domingo, 14 de novembro de 2010

Cronica (sem assento) nr. 6

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Cronica nr. 6 
 
(sem assento)

Extra !
 

Há dias, dois amigos, “jovens” ligeramente mais velhos do que eu (!), encontraram-se e, falando calmamente, diz um deles:
“Ainda bem que te encontro. Tenho uma história ótima para te contar”.
“Então conta lá.”
“Olha! Já me esqueci.”
“Então conta outra que essa eu já conheço.”
Foi o que aconteceu comigo, esquecendo de narrar ainda alguns considerandos lusos, que parecem importantes sobretudo para os portugueses em geral, lisboetas em especial e para os incautos turistas.
Com o imenso aumento de tráfego nas estradas – de todo o mundo – e com a redefinição de vias de trânsito nas cidades (mão única, por exemplo) um pobre turista que queira conduzir em Portugal, ou segue os conselhos dum GPS, ou está perdido.
Para quem fala português o GPS é bem convincente quando, por exemplo, informa com fala compassada: “A du-zen-tos me-tros saia na saída!” Que beleza. Manda-nos sair na saída, mesmo que a nossa intenção seja “entrar” na próxima povoação! Mas está certo: se é para sair que seja na saída.
Mas quando não se tem GPS e se quer ir, por exemplo, de Vila Franca de Xira para Oeiras. Ou do Rossio para atravessar a ponte Vasco da Gama. Tudo nos é indicado por siglas: “Siga em frente até encontrar a A 3, depois vire na CREL 2 e siga as placas que indicam Oeiras.” E aí vamos nós, espertos, até entrar na tal da CREL e, atentamente, lendo todas as placas, fixando aquelas que indicam “Oeiras”. De repente não tem mais placas com “Oeiras”. Pronto já passamos! Saímos na primeira “saída” e fomos cair dentro de Amadora! Meio perdidos lá nos indicam uma direção a seguir. Queluz! Aqui estava um guarda de trânsito que então nos indicou: “Siga por esta estrada, vire na primeira à direita e volte a entrar na CREL, sentido Cascaes!” Voltámos à Crel, mas indicar Oeiras é que nada! Depois de mais alguma luta, finalmente chegámos ao nosso destino.
Para atravessar a Ponte Vasco da Gama, saindo da Baixa de Lisboa é que são elas. “Vai até Braço de Prata. Cruza a IP 33 e pega a faixa da esquerda. Mais adiante tem uma bifurcação (bifurcação, não, trifurcação, no mínimo) e não entra na da esquerda, nem do centro, mas na direita. Passa por baixo dum viaduto até ver uma placa que indica IP 27. Não entra nessa. Depois...” Depois cheguei a Sacavém, e cada vez que perguntava a um outro motorista o caminho para a Ponte, sempre ficavam com cara de espanto, porque quase sempre era... para trás. E ao ir dar a volta para trás, láaa bem adiante, já não tinha placa de Ponte nem de CREL nem Kril. Foi um sufoco chegar a essa Ponte, que é uma bela obra de arte.
Moral da história: Portugal é para quem já conhece!
Por fim valeu a pena porque se entra no Além Tejo, mesmo que no princípio seja só Riba Tejo. Bonito.
Outro hábito, triste e pouco saudável, é o tabaco. Como agora é proibido fumar dentro de estabelecimentos sem condições especiais de extração da fumaça, toda a gente vai fumar na rua. Puxa as últimas baforadas do “auxiliar de câncer de pulmão” e joga a beata no chão. Resultado: as ruas estão a ficar amarelas, tal a enormidade de quantidade de beatas que jazem pelo chão daquelas cidades, sobretudo Lisboa, que sempre tiveram orgulho da sua limpeza. E, segundo as estatísticas, enquanto diminui o número de homens que deixam de fumar, aumenta o de mulheres! Já pensou o que é beijar uma garotinha toda lindona e levar nas ventas uma baforada de cigarro mal cheiroso!
Mas tudo tem a sua compensação.
O trânsito é complicado, as estradas são para quem as conhece, o fumo é uma desgraça, mas a comidinha e o vinho... Ah! Isso é inigualável. Não há melhor em parte alguma.
Já falei nisto numa das outras crônicas, mas não é só o coração que sofre com as saudades; é também o estômago!
Experimentem, por exemplo um Coelho à Caçador, na Tasca do Coelho em Alcarabiça, Borba, e acompanhem este petisco sem igual com um tinto Reserva da Adega Cooperativa de Borba (75% de casta Trincadeira)!
Acompanhem o tal bacalhau do Pereira, (o melhor do planeta!) com uma garrafa de tinto Praça Velha, Garrafeira da Cova da Beira, Reserva de 2006, numerada... é coisa que, além de muitas outras, quase faz chorar de saudade.
E que tal um Ramisco da Adega Regional de Colares, dificílimo de encontrar, Reserva de 2002? O Ramisco sempre foi, para mim, o melhor vinho do mundo. Está a sumir, escorraçado por bairros e mais prédios, porque está perto de Lisboa. Não sobram mais do que 20 hectares desta preciosidade, e é a única casta no mundo a quem, até hoje, a famigerada Filoxera não conseguiu atacar! Continua a ser produzido artesanalmente, como desde sempre. Ainda lembro do meu avô ir todos os anos comprar este vinho a um comerciante nas Azenhas do Mar, vinho esse que ia para a adega da Quinta de Sintra, sempre muito fresca e de temperatura constante, esperar 10 anos para ser bebido!
E ainda dessa região resta outro sobrevivente: um Malvasia branco para acompanhar um bom pargo assado no forno!
Bem, se ficar aqui a falar de vinhos ainda me arrisco a dizer umas tantas asneiras. O melhor é consultarem o blog de quem sabe tudo (ou quase) destes néctares – http://mariajoaodealmeida.clix.pt/, e se alguém tiver um portador para o Rio... mande-me uma garrafinha!
Afinal, mesmo que um ignorante, como eu, se engane numa CREL, ali por perto sempre encontrará uma tasca com ótima comida e ótimo vinho, talvez com mesa na esplanada, no passeio da rua, apreciando o clima e a refeição, e afastado dos incômodos e futuros concerosos do tabaco!

P.S.- Não esqueçam a Caldeirada de Peixe ou as Ameijoas à Bulhão Pato! E do Alvarinho.
Chega de fazer sofrer...

14-nov-10

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