Portugal
Um “rolé” - 2
Ora bamos lá cum
Deos! Ainda falta um bocado para Portugal ser o
paraíso que tantos, incluindo eu, apregoam.
Para quem chega de
longínquas paradas, e só conhecia o Portugal do chorinho (de choro mesmo), da
queixa, quase imitando os franceses das greves e passeatas, da desgraça, e do
desbarato dos dinheiros da União Europeia, do fado da mulher estraveculosa, e
das saudades do Salazar, chega agora a quase repetir Camões quando escreveu,
bem sei que em sentido inverso que
na ocidental praia Lusitana,
os perigos e guerras já passados,
mais do que prometia a força humana,
entre gente remota
edificaram novo reino,
que tanto
sublimaram.
É verdade que já não se fala em guerra, nem nos pseudo-heróis
do vintecincobarraquatro (apesar de
terem enchido as cidades com nomes de indivíduos que foram uma desgraça para o
país, como o que deram ao aeroporto de Lisboa que deveria ser o do Almirante
Gago Coutinho), quando apáticos não havia força humana que lhes prometesse
nada, entre a gente que de remotas paragens lhes acodem agora aos milhares,
reedificaram e sublimaram um novo país.
Tanto sublimaram, e disso estão tão orgulhosos que até
anunciam que Portugal tem o melhor pão do mundo. E tem mesmo.
Para quem vai do Brasil onde o pão, o genérico, abaixo
de péssimo, quinze minutos depois de sair do forno parece reles espuma de
forrar cadeiras baratas, uma espécie de chewing gum do tempo das Guerras Púnicas, e que, quando se procura
um pão um pouquinho mais sofisticado,
continuando assim mesmo quase intragável, desembolsa ouro, chegar a Portugal e
comer pão, mesmo que seja só pão, já acha que está às portas do céu!
Claro, para quem gosta de pão, como eu.
Depois se acrescentar um pouco de queijo da serra, de
Azeitão ou da Ilha do Pico, e acompanhar tudo com uns copos de tinto do
Alentejo ou do Douro, então fica com a certeza que adentrou os ceús e fica
aguardando que surja o bom São Pedro para o acolher na alegria dos justos.
Isto sem falar no pão de Mafra com
chouriço.....................
Mas desgraçado turista se teve a infeliz idéia de
alugar um carro. Se o fizer, tem mesmo que ter junto um GPS no telemóvel,
quando não fica dando voltas à cidade de Lisboa, lendo placas indicativas que
não lhe indicam coisa alguma. Só enigmas.
São bonitas as placas, mas em vez de indicarem nomes
de cidades ou direções, como Sul ou Norte, têm siglas enigmáticas, como A1, A2,
A3... até A11, e outras como CRIL, CREL 1 e 2, que só os iniciados nos segredos
auto-estradistícos conseguem interpretar.
E aí vai o turista, feliz, achando as estradas ótimas,
o clima e a luz brilhantes, mas quando dá por si, ou continua às voltas no
mesmo lugar ou foi para o sentido oposto.
Estas siglas são do exclusivo conhecimento dos
portugueses, e pronto.
Segredos de Estado, tão bem guardados como as notícias
das descobertas de Além Mar nos séculos XV e XVI.
Mas comer bem, lá na terrinha... não há igual. Mesmo
sabendo que desde sempre, sempre, Portugal importa 30 a 40% do que necessita
para a sua alimentação. Como o bacalhau, onde Portugal é campeão inquestionável
no mundo. Não admira. Muito antes de Cabral ter
chegado ao Brasil já há séculos que éramos os primeiros nessa pesca.
A história
da pesca do bacalhau pelos
portugueses começa em 1353, quando D. Pedro I e Edward III de Inglaterra firmam
um tratado autorizando os pescadores de Lisboa e Porto a pescarem o bacalhau nas
costas da Inglaterra por 50 anos. Este acordo mostra que esta atividade já se
realizava desde muitos anos anteriores, e em tal quantidade, que justificava a
necessidade de a enquadrar nas relações entre os dois reinos.
No século XV,
apesar do fim da colonização da Groenlândia, não foi esquecida a
informação da localização dos bancos do bacalhau. Cinco séculos de relações
comerciais tinham também estabelecido boas relações diplomáticas com a coroa
dinamarquesa, e o Infante Dom Henrique, obteve do rei da Dinamarca um piloto
Sofus Larsen – Wollert - que veio até Portugal, e terá transmitido os
conhecimentos náuticos daquela região.
John Cabot, (c. 1450-1499) um dos primeiros europeus a chegar ao continente americano navegou com pescadores portugueses, de Bristol, que já pescavam nessas
águas.
Em1470, João
Corte Real, esteve numa expedição mandada efetuar pelo rei Cristiano I da
Dinamarca a pedido do rei de Portugal Afonso V. No relato desta viagem
ficou registada a Groelândia e “A Terra dos Bacalhaus”, o que mais uma vez
indica a pratica antiga desta pesca. Mais tarde esta terra foi conhecida por
Terra Nova dos Corte Real e depois somente Terra Nova, Newfoundland!
A comer e
cozinhar bacalhau desde há mais de oito séculos... o que se podia esperar?
Magia.
Mas não
importa só bacalhau, não. Infelizmente em Portugal a agricultura é pouco
diversificada. E deste modo, para não faltar a boa pápa aos portugueses e seus
milhões de turistas, importa porcos da Polónia, cebolas da Holanda, e até
imaginem, ameijoas do Vietnam! Aquelas maravilhosas ameijoas, preparadas como
recomendou no século XIX, o romântico poeta Bulhão Pato, vindas do Vietnam, é
pecado! As da costa portuguesa eram (eram porque escasseiam) dignas da poesia
de qualquer poeta e dos suspiros dos gourmets. Não as cantou Camões nem Pessoa,
mas canto eu... em prosa.
E, não
esqueçam que Açores e Madeira fazem parte do mesmo Portugal... desde antes dos
irmãos Corte-Real, que dali eram, terem chegado à Terra Nova.
Num próximo
projeto sobre férias em Portugal levarão inúmeras vantagens os que se decidirem
por mais umas milhas e visitar aquelas ilhas atlânticas.
Não está bem
esclarecido quem contou a Platão sobre a Atlântida, e não consta que ele se
tivesse deslocada aos Açores ou à Madeira.
Mas pelas
maravilhas que descreve, vê-se que o sacerdote egípcio, que lhe falou sobre
estas ilhas, deve lá ter estado! Regressou maravilhado e nem as pirâmides lhe
interessaram mais.
Já imaginaram
o que vai de história entre o bacalhau, os Açores, a Atlântida e maravilhosa
gastronomia portuguesa?
Quem mais tem
tanta história para contar?
E não
esqueçam: Portugal já é o primeiro produtor de azeite! Sem ele... como ficaria
o bacalhau?
Não esqueçam,
também, o vinho!
25/03/18