De
como nasci e fui crescendo...
Este texto é dedicado aos
curiosos. Àqueles que gostam de saber tudo da vida alheia, sobretudo aos que
conhecem o “cara” desde há... uma porrada de anos.
Tenho escrito sobre muita coisa,
metido o nariz até onde só aos GRANDES cientistas e professores seria admitido,
aproveitando para dizer entre algumas verdades, certamente muita bobagem, e
também sobre passagens da vida, minha e de amigos, cujas peripécias, aos
trazê-las à memória são um bálsamo para a saudade que deixaram.
Depois de mais de 70.000 visitas
ao meu site, desde há pouco mais de 7 anos (alguns milhares devem ser de idas
minhas, xeretar quem viu ou leu!) começo a ter dificuldade em encontrar novos
assuntos sobre os quais escrever.
Devem lá estar talvez uns
setecentos textos, o que não é grande coisa, mas a idade começa a bloquear-me
as meninges e, de repente (não tão de repente assim!), sinto o vazio a crescer
dentro da cabeça!
Podia escrever sobre política,
finanças e segurança, no Brasil e até no mundo, como muita vez fiz, mas creio
que a grande maioria das pessoas está cansada destes assuntos, bem como eu.
Escrever sobre o que?
Sobre mim. Contar algo que penso
ainda não terei divulgado, e que não vai interessar a muita gente. Mas... quem
não quiser não lê. Vamos nessa.
Nasci numa segunda feira, eram 9
horas da manhã, segundo documento escrito pela minha mãe. Já estava a
preparar-me para enfrentar o batente da vida, logo no comecinho da semana. E
surgi com mais de 3 kilos e tal, para aguentar o tranco, e dizia a minha mãe
que me deu de mamar durante um ano! Por isso tenho aguentado, até hoje!
Terceiro filho.
Inverno, lá fora devia fazer um
frio do cão e o “chalé” onde vivíamos na ocasião, na rua das Valas, na Antiga,
Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta Cidade do Porto,
freguesia de Cedofeita, a mais
antiga, seria certamente do século XIX, teria algum aquecimento (talvez uma
braseira!) porque não consta que alguém tivesse enregelado, mas não era lá
aquelas coisas porque:
- um dia a casa foi a baixo e
fizeram um prédio bem desajeitado com cinco andares, que já está com ar de
podre;
- mudaram o nome da rua para
Nossa Senhora de Fátima, depois que em 1933, um pouco mais adiante e na mesma
rua, construíram a igreja dedicada à Mãe de Portugal, e do mundo. Mas o nome de
rua das Valas aguentou-se até 20 de Agosto de 1942! Porque se chamou assim,
ainda não descobri!
Mas a família não ficou muito tempo por ali.
Mudou-se para a Rua de Faria Guimarães, para uma casa bem melhor, que nunca
mais consegui identificar qual será! Mas o senhor Joaquim Ribeiro de Faria Guimarães foi um
importante empresário oitocentista do Porto. Criou a Fábrica de Lanifícios do
Lordelo, era proprietário da tipografia onde se fazia a impressão de vários
periódicos (O Athleta, A
Coallisão e O Nacional), geriu a Fundição
do Bolhão, fundada pelo seu pai, e desempenhou cargos em várias instituições.
Foi vice-presidente da Câmara Municipal do Porto e o primeiro presidente da
Associação Industrial Portuense.
Para
quem sai das valas, não há dúvida que foi uma bela promoção... habitacional.
Aqui, um belo páteo atrás, só vizinhos
nos lados, casa desafogada, entrada para carro. Ótima, tanto quanto lembro. E
foi ocasião para se arranjar um cão.
Um fox terrier, pelo duro, o Boby (assim se deviam chamar metade dos
cães em Portugal), que os irmãos mais velhos adoravam, que volta e meia ficava
encarregado de tomar conta de mim, que teria um a dois anos. Se fosse a mãe a
dizer “toma conta do bebé”, o meu pai, ao aproximar-se ouvia um rosnar! O
contrário também era válido.
A mãe e os três primeiros filhos: Luis, Helena e o “autor” do texto.
Reza a história que um dia foram dar com
o tal “bebé” a cuspir pelos do cão! Alguém tinha visto a cena: a criança estava
a comer um biscoito e o Boby não
resistiu ao agradável aroma e mordeu metade do tal biscoito. O lesado, como
vingança, mordeu o seu fiel amigo, que não deve ter-se incomodado muito porque
engoliu o seu biscoito sem mais nada dizer!
É evidente que tínhamos de mudar de
casa: logo foram nascendo mais irmãos, primeiro uma irmã, alfacinha, e depois outro
tripeiro. Cinco filhos, o mais velho com seis anos e, este que vos escreve,
remexido, não tardou a ser mandado para um colégio infantil, perto da nossa
casa.
Lembra pouco desse estabelecimento de
ensino superior! Um dia entrou em
casa, correu para a mãe a pedir dinheiro. Para quê? Para comprar flores para
pôr na cama da dona... (nome... ?) A mãe averiguou. Tinha morrido a esposa do
diretor da escolinha e as flores eram para a campa!
Desde cedo que à chegada do tempo quente
uma forte alergia lhe deixava as curvas dos braços e das pernas com uma enorme
coceira, ao ponto de sangrar. E isto durava todo o verão.
O médico, o Dr. Vasco Nogueira de
Oliveira, quase me adoptou como neto! Muita vez telefonava aos meus pais a
perguntar se eu podia dormir lá em casa dele, e que, sem falta me devolveria
bem cedo no dia seguinte. Mais velho do que o meu pai, o doutor Vasco era uma
figura simpática. Tinha um filho na marinha e vivia só com a mulher, de modo
que uma criança em sua casa dava uma sobrevida ao casal.
Numa das vezes que ia devolver a criança
parou numa loja de brinquedos para me comprar um qualquer. A tal criança, aí com cinco anos, ficou à
porta da loja, onde estavam exposto um monte de bonecos. Bonequinhos ou
carrinhos, coisa pequena. Lembrou-se dos irmãos e deitou a mão a outros quatro
que levou para casa e distribuiu à irmandade.
Os pais pensaram que tinha sido
amabilidade do Dr. Vasco, que à tarde telefona a perguntar se eu tinha levado
para casa mais do que um brinquedo. A mãe, que atendeu o telefone (já havia
telefone nesse tempo, ou pensam o que?) disse que sim, que tinha dado um a cada
irmão. Porque? – É que telefonou o homem da loja a dizer que o menino tinha
levado uns brinquedos e que eu não tinha pago!
Ladrão em casa! Quase um pânico!
Começava cedo (Para os devidos efeitos afirmo que nunca fui para a política, e
só me lembro de outro furto, consciente, aí por 1972, mas contarei na devida época!)
Mas o bom do Dr. Vasco até achou graça,
disse que não tinha a menor importância, chegando a louvar a atitude social do
seu “neto” e cliente, e pagou o valor do valioso furto!
O tratamento para aquela irritação da
alergia, como se pode imaginar era à moda antiga.
Colocavam a coitada da criança em cima
de uma mesa, só de cuequinha e, com um daqueles pinceis, brocha de pintar
paredes, pincelavam-lhe as curvas dos braços e das pernas, com uma mistureba de
álcool puro, oxido de zinco, talco, nitrato de chumbo, flor de enxofre e, às
vezes, para dar um cheirinho... água de rosas!
Não é difícil imaginar que em
cima de áreas feridas aquelas pinceladas ardiam bem, e o coitado não tinha outra
alternativa se não chorar! Mas creio que me deve ter feito muito bem. O álcool
hoje é consumido sobretudo para uso interno e proveniente de uvas boas. O óxido
de zinco, agente secante não deixou que a barriga crescesse... até há meia
dúzia de anos, a flor de enxofre entre outras coisas afastou o demo, e dizem que é também responsável por manter a entrada necessária de oxigênio
no cérebro, o que me tem permitido escrever
tanta coisa. O chumbo é que é o pior: cada vez estou mais preguiçoso; deve ser
o peso!
Em 1936 ou 37 a família regressou a Lisboa, e instalaram-se
na rua Padre António Vieira, num prédio de esquina, esquina arredondada, no
primeiro andar (ou era no rés-do chão?), do número 20, à porta do qual o
motorista da Câmara, todas as manhãs parava o carrão, de trabalho, que vinha buscar o nosso pai. Ao domingo não
tinha carro.
Tinha
uma placa que jamais esquecemos: BI -10-?? Era o bidés!
Terá sido a estadia na rua de Vieira que viera (largas
décadas mais tarde) a suscitar-me o interesse para ler a História do Futuro,
para chegar à conclusão que esse tal de futuro só existiu na privilegiada
cabeça desse senhor! Passado, nós imaginamos que houve, porque garantir, mesmo
com documentos ditos irrefutáveis, como o que se encontra em arqueologia,
escritos, fotos, etc., têm sempre algo de duvidoso. Presente todos sabemos o
que é, mas futuro?
Futuro só existe na verborreia dos políticos. Veja-se o
Brasil, o país do futuro! Qual
futuro? Quando? Como?
Todos os impérios ruíram e de alguns a história já nem sabe
se existiram. Os que agora crescem não tarda encontram o mesmo futuro.
O Padre António Vieira entusiasmou muita gente, sobretudo o
grande Mestre George Agostinho da Silva, mas onde agora estão podem calmamente esquecer
esse futuro, visto que lá no etéreo tudo é presente e não existe passado nem
futuro. Se não princípio nem fim, como vai ter futuro?
Continua no próximo “capítulo”!