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Recuerdos argentinos
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É bem possível que o “capítulo 1”, anterior, provoque reações estranhas a alguns argentinos, mas o que se escreveu não foi uma “história”, mas recuerdos. E cada um guarda os recuerdos que o tocaram. Falar da Argentina sem falar de tango é pior do que ir a Roma e não ver o Papa, ou não ver no Egito as Pirâmides! O tango é um monumento argentino!
Voltemos a Buenos Aires que Carlos Gardel nos vai apresentar com
Passados 74 anos da sua morte, Gardel ainda é o número um do tango, mundial. Mas tudo evoluiu, a cidade cresceu, aprimorou-se ainda mais, há poucos anos recuperou a abandonada área do antigo porto, onde hoje estão belos apartamentos, hotéis e uma interminável quantidade de restaurantes e bares de alto nível, e do mesmo modo o tango, que se dividiu em dois aspetos: o clássico, que se continua a dançar em clubes, com o charme dos anos 30 e o espetacular, tipo Broadway, onde obrigatoriamente vão os turistas e também os próprios argentinos
E a todos, ao ouvir essas músicas, o pé começa a puxar...
Uma visita ao bairro Boca deve ser a porta de entrada em Buenos Aires. Bairro antigo, pobre, onde talvez o tango tenha nascido, é hoje um centro alegre com suas casas pintadas de coloridos vivos, cheias de artesanato e recuerdos. Ali está um pouco da alma dos porteños!
Já vimos que a primeira “moeda” daquele povo foram os couros, e a seguir a carne, a lã e os vinhos! O couro argentino é uma beleza: tudo o que se imagine que possa ser feito em couro eles têm, e do melhor que existe. Se os preços já eram convidativos por ser um produto tradicional, com a moeda um tanto desvalorizada o estrangeiro fica abismado com o que vê! E o mesmo com os artigos de lã: belíssimos e com preços incríveis. Para quem vive no Rio... roupa de couro e/ou lã é só para olhar!
Sucedem-se as “feiras” de artesanato ao ar livre, tentadoras, as lojas de marcas sofisticadas e as simples mas com os mesmos artigos de qualidade e o turista... vai gastando! Em compensação sabe que leva coisa boa.
Mas um bife de chorizo, ou um ojo de bife, mal passado ou al punto, ou umas costillitas de cordero patagon... acompanhados por papas al horno e regado a Malbec 2003 de Mendoza ou da Patagônia... os franceses podem esquecer o seu cordon bleu gastronomique!
Não comam! Cheirem só este OJO DE BIFE! Huuummm!
Vamos agora deixar Buenos Aires a caminho dos Andes, para Bariloche, situada a cerca de 750 metros de altitude junto ao lago formado pelo degelo das neves andinas, com cerca de 500 km2, o Nahuel Huapi. Rodeada pelos Andes, por onde os ventos sopram e se tornam gelados, Bariloche tem um clima maravilhoso no verão e no inverno é uma das maiores estâncias de sky do mundo.
Está a cerca de 41,5° de latitude sul (bem mais ao sul que Capetown, a 35!). A subida a um dos pontos altos (2.000 metros) de onde partem os esquiadores, é um espetáculo de uma grandiosidade e beleza incomparáveis! Olhando para o poente, sul e norte são os Andes, cobertos de neve, a perder de vista, uma cadeia interminável, uma demonstração da tremenda força da natureza! Não se pode ficar por muito tempo enamorado daquela beleza porque os -10°C fustigados por um vento cortante, parecem querer mostrar-nos que aquela terra é sagrada e protegida pelos deuses!
Bariloche, o lago Nahuel Huapi e algumas das montanhas à volta
Para o nascente, em dias de céu limpo vê-se parte do planalto da Patagônia até onde o horizonte nos esconde a visão, como a desafiar-nos para que visitemos também essas bandas.
Em 1670 alguns jesuítas descobriram este lago e nas suas margens estabeleceram uma missão que foi abandonada em 1718 depois do assassinato de 5 religiosos. Só em 1895 os europeus chegaram para se estabelecer! Bariloche, nome que vem da língua Mapuche significa “povo de trás das montanhas” porque terão vindo do lado do Chile, tal como vieram os primeiros colonos, alemães, suíços e italianos.
Não levou muito tempo a que a estação de sky fosse conhecida e já nos começos do século XX os primeros hotéis começaram a funcionar.
Com os conhecimentos trazidos de suas terras de origem os novos povoadores especializaram-se em doces de leite e chocolates que representam hoje uma das importantes fontes de renda da cidade que vive essencialmente do turismo, todo o ano. Ou vêm os esquiadores, ou os veranistas, ou simplesmente os turistas gozar aquelas belezas, que, lamento muito, mas tenho que afirmar que metem a Suíça num chinelo!
E como não podia deixar de ser também lá se comem os bifes de chorizo, cordero, etc. que ao fim de poucos dias nos fazem clamar por uma canjinha para sossegar o estômago! De qualquer modo sempre com uma garrafinha de Malbec à ilharga para ajudar a digestão!
Os passeios ao longo dos lagos, e são muitos, as subidas às montanhas, os parques naturais, o clima, e a gentileza do povo, obrigam-nos a regressar com a mala cheia de saudade e vontade de voltar!
No próximo “capítulo”, mais um restinho!
do Brasil, por Francisco G. de Amorim
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