segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Escrito há mais de cem anos, continua a ser uma beleza


HINO DE AMOR

Andava um dia
Em pequenino
Nos arredores
De Nazaré,
Em companhia
De São José,
O bom Jesus,
O Deus Menino.
Eis senão quando
Vê num silvado
Andar piando
Arrepiado
E esvoaçando
Um rouxinol,
Que uma serpente
De olhar de luz
Resplandecente
Como a do Sol,
E penetrante
Como diamante,
Tinha atraído,
Tinha encantado.
Jesus, doído
Do desgraçado
Do passarinho,
Sai do caminho,
Corre apressado,
Quebra o encanto,
Foge a serpente,
E de repente
O pobrezinho,
Salvo e contente,
Rompe num canto
Tão requebrado,
Ou antes pranto
Tão soluçado,
Tão repassado
De gratidão,
De uma alegria,
Uma expansão,
Uma veemência,
Uma expressão,
Uma cadência,
Que comovia
O coração!
Jesus caminha
No seu passeio,
E a avezinha
Continuando
No seu gorjeio
Enquanto o via;
De vez em quando
Lá lhe passava
A dianteira
E mal poisava,
Não afroixava
Nem repetia,
Que redobrava
De melodia!
Assim foi indo
E foi seguindo.
De tal maneira,
Que noite e dia
Numa palmeira,
Que havia perto
Donde morava
Nosso Senhor
Em pequenino
(Era já certo)
Ela lá estava
A pobre ave
Cantando o hino
Terno e suave
Do seu amor
Ao Salvador!


João de Deus (1830-196)



quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Deixemos um pouco as saudades de Lisboa e arredores...

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A BABILÓNIA

(Este texto, escrito em Setembro de 2000, vem novamente a propósito sobre o desentendimento (?) entre bancos ladrões e trabalhadores enganados.
Os governantes continuam a fazer ouvidos de babel, mas os comparsas...)

Apesar das controvérsias sobre o significado da palavra Babilónia, a verdade é que hoje quando alguém diz isto é uma babilónia¸ está a dizer que isto é uma confusão, uma bagunça, onde ninguém se entende.
Há quem atribua a origem da palavra a Bab-ili, que seria a Porta de Deus. Seja como for também o Génesis diz que foi por causa da Torre de Babel que Deus acabou pondo cada homem a falar a sua língua, para que não se entendendo se dispersassem, e não insistissem na teimosia de querer chegar ao céu através da tal torre.
Mais tarde apareceram os línguas, os poliglotas, os tradutores, os dicionários, tudo para ver se homens, que teimam em não se entenderem, pelo menos imaginam o que os seus semelhantes querem dizer, ou mais profundamente, o que estão a pensar!
Consta agora que pela União Européia vai uma baita babilónia com o gravissimo problema da venda do passe dos jogadores de futebol, quando terminado um contrato!
Os governos todos empenhados nisso, ministros, embaixadores, juristas, enfim um enxame de gananciosos à procura de uma lei que lhes permita mamarem mais alguma grana com os pés dos virtuosos da bola! Não dá para acreditar que se mobilize tanta gente importante por causa do futebol.
O mais babilónico de tudo isto é que ninguém está preocupado com o jogador, não. É na entrada de divisas no seus país, quando não tarda nada acabam as tais divisas, na Europa.
Mais babilónico ainda é o assistirmos, há milhares de anos, a congressos, senados e diversos outros conjuntos de gente que se reúnem para fazerem leis, sabendo de antemão que essas leis têm como finalidade primária o interesse dos poderosos.
Tempos houve, e ainda há num ou outro canto deste planeta global, em que o pobre nem sequer podia levantar a cara e olhar nos olhos do chefe! Era lei.
Tempos há em que as leis são iguais para todos, mas todo o mundo sabe que há uns todos que são mais do que os outros todos!
Nos processos jurídicos é tal a babel, que se faltar uma vírgula no texto, o outro, se for pobre, pode até nem ser condenado, mesmo que tenha sido flagrado a roubar, matar, estuprar. Rico então... para quê o texto?
No Brasil Deus juntou emigrantes de quase todos os cantos do mundo. Os primeiros a emigrarem lá donde tenha sido, foram os que se convencionou chamar-se de índios, depois vieram os portugueses, e meia dúzia de franceses, a seguir levas infindas de africanos, holandeses, e por fim italianos, alemães, espanhóis, japoneses, coreanos, chineses, hindus, palestinos, libaneses, turcos, árabes, e os outros etc. todos.
Esse povo, trabalhador, desbabelizou-se num instante, e contribuiu para o progresso do país. Os outros, os que vão para a administração pública, salvo honradas e ignotas exceções, babelizam-se e não entendem mais a vox popula.
Neste país, como em toda a parte do mundo, há que pagar impostos. Muitos impostos. Imensos impostos. Injustos impostos. Quem paga a maioria deles somos nós. Os outros fazem ouvidos de... babel.
Um deles é o Imposto de Renda, que se vai depositando ao longo do ano. Quando por fim o cidadão, o comum, apresenta a sua declaração, pode ter direito a restituição.
O japonês, um dos povos com mais dificuldade a aprender português, em terra estranha muitas vezes permanece fechado no círculo da família onde a sua língua original é falada quase em exclusivo. Só os filhos, nascidos ou criados no Brasil, vão para casa a falar a língua dos coleguinhas de escola e assim o português, lentamente, vai repondo as línguas dos emigrantes.

Vovô Takashiro fez a sua declaração anual do imposto de renda. E aguardou. Tempo passado, falando pouco mais que japonês, sem receber resposta da receita federal, foi a uma das suas repartições saber se tinha direito a receber de volta algum trocadinho que lhe fazia falta.
Dirigiu-se a uma funcionária e:
- Eu Takashiro Kakombi.
- O que o senhor deseja?
- Fukhyu? Fukhyu?
A funcionária, dona Violante, que não sabia muito de inglês mas estava cansada de ver estas educadas palavras nos filmes americanos que passam na tv, ficou... p. da vida! Foi chamar o chefe.
O chefe olhou para ele, ar grave, e Takashiro, calmo, sorriso amarelo e enrugado, voltou a repetir
- Fukhyu? Fukhyu?
Escândalo. Polícia. Delegacia. Takashiro, sem entender nada do que se passava. O delegado mandou chamar alguém da família dele, que chegou horrorizada por ver seu honrado chefe de família quase trancafiado no meio dos bandidos.
- Seu delegado, o que fazer meu honrado pai?
Delegado, constrangido (delegado constrangido?) lá explicou o que se passara na repartição da receita federal, quando seu Takashiro insultara a dona Violante.
- Oh! Seu delegado! Meu honrado pai não falar bem poruguês. Esse palavra feio a inglês, no Japão querer dizer restituição! Ele só querer saber se tinha restituição do IR.
Nessa altura dona Violante foi consultar a ficha dele e aproveitou para se vingar:
- Fukhyu.
- Como?
- Em inglês. Não tem!

11 set 2000

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

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Cronica nr. 7

 
Resquícios Lisboetas !





Como dizia o grande Solnado, “palavra puxa grunhido, grunhido puxa palavra”, e a verdade é que continua a vir-me à cabeça a estadia em Lisboa. Até parece que foi a primeira vez que ali estive. Mas...
Ficámos num hotel na rua Castilho, como já contei, com uma bela vista sobre parte de Lisboa, e à noite demos ali à volta alguns passeios a pé.
Fui ver, por fora, a casa em que morei com os meus pais aí por 1936, uma esquina da rua Pe. António Vieira com a Rodrigo da Fonseca, e no cimo da rua Castilho a ex-Cadeia Penitenciária, abandonada, que, em Dezembro de 2006, foi alvo duma inescrupulosa vigarice do (des)governo do sr. sócrates, quando pensou que todos os portugueses eram burros, e vendeu a Penitenciária, do Estado, a uma pseudo empresa pública, do Estado, para tentar esconder o descalabro que desde há muito vinham apresentando as contas públicas. E parece que até hoje ninguém sabe o que fazer com aquele complexo, mas que vai dar, ou já deu, uma grande negociata, com os amigalhaços, disso ninguém tenha dúvida. Enfim! Depois descontam nos trabalhadores e aposentados!
Mas voltemos à Penitenciária, desta vez em 1919!
Nessa altura alguns monárquicos ainda sonhavam com a restauração da monarquia, e houve uma revolução. Foi a chamada “Monarquia do Norte” comandada por Paiva Couceiro, uma das grandes figuras da história de Portugal do final do século XIX. Uma revoluçãozinha. À moda portuguesa.
Em Lisboa a revolução foi liderada por Aires Dornellas e João de Azevedo Coutinho, outros dois heróis nacionais, monárquicos até à medula, mas não durou mais do que cinco dias! Capitularam perante os republicanos e foram todos “engavetados” nesta Penitenciária.
Eu tenho um livro de autógrafos, que foi do meu bisavô, e que entrou na Penitenciária, até porque também fora preso um sobrinho do meu avô, e é hoje um prazer ler as assinaturas de quase todos os oficiais envolvidos, muitos deles antepassados de amigos e até mesmo de alguns dos meus netos!
Todos, por baixo dos seus nomes, acrescentaram “ex-T.Cel. de Artilharia”, ou “ex-Cap. de Cavalaria”, etc., e muitos deles ainda escrevam “na Cadeia Penitenciária”!
E lá vêm os nomes:
- João de Azevedo Coutinho – Penitenciária de Lisboa – Dia da Paz – 12 Julho 1919 (nesta altura ainda Capitão de Fragata porque se retirara da Marinha na implantação da República!)
- Ayres d’Ornellas – Penitenciária de Lisboa – 12 Julho 1919
- João de Vasconcellos e Sá – ex-major de Cavalaria – Penitenciária... – 18/7/919
- Álvaro César de Mendonça – 12-VII-919
- Augusto Mateus (?) da Costa Veiga – Te.Cel.Eng. ... ?
- Alberto de Almeida Teixeira – ex-Tenente Cel de Artª, com.te do grupo de artª ... ?
- Carlos Maria Sepulveda Velloso – Ex-Com.te do G.E. de L.N (?)
- Antonio Lobo de Portugal e Vasconcelos – ex-cap. de cav. da guarda
- Hermillo Pereira Prostes da Fonseca – cap cav.
- Guilherme Street d’Arriaga e Cunha (Carnide) – ten mil. d’Engª
- João da Cunha Monteiro – te.te milº d’artª a pé
- José Ferreira Lima – of. demitido do reg.to de cav. 4
- Theofilo Duarte – ten. cav. 7
- José Manuel Figueira Freire – capitão de cavalaria
- Jaques...(?) Sena ... (?) – alf. m. d’arta
- Antonio Agus.to Parreira – ex-Capitão de Lanceiros 2
- Antonio Lobo Antunes – Capitão de Cavalaria
- Conde de Arrochella – ex deputado por Lisboa
- Fernando Cortez (?) Sampayo e Mello –
- José (Madeira ?) de Almeida
- José Augusto (?) de Almeida
- Gonçalo Casimiro Murgueira
- Jorge Ribeiro
Onde está (?) é porque não se conseguiu decifrar corretamente o nome intermédio na assinatura.
E aqui está uma lista dos monárquicos... perdedores, que algumas semanas mais tarde seriam anistiados. Alguns decidiram exilar-se e só voltaram a Portugal depois que foi declarada a anistia geral, em 1925.
A João de Azevedo Coutinho foram-lhe mais tarde reconhecidas todas as suas ações militares e administrativas, reintegrado na Marinha e promovido a vice Almirante honorário.
Todos estes passeios por Lisboa, trazem memórias, sem esquecer as “Quentes e boas”, aquelas maravilhosas castanhas assadas embrulhadas em higiênico papel de jornal (!), que nesta época do ano se vendem nas ruas de Lisboa, e quando eu era jovem custava, cada embrulhinho, cincoenta centavos ou um escudo e agora custam um euro! Só 200 vezes mais!

19-nov-10

domingo, 14 de novembro de 2010

Cronica (sem assento) nr. 6

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Cronica nr. 6 
 
(sem assento)

Extra !
 

Há dias, dois amigos, “jovens” ligeramente mais velhos do que eu (!), encontraram-se e, falando calmamente, diz um deles:
“Ainda bem que te encontro. Tenho uma história ótima para te contar”.
“Então conta lá.”
“Olha! Já me esqueci.”
“Então conta outra que essa eu já conheço.”
Foi o que aconteceu comigo, esquecendo de narrar ainda alguns considerandos lusos, que parecem importantes sobretudo para os portugueses em geral, lisboetas em especial e para os incautos turistas.
Com o imenso aumento de tráfego nas estradas – de todo o mundo – e com a redefinição de vias de trânsito nas cidades (mão única, por exemplo) um pobre turista que queira conduzir em Portugal, ou segue os conselhos dum GPS, ou está perdido.
Para quem fala português o GPS é bem convincente quando, por exemplo, informa com fala compassada: “A du-zen-tos me-tros saia na saída!” Que beleza. Manda-nos sair na saída, mesmo que a nossa intenção seja “entrar” na próxima povoação! Mas está certo: se é para sair que seja na saída.
Mas quando não se tem GPS e se quer ir, por exemplo, de Vila Franca de Xira para Oeiras. Ou do Rossio para atravessar a ponte Vasco da Gama. Tudo nos é indicado por siglas: “Siga em frente até encontrar a A 3, depois vire na CREL 2 e siga as placas que indicam Oeiras.” E aí vamos nós, espertos, até entrar na tal da CREL e, atentamente, lendo todas as placas, fixando aquelas que indicam “Oeiras”. De repente não tem mais placas com “Oeiras”. Pronto já passamos! Saímos na primeira “saída” e fomos cair dentro de Amadora! Meio perdidos lá nos indicam uma direção a seguir. Queluz! Aqui estava um guarda de trânsito que então nos indicou: “Siga por esta estrada, vire na primeira à direita e volte a entrar na CREL, sentido Cascaes!” Voltámos à Crel, mas indicar Oeiras é que nada! Depois de mais alguma luta, finalmente chegámos ao nosso destino.
Para atravessar a Ponte Vasco da Gama, saindo da Baixa de Lisboa é que são elas. “Vai até Braço de Prata. Cruza a IP 33 e pega a faixa da esquerda. Mais adiante tem uma bifurcação (bifurcação, não, trifurcação, no mínimo) e não entra na da esquerda, nem do centro, mas na direita. Passa por baixo dum viaduto até ver uma placa que indica IP 27. Não entra nessa. Depois...” Depois cheguei a Sacavém, e cada vez que perguntava a um outro motorista o caminho para a Ponte, sempre ficavam com cara de espanto, porque quase sempre era... para trás. E ao ir dar a volta para trás, láaa bem adiante, já não tinha placa de Ponte nem de CREL nem Kril. Foi um sufoco chegar a essa Ponte, que é uma bela obra de arte.
Moral da história: Portugal é para quem já conhece!
Por fim valeu a pena porque se entra no Além Tejo, mesmo que no princípio seja só Riba Tejo. Bonito.
Outro hábito, triste e pouco saudável, é o tabaco. Como agora é proibido fumar dentro de estabelecimentos sem condições especiais de extração da fumaça, toda a gente vai fumar na rua. Puxa as últimas baforadas do “auxiliar de câncer de pulmão” e joga a beata no chão. Resultado: as ruas estão a ficar amarelas, tal a enormidade de quantidade de beatas que jazem pelo chão daquelas cidades, sobretudo Lisboa, que sempre tiveram orgulho da sua limpeza. E, segundo as estatísticas, enquanto diminui o número de homens que deixam de fumar, aumenta o de mulheres! Já pensou o que é beijar uma garotinha toda lindona e levar nas ventas uma baforada de cigarro mal cheiroso!
Mas tudo tem a sua compensação.
O trânsito é complicado, as estradas são para quem as conhece, o fumo é uma desgraça, mas a comidinha e o vinho... Ah! Isso é inigualável. Não há melhor em parte alguma.
Já falei nisto numa das outras crônicas, mas não é só o coração que sofre com as saudades; é também o estômago!
Experimentem, por exemplo um Coelho à Caçador, na Tasca do Coelho em Alcarabiça, Borba, e acompanhem este petisco sem igual com um tinto Reserva da Adega Cooperativa de Borba (75% de casta Trincadeira)!
Acompanhem o tal bacalhau do Pereira, (o melhor do planeta!) com uma garrafa de tinto Praça Velha, Garrafeira da Cova da Beira, Reserva de 2006, numerada... é coisa que, além de muitas outras, quase faz chorar de saudade.
E que tal um Ramisco da Adega Regional de Colares, dificílimo de encontrar, Reserva de 2002? O Ramisco sempre foi, para mim, o melhor vinho do mundo. Está a sumir, escorraçado por bairros e mais prédios, porque está perto de Lisboa. Não sobram mais do que 20 hectares desta preciosidade, e é a única casta no mundo a quem, até hoje, a famigerada Filoxera não conseguiu atacar! Continua a ser produzido artesanalmente, como desde sempre. Ainda lembro do meu avô ir todos os anos comprar este vinho a um comerciante nas Azenhas do Mar, vinho esse que ia para a adega da Quinta de Sintra, sempre muito fresca e de temperatura constante, esperar 10 anos para ser bebido!
E ainda dessa região resta outro sobrevivente: um Malvasia branco para acompanhar um bom pargo assado no forno!
Bem, se ficar aqui a falar de vinhos ainda me arrisco a dizer umas tantas asneiras. O melhor é consultarem o blog de quem sabe tudo (ou quase) destes néctares – http://mariajoaodealmeida.clix.pt/, e se alguém tiver um portador para o Rio... mande-me uma garrafinha!
Afinal, mesmo que um ignorante, como eu, se engane numa CREL, ali por perto sempre encontrará uma tasca com ótima comida e ótimo vinho, talvez com mesa na esplanada, no passeio da rua, apreciando o clima e a refeição, e afastado dos incômodos e futuros concerosos do tabaco!

P.S.- Não esqueçam a Caldeirada de Peixe ou as Ameijoas à Bulhão Pato! E do Alvarinho.
Chega de fazer sofrer...

14-nov-10

quarta-feira, 10 de novembro de 2010


Crónicas ou Crônicas

Portucalenses

- 5ª e última -

(desanimado e saudoso!)

...

Tinha reservado esta última crônica para falar da família, dos amigos, daqueles que, enfim, nos levaram a Portugal.
Mas ao ler, todos os dias, o jornal da manhã, e ver as barbaridades que se cometem neste lindo Brasil, um frenesi me percorre, e o desabafo, somente nestas linhas, é mais forte, quase, do que as saudades!
Há dois dias o jornal dizia que o chefe do MST, o tal movimento de bandoleiros pagos com dinheiro do governo que invadem e arrasam fazendas, matam gado de concurso que vale fortunas, destroem a floresta porque “precisam” de plantar alimentos, destroem também equipamento agrícola e laboratórios de pesquisa florestal porque não gera batatas ou couves, tudo isto com o beneplácito e dinheiro do governo, vai ser condecorado com a Medalha de Mérito Legislativo!
Isto nem absurdo é. Não tem qualificação esta atitude covarde dum governo com medo e sócio desta gente, a quem paga para obter votos, e ainda os condecora! Meus Deus!
E ontem, a madama dona primeira futura presidenta, ao tomar conhecimento de que, segundo a ONU, o Brasil em termos de educação está igual ao Zimbabwe, o país africano com o pior IDH (Indíce de Desenvolvimento Humano) do mundo, também teve o desplante - ou a ignorância? – de dizer que a educação não é das suas prioridades, pois “já está muito bem encaminhada”!

Pobre país, tão rico e tão pobre de inteligência e seriedade. A riqueza é para ser roubada e a ignorância para votar na ignorância!

Voltemos a Portugal.

Rever os irmãos e os amigos, alguns com 90 anos e de ótima saúde, outros menos bem, muitos com oitenta e bastante, a maioria rondando as oito décadas, estar com companheiros da escola primária com quem mantivemos toda a vida uma profunda amizade, onde a conversa parece não acabar num almoço que demora mais de seis horas, lembrando professores bons e aquela horrível “menina de sete olhos” com que todos fomos “acariciados”, um nunca mais acabar de recordar, até sermos corridos do restaurante, é uma benção.
Um colega de estudos fez, de carro, mais de mil quilômetros para nos vermos, e procurarmos saber daqueles que ainda estão vivos dos que terminaram o curso conosco, e são já menos de um terço! Outro foi de Madrid para lembrar os tempos de sempre, desde talvez 1936, de Angola e até lá de Madrid, onde assisti à última corrida de touros em 1977! Para encontrar um outro fui eu que fiz mais de quinhentos quilometros, fora as inúmeras voltas dadas em Lisboa e arredores para não deixar de ver um só deles.
Mas, às duas por três, as forças começaram a fraquejar e não pude cumprir com o que tanto desejava; alguns tiveram que ficar para a próxima vez, se... essa próxima vier a acontecer!
Estar com os irmãos e os primos irmãos de ambos os lados da família é sempre uma experiência única! Contam-se histórias dos pais e tios, algumas que nos fazem chorar a rir, maluqueiras da mocidade, rirmos também, em vez de chorar, com as histórias daqueles que já se foram, nos deixaram a alma menor, mas não saem dos nossos corações. Recordar os momentos alegres da vida faz-nos rejuvenescer.
Encontrar a amiga e vizinha de infância na rua das Trinas, que mais tarde foi também nossa vizinha em Luanda e ainda se lembra do cor do suporte, verde, da nossa máquina de café, quando esta, há meio século, circulava lá no bairro;
Oh! Ana: olhe a máquina de café, com o suporte verde... e que deve ter quase 60 anos !!!


descobrir que o famoso Alberto Gomes, que nos ofereceu a tal caldeirada espetacular,

Olha só o aspeto... e o cheirinho !


As recordações de Angola dum homem de 90 anos!

e que depois dos oitenta anos virou pintor sem que ninguém o ensinasse, um “naif” encantador; ter a oportunidade de estar presente nas Bodas de Ouro de outros amigos, onde encontrámos as famílias dos dois lados dos noivos, alguns que não víamos há décadas, e imensos convidados também velhos amigos; reunirmo-nos com a “velha” família de Angola, quando todos éramos uns meninos de pouco mais de trinta anos, e ver agora os filhos destes, como os nossos, cheios de netos e até bisnetos; ver aparecer uma “garota” ou um “garotão” de quarenta ou cincoenta, cabelo a esbranquiçar, perguntar-nos: “o tio sabe quem eu sou?”, e de repente lembrá-los meninos de meia dúzia de anos a brincar com os nossos filhos, sentir no abraço de cada um uma saudade e uma amizade que os anos só continuam a fortalecer, e não conseguir, nem querer impedir, que os olhos de vez em quando se encham de água.
Tudo isto faz com que o retorno a casa se torne um misto de alegria e tristeza!
Mas como “a casa da saudade se chama memória”, e o coração,  esperamos que ambos durem ainda muito tempo.
8-nov-10




quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Crónicas ou Crônicas

Portucalenses

- 3 -

(a correr !)

...



As primeiras semanas da estadia em Portugal ficamos hospedados em casa de uma irmã, no “mato” de Vila Franca de Xira, vinte e poucos quilômetros a Norte de Lisboa, ali, bem ao lado das lezírias dos campinos. A caminho de sua casa encontramos uma curiosa fonte, com duas lápides antigas. Uma, com letra mais bem traçada diz: “Feita à custa da Confraria por ordem de Iheronimo P Henriques, sendo juiz em 1658”, (seria um padre hieronimita chamado Henriques?) e a outra, mais modesta “Foi cosertada a custa da confraria... em 1638”! Ficamos sem saber quando foi feita, já que foi “cosertada” em 1638, o que pouco interessa, mas é uma pequena obra, modesta e de traça elegante, do século XVII ou anterior!
Fonte de Santa Sofia

De Vila Franca vai-se muito bem no trem – combóio – para Lisboa, saindo-se de uma estação bonita, bem cuidada, de construção típica dos anos 30 a 40 do éculo XX.
Estação de Vila Franca de Xira

Em vinte minutos desembarca na capital sem se preocupar com o infernal trânsito, ou pior ainda encontrar lugar para estacionar o carro. De modo que o sistema mais prático para se andar em Lisboa é nos transportes públicos. Melhor e mais econômico, desde os clássicos carros elétricos ao Metro e taxis, estes quase todos Mercedes, o que no Brasil é um luxo de ricos!
Por fim um hotel, em Lisboa. Muito central, na Rua Castilho, com uma vista lindíssima para parte da cidade, bem em frente do Parque Eduardo VII.

Amplie para ver melhor: 1.- O Pavilhão dos Desportos; 2.-  A Penha de França; 3.-Castelo de São Jorge; 4.- Sé; 5.- Um pouco abaixo a Estpatua do Marquês de Pombal 

 Foi só atravessar a rua e entrar na Estufa Fria, um dos ex-libris que vale a pena visitar em Lisboa. Aliás tentar entrar! Está em obras; toda a estrutura da cobertura ameaçava ruir e está a ser refeita. É obra grande, mas que vale muito a pena.

O interior da Estufa Fria


Depois de muita insistência junto ao guarda e a seguir ao encarregado da obra, este não podia autorizar a entrada. Tive que aguardar a chegada da engenheira responsável pela obra, que depois dum pequeno “chorinho” da minha parte lá permitiu uma visita rápida acompanhado do encarregado. Valeu a pena. É um lugar que os próprios lisboetas deviam procurar mais. E os turistas, sempre. Respira-se paz ali dentro.
No nosso rápido passeio fui dizendo ao encarregado que ele devia, para a história, deixar o seu nome gravado num dos novos pilares. Que assim se fazia antigamente, o que permite aos estudiosos melhor apreciarem a obra e definirem a sua época com mais exatidão. Ficou espantado com esta observação. E foi-me dizendo que já tinha feito obras mais importantes, como, a restauração da Igreja no Castelo da Alcácer do Sal e da sua Pousada Dom Afonso II. Linda.

O Castelo de Alcácer so Sal e a Pousada D. Afonso II

Como é evidente não deixou marca sua, mas foi contando que durante os trabalhos foram encontrados, sobretudo na cripta da Igreja, inúmeros objetos, desde ossadas a espadas, cerâmicas, pontas de flechas, etc, e – agora não vou acrescentar uma só vírgula – “uma placa de chumbo de uns 40 cm por 25cm com uma inscrição que os primeiros arqueólogos não conseguiram identificar. Enviada para a Universidade de Coimbra, terão identificado como sendo da época de Cleópatra!”
E o que dizia a placa? “Fazia referência a uma mulher, que tinha morrido e possivelmente ali enterrada, e o marido como prova de amor cortara com a espada os seus genitais!”
Devia ser linda a tal mulher e tamanha prova de amor jamais ouvi que se tivesse passado! Mas que é bonito, é... para os outros!
Se é verdade ou não, esta é a versão que o encarregado da obra me contou. Alguém, agora, aí em Portugal, que vá tentar descobrir a tal placa que estará na Cripta Arqueológica do Museu do Castelo. E depois me mande dizer o que efetivamente está escrito na placa e em que língua, que por ser da Cleópatra (?!) será em grego clássico!
Mesmo que não seja só para confirmar a veracidade desta história, qualquer visita ao Castelo de Alcácer do Sal e à sua Pousada, serão certamente educativas e gratificantes.

Que tal umas férias, aqui, com a Cleopatra?

Aliás qualquer Museu sempre vale a pena ser visitado.
Foi o que aconteceu em Lisboa, à saída da Estação de Santa Apolónia, onde, mesmo em frente está o Museu do Exército. Interessante, merecia mais tempo do que dispúnhamos naquela ocasião, mas foi suficiente para ali descobrir, entre muita coisa interessante, o retrato dum grande general, antepassado do nosso amigo Alberto, não o do Algarve mas o do Rio de Janeiro, mais a súmula dos seus feitos!
Fotografados estes dois itens, após o nosso regresso entregues ao descendente, este considerou um dos melhores presentes que sempre recebeu!

Olha o General Silveira, meio de lado para evitar o reflexo do vidro!

Coisas simples são as que têm valor.

(na próxima continuação, uma apreciação sócio econômica... que me perdoem os técnicos! E por fim... um abraço aos amigos.)


03/11/10






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Crónicas ou Crônicas

Portucalenses

- 4 -

(a chorar !)

...

Visitar Portugal e alhear-se dos problemas que o país está atravessando, parece-me cômodo e distante demais.
De economia, segundo já por diversas vezes afirmei, só sei que ou se gasta menos do que se ganha, ou... a vaca vai pró brejo!
Apesar de Portugal estar hoje metido no meio do “barulho” da EU, não é possível esquecer a situação em que se encontrava em 1926/1928, e como foi fácil reverter o problema. Pode-se não gostar do Salazar. Cada um come do que gosta, mas não lhe reconhecer o mérito de ter, em poucos meses, endireitado as finanças do país que fizeram do Escudo uma moeda forte durante quarenta anos, é ser-se cego, surdo ou estúpido.
Desde há mais de trinta anos que o país vem gastando o que tem e não tem, recorrendo para isso a créditos internacionais. E a conta chegou agora para ser paga!
O que parece infame no meio de tudo isto é ir-se ao bolso do aposentado, que se já vivia num aperto vai ficar num só desespero na sua velhice, mantendo aposentadorias e salários milionários para os camaradas do partido. Isso é mais do que infame.
Há dias mais um banco, o BPN entrou no buraco que ele próprio abriu. Parece que prenderam os administradores. E o Estado teve que entrar com uns muitos milhões para não prejudicar totalmente os pequenos clientes. Mas porque deixaram chegar a esse ponto? Compadrio! Para que serve o Banco de Portugal?
Não há muito tempo para um outro banco foi nomeado presidente um homem “da cor política”, reconhecidamente sem experiência bancária... nem outra! Algum tempo depois indagado por um colega dos tempos de estudante o que tinha ido fazer para o banco, respondeu, com todo o desplante, que a sua missão era basicamente “lixar” a vida do outro presidente que era da “cor” contrária!
Com este tipo de visão administrativa, e não só, o país tem que cair na bancarrota!
Em Inglaterra o governo vai dispensar meio milhão de funcionários. E em Portugal? E os salários escandalosos, mais as mordomias de carro, motorista, etc., etc., de tantos amigalhaços? E para quê 230 deputados? Não chegariam 100, ou menos?
Em 1943, África do Sul, fase aguda da II Guerra Mundial, apartheid “indiscutível” e pesado, o governo branco aumentou o preço do transporte de um dos bairros “só para africanos” para a cidade de Johannesburg, de quatro para cinco pence. O povo reagiu. Não andou mais de bus, durante nove dias, até que os preço regrediram para o valor anterior! Esmagados pelo apartheid, mas eram gente valente.
Uns vinte anos antes disto, um jovem, pertencente à família real do sudeste da África do Sul, assistia às assembléias convocadas pelo rei. Vinham os chefes e membros da família de todos os lados, e gente simples do povo. A todos era dada a palavra para exporem os seus problemas. E todos eram ouvidos com o mesmo respeito. Por fim ou se chegava a um consenso ou nova assembléia era convocada. Era a verdadeira democracia, onde ainda não tinha chegado a desgraça a que hoje se assiste com a “maioria” a esmagar a “minoria”, nem esta a tropedear as propostas daquela. E quererem continuar a chamar a isto democracia! Hoje não há consenso; há ganância desmedida, e se isso se verifica em Portugal, o exemplo maior parece vir dos Estados Unidos. Mexeu-se nos lucros dos grandões e estes querem acabar com o Presidente!
Aquele jovem africano, um pouco mais tarde, quando o quiseram envolver na política, viu claramente, com a experiencia já adquirida, que “os políticos nada mais eram do que uns vigaristas (racket) para roubar dinheiro do povo”!
Esse jovem foi depois uma das maiores figuras do século XX, Nelson Mandela.
Os tempos não mudam os homens. Parece que só pioram.
Vejam o que se passa no Brasil. As “pesquisas” de opinião davam ao lula 80% de aprovação, mas as urnas só lhe deram 56%! A máquina do PT foi eficiente. Mentiu, mentiu, mentiu, durante oito anos, até nas perspectivas de produção de petróleo chegando a inflacionar em mais de 300% os cálculos dos técnicos para dar melhor cara ao “cara” em vésperas de eleição. Com tudo isto conseguiu eleger alguém que lhe tome conta do lugar por quatro anos e ele voltar em “toda a sua glória e esplendor” em 2014.
Mas a “democracia” deste país é diferente: a oposição compra-se. Barato. Os maiores adversários de há dez ou vinte anos, hoje beijam-se (até na boca e chamam-se de Tarzans). O PT enquanto oposição conseguiu vetar uma série de leis, que depois aprovou com a sua “maioria” guardando-lhe os louros. Entretanto o povo... chamou-lhe de “pai”!
Tudo na política é um absurdo. Uma ladroagem. Aqui, em Portugal e em todo o lado.
Mas... eu que, para não morrer tão cedo (?!) tomo 9 a 10 comprimidos por dia, comprei, aqui no Brasil, a necessária quantidade para 30 dias, que me custou cerca de R$ 270,00, o equivalente a € 112,50. Repeti essa compra em Portugal e paguei € 18!
Pode-se com um absurdo destes?
E mais: o Brasil está a produzir apreciável quantidade de vinho. Bem mais do que em Portugal. Enquanto aqui uma garrafa – de vinho de uva vinifera européia – custa, barato, uns R$ 12 a 14 – igual a €5 ou 6 ! – em Portugal um BOM vinho corrente custa menos da metade disto!
E no fim o Brasil cresce, cresce e continuará a crescer, e Portugal a encolher.
Será porque “os pássaros dessa terra não gorgeiam com cá”, como em sentido inverso cantou o grande poeta brasileiro Gonçalves Dias enquanto estudante em Coimbra, saudoso do seu Brasil?

 
4 nov. 10