terça-feira, 6 de março de 2012




O GOVERNO GERAL

DO REINO DE BENGUELA



Continuação - 2

 
Concluído em Angola o processo da sindicância aos actos de Manuel Cerveira Pereira, entregou-o o sindicante aos Ministros em Madrid para o apreciarem, e entretanto Manuel Pereira, ao mesmo tempo que se justificava das acusações, foi ouvido por Felipe III e, com aquela fé inquebrantável de aventureiro, ou com a ousadia própria do mais refinado pantomineiro, como o julgavam alguns dos Ministros, convenceu o rei da existência das minas de cobre, e do seu valor extraordinário, muito superior ao da prata de Cambambe, promessa com que lhe tinham estado a acalentar ilusões, diria ele, ao passo que o seu cobre era facto averiguado. E, em confidência sugeriria, dados os apuros da Real Fazenda, seria de mais valor que a prata, porque servia para fundição das peças de artilharia, de que a Espanha tanto carecia para se defender dos seus muitos inimigos.
Premida a corda sensível das necessidades, naquele momento muito graves, deixando antever, quase como cousa certa, uma solução que, pelo menos, as diminuiria, Felipe III começou a interessar-se pelo caso, mandando antes de mais, se lavrasse a sentença ilibando Manuel Cerveira, que, assim, foi solto. Do resto encarregou-se ele, e bem seguro do efeito produzido pelas suas descrições, e talvez justificando-as com o testemunho insuspeito de Domingos de Abreu de Brito, que mais de uma dezena de anos antes, já enaltecia as riquezas de Benguela, como sendo tantas, que «vossa magestado podia mandar hum dos illustres de Portugal por viso Rey por que desta maneira provendo V, Me, e outro sr. governador pêra o Reyno de Conguo y e outro Visorrey pêra os Reynos Danguolla, com esta facellidade se posuira, Conguo, Anguolla, Benguella, as minas de Manapota e abrir se o caminho de Mosambique...» conseguiu que Felipe III, “tendo em atenção a salvação das almas dos idólatras que o habitavam, os proventos que dos frutos daquella terra poderiam resultar à sua fazenda e à dos seus vassalos; à necessidade de evitar que os rebeldes e piratas herejes ali se estabelecessem e introduzissem em gente sem luz a perversidade da sua seita, e à dificuldade com que os Governa¬dores em Luanda poderiam dirigir esta Conquista, resolvesse separar, a Capitania, Conquista e Governo das Províncias do Reino de Benguela e de todas as mais terras que jazem até ao Cabo da Boa Esperança, do Governo de Angola”, erigindo-as em novo governo (1) e, cometer a sua conquista a Manuel Cerveira Pereira, a quem, enquanto estivesse em Angola, onde teria de ir para preparar as cousas necessárias para melhor e mais facilmente se poder conseguir a conquista, conferia tam¬bém os poderes de Governador daquele Reino (2).
Partiu Manuel Cerveira para Angola em 1615 e, apenas chegou a Luanda, tratou de organizar a sua expedição ao sul. Como a sua pri¬meira e principal necessidade era de escravos, aproveitou, como já vimos, as queixas apresentadas por alguns moradores contra o soba Caculo Cahanga, que dava guarida nas suas terras aos escravos fugidos, e resolveu assaltá-lo, obrigando-o à restituição.
Enquanto resolvia estes assuntos e punha outros seus em ordem, esperava receber do reino, várias cousas que pedira e Felipe III lhe prometera, e entre elas, alguns cavalos, mas tudo esqueceu após a sua partida. Deve ter-se queixado em carta a Felipe III, e em tal empenho este tinha o negócio de Benguela, que mandou significar ao Conselho de Fazenda o desprazer recebido pelo descuido havido, determinando se comprasse tudo quanto tinha prometido e se escrevesse a Manuel Cerveira comunicando as ordens que dera (3).
Com a demora havida na partida da expedição para o sul, parte dos homens que a compunham e Manuel Cerveira trouxera do reino, já estavam arrependidos, sobretudo por terem de servir debaixo das ordens dele, e fugiram, preferindo esconderem-se no mato, passando uma vida de perigos e incómodos. Conforme lhe foi possível, completou as faltas nos seus efectivos com alguns brancos degredados em Luanda, e assim, com o resto da gente que lhe ficara da que trouxera de Portugal, arranjou 250 homens, saindo de Luanda em 2 de Abril de 1617, com destino ao sul, com quatro navios e um pataxo, tendo deixado muito recomendado ao Governador interino e ao Ouvidor, mandassem prender e lhe restituíssem os fugitivos.
Manuel Cerveira dirigiu-se a um porto que conhecia e diz ficava a sete léguas das minas, mas encontrou-o fechado com o movimento das areias. Resolveu continuar a viagem até quinze graus e meio de latitude sul, e regressando novamente para o norte fundeou, a 17 de Maio, depois de quarenta e seis dias de viagem, na baía «a que chamavam da Torre e no roteiro velho Baía de Santo António» (4) onde desembarcou, dando começo ao estabelecimento da povoação, a que chamou Cidade de S. Felipe de Benguela, tomando por padroeiro a S. Lourenço.
O soba da terra, que se chamava Peringue, quis impedir-lhe o desembarque, mas Manuel Cerveira cativando-o com presentes, conseguiu modificar-lhe a disposição e viver com ele na melhor paz os oito primeiros dias, o tempo necessário para o alojamento da gente e guarda das mercadorias e armamento e pólvora, no fim dos quais, diz Manuel Cerveira, a gente do Peringue matou dois pretos nossos que tinham ido cortar lenha e aprisionou mais seis, pelo que começaram as guerras contra ele, que foi o primeiro a sofrer o castigo, sendo assaltada e incendiada a sua libata, apreendendo-lhe Manuel Cerveira, gentio, bois e vacas, e fugindo o Peringue com a sua gente para as terras de outro indígena na Baía de S. Francisco. Aproveitaram, então, os nossos a ocasião para acabarem a povoação e construírem um entrincheiramento que os pusesse ao abrigo de qualquer ataque de surpresa, por parte do gentio.
Manuel Cerveira juntava à sua provada energia e coragem um génio arrebatado. Os que com ele serviam tinham de pautar o seu procedimento de forma a evitar-lhe as iras, porque não olhava aos meios de repressão de quaisquer actos que o contrariassem, para o que tinha os poderes necessários até à morte natural. Para a expedição a Benguela, dificilmente arranjara brancos que o acompanhassem, e, os que levou de Lisboa, ao conhecerem-lhe o carácter e a crueldade com que punia quaisquer faltas, trataram de fugir em Luanda, escondendo-se enquanto a expedição não partiu. Poucos ficaram dos que trouxera de Portugal e teve de completar o mínimo dos que necessitava, com con¬denados que arranjou em Luanda, levando, ainda assim, cerca de 250 homens brancos e mulatos.
A chegada a Benguela realizou-se no começo do cacimbo e pode-se calcular quais seriam os seus efeitos em gente acostumada ao clima de Luanda, de temperaturas mais elevadas. Adoeciam com frequência e morreram cerca de 38, a maior parte dos velhos de Angola, e um irmão, um cunhado e um sobrinho de Manuel Cerveira. O receio do clima, o rigor da disciplina a que eram obrigados, os maus tratos que recebiam, levaram, os que ficaram, a combinarem fugir, para o que obtiveram a cumplicidade do piloto de um pataxo que Manuel Cerveira tinha em Benguela. Uma noite o clérigo, o cirurgião e outros, embarcaram no pataxo, fazendo-se o piloto à vela, mas o vento falhou-Ihes. Manuel Cerveira tendo mandado um batel em sua perseguição, que os aprisionou e trouxe a Benguela, deu morte natural ao cirurgião e ao piloto, e tendo entregado o clérigo ao vigário, que era um frade de S. Francisco, ficou aquele preso e foram-lhe confiscados os bens, mas poucos dias depois estava solto e he o maior amofinado que aqui temos.
A energia na repressão da tentativa de fuga, deu para dois meses de respeito, no fim dos quais, um alferes e o piloto de um outro pataxo, que Cerveira mandara próximo de Benguela carregar mantimentos, ao saberem do malogro de uma revolução em que estavam comprometidos, em vez de regressarem, seguiram para Luanda, onde contavam com a protecção de todos, pela má vontade e talvez ciúme, que havia contra Manuel Cerveira. Os que ficaram, prepararam nova rebelião, mas dessa teve Manuel Cerveira denúncia a tempo, e, embora um dos cabeças de motim fugisse para o mato aonde desapareceu, o outro foi agarrado e sofreu morte natural, perdoando aos restantes, como mais tarde teve de perdoar quando os seus subordinados de novo se combinaram para o matar com veneno ou a tiro, «porque se ouvera de castigar todos os culpados ficava só».
Por todos estes motivos a sua tropa diminuía em número e por forma que ele, atrevido e valente, se não julgava com a força necessária para se lançar na conquista das minas. Entretanto, ia colhendo todas as informações, que lhe confirmavam as anteriores, por forma a não lhe deixarem dúvida alguma sobre a riqueza do minério, de que o próprio gentio extraía o cobre. Nalguns assaltos ordenados a diversas libatas, apreendera muitas argolas de cobre, de grossura diversa, conforme a aplicação, e que por duas vezes, mandou algumas a Felipe III, pedindo-lhe para enviar um socorro de 150 homens, sendo alguns mineiros, assim como pólvora, chumbo e arcabuzes e vinte cavalos há muito prometidos (5). Receando que a falta de dinheiro na Corte fosse estorvo à satisfação dos seus pedidos, comunicava ter dado ordem ao seu correspondente em Madrid, para entregar ao Rei dois mil cruzados, que ele emprestava para as despesas a fazer. Ao mesmo tempo participava-lhe estar sem recursos para sustentar a sua gente, e tendo mandado a Luanda buscar mantimentos pedira ao Governador para da sua fazenda, fretar um barco a-fim-de lhe trazer o provimento que pedia, mas calculava nada viesse, pois quando passara por Benguela o navio em que vinha o Governador Luiz Mendes de Vasconcelos, e em que ele esperava viesse o reforço pedido e, como já vimos, Felipe III tinha ordenado se enviasse quando fosse aquele Governador, Luiz Mendes nem fundeou o navio, mostrando-lhe a pouca ou nenhuma importância que lhe ligava e que, naturalmente, se reflectiria no acolhimento ao seu pedido.
Na verdade, assim sucedeu. Lourenço Dias Ferreira, capitão de infanteria servindo em Benguela, foi a Luanda de mandado de Manuel Cerveira, com peças para comprar as cousas necessárias, e precatórios para o Governador, Ouvidor ou Provedor, a-fim-de lhe fretarem um navio para trazer as mercadorias que se comprassem, lembrando ao mesmo tempo que prendessem os obrigados à conquista de Benguela que estavam em Luanda. Só no fim de muita instância conseguiu que o Governador Luiz Mendes falasse a um armador se queria ir a Benguela, sem contudo dar ordem ou fazer a menor pressão para a viagem se efectuar, dando ensejo ao armador fazer exigências desmedidas, que Dias Ferreira foi forçado a aceitar perante as necessidades que sabia haver em Benguela.
As autoridades de Luanda não contentes em manifestarem o seu desinteresse pelo socorro pedido para Benguela, ainda falavam em forma que dava ocasião a que todos odiassem as cousas da Conquista, arranjando pretextos com que mais tarde pudessem justificar não terem efectuado as prisões requeridas, e afirmando que o cobre enviado por Cerveira a Felipe III, tinha ele levado de Luanda e fingia que o tinha apreendido em Benguela.
Quando Lourenço Dias Ferreira regressou a Benguela, deu parte a Manuel Cerveira do ocorrido em Luanda, entregando-lhe uma declaração escrita, sobre a qual Cerveira mandou proceder a auto, ouvindo todo o povo de Benguela (6), enviando mais tarde para Felipe III a declaração e o auto, para que pudesse bem avaliar do procedimento de Luiz Mendes de Vasconcelos.
Entretanto Manuel Cerveira, que não podia estar inactivo, tendo sabido que se fixara perto de Benguela um chefe jaga, procurou relacionar-se com ele, o que lhe foi fácil pelos conhecimentos já anteriormente estabelecidos nas guerras do interior de Luanda.
Não tendo em vista uma ocupação regular, mas apenas tornar-se temido e respeitado para que não lhe estorvassem a posse das minas de cuja existência estava convencido, era com os assaltos que trazia à obediência os diversos chefes indígenas, e nenhum melhor auxiliar poderia ter que o jaga que se fixara perto de Benguela. Em pouco tempo ele era o seu capitão mor de guerra preta, e por tal forma lhe dispensava a sua confiança, e o encheu de autoridade e prestígio, perante os outros indígenas, que o jaga se convenceu da importância do seu papel, exigindo que o gentio só a ele obedecesse. Quis Manuel Cerveira levá-lo por bons termos a convencer-se da sua situação de simples auxiliar, mas o jaga já se julgava com a força necessária para lhe resistir e, rou¬bando-lhe os escravos que tinham feito, revoltou-se, obrigando Manuel Cerveira a ir atacá-lo, destruindo-lhe a povoação, apoderando-se dos seus haveres e capturando-lhe grande número de indígenas e os escravos que já tinha roubado.
Esta vitória, desfazendo o poderio ao jaga, que todos os indígenas temiam, levaram o Peringue e o Catumbela a pedirem o nosso auxílio para se desembaraçarem dos muximbas (maquimbes) que os atacavam e estavam estabelecidos a três dias de Benguela. Foi com eles Manuel Cerveira e assaltando as libatas dos muximbas, não pôde prender mais que uma velha, porque a gente toda teve tempo de fugir, mas apanhou-lhes mil cabeças de gado vacum e outras tantas ovelhas e carneiros, além de muito mantimento.
A situação em Benguela, a-pesar-da pouca gente branca de que dispunha, estava garantida quanto às relações com os indígenas vizinhos, de quem nada havia a temer, mas não era esse o seu fim, e muito embora fosse enriquecendo com gado, mantimentos e escravos que sempre ia arranjando, a sua ambição era apoderar-se das minas de cobre, precisando para isso muito mais gente, e sobretudo brancos mineiros, pois tinha a intenção de fazer lavra e fundição nas minas.
Se as relações com os indígenas se achavam assim asseguradas, as com os brancos não se tinham modificado, e era permanente a ameaça da revolta contra Manuel Cerveira. Cinco dos seus, entre eles um padre da ordem de S. Francisco e um clérigo preto da terra, aproveitando-se do facto de estar convalescente de uma doença grave, e em que, mesmo assim, determinara para certo dia a morte de um branco que fora sentenciado, foram procurá-lo e pedir-lhe que perdoasse a execução, ao que ele não acedeu. Alquebrado pela doença, cansado da luta que sustentava havia quási três anos, foi fácil aos cinco, atacarem-no, ferirem-no, amarrarem-no e, depois de lhe roubarem tudo, meterem-no a bordo de um batel desmantelado, com um mastro e uma vela velha e rota, e apenas com uma vasilha com água e sem mantimento algum, deixarem-no ir aonde o mar o quisesse levar.
A energia indomável do valente lutador, que o era e dos maiores, fossem quais fossem os seus defeitos, só poderia ser subjugada pela mais repugnante das infâmias, a que o mar se não quis associar, pois a corrente levou o batel até Luanda, donde tiraram, no fim de cinco dias, o corpo quási inanimado de Manuel Cerveira, de que os Padres da Companhia de Jesus tomaram conta e com os seus cuidados reanimaram. Então, e já na posse de toda a sua energia, de toda a sua vontade tenaz e dominadora, ele, sempre com o mesmo pensamento, sempre com a ambição da conquista das minas, escrevia a Felipe III (7) contando o que sofrera, e renovando-lhe o pedido dos reforços de gente e tudo mais de que precisava.
A carta de Manuel Cerveira teve bom acolhimento por parte de Felipe III, como se vê do despacho que lhe foi dado, e igual acolhimento tinham tido outras anteriores, embora se vislumbre um receio de violências, por parte de Manuel Cerveira, para com os indígenas naturais da terra, pois no despacho se lhe manda recomendar trate muito de os domesticar com boas obras e correspondência e principalmente attenda a conversão das almas favorecendo os ministros da Igreja, e procurando que elles cumprâo com suas obrigações e anunciem aquellas gentes o Santo Evangelho com o cuidado e pontualidade que devem, e lembra aos seus ministros escreverem ao Bispo de Angola e Congo para mandar para Benguela sacerdotes a propósito para a cura das almas dos portugueses e conversão do gentio (8).
O reforço pedido por Manuel Cerveira foi enviado, mas não por completo, e apenas 70 homens dos 150 que pedia, e ele, em Luanda, agora hóspede dos Jesuítas, lutando contra uma declarada hostilidade à sua empresa, resolveu por fim sair com a sua expedição, organizada com os poucos recursos de que dispunha, consistindo apenas nos 70 soldados, quási todos rapaces, e sem ter arranjado guerra preta (9), chegando a Benguela a 15 de Agosto de 1620 (10).

Esta partida para Benguela parece que se não fez sem incidente de gravidade, devido talvez a Manuel Cerveira não querer sair sem os recursos que julgava indispensáveis, pelo que o governador o prendeo e embarcou e chegou a Benguela em hú mez, se os padres não forão cõ elle, nã entrara no governo sem guerra, mas os padres apaniguarão tudo (11).

Vê-se, assim, que Manuel Cerveira durante a sua estada em Luanda no Colégio dos. Jesuítas, tratou também de seduzir estes com as promessas das riquezas que tinha em Benguela, e obteve lhe dessem padres para o acompanharem e, possivelmente, foram eles que removeram as dificuldades ocasionadas pelas questões com o Governador em Luanda, como removeram as que se apresentaram para o desembarque de Manuel Cerveira em Benguela, donde não esqueçamos que tinha sido expulso depois de uma revolta dos brancos, que o meteram em um pequeno bote e o deixaram seguir ao sabór da corrente marítima, vindo parar a Luanda.
Conseguiram, pois, os padres jesuítas não se exercerem vinganças de parte a parte, e Manuel Cerveira resolveu partir em descobrimento das minas, levando apenas os 70 rapazes que lhe mandaram, os quais começaram logo a adoecer, não havendo escravos para carregadores da bagagem dos brancos, nem para os serviços do mato.
A 12 de Setembro, já só com sessenta homens, partiu por mar para o porto de Sumbe Ambala, onde desembarcou, pondo-se logo em marcha, e sem atender avisos que o gentio lhe enviava para não avançar, em dia e meio de marchas forçadas, com a força assombrosa da sua vontade, arrastou a sua gente, doente, e mal preparada para a vida em África, até ao sítio das tão desejadas minas. Aí chegados, mandou cavar até tirar três quintais de pedra que sofregamente guardou para mandar a Felipe III, levantando uma cruz no mesmo local, onde deu graças a Deus por lhe ter satisfeito o seu ambicionado desejo. Retirou então, com as necessárias cautelas, embarcando de novo de regresso a Benguela, onde a sua tropa adoeceu, quási todos gravemente, tendo falecido cerca de dezassete, e ele próprio também esteve bastante doente, não obstante a sua resistência.
Melhorando, o seu primeiro cuidado foi regressar a Luanda com as pedras que mandara apanhar, e recolhendo-se ao Colégio dos jesuítas, com eles verificou que entre as pedras havia algumas pequenas com fios de cobre que a cercavão, e feita uma fundição concluíram que o cobre he finíssimo e sê duvida tem ouro e note V. M. q. se no cume do monte á flor da terra as pedras tê cobre, q. fará entrando por ella e dandosse na vea e beta delle, como escrevia o Padre Mateus Cardoso.

(1) Torre do Tombo, livro 3.o de Leis, fls. 16. Anexos, doc. n.° 78.
(2) Idem, livro 35.° de Felipe II, fls. 32 v.°. Idem, n." 79. O autor do Catálogo dos Go-vernadores de Angola e Lopes de Lima dizem que foi nomeado conquistador e povoador do Reino de Benguela além de Governador, transferindo assim para Manuel Cerveira o mesmo título que tinham arranjado para Paulo Dias. Como se vê dos documentos referidos esse título nunca existiu.
(3) Biblioteca Nacional, Secção Ultramarina, Papéis de Angola, caixa 145.a De S. M. a D. Luiz da Silva sobre se enviarê os cavallos a M.el Cerveira Pereira». Anexos, doc. n.° 80.
(4) Biblioteca Nacional, Secção Ultramarina, Angola, 1619, caixa 145. Carta de Manuel Cerveira, de 6 de Março de 1618, a Felipe II, com um apêndice de 2 de Junho do mesmo ano. Anexos, Doc. n.°81. Ver também Luciano Cordeiro, Memórias, onde vem copiado o documento de fls. 53 do cód. 5i-VIII-25 da Biblioteca da Ajuda, Relação da Conquista de Benguela. Na carta acima, Manuel Cerveira diz a Felipe III, depois de lhe descrever a viagem que fez pela costa, para que veja melhor a disposição dela e do que viu até à altura de 15° e meio, lhe manda o roteiro. Este documento muito interessante e a que Luciano Cordeiro se refere, dizendo existir num dos arquivos nacionais, sem o indicar, está na Biblioteca de Évora, cód. CXVI/I.39 n.° 1 onde foi copiado. Anexos, Doc. n.° 82.
(5) Em contrário do que diz o autor do Catálogo, Manuel Cerveira nesta carta refere-se a seis cavalos que trouxe à sua custa, e não a um qualquer dado de presente por Felipe III.
(6) Biblioteca Nacional, Secção ultramarina, Papéis de Angola, caixa 145, Anexos, Docs. n.s 83
(7) Biblioteca Nacional, Secção Ultramarina, Angola, 1619. Manuel Cerveira Pereira. Carta de 24 de Janeiro de 1619. Anexos, Doc. n.° 85.
(8) Biblioteca Nacional, Secção Ultramarina, Angola, 1-619, Despachos de 21-12-1618 e 11-1-1619. Anexos, docs. N.° 86 e 87.
(9) Biblioteca Nacional, Secção Ultramarina, Angola, n.° 29, n.° 26, Carta do Padre Jesuíta Mateus Cardoso para Manuel Severim de Faria. Anexos, doc. n.° 88,
(10) Luciano Cordeiro, Memórias do Ultramar. Relação de Benguela, referida.
(11) Carta do Padre Mateus Cardoso, referida.

N.-  Os anexs citados serão colocados neste blog se houver interesse.

05/03/2012

2 comentários:

  1. Bom dia,
    Creio que seria muito interessante colocar os anexos citados. Gostei do relato- parabéns.-
    Fernando

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  2. Obrigado pela sugestão, mas o problema é que são muito extensos.
    Vou tentar fazer um resumo.

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