O meu retrato
Que tal me apresentar, agora, que fim o 2016?
Depois de ultimamente ter escrito algumas passagens da
minha vida, sobretudo dos primeiros anos – aliás já escrevi inúmeras de outras
épocas e idades – uma jornalista quis fazer-me uma entrevista “relâmpago”,
moderna, tipo “pergunta / resposta” (quem,
ou qual ou o que mais gosta ou admira), que até foi divertida!
Depois de tudo coligido mandou-me o resultado, e creio
que jamais tal “brilhante entrevista” foi ou será publicada. Vai agora para
quem quiser ler.
Saiu assim:
P: - Família?
R: - É algo sagrado. Mas não gosto de falar nisso
porque tenho vivido muitos momentos muito difíceis e dolorosos.
P: – Leitura?
R: - História, geografia política, etnografia,
sociologia, alguns romances.
P: – Autores?
R: - Desde os antigos aos modernos honestos (raros!)
para a história. Romances: Camilo Castelo Branco, João Guimarães Rosa, Gilberto
Freire, Mia Couto, Ariano Suassuna, Oscar Ribas, Antero de Quental, Wenceslau
de Morais.
P: – Poetas?
R: - Se não
citar Camões e Fernando Pessoa vão me jogar no lixo! Mas não esqueço João
Cabral de Melo Neto e Carlos Drummond de Andrade. Aliás não sou de ler muita
poesia.
P: - Música?
R: - Clássica e alguma moderna.
P: – Quem ou qual?
R: - Vivaldi, Corelli, Albinoni, Pachebel, Paganini, e
tantos outros do Barroco, Mozart, Beethoven, Liszt, Rossini, Bach, Joaquin
Rodrigo, Flamenco, tango, fado, chorinho, samba canção, morna de cabo verde e
coladeira, bandas militares escocesas, toques militares de clarim, rebita de
Angola e... outras!
P: - Intérpretes?
R: - Rubinstein, Yehudi Menuhim, Paco de Lucia,
Mercedes Sosa, Amália Rodrigues, Vinicius de Morais, Maria Callas e...
P: – Desportos?
R: - Como todo o garoto joguei futebol. Depois
brinquei de toureiro e levei muita marrada, mas sobretudo ténis, um pouco de
golfe e vela. E gostava muito de atletismo. Nunca ganhei um campeonato, mas
joguei muito.
P: – Automóvel?
R: - Os melhores, hoje, são os mais confortáveis.
Dantes... isso já lá vai.
P: – Moto?
R: - Também tive durante uns anos, mas quando vi que
estava na idade de me quebrar todo se caísse, desisti!
P: – Comida?
R: - A boa. Nada dessas modernices que levam um feijão,
uma folhinha de salsa e um molho colorido para fazer bonito. Gosto do cozido à
portuguesa ou minêra, bacalhau, marisco e frutos do mar, peixe e carne, enfim, gosto
de tudo que tenha o que comer e seja bom! E adoro fruta.
P: – E doces e guloseimas?
R: - Não sou muito de doces, mas sempre como um
pedacinho se não for muito doce.
P: – Bebidas?
R: - A água, pura, é a rainha das bebidas, mas eu bebo
pouquíssima, porque normalmente não presta. Nem a engarrafada. Bebida numa
fonte pura, fresquinha é inigualável. O rei das bebidas é o vinho tinto,
seguido do branco, depois vem a cerveja e, vez por outra, raro, um Porto,
Ginginha, Gin, Cointreau ou Whisky.
P: – Moda?
R: - Uma piada, normalmente de mau gosto, ou péssimo.
Há anos aboli a gravata porque acho uma mariquice que para nada serve. Tenho
roupa comprada há mais de trinta anos que continuo a usar.
E como os meus pés têm tendência a inchar e dar uma
incómoda sensação de calor, também há anos que adotei sandálias, que uso mesmo
quando sou convidado para festas elegantes, como casamentos.
A moda das mulheres hoje é feita para as desnudarem.
Elegância houve talvez... quando?
P: – Jogo?
R: - Desteto casinos. Aquilo é um antro de perdidos.
Mas há mais de 20 anos que jogo o mesmo número na loteria e nunca ganhei um
centavo!
P: – Hobby?
R: - Além de algumas escritas em que vou exercitando a
memória e ocupando o maldito tempo livre, gosto de bricolagem. Até gostaria de
ter sido marceneiro!
P: – Mulheres?
R: - Além das filhas e netas só houve, e só há, uma.
Claro que gosto de ver uma mulher bonita e por vezes ainda deixo os olhos
percorrerem todo aquele “proibido”! Está no meu DNA machista!
P: – Qual o seu tipo de mulher?
R: - De físico, a Vénus de Milo. De espírito, inteligente,
mãe, simples, batalhadora.
P: – E de homem?
R: - O mais belo físico de homem, também grego, é o
Discóbolo. E tem que ser inteligente, valente e humilde.
P: - Que mulheres mais admira?
R: - D. Zilda Arns que criou a Pastoral da Criança, a
Irmã Quitéria Paciência da Casa do Gaiato de Moçambique, Irena Sendler que
salvou milhares de crianças judias, a minha mãe que enviuvou com 34 anos e sete
filhos e teve uma vida difícil, e minha mulher que começou com oito filhos e
hoje só tem seis.
P: - E homens?
R: - Francisco de Assis, Angelo Roncali o grande Papa
João XXIII, o padre José Maria da Casa do Gaiato, Don Vitoriano Aristi com a
sua Fé contagiante, o meu pai, e um homem que muito ajudou a moldar a minha personalidade,
o engenheiro Augusto Matos Rosa.
P:– Se fosse um animal, qual gostaria de ser?
R: - Bom, animal já sou, mas se não fosse um homo
sapiens, preferia ser um burro, um jegue.
P: – Porque?
R: - É um animal maravilhoso: forte, trabalhador,
dócil, humilde. E quando se zanga dá uns coices lindos!
P: – Já falou várias vezes em humildade. Porque?
R: - Porque é dos humildes o Reino dos Céus, e só com
humildade poderemos viver em Paz neste mundo.
P: – Gosta que lhe dêem presentes?
R: - Não. Acho que não mereço e há gente, muita, que
precisa mais do que eu.
P: – Amigos?
R: - São uma benção, e nesse aspecto fui abençoado.
Tenho muitos, infelizmente a imensa maioria a viver muito longe, e face à idade
também uma grande quantidade deles, como irmãos, já nos deixaram.
P: – O que mais deseja para os seus filhos, familiares
e amigos?
R: - Paz e que se amem sempre uns aos outros. E a
todos os outros.
P: – Que mensagem deixaria para os jovens?
R: - Nunca percam o entusiasmo e a generosidade da
juventude mesmo que cheguem aos 100 anos, nem aceitem como verdade tudo aquilo
que vos querem meter na cabeça. E, para variar, não deixem, nunca, de ser
simples, humildes e valentes.
- Obrigado
- Obrigado, eu.
N.- Agora que já me conhecem
não esqueçam de me desejar um 2017... em Paz!
26/12/2016