segunda-feira, 16 de novembro de 2009

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Impressões... Antárticas !
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Já diversas vezes escrevi sobre “Amigos”. Mas quando se atinge uma (provecta) idade e não só se mantém como se aumenta o número de amigos, e que todos eles são cada vez mais chegados, mesmo quando vivem longe, há que louvar a Deus e agradecer-Lhe esta benção!
Dia5/nov – recebo um email: “Como não o encontrei on line, p.f. ligue para o meu telefone...”
Assim que li a mensagem chamei. Só à noite consegui ligação, e lá surge a voz dum amigo, querido, que vive em Brasília, sempre atarefado. Após a troca nas normais saudações e saber das respectivas famílias, diz-me:
- Queria convidá-lo para ir a um lugar onde você nunca foi! Está preparado para isso?
A primeira coisa que me ocorreu, já que ele estava a chegar ao Rio, foi que me estaria a convidar para nos encontrarmos nalgum novo restaurante. De qualquer modo a resposta foi rápida:
- Sempre pronto! Mas que lugar é esse?
- Antártica.
Eu sabia que este amigo, Comandante da Marinha, há já talvez dois anos, Sub Chefe do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR) era o responsável pela Logística e Operações da Estação Antártica Brasileira Comandante Ferraz. Assim que o soube neste cargo, lhe dissera que, “quando tivesse uma vaga... me levasse até lá”! Nunca mais havia pensado nisso e de repente a tal “vaga” surge!
- Quando vamos?
- Talvez dia 21; amanhã lhe telefono com mais detalhes. Agora tenho que desligar!
Fiquei parado a pensar na maravilha da possibilidade que se me deparava!
Dia 06 à tarde liga o amigo:
- É um pouco chato avisá-lo assim de repente mas para ir, é amanhã! O que acha?
- Eu vou até agora à noite! O que tenho que levar? Roupa, etc.?
- Roupa nós fornecemos, só tem que levar passaporte, carteira de identidade e xerox de ambos os documentos. E estar amanhã às 07H30 no Aeroporto do Galeão Velho, a Base Aérea, no Terminal de Passageiros do Correio Aéreo. A viagem não é em avião comum. Vamos num Hércules C 130, militar, com uns assentos... meio incómodos.
- Maravilha!


O barrigudo e barulhento Hércules C 130

Em Pelotas, o meu amigo, o "decano" da expedição, e o meu novo amigo e
meu xará, o almirante chefe do PROANTAR

Preparei uma pequena mala, alguma roupa menos carioca e no dia seguinte lá estava eu, à hora exata prevista, com mais cinqüenta, entre convidados e membros do PROANTAR. Um ministro do STM, um general, almirantes, brigadeiros, o reitor da Universidade Federal de Roraima, assessores parlamentares, comandantes da Marinha de todas as graduações, sargentos e marinheiros, técnicos para revisão dos equipamentos mecânicos e eletrônicos da Estação Antártica, além de outros convidados especiais. E, evidente, o meu amigo.
Abraços, algumas apresentações, uma ligeira burocracia com os passaportes, que eu nem tive porque a organização tem uma oficial que se encarrega disso – simpática e eficiente esta oficial – um pequeno briefing dando as coordenadas e etapas dos vôos, e aí vamos nós para o Hércules. Lugares marcados para evitar confusões, diretos a Pelotas, primeira escala.
A bordo a primeira surpresa: a comissária de bordo! A “tia” Alice, uma fantástica jovem de 82 anos, alegre, sempre preocupada com o bem estar dos passageiros que fazia a sua 176ª. viagem à Antártica!
À chegada a Pelotas – temperatura de 5º mas com sensação térmica de 1º! - foram-nos entregues as roupas especiais, botas, capuz, etc. para o frio austral. A seguir almoço onde começa a descontração entre os parceiros de viagem, sobretudo pela partilha de algumas garrafas de magnífico vinho, chileno, é claro!





Um dos almoços na melhor companhia: à direita o Almirante e o Ministro,
à esquerda o General, o vovô e o Presidente do Instituto Cico Mendes

Escala importante esta por várias razões: a primeira porque foi onde nasceu o meu avô! Talvez mais do que isso porque foi aqui que o pai deste, meu bisavô João Driesel Frick, reuniu em seu escritório, em 1869, a primeira Sociedade Abolicionista do Brasil, tendo nessa ocasião pago a libertação de quatro mulheres, e sobretudo pela visita ao Museu Oceanográfico Prof. Eliézer Rios, onde fomos recebidos pelo prof. Lauro Barcelo. Museu muito interessante pela recolha e exposição de espécimes, muito visitado por escolas e pesquisadores. O Museu dispõe duma área de recuperação de animais marinhos, para cuidar deles e devolve-los sãos ao seu ambiente. Todos os anos são centenas, às vezes milhares de pinguins que vêm visitar o Brasil... e aqui se juntam até que as condições permitam devolvê-los ao mar. Desta vez só lá restava um. Quando os visitantes se aproximaram do tanque onde nadava pacificamente, ficou animadíssimo e corria – nadava – rapidinho dum lado para o outro a olhar para cima e ver as caras dos amigos que acabam de chegar! Os amigos visitantes moviam-se e ele seguia-os! Simpático, como todos os pinguins.
Ao lado, outro tanque com um belo leão marinho que pesaria uns 300 quilos! Tranquilão, só saiu da água quando o professor o chamou. Arrastou-se, olhou à volta, sem se preocupar com os circunstantes e ali ficou a olhar “para a sua filosofia”!
Este bichinho tem uma história incrível. Chegou ali há 17 anos, recolhido cheio de óleo, faminto. Foi tratado, alimentado e assim que estava em condições, devolvido ao mar. Não demorou a voltar. Mais uns dias e novamente levado ao mar. Mas o “leão” não estava disposto a ir embora e tentou várias vezes subir em embarcações de pescadores, virando algumas. Queria voltar para terra. Recolheram-no outra vez e ainda hoje lá está, “numa boa”, certamente feliz, alimentado, sem querer saber de mar para coisa alguma! Quando o professor terminou esta descrição do nosso "hóspede", sai este comentário de um dos visitantes que estava a meu lado: “O Zelaya”!
Tirando o gelo da Antártica, este foi um dos pontos altos de toda a viagem! E só podia ter saído duma mente clara e inteligente, o Ministro que nos acompanhou!
Ainda agora o “Zelaya” não me sai da idéia. Vejam bem o ar “zelayado” de quem está “na maior” a viver à custa do Brasil!


Vejam bem a "cara" do Zelaya! Cansado de estar "numa boa"!


Uma pequena área do "C&A"

Antes de nos recolhermos ao hotel, para jantar, sempre honrando o vinho do país que nos ia receber, e passar a noite, fizemos uma rápida visita à Estação de Apoio Antártico, onde entre outras coisas se guardam e cuidam das roupas que se emprestam aos visitantes, pesquisadores, etc. Um armazém imenso! Chamam-lhe o C&A (para quem não sabe o que é: uma enorme loja de roupas que está em praticamente todos os shoppings do Brasil!)
Manhã seguinte, bem cedo, já semi equipados para o frio que nos aguardava em Punta Arenas – 1ºC, mas sensação bem abaixo – de volta ao Hércules, vôo de 6 horas com céu quase sempre limpo, um miserável frio nos pés e uma bela vista ao sobrevoar Montevideu, no Uruguai.


Lá ficava Montevideu!
Continua...

17 nov. 09

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