terça-feira, 20 de março de 2018



Um “rolé”* por Portugal

Já lá não ia há quase cinco anos! E como tudo está diferente!
Amigos e parte da família que entretanto descansaram na Paz do Senhor, e que nos fazem tremenda falta, os outros, como nós, envelhecidos, numa idade em que pouco tempo faz enorme diferença, alguns tiveram que ser visitados em suas casas porque a idade ou doenças complicadas não os deixaram sair, mas nada disso impediu que nos encontrássemos com tantos, teimosos, alguns passados os noventa e se mantém firmes e alegres como jovens de vinte. Ou melhores!
Foi um corre-corre para podermos estar com o máximo de amigos e familiares. A verdade é que em pouco menos de três semanas conseguimos abraçar mais de cento e trinta amigos, e porque não, soltar aqui e além uma ou outra lagrimita de tristeza ou alegria.
Mais de uma centena. Não de conhecidos. De amigos muito queridos. Infelizmente não estivemos com todos que tanto desejávamos. Não foi possível.
Foi a correr, não deu para conversarmos horas sem fim com cada um, mas estivemos com o melhor do nosso patrimônio: a família lusitana e os amigos, muitos dos quais nos acompanharam também por terras de África e do Brasil.
Ainda houve, numa rápida fugida, tempo para abraçar um outro, amigo de há meio século, que nunca nos tínhamos encontrado! Sabíamos um do outro, sempre tivemos os mesmos amigos, vivemos nos mesmos lugares, no mesmo tempo, sem que jamais nos tivéssemos visto. Coisas que é difícil explicar. Mas conseguimos, finalmente, nos abraçarmos e, sem surpresa, sentirmos que aquele abraço há muito estava dado!
É evidente que foi uma imensa corrida, cheia de emoções fortíssimas.
Por fim, véspera de embarcar de volta a casa, o acúmulo dessas emoções mostrou que tínhamos esgotado a nossa capacidade de resistência, e o físico deu um forte recado. Uma semana sem nada fazer ainda não conseguiu reparar o estrago!
E as saudades, se as matámos na ocasião dos encontros, depois afloraram mais fortes!
Como é difícil estar longe daqueles que amamos, alguns dos quais nossos companheiros desde há oito décadas!
Mas enfim, por enquanto consegui sobreviver...!
E Lisboa está uma cidade diferente. Muito mais limpa, os velhos prédios em restauro, o céu inigualável, quando está limpo mostra uma das mais bonitas luzes de todo o mundo.
Milhares, talvez milhões de turistas. Por todo o lado. Em primeiro lugar brasileiros, franceses, chineses, hindus, russos, de todo o lado.
Hotéis surgem de um dia para o outro, em cada canto, como cogumelos, e estão cheios. Os alojamentos via Airbnb e outros, igualmente lotados, restaurantes grandes e pequenos, em todas as ruas, todos os bairros, onde sempre se come magnificamente, preços muito aceitáveis e, voz corrente, hoje em Portugal não há mais vinho ruim. Todo, todo, desde o mais barato, é muito bom! E o peixe, huuummm, que delícia.
Espantam-se os brasileiros que podem sair de noite, a qualquer hora, de telefone celular na mão! Os franceses com a limpeza das cidades e, sobretudo, por não verem gente nas ruas a fazerem greves ou manifestações.
Os monumentos, as ruas, a beira rio ou mar, cheio de turistas. Encantados. Navegando num mar até há pouco desconhecido ou ignorado do mundo.
Os pequenos comércios de bairro, tipo frutas legumes e algo de mercearia, está nas mãos de gente que veio de longe: Nepal, Myanmar, Índia, Bangladesh. Outras lojas, que vendem tudo, dominadas pelos chineses.
Centenas, milhares daqueles pequenos carrinhos que só víamos nos filmes e reportagens da Índia, os tuk-tuk, atraindo turistas para um “tour” pela cidade. Motoristas? Raros portugueses!
Gente comprando imóveis, sobretudo brasileiros, como é de esperar inflacionaram o mercado imobiliário, e há, como em todo o lado, os oportunistas. Alguns mais abonados pagam fortunas pelo que há dois ou três anos valia menos da metade. Mas assim mesmo estão felizes, e isto não se passa só em Lisboa e Grande Lisboa, que abarca, por exemplo, Cascais e Sintra.
Mesmo com menor intensidade a febre chega a todos os cantos do país.
Quanto tempo vai durar esta euforia, ninguém sabe.
Mas enquanto o pau vai e vem as costas folgam!
Não pensem, os que pensam para lá imigrar, que há oferta de trabalho para todos. Os próprios portugueses estão a sofrer com isso e com um governo, que igual aos antecedentes, lhes entra nos bolsos de todo o jeito. Impostos, redução da aposentadoria, a inevitável corrupção, donos da política a encherem os bolsos, mas como isso é o trivial all over the world... a esperança está em que este boom de turistas dure... Dure. Dure, porque um dia vai acabar.
Tem agora a seu favor a total insegurança nos ex-paraísos do Egito e Magrebe, na própria França e até na Espanha, cansados de verem monumentos bonitos, lindos, na Itália, Hungria, e São Petersburg, e saberem que em nenhum outro lugar se encontra aquele tempo gostoso, sol único, aquela comida maravilhosa e de bom preço, gente pacífica e sorridente, educada, cidades limpas e ordenadas, que acolhe o turista com alegria e com segurança, sem se preocupar se ele é cristão, hindu, ateu, judeu ou muslim.
Portugal viveu essa mistura desde antes da sua independência há quase nove séculos.
Nem se preocupa com a vida sexual dos visitantes. Que vivam a sua vida e sejam felizes.
Lembram da música do Ary Barroso: “Você já foi à Bahia, nêgo? Quem vai à Bahia, nunca mais quer voltar”!
A música é a mesma, mas mudou a letra: “Você já foi a Portugal? Quem vai a Portugal... e come bacalhau, pasteis de nata, parguinhos grelhados e bebe AQUELES vinhos... nunca mais de lá quer sair!”
Para o brasileiro, classe média, o póbrema, está no Real. Realmente aqui a realidade é de pobre. E aventurar-se numa ida à terrinha é um custo pesado. Mas quem não deseja?
Vale o investimento?
Cada um sabe de si e Deus de todos.
Boa viagem.

* Rolé – No Brasil, um giro, um passeio, uma volta.

Rio (cheio de calor e humidade) 20-mar-18

5 comentários:

  1. turista muitíssimo atento :D nós é que agradecemos a visita, a boa disposição e a amizade que trazem

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  2. Adorei ter conseguido ir dar-lhes um abraço, estaremos longe mas sempre perto....

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  3. Consegui imaginar cada cena! Se segura aí que, quem sabe, serás meu guia por lá na próxima viagem!

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  4. Retrato excelente do Portugal actual. Gostei muito de os ver.

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