sábado, 30 de setembro de 2017



Crónicas de há 13 anos...

Ou de hoje?  Mudou alguma coisa?

1.    A  amarga  esperança


Não é preciso ser economista e, quem sabe?, talvez seja até melhor nada saber dessas ciências, para, com olhos de “inocência infantil”, perceber quando o rei vai nu!
As esperanças que animaram este país, há pouco mais de um ano, quando um batalhador homem do povo chegou ao topo da governança, começaram já a desvanecer-se. Que com isso viesse somente a desilusão... era muito bom. Mas antes da desilusão chega a nudez. Não só a do rei, mas sobretudo a nossa, que além de nos vermos despidos do nosso poder de compra, ainda continuamos a ser também despidos na nossa dignidade de seres “iguais perante a lei”.
As promessas de “mundo melhor” choveram. O programa “Fome Zero” sacudiu o mundo inteiro que aplaudiu. Faz agora um ano e foi festejado pelo governo. Com direito a discurso e tudo, na presença das individualidades mais altas (e mais bem pagas) e sem aqueles que adorariam aproveitar as “sobras” do festejo.
Os investimentos não avançam, nem na infraestrutura do país nem na área privada, o custo de vida continua a subir e o ensino a cair.
Só para se ter uma idéia, existem no país cerca de 800 “faculdades” que ministram o curso de Direito, das quais menos de 20% têm a aprovação do órgão conselheiro, a OAB.
Formam-se assim juristas “a martelo”, a um dos quais, já juiz, se ouviu dizer “eu quero condenar esse indivíduo”! Quer dizer: o sujeito não quer praticar justiça; quer condenar! E o pior é que pode. Ele tem a respaldá-lo a “lei” que pode ser manipulada. Lei? Que lei? O que é a justiça dos homens? É o interesse dos homens! Quais? Os que têm poder e acesso à feitura e execução dessas mesmas leis. Assistimos a juízes que condenam e a seguir vem um outro que absolve! Qual está certo? Possivelmente nenhum deles. Mas quem paga sempre é o mais fraco.
O governo domina a câmara federal. O judiciário não admite interferências na sua esfera, a não ser e quando lhe convém, sobretudo na nomeação dos juízes conselheiros, e a câmara está no “bolso” do governo!
Como sair deste tripé de três poderes que se resumem a um? Onde está a garantia da igualdade?
Volto sempre a lembrar-me do chinês: se os teus planos foram a 100 anos... educa o povo! E todos sabemos que há uma abissal diferença entre instrução e educação, e que só se alcança a segunda depois da primeira bem sabida e assimilada!
Será que vamos ter que esperar ainda 100 anos? É bem possível que sim, mas começando a contar somente depois de ter o povo a conveniente instrução para que possa compreender a educação.
Valha-nos Deus, uma das raras esperanças que ainda podemos, e devemos conservar e alimentar, sem no entanto deixar de lutar por dias melhores e ... mais brevemente.

07/02/04

2.    Quem  semeia  ventos...

Brasil! Terra abençoada por Deus! A viver um momento histórico de tal magnitude e profundidade que nem os cientistas conseguem explicar!
A história não refere muitos casos em que um humilde metalúrgico chega à presidência de um país, ainda por cima com uma esmagadora maioria de votos. Isso aconteceu por aqui.
Também não há memória, desde há pelo menos 60 anos, quando se começou a monitorar, via satélite, as condições meteorológicas do Atlântico Sul, de por aqui se formarem ciclones. Deus havia deixado isso para o primeiro mundo - USA, Japão, Austrália e pouco mais.
Mas chegou o poder popular ao poder, berrando, vociferando, prometendo milhões de empregos, redistribuição de renda equitativa e justa para todos, acabar com a fome, acabar com o analfabetismo, acabar com a corrupção, e acabar com a mamata dos poderosos - FMI e quejandos - que mamam em cima da miséria de milhões de pobres e inocentes.
Berrou, prometeu, amaldiçoou os governos anteriores, prometendo exorcizar o diabo que se teria infiltrado, através dos tempos, nas classes dirigentes e financeiras do país.
O país estagnou à espera de ver o milagre acontecer. E continuou a esperar. E espera. Os novos donos do poder, cansados talvez de fazer discursos mais ou menos fantasiosos e/ou infantis, como o menino imberbe que promete ao irmãozinho que lhe vai dar um brinquedo de luxo, começaram a discursar menos, a prometer menos, atribuindo as culpas da sua inépcia ora aos tais governos anteriores, ora ao próprio Cabral e agora à máquina administrativa que, sendo demasiado burocrática, não permite que os megalómanos projetos/promessas se realizem. Nem que comecem.
Semear ventos foi fácil. Fácil foi convencer o povo esperar o milagre com a sua meia, mesmo rota, pendurada na chaminé!
O povo é bom. É ótimo, e quere acreditar em alguém. Precisa disso. É crime desiludi-lo. Ele quer ver a sua meia começar a receber o que lhe foi prometido em troca daquele voto que foi uma espécie de cartinha ao Papai Noel.
Os altifalantes das campanhas eleitorais, e não só, gritaram aos ventos que tudo ia mudar.
Parece que finalmente começámos a mudar. A pertencer também ao primeiro mundo. Pela primeira vez chegou ao Brasil um vento “quase” ciclônico.
Os serviços competentes (???!!!) estavam avisados do fenómeno, perigoso, que chegaria, em dois ou três dias à nossa costa. Nada se fez. Chegou. Não trouxe nada de bom. Morte e destruição.
Os ventos semeados enfureceram-se e vieram castigar-nos.
Bem diz o povo, e o povo, que é a voz de Deus, tem sempre razão:
“Cuidado! Quem semeia ventos colhe tempestades!”

29/03/04

3.- As  telhas  de  Paraty

Paraty é uma cidade cheia de história. E como em toda a história do Brasil sempre há uma larga parcela de sofrimento humano. Os índios, que se viram em confronto com uma nova raça mais forte e determinada, tal como os neandertal ao se encontrarem com os homo sapiens, os africanos infamemente vendidos pelos seus iguais e forçados a uma vida miserável e duríssima, e até os próprios colonos numa terra nova, agreste, de clima difícil, uma teórica terra de promissão e futuro, de um futuro que tarda a chegar!
Mas nem por isso, ou talvez por tudo isto, Paraty, uma cidade antiga, que guardou ao longo dos anos as suas características arquitetônicas coloniais, é muito bonita. Orgulho do Brasil. Orgulho da beleza que foi legada por toda aquela gente que construiu este país, e de quem se pretende ao mesmo tempo renegar e ridicularizar as raízes.


Paraty acolheu a 2ª Festa Literária Internacional, organização em tudo louvável, e que trouxe ao país muitos dos grandes nomes da literatura mundial.
Um deles, Lídia Jorge, a quem é dedicada mais de uma página, com fotografias dela e da cidade que a recebeu e elogiou, no jornal “O Globo”.
Mas... há sempre uma pedra de complexo de ex-colônia no sapato de boa parte deste povo. Agora no sapato da entrevistadora Rachel Bertol, que em grande manchete, em vez de elogiar a escritora portuguesa, se lembrou de desfazer no tempo colonial dizendo que as telhas daquela cidade, por irregulares, teriam sido feitas nas coxas das escravas! Aquelas telhas simples antigas.
Não sei se a Rachel é do tempo da escravatura, mas... duvido!

             
Que absurdo! Eu não sou historiador, nem investigador da história. Sou aquilo a que talvez se possa chamar de um curioso, e interessado, em história. Cometeram-se violências terríveis contra os escravos. Sem dúvida. Mas jamais vi escrito, onde quer que fosse, que as telhas tivessem sido moldadas nas coxas das escravas.
E o absurdo apresenta-se flagrante: nas coxas de quais escravas? Das moças bem-feitas de corpo, pernas roliças, duras, ou das velhas já imprestáveis para qualquer outro serviço?
O molde para aquele tipo de telha seria a coisa mais barata de se conseguir: um pedaço de tronco de árvore! Alguém imagina que um oleiro proprietário de escravas iria usar um “molde” tão precioso como as coxas das bonitonas, impedindo-as assim de renderem muito mais em outros trabalhos, desde a cozinha à lavoura e até ao seu aconchego nas noites mornas dos trópicos?
Os escravagistas eram, alguns deles, muito violentos, desumanos. Dificilmente seriam tão estúpidos a ponto de deixarem uma escrava bonitona deitada, sem nada mais fazer do que permitir que outro escravo lhe amaciasse as coxas com o barro úmido! Nem que o escravo fosse eunuco! Porque ao fim de amaciar duas ou três telhas...
Tudo isto que se conta, se divulga em largas manchetes, em jornais de responsabilidade, sem fundamento histórico e comprovado, é fruto dum tremendo complexo de inferioridade. Faz-se um imenso esforço para se conservar uma cidade histórica na sua maior beleza, declara-se até que a cidade é Patrimônio Mundial, e ao mesmo tempo procura denegrir-se o passado dos seus construtores.
A ignorância da história é lamentável e, às vezes, desculpável. A sua deturpação de modo intencional é, a todos os títulos, condenável.
Além disso, querer renegar o nosso passado é o mesmo que renegar os nossos pais, cortar as nossas raízes.
E, é bom repetir, povo sem passado é povo sem futuro! Talvez por isso o tal futuro custe tanto a chegar.

11/07/04

Se tivesse, hoje, que comentar os mesmos assuntos... repetiria o que está escrito e reescrito, por mim e mais umas dezenas ou centenas de outros!

28/09/2017

quinta-feira, 21 de setembro de 2017



Darwin e os... ?


Em poucas palavras, o legado de Charles Robert Darwin, o naturalista britânico, foi convencer a comunidade científica da ocorrência da evolução, e propor uma teoria para explicar como ela se dá por meio da seleção natural. Esta teoria culminou no que é, agora, considerado o paradigma central para explicação de diversos fenômenos na biologia.
Deveria ser obrigatória a leitura do seu livro “A Origem das Espécies”, mesmo que o Brasil tenha que engolir algumas passagens como a do relato do seu regresso da Fazendo Sossego, “por uma estrada cheia de buracos, onde mal passa um carro de bois e cheia de cruzes que em vez de assinalarem distâncias, recordavam assassinatos!” Na sua passagem pelo Brasil, especialmente no Rio de Janeiro, Darwin descobre um mundo novo de sedução e horrores: escravatura brutal, sujeira, desconforto, em paralelo com uma paisagem exuberante.
Felizmente que isto se passou há quase 200 anos. Se fosse hoje... veria a escravatura do povo face à bestialidade dos governantes, a sujeira de algumas cidades como o Rio onde os bandidos não deixam entrar os serviços de limpeza, e o desconforto de ter que falar com políticos que talvez exigissem dinheiro; quanto à paisagem exuberante teria que correr à Amazónia que estão a destruir. Mas enfim!
Imagina-se que a maioria da população mundial já tenha constatado, ou simplesmente acreditado, que a Teoria das Espécies é uma verdade científica incontestável, apesar de sempre se estranhar que chimpanzés e orangotangos tenham 92 ou 95% do DNA igual ao nosso, e que seja verdade aquele velho ditado “se queres conhecer teu corpo, abre um porco”!
Bípedes com carteira de identidade que assim os considera homo sapiens, também há aos milhões, sabendo nós, uns quantos de nós, que esses bípedes envergonham até os mais asquerosos insetos e moluscos, como a lesma.
Mas o curioso de tudo isto é que:
- A Turquia proibiu o ensino da Teoria das Espécies em todas as escolas, independente do seu nível – do primário ao burrário;
- Nos Estados Unidos, país evoluído em ciências – todas – a maioria das escolas continua a ensinar que o homem apareceu na Terra há uns 6.000 anos, e que Darwin foi um charlatão. Deve ser difícil para eles conciliarem esta teoria com a chegada dos primeiros humanos ao continente ameríndio há uns 13.000. Talvez estes fossem alienígenas, que os americanos adoram.
- Já uma vez um feroz adventista quase me bateu quando eu falei na Evolução e ele rosnou com os dentes cerrados dizendo que ninguém o chamava descendente de um macaco. Tinha razão o homem. Era uma besta, e só poderia descender de um gorila; e quando lhe perguntei quem teria pintado as grutas como Altamira e outras que se calcula tenham entre 15 e 30.000 anos, respondeu seguro: isso é invenção dos que se dizem cientistas. Isso é tudo mentira! O que está na Bíblia é que é a verdade! Pobre Buda, Sidarta Gautama, que morreu sem ter conseguido conhecer a verdade!
Sem ter sido um arqueólogo, Charles Darwin com certeza teria ficado fascinado se naquele tempo já se conhecessem e tivesse visitado as cavernas da Serra da Capivara, no Norte do Brasil, Piaui. A paisagem da caatinga, apesar de pobre é uma maravilha. As serras são formadas por imensos arenitos onde há milhões de anos era mar, e como é uma rocha relativamente friável, por todo o lado se encontram cavernas, desde pequenas a outras imensas.
Nessas cavernas há milhares de pinturas rupestres, algumas delas de grande beleza de colorido, desenhos mais ingénuos dos que as das cavernas em França ou Altamira, mas que o exame das tintas, pelo método do Carbono 14 concluiu que algumas terão até perto de 100.000 anos!
O senhor Erdogan deve ficar muito chateado com estes números, bem como todos aqueles que se fixam no “sophos” da Bíblia. Mas como são nhurros (segundo gíria do Porto, Portugal, “nhurro” significa pouco inteligente, teimoso como um burro) vão dizer que o Carbono 14 é outra farsa dos cientistas que só querem “aparecer”.


Curiosidade: os homens já se ornavam com cocares na cabeça!




Serão assim as pinturas mais antigas do mundo e uma delas com características que a distingue de todos as demais: desenhos com tinta azul!
Existem atualmente 737 sítios arqueológicos catalogados onde foram encontrados artefatos líticos, esqueletos humanos, pinturas rupestres com aproximadamente 30.000 figuras coloridas, que representam cenas de sexo, de dança, de parto, entre outras
Se até há pouco se dizia que o continente americano teria começado a ser ocupado por homo sapiens há uns 12 ou 13 mil anos, mais tarde já se falava em 18.000, e agora estas pinturas levam-nos a 25.000, 59.000 e... Quem as pintou? Donde vieram esses homens que depois terão sumido visto não haver elos de ligação conhecidos que os façam antepassados dos “índios” atuais.
É sabido que há 40.000 anos já os aborígenes da Austrália tinham feito pinturas em cavernas. Também era voz corrente que os primeiros homo sapiens terão entrado no continente americano via o atual estreito de Bhering, na altura congelado, mas é tão evidente a diferença antropomórfica entre os povos do norte e sul e até leste e oeste americanos, muitos iguais aos aborígenes da Austrália, outros tipicamente, uns caucasianos ou persas, que se vê que vieram de diversas origens. Quando ???
Vejamos alguns tipos humanos tirados da Enciclopédia “Las Razas Humanas” (Barcelona, 1945):

Da tribu Shani, quase extinta. Costa Leste (Fenício?)

Povo Aimará. Lago Titicaca

Do interior da Amazónia. (Austrália?)

Chamacoco. Paraguay/Brasil. (Java? Ilhas Andaman?)

Da selva equatorial. (China?)

Costa Leste. Canadá/EUA (Vicking?)

Costa Noroeste. Canadá/Alaska (China, Japão?)

Onas. Tierra del Fuego. Quase totalmente dizimados.

Pelas fotos vê-se que alguns podem ter saído da Europa, outros da Pérsia, da China, da Austrália, etc.

O que todos gostaríamos de saber é quem pintou as cavernas... e quando!
E como Darwin se teria encantado a mexer nas milhares de ossadas que essas cavernas guardam!

18/09/17



sábado, 16 de setembro de 2017




ETHEL

Mistérios nova-iorquinos
De um velho jornal The New York Times

By George Mc Nally
(Data ignorada)


Vamos já dizer quem é a Ethel. Uma jovem “afro-americana”, como dizem lá nos States, classe média, entre baixa e quase pobreza, 19 anos, com um pequeno emprego, mal pago, em Nova York.
Apesar do tempo estar agradável, chovia na Big Apple quando Ethel saiu da loja para ir comer um hambúrguer no seu rápido intervalo do almoço. Muita chuva, e de repente, uma frente gelada e um vento violento.
As umbrelas viravam-se, as saias agitadas subiam e desciam, ela bem procurava segurá-las, mas tinha também que evitar molhar e perder a sua parca refeição.
Num instante estava com as saias quase pela cabeça, molhadas, grudadas nas costas, os baixos conhecidos por bunda, em conveniente - ou inconveniente - exposição, e um “magote” de rapazes e homens a apreciarem e troçarem da situação, com chistes sempre demonstrando linguagem chula.
Ethel procurou apressar o passo, seguida pelo bando de selvagens. Com tanta chuva não podia correr. Começava a ficar com medo.
Surgindo como que do nada, a seu lado pára um carro, abre a porta e chama-a para entrar. Dentro um homem de meia idade, ar tranquilo.
- Entre. Não tenha medo. Entre, entre.
Ethel, perseguida por “cães” famintos, e convidada a entrar no carro de um desconhecido, mas com ar gentil, optou por sair da chuva e da perseguição.
- Aí no porta luvas tem uma pequena toalha. Limpe o que puder. E, repito, não tenha medo que não lhe vou propor nada de mal. Quando quiser sair do carro só tem que me dizer.
Ethel, olhava o seu “salvador” entre incrédula e desconfiada, mas foi-se descontraindo ao ouvir a voz e atitude calma de quem a salvara duma situação desagradável.
- Você trabalha?
- Sim.
- Onde?
- No Supermarket Fine Fare, Odgen Avenue.
- E o que faz lá?
- Limpeza. Passo o dia a limpar o chão e os depósitos.
O “salvador” encostou o carro, olhou-a bem, dos pés à cabeça, e viu uma garota bonita, elegante, ar humilde.
- Estamos perto do seu trabalho, se quiser sair... Mas eu tenho uma proposta para lhe fazer. Apresentá-la a uma senhora que conheço bem, tenho a certeza vai querer contratá-la, e por muito melhor salário. Aceita o desafio? Não tem nada de escondido nisto, nem qualquer proposta de caráter sexual. Descanse.
Ethel ficou baralhada.
- Já lhe disse que não tem que recear, da minha parte, absolutamente nada. Se aceitar, eu já tenho ideia de como a livrar do supermercado.
- Como?
- Veja. É fácil. Como se chama o seu chefe lá no supermercado? E qual o telefone dele?
- Mr. Jones Susa? O número é...
Tira o telefone do bolso, disca, chama o tal Mr. Jones e:
- Mr. Jones? Daqui é o Dr. Judice, da Clínica Mount Eden. A senhorita Ethel, que trabalha aí, caiu na rua, foi resgatada e trazida aqui e está com um tremendo resfriado. Com febre. Não pode voltar hoje ao trabalho e precisa pelo menos mais dois a três dias em casa. Retornará quando estiver bem.
- Obrigado dr. por avisar.
- Pronto! Miss... ? Que idade tem?
- Ethel. Faço 20 daqui a dois meses.
- Agora vamos tratar da sua nova vida.
Carro em marcha pararam numa boa loja de roupas.
“X”, como vamos chamar o “salvador”, de quem nunca se soube o nome, chamou uma vendedora e disse-lhe para vestir Ethel com o que tivesse que melhor lhe servisse. Nada de trajes de cerimónia, nem muito chic, mas o que puder apresentá-la, bem, para um trabalho de responsabilidade. Uns três ou quatro conjuntos, sei lá, vestidos saias, o que entender. E roupa interior. Ah! E sapatos.
Durou pouco mais de uma hora a escolha e os necessários arranjos. Estava a ficar linda, Ethel.
“X” pagou tudo, saíram com umas quantas bolsas mais uma sacola com a roupa molhada.
Próxima parada, cabeleireiro. Mesma recomendação. Pentear a jovem, com simplicidade, mas que lhe ficasse bem. Muito bem.
Ethel estava outra pessoa. Feliz, mas cada vez mais desconfiada com tanta amabilidade.
De volta ao carro, andaram cerca de meia hora, e quando pararam, mais uma vez, estavam à porta de um prédio na 76th Avenue.
“X” tirou um cartão do bolso, sem nada impresso, e escreveu:
Mrs. Elisabeth – 10th floor  //
- Você sobe – é esta porta aqui mesmo – e entrega este bilhete. Só isso. Mrs. Elizabeth saberá o que fazer. Ah! E tem aqui uns dólares para voltar para casa de táxi com esses embrulhos todos para levar. Peça ainda a Mrs. Elisabeth que volte, daqui a dias a falar com Mr. Jones do supermercado.
- Mas o senhor nem me disse o seu nome! Pelo telefone chamou o meu chefe e disse que era o dr. Judice!
- Pelo telefone tenho que dar um nome qualquer. Mas para você não preciso. Nem me chamo Judice nem sou médico! Não precisa saber o meu nome. Qualquer dia vamo-nos encontrar. Entretanto, boa sorte. Coragem.
­Ethel, carregada com as preciosidades que acabara de ganhar, pensava que tudo era um sonho. Estava outra pessoa. Pode dizer-se que estava linda.
No 10° andar, uma porta de vidro, escrito ELIZABETH  FASHION.
Entregou o bilhete a quem lhe abriu a porta, que logo a conduziu à Mrs. Elizabeth que parecia, e era, a CEO daquele lugar.
- ­Sente-se, por favor. Como se chama?
- Ethel.
- Ora este cartão que parece nada ter escrito, tem tudo. O senhor que lho entregou tem conosco, há anos, um contato através de códigos! A ele devo o que sou hoje, mas também só o vi uma vez! Numa conversa informal, disse-lhe que a minha ambição era trabalhar com moda e, uns dias depois mandou-me um bilhete deste tipo e que o entregasse a um dos diretores do Citibank. Fui recebida como um emir das arábias! Abriram logo uma conta com o crédito que eu necessitasse. E fez mais quando eu procurava saber o saldo devedor, para meu espanto, em vez de aumentar diminuía! Até hoje a minha gratidão é imensa, mas não sei quem é o “salvador”!
Só sei que quando coloca dois traços vermelhos é que está muito interessado no seu futuro. Esta, como vê, é uma empresa de modas. Aqui confeccionamos os mais belos e caros vestidos, e uma ou duas vezes por ano fazemos desfiles. Você vai aprender várias coisas e conforme a sua aptidão ou fica na costura ou também nos desfiles, mesmo que a sua altura não seja a ideal. Mas como há muitas clientes da mesma altura... não tem que se preocupar. Agora fale-me de si.
- Sou de uma família muito modesta, tenho 19 anos, estudei até à 10ª série, e estou, ou estava (!) a trabalhar num supermercado, na limpeza, e ganhava 12 dólares por hora. Depois apareceu este senhor que me mandou vir aqui.
- Muito bem. Vai começar já com 4.000 por mês. O que lhe parece?
- Mrs. Elizabeth, a mim tudo o que me está a acontecer parece um sonho ou um milagre. E isto começa porque um desconhecido me apanhou na rua, toda molhada da chuva e me livrou de uns selvagens que me perseguiam, e de quem nem o nome sei!
- Ethel! Nem eu sei o nome ele! Conheço-o só através destes bilhetes que me manda e por alguém que de vez em quando aparece aqui com uma mensagem de “um senhor” que lhe pagou para os trazer em mãos. É um mistério, mas é um anjo misterioso! Mas nós vamos acabar por descobrir. Eu penso que ele já aqui veio mais do que uma vez, mas apresenta-se sempre como se fosse “um qualquer” que vem trazer uma mensagem. Mas nem sei se seria ele!
Ethel sentia-se no céu! Quando ao fim do dia voltou para casa não conseguia explicar à mãe o que se tinha passado, mas que estava num trabalho novo e com um salário muito melhor.
- Minha filha: cuidado com os homens! É assim que eles caçam as amantes!
- Mãe! Não acredito. Ninguém sabe quem ele é, e foi de grande gentileza e educação, comigo. Estou-lhe muito grata e continuo sem saber quem é, nem o que faz. Só sei que tenho um novo trabalho, onde ganho, para começar quase o dobro e estou a aprender um novo e importante trabalho!
- Que Deus te abençoe, e te proteja minha filha.
O novo trabalho absorvia-a completamente e estava a demonstrar tanto interesse, entusiasmo, e qualidade, que Mrs. Elizabeth já a considerava como uma das pessoas indispensáveis na empresa.
Vez por outra aparecia um indivíduo para simplesmente entregar um envelope à Mrs. Elizabeth e sumia logo. Passou a ser mais analisado do que antes. Todas as funcionárias procuravam encontrar nesse emissário o misterioso senhor “X” mas não conseguiam decifrar quem seria.
Passou o tempo. Uns dois anos.
Elizabeth Fashion anunciara um desfile de modas no New York Fashion Week. Era muito o trabalho, boa parte dele supervisionado por Ethel, já consagrada costureira e que aprendera também a desfilar, apesar de não passar de 5’ 5” de altura, mas muito segura e elegante, marcava destacada presença entre as habituais modelos de metro e noventa!
Sala, sempre cheia. Figurinistas, críticos de moda, jornalistas, compradores de grandes lojas e cadeias, potenciais compradores individuais. Nesse meio, entre tantos, um senhor, longos cabelos brancos, óculos de aro grosso, quieto no seu canto, não perdia detalhe algum do desfile. Quando este terminou pediu a um dos funcionários da organização para levar uma pequena mensagem a Mrs. Elizabeth. Um cartão unicamente com dois traços vermelhos!
Elizabeth e Ethel ao receberem a mensagem voltaram correndo para procurar no meio público onde estava o tão misterioso senhor “X”, mas, mesmo correndo com cuidado todas as caras que lá estavam nada concluíram.
Poucos dias depois, na empresa, outro mensageiro, desta vez com um menos lacónico bilhete:

Mrs. Elizabeth and Miss Ethel - Tomorrow - Lunch – 13H00
ALDEA -  31 W 17th St, New York, NY 10011, EUA
Please confirm with the courier

- Pode dizer que sim. Que aceitamos.
- Ethel! Ethel! Venha aqui depressa. Mande alguém seguir o mensageiro. Ele vai levar uma resposta ao nosso misterioso amigo.
Lá foi uma colega que nada tinha a ver com o assunto. Seguiu o rapaz que trouxera o bilhete, mas este não se encontrou com alguém, entrou num bus e... sumiu. Tudo quanto ela pensou ter visto foi ele fazer um pequeno aceno de cabeça, mas... para quem?
No dia seguinte, ambas muito elegantes chegaram ao restaurante onde tinham uma mesa reservada com três lugares.
Nervosas, esperaram ofegantes que aparecesse o tão desejado “anjo”.
Não tardou a entrar um jovem, aparentando no máximo 28 a 30 anos, alto, bonitão, meio louro, e viram o maître encaminhá-lo à mesma mesa.
Cumprimentou as senhoras, apresentou-se - Brian - e disse que na véspera tinha encontrado num restaurante um senhor com quem teve uma muito agradável conversa, e lhe perguntou se queria almoçar hoje neste restaurante.
-Eu disse que sim, e que como ele se deveria atrasar um pouco pediu-me que entregasse este bilhete à Mrs. Elizabeth. E que fossemos almoçando. O mâitre teria todas as instruções para que nada faltasse.
O bilhete era, como de costume lacónico:
Thanks for the nice work //
Elizabeth, franziu a testa.
- Porque agradecer-lhe? E porque os dois traços vermelhos?
- Brian como era esse senhor?
- Estatura um pouco acima da mediana, uns 40 e poucos anos, bem vestido, sem luxo. Muito simpático, fala suave.
- E como se chama?
- Não disse. Quando lhe perguntei, disse-me que o saberia hoje! Eu vim para aqui meio desconfiado de que seria uma brincadeira, mas parece que não é. Sobretudo em companhia tão agradável.
O almoço foi sendo servido, mas o 4º personagem, tão esperado, não apareceu, e a conversa teve que fluir. Aliás a mesa estava reservada para três!
­- Brian! O que você faz? Em que trabalha?
- Sou designer. Não tenho emprego e colaboro de vez em quando com várias empresas, sobretudo no campo da moda.
Elizabeth:
- Sabe quem eu sou? Conhece-me?
- Infelizmente não tenho esse prazer.
- Eu sou Elizabeth e esta é Ethel. Trabalhamos na Elizabeth Fashion!
-Elizabeth Fashion, conheço de nome, e, sem querer fingir, devo dizer que gosto muito dos seus modelos.
- Sabe como começou a empresa?
- Não tenho ideia.
- Esse mesmo senhor com quem esteve hoje, um dia eu conheci do mesmo modo. Uma conversa informal, disse-lhe que a minha ambição era trabalhar com modas e... abriu-me as portas de um banco que me deu para abrir o negócio! Com a Ethel, foi parecido. Encontrou-a meia perdida no meio da rua e mandou-a ter comigo. Ethel é hoje a número dois da empresa. E agora você, Brian!
- Estranho. Muito estranho tanta coincidência.
- Parece que o destino o mandou vir trabalhar conosco!
- E será um grande prazer.
Os três não sabiam mais o que dizer. O misterioso senhor “X” tinha articulado um esquema sem que alguém entendesse porque, e como!
Quando pediram a conta, foram informadas que tudo estava liquidado!
No dia seguinte já Brian estava no novo trabalho, e formou a terceira perna que faltava naquele tripé para que tudo fosse perfeito.
Todos três tinham visto o senhor “X” uma vez na vida. Só. Mas ninguém esquecia a sua cara, mesmo que já tivessem passado, para Elizabeth, quase cinco anos.
A empresa progredia, mas em todos havia alguma tristeza por não poderem conhecer e agradecer ao seu “anjo”.
Entre Brian e Ethel alguma coisa os aproximara... completamente. Casamento marcado. Tudo quanto desejavam era a presença do senhor “X”.
Vésperas da festa combinam os três irem ao New Your City Ballet ver o Ballet Bolshoi, sempre uma maravilha.
No primeiro intervalo um dos funcionários do teatro aproxima-se deles com um bilhete: “Um senhor pediu que vos entregasse isto”, e seguiu.

Tomorrow - Lunch – 13H00 / /
ALDEA -  31 W 17th St, New York, NY 10011, EUA
Table reserved for Mrs Elizabeth (Fashion) for four
Please confirm to the restaurant -  Tel. 212-675-7223

- !!! Quem seria a quarta pessoa? Nova apresentação? Mais um colaborador?
Até ao dia seguinte ninguém se pôde concentrar no trabalho.
Exatamente à hora prevista os três chegaram ao restaurante. O mâitre encaminha-os para uma mesa onde um senhor já aguardava, sentado e desculpou-se por não se poder levantar.
Todos soltaram um quase grito, julgando reconhecer a pessoa que tanto por elas tinha feito.
- Eu conheço-os todos, todas, sei bem os vossos nomes. O meu é James. Por favor sentem-se. Eu não sou a pessoa que vocês gostariam de conhecer. Foi ele que me mandou que hoje viesse encontrá-los e explicar porque ele não aparece. Não que goste de mistérios ou brincadeiras, mas impôs a si próprio um anonimato que não lhe permita vangloriar-se do que faz pelos outros. Não foi só a vocês que ele deu uma mão. Foi a muitos outros, mas gosta sempre de ir sabendo o resultado que tem e, se necessário reforçar o apoio quando as coisas não vão tão bem quanto ele deseja.
- Para nós tem sido um tormento não poder conhecê-lo e agradecer-lhe tanto que fez.
- É isso mesmo que ele não quer. Ele sente-se compensado quando sabe que tudo está a correr bem, e foi isso que hoje vim aqui dizer-vos.
- ...
- Não me olhem desse jeito! Eu sei que somos parecidos, mas nem sequer temos qualquer parentesco. Viram que eu não me levantei quando chegaram. Pois é. Eu tenho paralisia nas pernas. Ele felizmente é um homem saudável.
Nenhum dos três convidados ousava sequer fazer perguntas. Nem se atreviam a pedir o almoço, tal o espanto que tudo lhes estava a causar.
- Vamos comendo, por favor. Eu vou ter o prazer de o informar que tudo está indo muito bem convosco. Ele até já sabe que vai haver um casamento!
- Como ele sabe???
- Nem eu sei dizer. Mas ele sabe. Sabe até onde vai ser a cerimónia, e... não deveria dizer, mas creio que vai lá dar uma espiada!
- Ahhh!
- Mas não tentem encontrá-lo. Ele sabe muito bem disfarçar-se! Se me convidarem, posso até ir eu!
Vésperas do casamento um belo presente, um envelope razoavelmente recheado, chega com o habitual cartão
Felicidades /////
Poucos convidados, cujas caras eram perscrutadas com minúcia. Do “anjo”... nada, o que entristecia os que tanto o queriam conhecer e agradecer.
A festa a chegar ao fim entra um homem, modestamente vestido que se dirige aos noivos, os abraça, deseja felicidades e vira costas. Depois abraçou Elizabeth, segreda-lhe ao ouvido alguma coisa, e, como entrou saiu e sumiu.
Elizabeth estava hirta. Os noivos correram para ela que simplesmente lhes disse:
- Era ele! Disse-me só: “Sou o James, e nunca vou deixar de vos acompanhar! Um dia vou aparecer.” Eu fiquei tão espantada que não consegui fazer nada.
Correram para fora e tudo quanto viram foi um carro a ir embora!
O mistério continuou.
Até hoje.
Faz o bem; não olha a quem!


Jul/2017

terça-feira, 12 de setembro de 2017


Desenterrando a história
Antiga, atual e... futura
do  BRASIL

Antiga:
Vamos à chegada do D. João, com a controversa e horrível Carlota Joaquina, filhinhos e mamãe louca.
Com eles veio muita gente, entre tantos, alguém que parece ter sido votado ao ostracismo, nesta terra a quem tanto deu. Chamou-se esse homem, António de Araujo de Azevedo, mais tarde Conde da Barca.
Ainda em Portugal desempenhou cargos da maior confiança.  Foi ministro e embaixador extraordinário junto a Corte de Haia em 1787, embaixador em São Petersburgo, onde se mantém por três anos. Logo em seguida, torna-se ministro dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, encarregando-se também, do Ministério do Reino. Sempre se dedicou à ciência, às matemáticas e história, e foi possuidor de uma importante biblioteca e até de uma tipografia.
Foi um dos conselheiros que mais incentivou a vinda da família Real para o Brasil o que lhe valeu o ódio de grande parte da população em Portugal, e teve que embarcar de noite carregando as preciosidades que tinha em casa.


Desembarcou no Rio de Janeiro em 6 de Março, véspera da chegada do Príncipe Regente, trazendo consigo toda a magnífica livraria, legada posteriormente à Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, a sua riquíssima colecção mineralógica e a tipografia completa que tinha em casa, e instalou-se num palacete na rua do Passeio, frente para o Passeio Público, de que já falámos.
Em sua casa, monta um jardim onde cultiva mais de 1.500 espécies botânicas indígenas e exóticas, que catalogou com o nome de Hortus Araujensis.
Propagou a cultura do chá no Jardim Botânico para o que mandou vir chineses para cuidarem do seu plantio e cultura, portugueses e madeirenses para ensaiarem a cultura da vinha e outras frutas, e sempre ensaiando produtos como a extração de óleo do urucu.
Em 1814 retorna à política, sendo nomeado Ministro da Marinha. No mesmo ano, instala em seu Laboratório Químico-Prático um alambique de sistema escocês, com melhoramentos feitos no Rio de Janeiro. Com este alambique, dedica-se à fermentação de bebidas e daí supor-se que a principal fonte de renda do Laboratório tenha sido a venda de licores e aguardente.
Além de atividades relacionadas com a instituição, constituição e aplicação da química no Brasil, tem-se notícia de que o Laboratório também teria como atividade o ensino da disciplina, com o objetivo principal de preparar aqueles que visavam prestar exames para boticários perante a Fisicatura–Mor.
Era comendador da grã-cruz da Ordem de Cristo, da Ordem Militar da Torre e Espada, da Ordem de Isabel a Católica, de Espanha e da Legião de Honra de França. Além disso, pertenceu também a Academia Real de Ciências de Lisboa. Foram notáveis seus entraves com a Cúria Romana entre 1814 e 1817. Tinha frequentemente o assentimento do Príncipe Regente. Exemplo disso é a negativa dada por ele à ordem do papa Pio VI para que fosse restabelecida em Portugal a Companhia de Jesus.
Diante dos clamores do povo da Madeira pela abolição do Tribunal da Santa Inquisição, sugeriu que D. João VI o abolisse nos seus domínios, a que este não se atreveu. O Governo do Rio de Janeiro solicita então a Roma a abolição do Santo Ofício, pedido negado por Pio VII.
No ano seguinte, intercede junto ao Príncipe Regente para a elevação do Brasil à categoria de Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve, facto que se realiza em 15 de Dezembro de 1815.
Era também colecionador de obras de arte. Foi o responsável pela fundação da Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, no Rio de Janeiro, para a qual mandou vir da França um competente quadro de professores. Tal quadro incluía nomes como: Le Breton, Debret, Nicolas-Antoine de Taunay e seu filho Felix de Taunay, Grandjean de Montigny e Charles Pradier. Encomendou o projeto do palácio da Academia a Grandjean de Montigny, mas não viveu o suficiente para vê-lo pronto, já que suas obras só terminaram em 1826.
Volta a ocupar o Ministério dos Negócios Estrangeiros e da Guerra em 1816/1817 e foi convidado a assumir todas as pastas do governo. Contudo, com sua saúde já bastante debilitada, veio a falecer. Foi o único conde da Barca. Seu título foi lhe conferido em vida, pelo ainda príncipe regente, D. João VI, em 27 de Dezembro de 1815.
O destino do Laboratório Químico-Prático, inicialmente uma iniciativa particular do Conde da Barca, foi o de ser apropriado pelo Estado, passando a ser um órgão do Governo subordinado ao Ministério dos Negócios do Reino, e assim continuando com suas atividades sob a direção de João Caetano de Barros. A garantia do funcionamento do Laboratório foi endossada por decreto real do dia 27 de Outubro de 1819, criando um Laboratório Químico.
Mas, possivelmente o seu mais importante legado foi a tipografia, que aqui se instituiu, transformando-se logo, por decreto de 13 de Maio de 1808, em Imprensa Régia.


É voz corrente dizer que foi D. João que trouxe a primeira tipografia para o Brasil. Não foi. Mas sim este senhor António de Araujo de Azevedo, por sua conta.
Há um livro, História da Tipografia no Brasil, edição do Museu de Arte de São Paulo, de Março de 1979, a que pomposamente chamam a primeira “História da Tipografia no Brasil”, que se ficou a dever ao então secretário de cultura do Estado de São Paulo, um tal dr. Max Feffer, segundo o Prefácio escrito pelo mui justamente celebrado Pietro Maria Bardi.
Neste livro tem até algo que parece anedótico, mentira ou camuflagem. Hipolito da Costa no seu “Correio Brasiliense” escreveu: “Saiba o mundo, e a posteridade, que, no ano de 1808 da era cristã, mandou o governo português, no Brasil, buscar à Inglaterra uma impressão, com seus apendículos necessários, e a remessa que daqui se lhe fez importou em cem libras esterlinas. Contudo diz-se que aumentará este estabelecimento tanto mais necessário quanto o governo ali nem pode imprimir as suas ordens para lhes dar publicidade. Tarde, desgraçadamente tarde: mas, enfim, aparecem tipos no Brasil; e eu de todo o meu coração dou os parabéns aos meus compatriotas”.
António de Araújo de Azevedo faleceu em Junho de 1817, na sua casa na rua do Passeio.
Por ironia, mais tarde é para ali que volta a instalar-se a Impressão Régia!
Pelo que se expõe não parecem restar quaisquer dúvidas de que este senhor, foi um dos GRANDES homens do Brasil, e mais especificamente do Rio de Janeiro.
A triste verdade é que ninguém sabe nada dele, e nem sequer a cidade lhe dedicou, no mínimo, o nome de uma rua!
Merecia até um busto, frente à casa onde morou e se instalou a Impressão Régia.

Atual (mais ou menos):
Escrever alguma coisa sobre a história atual do Brasil, ninguém é capaz. É isso; parece impossível começar por dar uma ideia dessa triste, tristíssima história sem lembrar de De Gaulle
Muita gente diz e com toda a razão que o Brasil …. “Le Brésil n’est pas un pays serieux” – “O Brasil não é um país sério” – frase atribuída a Charles de Gaulle.
E agora com a Lava Jato, com este dilúvio de escândalos, do Mensalão, do Petrolão, da Petrobras, do BNDS, do INSS, da Máfia das Sanguessugas, dos Transportes, Operação Navalha, etc. que somados atingem largos trilhões de rombo aos cofres públicos, ganha particular acuidade a frase, tanto mais que De Gaulle continua a ser considerado uma das figuras mais respeitadas da política no século XX. A verdade é que De Gaulle nunca disse que o Brasil não era um país sério. O autor da frase foi o diplomata brasileiro Carlos Alves de Souza Filho, embaixador do Brasil em França entre 1956 e 1964, quando surgiu um desaguisado entre o Brasil e França, conhecido como a Guerra da Lagosta, conflito “gravíssimo” onde não se disparou um único tiro! Tudo causado por embarcações francesas, que pescavam lagostas em águas territoriais brasileiras, cuja notícia chegou até ao Presidente João Goulart que mandou despachar para a região uma Esquadra Naval apoiada pela Força Aérea! De Gaulle ao saber desta teórica beligerância convocou o embaixador brasileiro para uma conversa no Palácio do Eliseu, sede do governo francês.
Detalhe: Na noite que seguiu a conversa com De Gaulle, o embaixador foi convidado para uma festa na casa do presidente da Assembléia Nacional. Afinal a guerra não era tão séria assim. Na recepção, o embaixador foi interpelado por outro convidado e, o embaixador que sempre achou o governo brasileiro inábil no trato da questão a nível diplomático, arrematou a conversa, como que em desabafo, com a famosa frase: “O Brasil não é um pais sério”.
O pior é que De Gaulle, ou não De Gaulle, alguém estava certíssimo!

Futura:
Falar de “História do futuro do Brasil” seria plagiar mal e porcamente o Padre António Vieira, que previu o Reino do Espírito Santo, da criança como imperador na sua inocência e de algo importantíssimo: a transparência!
Ou então voltar a citar Stephan Zweig que no seu delírio escreveu “Brasil, o país do futuro” e que acabou por se suicidar, deixando uma carta que começa por cantar
“Antes de deixar a vida por vontade própria e livre, com minha mente lúcida, imponho-me última obrigação; dar um carinhoso agradecimento a este maravilhoso país que é o Brasil, que me propiciou, a mim e a meu trabalho, tão gentil e hospitaleira guarida. A cada dia aprendi a amar este país mais e mais e em parte alguma poderia eu reconstruir minha vida...”
É evidente que não podemos, ainda, começar a desenterrar o futuro. Mas hoje questiona-se se a “antevisão” do tal futuro teria sido um sincero grito de alma, ou a premonição que, se estava muito bem em 1926, ele pretendia “ver” esse futuro em termos de eternidade, onde, se o tempo não passa, porque tudo é presente, o futuro do Brasil seria a vergonha eterna, tal como a estamos a vivenciar?
Só no Rio de Janeiro, este ano, mais de 100 policiais assassinados, dezenas de áreas da cidade onde não se pode entrar porque lá impera a droga, o contrabando de armas, o crime, onde um juiz prende o ladrão e outro solta porque é amiguinho, outros ganham “de acordo com a lei que eles fazem”, oitenta a cento e cinquenta mil Euros, POR MÊS, onde um polícia atropela um ciclista, que morre, foge, não tem o carro licenciado e mais de 5000 mil multas de trânsito e não é preso, outro é apanhado com 35.000 balas de espingarda de guerra roubadas no seu quartel e nada lhe acontece, onde, todos os dias, todos os dias, as notícias se repetem: prefeito “tal”, governadores “tais”, juízes “tais”, deputados “tais”, senadores idem, ex-presidentes idem, todos condenados a anos de cadeia, e aí à solta gozando os trilhões roubados aos cofres públicos!
Bem desejo que a alma de Stephan Zweig descanse em paz. Mas, lá do alto, devia explicar melhor o que ele entende de FUTURO, porque nós, miseráveis terráqueos, só vemos um futuro: triste e sujo.

02/09/2017