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Células gigantes
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Como a tônica dos textos aqui inseridos têm normalmente caris política, é possível que alguém pense tratar-se das “cédulas” com que os políticos se aboletam. Não é. Desta vez o assunto é particularmente grave. Trata-se de um tumor. Bem sabemos que o grande tumor deste país, gigante o país e o tumor, é fruto da irresponsabilidade do primeiro (des)governante e da anarquia da semvergonhice que o envolve. Mas...
Desta vez vamos tentar explicar, não cientificamente, como é óbvio, o que é um tumor de células gigantes. É uma entidade benigna agressiva, mas "não maligna", que aparece nos ossos. A maioria das vezes nas gengivas, outras nos chamados ossos longos - cerca de 50% dos casos apresenta-se no fêmur e na tíbia - e raramente na coluna, nas vértebras.
Chama-se de células gigantes porque, sem que se conheça a origem de semelhante doença, há um desenvolvimento muito rápido e gigantesco de algumas células no interior do osso, que podem levar à sua total destruição.
Ocorre na quase totalidade das vezes em indivíduos do sexo feminino com idades compreendidas entre os vinte e trinta e poucos anos.
Para todos estes tumores só se conhece uma solução clínica: a sua excisão completa, preenchendo-se o vazio criado com “cimentos” especiais. Apesar disso a reincidência do tumor não é descartada, e outra, ou outras cirurgias poderão ser necessárias até que o problema fique totalmente eliminado.
Quando esses tumores aparecem na coluna, além do problema intrínseco do osso, surgem normalmente sequelas neurológicas que podem levar à paraplegia.
Começamos agora a falar no que aconteceu com a nossa neta Joana, ainda com 22 anos.
Começou por um incômodo nas “costas”, que foi aumentando para dor, atribuindo-se isso a má postura ou a pequena escoliose. O primeiro médico a ser consultado, e que deve ser processado pela sua postura indigna e ignorância provocada, quando a paciente se queixou de dores nas costas, o “cara”, sem se dignar olhar para a doente, com os olhos fixos no computador, mandou-a fazer uma radiografia à cabeça e outra à região lombar, quando as dores foram bem indicadas pela doente, formada em biologia, se fixavam no tórax! E além desse descaso recomendou que fosse fazer natação! Enfim, uma besta, que deve ser processada.
Dois dias depois a Joana, acorda com grande aumento de dores nas costas, sem sentir os pés e com dificuldade para se locomover. Avisado, o amigo e médico da família, um dos mais competentes neurocirurgiões do Rio de Janeiro, Dr. Luis Mauricio Fogel, internou-a imediatamente, mandou-a analisar com tomografias computadorizadas, ressonâncias magnéticas, etc. verificando que a 3ª. vértebra toráxica estava disforme, enquanto a paralisia alcançava o nível do peito, até à altura da vértebra doente.
Correndo contra o tempo para obter as necessárias autorizações do plano de saúde e para formar a equipe operatória, menos de 48 horas depois, finalmente entra em cirurgia. Os médicos, que só sabiam da existência desta doença através de rara documentação existente, preocuparam-se em primeiro lugar com a libertação da medula que estava já pressionada pelo tumor, o que provocava a paralisia, que aliviada recomeçou imediatamente a pulsar, o que significava poder regenerar toda a área sensorial afetada. “Limpa” a área afetada dessa vértebra, depois de quase cinco horas de cirurgia, os médicos foram avisando que, apesar de terem retirado tudo quanto parecia anormal, era de esperar uma recorrência do tumor num prazo de seis a dez meses, que, analisado, se mostrou benigno.
Se esta cirurgia não se tivesse efetuado com a urgência que o médico exigiu, talvez a paraplegia não tivesse mais possibilidade de se regredir!
Todos os meses seguintes a Joana passou a ser submetida aos mesmos exames: radiografias, tomografias computadorizadas, ressonância magnéticas, até que ao fim de três meses o tumor havia voltado e ameaçava novamente a medula.
O cirurgião reuniu então a equipa médica que levou quase um mês a estudar o problema e discutir a estratégia para erradicar, se possível de vez, o problema, e foi decidido que a vértebra teria que ser totalmente retirada e substituída por uma de titânio, em duas fases:
- primeiro abrir o tórax pela frente, com corte do externo, para dar acesso à parte frontal da vértebra a ser retirada, cirurgia perigosa e dolorosa, encontrando-se as mesmas ou outras células gigantes, a ameaçarem novamente a medula, e parte delas “sentadas” em cima do coração! Para os leigos, como eu: as costelas que saem dessa vértebra ficaram ligadas às duas superiores e às inferiores!
- uma segunda intervenção, alguns dias depois, com abertura pelas costas, novamente, para retirar o restante e colocar a segunda “metade” da vértebra de metal, cirurgia menos perigosa, mas bem mais delicada;
- na véspera da primeira intervenção um angiologista fez a emboliação do sangue! Injetou um produto que em micro células ou partículas permite bloquear umas quantas artérias, evitando assim que durante a cirurgia, o local a ser tratado seja inundado de sangue, o que, além de dificultar a visão dos médicos, evita que o paciente perca muito sangue. Ao mesmo tempo este tratamento espessa também o sangue, com as mesmas finalidades.
A primeira intervenção demorou cerca de seis horas, e a segunda, cinco dias depois, quase dez! Por fim os médicos, emocionados, mas satisfeitos, disseram que tinham conseguido fazer exatamente o que haviam planeado, e que tudo havia corrido muito bem.
A doente, com seu habitual aspecto de fragilidade e doçura, mas de espírito claro e forte, e determinada a não se deixar vencer, começou a recuperar, sabendo que tem pela frente ainda um longo caminho até se restabelecer totalmente.
Foi uma fase muito difícil, ela foi mexida e remexida internamente, mas agora, com a sua alegria de viver, está mais animada.
As minhas desculpas pelo atrevimento em escrever este “relatório”, para que os amigos fiquem cientes do que se tem passado, que esperamos, todos, que pertença mesmo ao passado.
Desta vez vamos tentar explicar, não cientificamente, como é óbvio, o que é um tumor de células gigantes. É uma entidade benigna agressiva, mas "não maligna", que aparece nos ossos. A maioria das vezes nas gengivas, outras nos chamados ossos longos - cerca de 50% dos casos apresenta-se no fêmur e na tíbia - e raramente na coluna, nas vértebras.
Chama-se de células gigantes porque, sem que se conheça a origem de semelhante doença, há um desenvolvimento muito rápido e gigantesco de algumas células no interior do osso, que podem levar à sua total destruição.
Ocorre na quase totalidade das vezes em indivíduos do sexo feminino com idades compreendidas entre os vinte e trinta e poucos anos.
Para todos estes tumores só se conhece uma solução clínica: a sua excisão completa, preenchendo-se o vazio criado com “cimentos” especiais. Apesar disso a reincidência do tumor não é descartada, e outra, ou outras cirurgias poderão ser necessárias até que o problema fique totalmente eliminado.
Quando esses tumores aparecem na coluna, além do problema intrínseco do osso, surgem normalmente sequelas neurológicas que podem levar à paraplegia.
Começamos agora a falar no que aconteceu com a nossa neta Joana, ainda com 22 anos.
Começou por um incômodo nas “costas”, que foi aumentando para dor, atribuindo-se isso a má postura ou a pequena escoliose. O primeiro médico a ser consultado, e que deve ser processado pela sua postura indigna e ignorância provocada, quando a paciente se queixou de dores nas costas, o “cara”, sem se dignar olhar para a doente, com os olhos fixos no computador, mandou-a fazer uma radiografia à cabeça e outra à região lombar, quando as dores foram bem indicadas pela doente, formada em biologia, se fixavam no tórax! E além desse descaso recomendou que fosse fazer natação! Enfim, uma besta, que deve ser processada.
Dois dias depois a Joana, acorda com grande aumento de dores nas costas, sem sentir os pés e com dificuldade para se locomover. Avisado, o amigo e médico da família, um dos mais competentes neurocirurgiões do Rio de Janeiro, Dr. Luis Mauricio Fogel, internou-a imediatamente, mandou-a analisar com tomografias computadorizadas, ressonâncias magnéticas, etc. verificando que a 3ª. vértebra toráxica estava disforme, enquanto a paralisia alcançava o nível do peito, até à altura da vértebra doente.
Correndo contra o tempo para obter as necessárias autorizações do plano de saúde e para formar a equipe operatória, menos de 48 horas depois, finalmente entra em cirurgia. Os médicos, que só sabiam da existência desta doença através de rara documentação existente, preocuparam-se em primeiro lugar com a libertação da medula que estava já pressionada pelo tumor, o que provocava a paralisia, que aliviada recomeçou imediatamente a pulsar, o que significava poder regenerar toda a área sensorial afetada. “Limpa” a área afetada dessa vértebra, depois de quase cinco horas de cirurgia, os médicos foram avisando que, apesar de terem retirado tudo quanto parecia anormal, era de esperar uma recorrência do tumor num prazo de seis a dez meses, que, analisado, se mostrou benigno.
Se esta cirurgia não se tivesse efetuado com a urgência que o médico exigiu, talvez a paraplegia não tivesse mais possibilidade de se regredir!
Todos os meses seguintes a Joana passou a ser submetida aos mesmos exames: radiografias, tomografias computadorizadas, ressonância magnéticas, até que ao fim de três meses o tumor havia voltado e ameaçava novamente a medula.
O cirurgião reuniu então a equipa médica que levou quase um mês a estudar o problema e discutir a estratégia para erradicar, se possível de vez, o problema, e foi decidido que a vértebra teria que ser totalmente retirada e substituída por uma de titânio, em duas fases:
- primeiro abrir o tórax pela frente, com corte do externo, para dar acesso à parte frontal da vértebra a ser retirada, cirurgia perigosa e dolorosa, encontrando-se as mesmas ou outras células gigantes, a ameaçarem novamente a medula, e parte delas “sentadas” em cima do coração! Para os leigos, como eu: as costelas que saem dessa vértebra ficaram ligadas às duas superiores e às inferiores!
- uma segunda intervenção, alguns dias depois, com abertura pelas costas, novamente, para retirar o restante e colocar a segunda “metade” da vértebra de metal, cirurgia menos perigosa, mas bem mais delicada;
- na véspera da primeira intervenção um angiologista fez a emboliação do sangue! Injetou um produto que em micro células ou partículas permite bloquear umas quantas artérias, evitando assim que durante a cirurgia, o local a ser tratado seja inundado de sangue, o que, além de dificultar a visão dos médicos, evita que o paciente perca muito sangue. Ao mesmo tempo este tratamento espessa também o sangue, com as mesmas finalidades.
A primeira intervenção demorou cerca de seis horas, e a segunda, cinco dias depois, quase dez! Por fim os médicos, emocionados, mas satisfeitos, disseram que tinham conseguido fazer exatamente o que haviam planeado, e que tudo havia corrido muito bem.
A doente, com seu habitual aspecto de fragilidade e doçura, mas de espírito claro e forte, e determinada a não se deixar vencer, começou a recuperar, sabendo que tem pela frente ainda um longo caminho até se restabelecer totalmente.
Foi uma fase muito difícil, ela foi mexida e remexida internamente, mas agora, com a sua alegria de viver, está mais animada.
As minhas desculpas pelo atrevimento em escrever este “relatório”, para que os amigos fiquem cientes do que se tem passado, que esperamos, todos, que pertença mesmo ao passado.
por Francisco G. de Amorim
28-abr-09
28-abr-09