.
Do Brasil de antigamente
e hodierno
Que me perdoem os fãs e obstrusos, mas, graça a Dio, pouco nos falta para nos livrarmos do ceguinho à corrupção, o falastrão ignorante, que durante oito anos dividiu o país pelos apaniguados.
O que vem a seguir pode ser uma “pororoca”! Para melhor? Para pior? Esperamos estar por aqui para ver e, quando oportuno, comentar.
Há muita gente, parece que a começar pelos cariocas, que chama de “cabeça chata” ao cearense, a maioria das vezes imigrante, quantas vezes ignorante e sempre humilde e bom trabalhador, apesar de entre estes, muitos terem alcançado, por méritos próprios e fora da politicagem, lugares de relevo na vida brasileira. Não vou procurar enumerá-los porque sempre ficaria em dívida com muitos. Mas... quem sabe a origem dos “cabeças chatas”?
Creio que o soube Francisco Gomes de Amorim, como o explica no famoso II volume do Cedro Vermelho – 1874:
“Cambebas são os netos dos antigos omaguas. Omagua quer dizer, em língua peruviana, cabeça chata, porque em pequenos lhes achatavam o crânio. Foram índios emigrados do Peru que desceram o Amazonas e ali fixaram residência.”
Segundo cronistas do século XVII estes omaguas tinham a cabeça em formato de cone! Devido ao contato com europeus e às doenças a que não tinham imunidade, os Omaguas foram enfraquecendo e desaparecendo, tendo morrido o último em 1779.
Porque não citar também Varnhagen, sobre os tupinambás:
N’uma ocasião em que todos os índios empregados na casa Carmello & Barros iam fugir, roubando os negociantes e a mim, vi-me obrigado a usar de várias manhas a fim de os poder prender; mas depois de metidos na cadeia, achou-se apenas um soldado disponível para os guardar, e eu tive que ficar por vezes de sentinela, enquanto ele dormia, e de levar de comer aos presos para que não morressem de fome! Por fim, soltei-os para me livrar de trabalhos.
“Não só falavam dialetos idênticos, como em geral se denominavam a si quase sempre do mesmo modo: Tupinambá. Se no Maranhão como no Pará, na Bahia como no Rio, houvésseis perguntado a um índio de que nação era, responder-vos-ia logo: Tupinambá. Parece pois que Tupinambá se chamava o primeiro tronco nacional, donde se tinham separado todos aqueles ramos, garfos e esgalhos, que apesar de se produzirem em terras distantes das em que se haviam plantado, não mudavam de nome. Acerca porém do vocábulo Tupinambá tem-se até tratado pouco. Esta palavra é composta de duas: Tupi e Mbá. A última deixava-se de acrescentar desde que cessava a liga ou amizade, e que a nação se fracionava. Se se declaravam logo inimigos, a alcunha menos injuriosa com que se podiam ficar mutuamente designando era a de Tupi-n-aem, isto é, Tupis maus, perversos.(Serão os tupinambarana?) Se não ficavam em desinteligência, faziam-se cortesia em que se apelidavam de Tupi-n-ikis; isto é tupis vizinhos, contíguos ou limítrofes. Mbá significava o mesmo que varão ilustre ou guerreiro; e este título não concediam, tal era a sua vaidade, se não a si mesmo.” (História Geral do Brazil - Varnhagen)
Só para encerrar este assunto, Tupi, parece derivar de Tu-upy, o pai supremo, o primitivo.
Seguindo para os antípodas, no Japão, por lá se dá algo no mesmo tipo, no que se refere a “chefes”: Hirohito!
Hirohito, segundo Wenceslau de Morais, virá de erai-hito, que significa importante senhor! Aliás o Japão tem nomes curiosos. Por exemplo os Tin-Tins. Para o ocidente só há um Tin Tin, personagem maravilhosa, de encanto, criada pelo imortal Hergé. Mas lá pelas bandas de Cipangu, como lhe chamou Marco Polo, os Tin-tins são, ou eram aqueles homens que vendiam de tudo, usado, tudo mesmo desde, aproveitáveis a imprestáveis!
Deixemos o Japão em paz e voltemos à nossa Amazônia, e ao mesmo livro de FGA. Não esqueçamos que estamos em 1840!
“Estar de sentinela à cadeia e não haver outro para o substituir! Quando eu estive em Alenquer acontecia isto com freqüência. Não me lembro da organização que ali tinha nesse tempo a polícia (o livro é escrito trinta anos mais tarde), mas recordo perfeitamente de que era como se não houvesse nenhuma. Os soldados encarregados de manter a ordem pública, eram tapuios, uns naturais da vila, outros das vizinhanças, e talvez que a maior parte de arribação. Como era natural, todos eles tratavam o serviço como o dos patrões: fugiam, mudavam de nome, largavam a sentinela para ir cear com a família; e se apertavam muito com eles, soltavam os presos confiados à sua guarda e iam-se embora todos juntos. Era uma verdadeira patuscada, que o coronel Duarte lutou muito tempo para reformar, e penso que conseguiu por fim, depois da minha partida.
Alenquer, hoje! Lá... nas belezas da Amazônia
Não se julgue porém que Alenquer fosse um viveiro de crimes. Durante os dois anos que lá residi houve um só caso grave, entre índios mansos, que se esfaquearam horrivelmente; e isso mesmo não foi dentro da povoação.”
Hoje as cadeias de todo o país estão superlotadas e volta e meia, aliás com (in)razoável freqüência há até presos de alta periculosidade que saem delas, pela porta da frente, tendo ainda um carro de luxo para os levar embora! Isto passados só cento e setenta anos!!! E não é na Amazônia, em Alenquer. É nas cadeias “especiais”!
É a evolução!
16-dez-10
Fiquei contente, Francisco, pela postagem da foto de pequena Alenquer (do Pará). Reler essas passagens do Gomes de Amorim é sempre um deleite para nós.
ResponderExcluira) LUIZ ISMAELINO VALENTE
Belém do Pará
Gomes de Amorim
ResponderExcluirMinha família Cardoso Monteiro e Burlamaqui tiveram duas gerações em Alenquer , dado que estou a fazer junto com Roberto Mesquita ( de alenquer ) um estudo sobre a família Burlamaqui gostaria de obter informações sobre esta passagem de Gomes de Amorim em 1840 por Alenquer . Sou muito amigo de da família de Francisco Loureiro , já falecido em Lisboa e que parece-me familiar do lado Gomes de Amorim.
Qualquer notícia meu email sampaiomauro4@sapo.pt
cumprimentos