terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Do Brasil por Francisco G. de Amorim




CONFITEOR , DEO



Aproxima-se o final do ano. É época de Natal. Os sentimentos se não afloram no coração e mente, aparecem, por vezes muito bonitos e muito frios em alguns cartões de Boas Festas que se mandam por obrigação. Assim mesmo é melhor do o total esquecimento do “outro”.

Uns momentos de solidão, no silêncio, um fixar os olhos além, no horizonte, no infinito, em nada, uma introspecção, um exame de consciência, não custa nada. E é bom.

Muita, muita gente se prepara para o Novo Ano com promessas, previamente falsas e sabidamente a descumprir (sobretudo os políticos), “desejando” que este novo tempo venha consertar tudo quanto temos ajudado a destruir, mas... tudo, tudo mesmo, já esquecido antes da Festa de Reis!

Não é de admirar; é quando aparece o ouro, as riquezas, e as promessas... esquecidas.

Não é admirar porque todos sabemos que cheio de boas intenções está o inferno. No entanto é sempre bom – não tem efeitos colaterais – analisar o tempo que passou, ver o que se fez de errado, ou pouco, e...

De qualquer modo, eu venho fazer um exame de consciência publicamente, já que o blog está à disposição de quem quiser.

Comecemos por ver como vivemos dentro do estabelecido pelas Tábuas da Lei, os Dez Mandamentos!

1 - Amar a Deus sobre todas as coisas! Hhiii...! Quantas vezes tive que colocar uma venda nos olhos de Deus para ficar “amando” um carrão, sei lá, um Jaguar, outro cruzeiro à vela pelo mundo fora, apesar de sempre querer que Deus me acompanhasse. O que, aliás, Ele jamais deixou de fazer!

2 - Não invocar o nome de Deus em vão! Então aqui não há perdão. Até misturamos o nome de Deus com palavrões, como por exemplo, quando vimos um político roubar (um não, a corja quase toda) e exclamamos: “Meus Deus! Olha só o que o f. da p. agora aprontou”!

3 - Guardar domingos e dias de festa! Quem guarda? Quantas vezes trabalhei aos domingos, e até em feriados, e tive subordinados a quem estas tarefas eram fundamentais. A fábrica não podia parar! Bom, mas isso faz tempo, porque agora não faço nada! Talvez por isso não me preocupe com este mandamento

4 - Honrar pai e mãe. Creio que este sempre foi o meu maior ponto de honra. A memória deles ainda hoje me faz sentir mais responsável, e cada dia que passa mais sinto a sua falta, o seu conselho, o seu carinho, o seu exemplo!

5 - Não matarás. Não me recorda de ter morto alguém. Nem à bala, nem atropelamento, nem com veneno. Simplesmente não vou esquecer nunca, de ter dado um tiro de carabina, e pesada - .375 - na perna de um amigo! Mas foi culpa dele. Mas isso não me livra da culpa de pensar que anda por aí muito ser indigno, que precisava de ser transformado em picadinho. Para salsichas!

6 - Guardarás castidade! Aqui o problema complica-se, mas na minha idade este mandamento ... está já bem guardado!

7 - Não roubarás. Pensei, pensei, pensei e, com certeza, alguma vez devo ter roubado alguma coisa. Ah! Sim! Lembro bem; quando tinha os meus dez ou onze anos e voltava do liceu para casa, passava na frente duma minúscula mercearia, que tinha na porta uns sacos com castanhas piladas (secas). Ainda hoje sei bem que roubei umas quantas, e me devem ter ajudado a quebrar algum dente! O merceeiro ou não via ou não se importava, porque nunca reclamou. Saravá, meu amigo merceeiro!

8 - Não levantarás falsos testemunhos. Não, Deus, isso é que de todo creio que não fiz. Posso ter feito julgamentos errados; mas, quem não erra?

9 - Não cobiçarás a mulher do próximo! Outra complicação. Tem cada “avião” sobrevoando por aí... Quem podia olhar para a Sofia Loren e ficar indiferente? E a Brigitte Bardot? E a Marylin, a Silvana Mangano? Fala sério. Se não cometemos adultério, por vezes éramos obrigados a sonhar, deixando a nossa imaginação percorrer os corpos daquelas estátuas de carne! Neste mandamento estou ferrado! E poucos se safam. No entanto, a verdade, é que também nunca tive uma vizinha, boazuda que me tentasse. E... safei-me!

10 - Não cobiçarás o que a outros pertença. Cobiçar, na verdade não cobicei, mas que roí a cabeça por ter sido sempre um idiota, quando tantos bens passaram pelas minhas mãos e de nada me apropriei... Oh! Deus, acho que me podeis dar aqui uma nota baixa.

Por enquanto o descanso eterno está a ficar cada vez mais longe.

Vejamos os pecados ditos capitais:

- Ira: Senhor! Eu fico irado com tanta malandragem que nos rodeia, que rouba, que maltrata o menor, em idade ou situação econômica, que abusa do poder, que corrompe ou se deixa corromper, que vendem armas, drogas e abusam as empresas farmacêuticas fazendo os habitantes dos países pobres a servirem de cobaias, a todos os que... colaboram conscientemente na destruição do mundo; se ira é um pecado, confiteor Deo...

- Gula: este também é um pecado lixado! Quantas vezes comi demais, porque me apresentavam cada petisco... Não, Senhor, na altura não podia compartilhar com outrém que tivesse fome. Não estavam a meu lado. Se estivessem, Senhor, Tu que tudo vês sabes que eu até teria comido menos do que o necessário. Mas naquelas horas, quando nos põem debaixo do nariz um ensopado de cabrito a fumegar, ou a caldeirada do meu amigo Alberto, ou uma bacalhauzada no restaurante de outro amigo, o Pereira, não há quem não caia na gula. E a nossa feijoada brasileira??? Confiteor...

- Inveja. Inveja não tive, mas como atrás digo, algum, vago, arrependimento pelo que poderia ter feito melhor. Não fiz.

- Orgulho: Até hoje, velho, nem sei bem o que é o orgulho. Fazemos algo bem feito e se somos cumprimentados ou elogiados, o nosso ego... ri de satisfação. Será isso orgulho? Se for, já me aconteceu muitas vezes, mas foi “doença” que rápido se desvaneceu.

- Avareza: nessa não caí. Odeio avarentos, mãos de vaca, prestamistas, bancos, agiotas, investidores ou aplicadores de fortunas em jogo financeiro, corruptores, etc.

- Preguiça: aahhh! Estou cada vez mais preguiçoso! As forças vão fugindo, o corpo obedece com dificuldade, e... ficar na cama mais uns minutinhos... Quando era novo, não! Este pecadilho chegou tarde!

- Luxúria. Também não será por esta porta que vou enfrentar o famigerado Lúcifer. Nunca estive nessas bacanais que hoje são cada vez mais freqüentes, não xinguei nem maltratei nenhum subordinado. Nessa da luxúria, estou fora.

Chegamos finalmente aos chamados pecados veniais, que são tratados, como dizem nuestros hermanos, como pecadillos. Não são pecados graves. Mas por exemplo, o pecado da omissão; se a gente se omite sempre, se deixa a banditagem pôr-nos, a toda a hora, o pé na cabeça, ou se a vê fazer o mesmo a outros, sem intervir, aqui o venial passa a ser pecado covardal.

Não sei qual será a minha “nota” quando enfrentar, primeiro o São Pedro, e, se conseguir “levar este bom homem no papo”, depois a Deus.

Mas alguma coisa ainda sei: não vou deixar de lutar, e sempre me manifestar contra a vergonha dos poderosos. Se possível com cada vez mais violência.

Que Deus me perdoe.



21 dez. 10

Um comentário:

  1. Amigo Francisco, boa reflexão. É sempre uma boa hora para afinar a alma e a sua prosa consegue fazê-lo com mestria. Mas se me permite, eu só alteraria uma única palavra: no penúltimo parágrafo, trocaria o "mais" pelo "menos".

    Com votos de muita Paz neste Natal e no novo ano que se aproxima. Nestes e nos próximos.

    Aquele Abraço,
    Luis Santos

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