quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Do Brasil por Francisco G. de Amorim

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Crónicas ou Crônicas Portucalenses - 1 -


(ao correr da pena!)





Visitar Portugal, aliás irmãos e amigos, que são os que lá nos levam, é algo que, à medida que os anos nos vão pesando nos ombros (e no resto...) se torna uma emoção só!
Todos, ou quase, a ficarem como eu, velhotinhos, mas onde a amizade e a saudade parecem que vão crescendo com o tempo e a longa distância física que nos separa.
Se é uma benção encontrar tantos amigos, é uma tortura a impossibilidade de arranjar tempo para ver todos, abraçar todos, e ter com todos palavras que quebrem a emoção, recordem o bom tempo que passámos juntos, e mitiguem assim um pouco dessa saudade que logo a seguir cresce ainda mais!
De qualquer modo visitar e passear por Portugal no Outono, é uma beleza. Tempo lindo, temperatura agradável, muita e magnífica fruta, do vinho nem se fala, e de gastronomia não me venham com sofisticações, “maitres” franceses, etc., porque em qualquer tasquinha daquele país se come maravilhosamente. E barato.
São as sardinhas assadas, o cozido à portuguesa, a feijoada de feijão branco com farinheira, as ameijoas à Bulhão Pato e o peixe, e o bacalhau! Ah! O bacalhau, sobretudo o do meu amigo Pereira, do Restaurante Laurentina, em Lisboa, o melhor bacalhau do mundo... e arredores! E os chouriços, paios, paiolas e presuntos, de porco preto ou branco, as alheiras e farinheiras, os queijos frescos e curados de Serpa e Évora, os cremosos de Azeitão e o glorioso queijo da Serra! Sem esquecer os pasteis de nata!
Não há como alguém se livrar de regressar a casa com uns quilitos a mais na barriga e uma imensa saudade. Inclusive por não ter conseguido oportunidade de ir beber umas ginginhas na velha “Tendinha”, no Rossio!
Vontade de voltar há sempre. O que é difícil é a viagem não ser de borla, além da imensa canseira que são as horas de espera nos aeroportos e as nove horas e meia de vôo. Pior ainda quando ao Rio de Janeiro chegam vários aviões ao mesmo tempo, formando imensas filas para o controle da Polícia que demora, demora, demora..., e depois as malas que para saírem demoram, demoram, demoram... Amontoam-se os passageiros, só há duas esteiras para retirar as bagagens, e quer o Rio sediar as Olimpíadas!
Desta vez SÓ ficámos no aeroporto, depois do avião pousar, mais de duas horas! Se os pés já chegam inchados como barriga de elefante, este final é dramático.
Voltemos a Portugal. Estradas de primeira qualidade por todo o país, as ruas das cidades sem buraqueira, muita automação, um cada vez maior respeito pelo pedestre que atravessas as ruas, enfim um país integrado, mesmo com dificuldades, no chamado primeiro mundo.
Problemas, uma vez mais nos aguardam na “volta a casa”: o tal respeito pelos pedestres... cada um que atravesse a rua onde quiser e correndinho que o automobilista está com pressa! E depois a triste sensação de encontrar o carro que deixámos na garagem em bom estado, afinal está com a suspensão toda estragada! Mas como é possível se o carro não andou durante a ausência do dono? Mistério! Chama-se o mecânico que confirma que está tudo em ordem! Mas logo vem à memória o que havíamos esquecido: as ruas da cidade!!! Uma buraqueira de fazer trincar os dentes! Sobretudo nos bairros menos “nobres” da cidade, onde vive a maioria da população que, mesmo com dificuldade, paga os seus impostos!
Agora os fados? Paixão da minha mocidade, parece estar crescendo em força. Que bom. Lá estão as herdeiras da Amália, da Lucília do Carmo, do Marceneiro, e tantos outros, e os exímios guitarristas “chorando” o fado menor! Ouvir um fadinho bem cantado, enquanto se saboreiam algumas “tapas” e uns copos do bom vinho... sempre nos faz rejuvenescer!
No Tejo já não se vêm as fragatas usadas sobretudo no transporte de cargas. Barcos lindos, cheios de tipicidade, de que só se encontram hoje raros exemplares. É pena, mas a evolução não tem coração.
Mas ficaram os carros elétricos, cheios de turistas de todas as nacionalidades, o elevador de Santa Justa onde estes fazem longas filas para não perder o espetáculo de ver a Baixa pelo alto, e, sobretudo e infelizmente, a passividade do povo português face à grave crise que está e vai atravessar!
Deu vivas ao Salazar, depois ao “glorioso vintecincobarraquatro” que arruinou as finanças do país, sorriu e aplaudiu o Cavaco e os montes de dinheiro que veio da CEE, deixou que os governos gastassem “à tripa forra”, com salários milionários aos comparsas dos partidos políticos, e agora que a crise subiu à tona, xingam os governantes e os políticos, mas cada um tranquilamente sentado no seu habitual canto do café, misturando a “desgraça do aperto de cinto” que aí vem, com os resultados do Benfica ou do Porto!
Mas tudo isto acaba por ser folclore! Vejam-se os hotéis cheios, turistas do mundo inteiro, um povo sisudo mas cortês, um sol maravilhoso e um bom petisco em cada esquina!
Portugal vale a pena!

28-out-10



(continua)

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