segunda-feira, 27 de março de 2023

 Meus amigos

Certamente notaram que estou a escrever cada vez menos.
É verdade. Idade é assim.
Falta disposição, inspiração e físico.
Vou fazendo o que posso.
Aqui vai hoje mais um texto

“Na Natureza, nada se cria, nada se perde,

tudo se transforma”

 

Partindo de um pressuposto que dos 8 bilhões de habitantes desta Geia, 20% será se jovens até aos 14 anos, que ainda pouco ou nada sabem e uns 10% de idosos que devem já ter esquecido até o próprio nome, sobram entre 5 a 6 bilhões de pessoas que deviam ter obrigação de não só saberem bem este princípio, imutável, sobre a natureza, e tê-lo sempre presente do seu cérebro e atuações, como até, por educação e respeito se lembrarem de quem o pronunciou ou definiu.

Alguns que, como eu, vão chegando ao fim do tempo que lhes foi concedido para viverem neste planeta, e começam a baralhar as ideias e a esquecer muito do que aprenderam, lá bem no fundo ainda não esqueceram que foi o senhor Antoine Lavoisier, que fez, tão profunda e simples afirmação..

Génio químico, físico, biólogo, matemático, advogado, etc., uma cabeça rara, foi guilhotinado pelo Terror da Revolução Francesa, quando tinha só 51 anos, e muito, muito, ainda para nos legar.

No dia posterior desse julgamento, Joseph-Louis Lagrange, um importante matemático, contemporâneo de Lavoisier disse:

Não bastará um século para produzir uma cabeça igual à que se fez cair num segundo.”

E eu ponho-me a pensar, com é fácil para quem assume o poder sobre a vida dos outros, de as destruir a sua bel-prazer, e procuro, dando uma rápida passagem pela história de casos semelhantes em que um “chefe” que se apropria do governo, do comando de um ou mais povos, os dizima, parecendo até estar a fazê-lo por desporto, por diversão.

Apesar de não ser o pior deles, vem-me logo à cabeça o tão “deificado” Che Gevara que, quando ministro em Cuba, saía de manhã do seu gabinete para ir despejar o revolver nas cabeças de uns quantos prisioneiros.

Puro diversão ou raiva contida? Doente, hoje cultuado com um exemplo!

E tantos e tantos “chefes” que mataram milhões, desde os tempos mais antigos, assistindo de palanque aos morticínios, como por exemplo nos “Autos de Fé” da Inquisição, quando se matavam os vivos, chamando-lhes “relaxados na carne” e àqueles que já tinham morrido ou estavam longe os “relaxados em estátua”.

É evidente que já no “nosso” tempo não podemos esquecer Stalin, Pal Pott, Tsé Dong, Leopoldo II da Bélgica, Hitler, Matsui Iwane (massacre de Nanjing), os King Kong da Coreia, Kadafi, Mussolini (responsável por mais de 1 milhão de mortes), o massacre na Namíbia, a “interminável e desportiva” caça aos índios na América do Norte, e enfim, centenas ou milhares deles, é um tema inesgotável.

E no Brasil? No Brasil mata-se mais devagar e de maneiras diversas. Os maiores matadores são os grupos armados, ligados ao governo e ao tráfico de tudo quanto se pode traficar – droga, armas, gente, órgãos humanos, crianças, madeira nobre, animais exóticos e outras coisicas – a polícia, muitas vezes com pouco cultura e fraco comando também se lembra de puxar o gatilho, alguns maridos matam as mulheres ou parceiras porque... lhes apetece, e na política tem muita coisa em que se não fala, porque o “chefe” manda fazer segredo sobre o assunto.

O Hitler dizia que não queria saber o que faziam aos judeus ou ciganos, não era póbrema dele, aqui o “chefe” não sabe nada, não ouviu nada, nem vê nada, mas alguns opositores foram assassinados, os assassinos encontrados, julgados e libertados,

Agora, há dias, 8 de Janeiro, o povo que não engoliu a nomeação do “chefe” – porque as urnas foram manipuladas, quiseram fazer uma manifestação em Brasília. Ingénuos, foram para lá com a família, filhos pequenos e avós, clamar junto daqueles em quem o povo pensava que se podia apoiar e que covardemente  os traiu a todos.

As Forças Armadas que tinham conseguido recuperar a admiração e o respeito da opinião pública, desenganou-se, sentiu-se traída e assistiu aos “comandante chefes”, praticamente todos a irem beijar a mão do condenado chefe que um tribunal corrupto colocou na chefia desta país.

Hoje só se vêm manifestações de insulto aos militares. É pena.

O “chefe” que soube do que se ia passar mandou que se retirasse a polícia de guarda aos edifícios do Congresso e do STF, infiltrou o grupo de ingénuos com centenas de bandidos do PT que fizeram aquela baderna e mandou que se chamasse a esse movimento “o terrorismo bolsonarista”.

Esqueceram de retirar todas as câmeras que registram a baderna, e lá se vê bem quem foi para destruir e desmoralizar.

O “chefe” tenta impedir uma CPI sobre o assunto e deu ordem para que nem uma só imagem fosse tornada pública. O assunto passou a ser, OFICIALMENTE, secretíssimo.

Stalin, Hitler ou outro semelhante não fariam melhor.

Este “chefe” que afirma que o seu objetivo primário é fu... o Moro – o juiz que o condenou – que autoriza as permanentes invasões de fazendas agrícolas, uma delas por diversas vezes já invadida, fazenda de eucaliptos para celulose porque os invasores dizem que eucalipto não serve para comer! Muito instruídos. Esquecem, por ignorância, que a celulose, entre outras coisas serve para fazer papel sendo uma das variedades aquela que eles usam para limpar o ... chamado higiénicu. Como já têm a mente suja, o traseiro pode ficar também por limpar.

O que é que o Lavoisier tem a ver com isto que por aqui se passa?

O “chefe” nada cria; destrói, barragens, estradas e, como fez Stalin quando sequestrou a produção da alimentos na Ucrânia e Casaquistão, que levou a uns 10.000.000 de mortos à fome.

Nada perde, porque nas compras do governo e autarquias entre 20 a 50% do valor superfaturado vai para os seus bolsos e do seu movimento, estes sim, terrorista.

E tudo transforma: o mais rico país do Mundo será levado ao desastre e à falência para depois ser dividido pelos amigos.

Coitado do Lavoisier, homem brilhante, assassinado aos 51 anos!

O Brasil também está na sua puberdade.

Depois de três séculos de colônia mal barata e espoliada, tem só dois séculos de ladroagem.

Quanto falta para ser um país, mais ou menos, decente?

No mínimo mais outro século quando estiver dividido em republiquetas.

Vantagem minha que já aqui não estarei. E se “Lá de Cima” conseguir ver alguma coisa, vou virar a cara para o lado.

24/03/23

 

Vou aproveitar e transcrever uma entrevista do mais forte chefe do que chamam bandidos.

É, infelizmente, um retrato muito real do Brasil, apesar de não ter sido uma entrevista mas um texto do grande jornalista Arnaldo Jabor, que faleceu há um ano.

Leiam e depois chorem.

Assustadora mas imperdível a “entrevista com o líder do PCC, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola”. Que estamos todos no inferno, já é sabido. O que todos sabemos é que a curto prazo, talvez um século, não há solução, pois ninguém as o que fazer, nem quer.

O que tem de gente “graúda” metida pelo meio e que defende este “status quo” é impressionante.

 

O GLOBO: Você é do PCC?

- Mais que isso, eu sou um sinal de novos tempos. Eu era pobre e invisível… vocês nunca me olharam durante décadas… E antigamente era mole resolver o problema da miséria… O diagnóstico era óbvio: migração rural, desnível de renda, poucas favelas, ralas periferias… A solução é que nunca vinha… Que fizeram? Nada. O governo federal alguma vez alocou uma verba para nós? Nós só aparecíamos nos desabamentos no morro ou nas músicas românticas sobre a “beleza dos morros ao amanhecer”, essas coisas… Agora, estamos ricos com a multinacional do pó. E vocês estão morrendo de medo… Nós somos o início tardio de vossa consciência social… Viu? Sou culto… Leio Dante na prisão…

O GLOBO: – Mas… a solução seria… - Solução?

- Não há mais solução, cara… A própria idéia de “solução” já é um erro. Já olhou o tamanho das 560 favelas do Rio? Já andou de helicóptero por cima da periferia de São Paulo? Solução como? Só viria com muitos bilhões de dólares gastos organizadamente, com um governante de alto nível, uma imensa vontade política, crescimento econômico, revolução na educação, urbanização geral; e tudo teria de ser sob a batuta quase que de uma “tirania esclarecida”, que pulasse por cima da paralisia burocrática secular, que passasse por cima do Legislativo cúmplice (Ou você acha que os 287 sanguessugas vão agir? Se bobear, vão roubar até o PCC…) e do Judiciário, que impede punições. Teria de haver uma reforma radical do processo penal do país, teria de haver comunicação e inteligência entre polícias municipais, estaduais e federais (nós fazemos até conference calls entre presídios…). E tudo isso custaria bilhões de dólares e implicaria numa mudança psicossocial profunda na estrutura política do país. Ou seja: é impossível. Não há solução.

O GLOBO: – Você não têm medo de morrer?

 - Vocês é que têm medo de morrer, eu não. Aliás, aqui na cadeia vocês não podem entrar e me matar… mas eu posso mandar matar vocês lá fora…. Nós somos homens-bomba. Na favela tem cem mil homens-bomba… Estamos no centro do Insolúvel, mesmo… Vocês no bem e eu no mal e, no meio, a fronteira da morte, a única fronteira. Já somos uma outra espécie, já somos outros bichos, diferentes de vocês. A morte para vocês é um drama cristão numa cama, no ataque do coração… A morte para nós é o presunto diário, desovado numa vala… Vocês intelectuais não falavam em luta de classes, em “seja marginal, seja herói”? Pois é: chegamos, somos nós! Ha, ha… Vocês nunca esperavam esses guerreiros do pó, né? Eu sou inteligente. Eu leio, li 3.000 livros e leio Dante… mas meus soldados todos são estranhas anomalias do desenvolvimento torto desse país. Não há mais proletários, ou infelizes ou explorados. Há uma terceira coisa crescendo aí fora, cultivado na lama, se educando no absoluto analfabetismo, se diplomando nas cadeias, como um monstro Alien escondido nas brechas da cidade. Já surgiu uma nova linguagem.Vocês não ouvem as gravações feitas “com autorização da Justiça”? Pois é. É outra língua. Estamos diante de uma espécie de pós-miséria. Isso. A pós-miséria gera uma nova cultura assassina, ajudada pela tecnologia, satélites, celulares, internet, armas modernas. É a merda com chips, com megabytes. Meus comandados são uma mutação da espécie social, são fungos de um grande erro sujo.

O GLOBO: – O que mudou nas periferias? - Grana. A gente hoje tem. Você acha que quem tem US$40 milhões como o Beira-Mar não manda? Com 40 milhões a prisão é um hotel, um escritório… Qual a polícia que vai queimar essa mina de ouro, tá ligado? Nós somos uma empresa moderna, rica. Se funcionário vacila, é despedido e jogado no “microondas”… ha, ha… Vocês são o Estado quebrado, dominado por incompetentes. Nós temos métodos ágeis de gestão. Vocês são lentos e burocráticos. Nós lutamos em terreno próprio. Vocês, em terra estranha. Nós não tememos a morte. Vocês morrem de medo. Nós somos bem armados. Vocês vão de três-oitão. Nós estamos no ataque. Vocês, na defesa. Vocês têm mania de humanismo. Nós somos cruéis, sem piedade. Vocês nos transformam em superstars do crime. Nós fazemos vocês de palhaços. Nós somos ajudados pela população das favelas, por medo ou por amor. Vocês são odiados. Vocês são regionais, provincianos. Nossas armas e produto vêm de fora, somos globais. Nós não esquecemos de vocês, são nossos fregueses. Vocês nos esquecem assim que passa o surto de violência.

O GLOBO: – Mas o que devemos fazer?

- Vou dar um toque, mesmo contra mim. Peguem os barões do pó! Tem deputado, senador, tem generais, tem até ex-presidentes do Paraguai nas paradas de cocaína e armas. Mas quem vai fazer isso? O Exército? Com que grana? Não tem dinheiro nem para o rancho dos recrutas… O país está quebrado, sustentando um Estado morto a juros de 20% ao ano.

 

É assim o “país do futuro”, futuro que não chegará NUNCA.

Nem Stefan Zweig, nem Padre António Vieira nem Agostinho da Silva, sonharam que se pudesse deixar chegar o país ao estado em que chegou.