem por aqui andar umas dezenas delas. Benvindas.
Pela foto em que está na minha mão vê-se o perigo que apresentam!
A Osga, ou lagartixa doméstica, Hemidactylus mabouia, vive tranquila dentro de nossa casa, talvez meia dúzia delas, e é comum vê-las caçar um mosquito ou outro intruso.
O Lagarto Teiú, teju açu e uma porção de outros nomes, Tupinambis teguixin, é o maior lagarto das Américas e chega a atingir quase 2 metros. Dona Teiú bota uma média de 12 a 30 ovos, e já por várias vezes um filhote vem a nossa casa cumprimentar-nos. Ainda com a cabeça verde! Adulto o maior que vimos teria, no máximo, 1 metro. Não é perigoso, mas se o forem chatear dá umas chibatadas com a cauda!
A Lagarta, talvez a papilo machaon, o primeiro estágio larval dos Lepidoptera, a desta fotografia, linda, parece vestida com roupa dos antigos imperadores da China.
A Cobra verde, Liophis typhlus, uns 70 cm, espantosa capacidade mimética, fica a meio metro de nós, olha-nos com ar superior e, devagar, bem devagar, passa por baixo de uma ou duas folhas verdes e nunca mais se consegue ver! Tem um pouco de veneno que pouco efeito faz nos humanos, mas ela não está interessada nisso, prefere lagartixas e insetos.
Filhote de Teiú Lagarta Cobre Verde
Agora os MAMÍFEROS
Comecemos com os nossos frequentes, visitantes diários, os macaquinhos Saguis, Callithrix jacchus.
São uns sem vergonha, chegam a chamar para que lhes deem comida, banana, mas a sua chegada ao Rio tem sido um desastre ambiental. Já duas espécies de pequenos pássaros desapareceram, porque os bonitinhos vão aos ninhos e comem ovos e filhotes. Na foto sou eu a dar de comer a dois!
O Ouriço-cacheiro, Coendou prehensilis, já apareceu umas quantas vezes, tranquilo, só aparece ao fim do dia ou à noite, não foge com a nossa presença. A última aparição foi há uns 15 dias: caiu de árvore, por onde sempre anda, e desceu a rampa da casa até encontrar uma árvore para subir. Nós seguimos a aventura com duas lanternas. Pior aconteceu com o Zimbo e com o Mike que tiveram a triste ideia de os atacar!!! Ficaram com a boca e focinho cheios de picos que só o veterinário conseguiu tirar!
O Gambá, é o único marsupial americano, género Didelphis. Rabo preênsil, vive nas árvores, e aparece quase todos os dias em nossa casa. É visto muitas vezes passeando em cima da fiação do telefone, poque este passa entre a ramagem de duas frutíferas. A outra foto mostra um filhote que caiu na piscina, foi salvo (!) e quando se viu em terra sumiu correndinho!
O Rato, que também caiu na piscina, salvou-se em cima de uma tampa de isopor, é uma Ratazana, rattus norvegicus. Ao ser resgatado fugia, nadando debaixo da água, a uma velocidade impressionante. Felizmente só uma vez vimos essa indesejável espécie por aqui. Posto no chão saiu como um foguete e ...
Os Gatos, Felis silvestris catus, foram visitantes temporários! Nasceram, quatro, num dos quartos de arrumos e só tomámos conhecimento quando se atreveram a dar um giro. É evidente que não íamos matar os bichinhos; foram se alimentando com a ração do Mike. Ficaram lindos mas o guardião, o Mike, não simpatizava com aquela intrusão, e nem eu gosto muito de os ter.
Doados a umas veterinárias, num só dia os distribuíram, tendo os novos donos ficado encantados!
Gambázinho Rato de esgoto Gatos aqui nascidos. A mamãe e os 4 filhotes
BORBOLETAS E ARANHAS
Quando se sabe que existem em todo o mundo mais de 112.000 espécies de borboletas, não é de admirar que aqui passem muitas delas, bem como muitas traças de diferentes tamanho.
As traças não são bem vindas por razões óbvias: umas gostam de comer tecidos, lepidópteros e outras, zygentoma, livros! Já as borboletas, também lepidópteros são muito apreciadas e há algumas deslumbrantes.
A Capitão do Mato já me deu uma vez matéria para escrever um texto, em julho de 2003, que estava no blog que o provedor, sem nada dizer, retirou do ar. Vou repetir, um destes dias.
As azuis, lindonas são muito vaidosas. Quando pousadas não fecham (encostam) as asas; ficam abanando para mostrar às mininas a sua beleza e atraí-las.
Aranhas, existem mais de 40.000 espécies. Dentro de casa, vivem conosco umas quantas que se encarregam de ir comendo uns indesejáveis insetos, talvez até os maruins ou borrachudos e mosquitos. De vez em quando limpamos as teias, mas deixamos as gentis bichinhas continuarem a usufruir do nosso lar.
No exterior aparecem inúmeras, sempre pequenas, algumas de formas curiosas e bonitas, como a da foto.
Esta invadiu a casa! Capitão-do Mato Borboleta Seda mato!
OS INIMIGOS
Por fim as pestes que nos atormentam a vida:
Muruim ou maruim. mosquitinho-do-mangue, Ceratopogonidae ou mosquito pólvora-picador.
Os Simuliidae, ou borrachudos, mosquitos negros pequenos de países tropicais, estes e os acima medindo entre 1 a 5 mm de comprimento. Não se veem mas mordem pra...
Os maruins e borrachudos, o ano todo nos mordem. Uma coceira imensa, por vezes algumas mordidas que levam tempo a passar (dias!) e não tem meio de lhes acabar com a raça.
Depois, o de famosa e triste fama, Mosquito, Aedes aegypti, o bandido da Dengue. Haja inseticida !!! Com este é uma guerra que desde há muitos anos o Brasil trava, ganha umas perde outras. País tropical...
Finalmente os Cupins, térmites, chamados térmita ou caruncho em Portugal, salalé em Angola e muchém em Moçambique, já nos comeram livros, furaram paredes, atacaram móveis e armários, molduras de quadros, o que me obrigou a fazer-me matador oficial dessa praga, que nunca desaparece. E como se multiplicam! Em 2 ou 3 meses acabaram com duas lindas mangueiras que nos davam milhares de mangas todos os anos! Secaram num instante e caíram!
E por hoje fico por aqui... no nosso Zoo - lógico. Podem vir visitar. Entrada gratuita!
17/02/21
PS.- Quase deixava passar dois animais que muito
animam o ar com seus cantos.
Um, o Sabiá Laranjeira, rufus rufiventris,
um cantor admirável, que alguns consideram esta ave a mais característica do
Brasil, enquanto outros votam por um tipo de papagaio, a Guarajuba, amarela e
verde, mas que vive só lá para o Maranhão. O Sabiá, exímio cantador, já quanto
estávamos em São Paulo havia um que me vinha visitar todos os dias, e eu “conversava”
com ele assobiando! Hoje já nem consigo assobiar! Aqui, quando é a época, canta
o dia todo. Não se cansa. Passeia mais pelo chão, comendo minhocas e pequenos
insetos.
Outro são as Cigarras, clarineta fasciculata. As espécies brasileiras demoram de três a quatro anos
para se transformarem de ninfa a cigarra, e aparecem na primavera, quando, sempre
10 minutos antes do pôr do sol rompem numa gritaria que atinge 120m decibéis.
Demora pouco a grita, mas é um tremendo sinal de vitalidade.
Sabiá Laranjeira Cigarra
18/02/21
Nossa que descrição tão minuciosa, adorei.
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