sábado, 27 de fevereiro de 2021

 

Ética - 2021

 

Há 13 anos escrevi, com o título É  ÉTICA  ou  É TITICA ? um texto que podia ser hoje transcrito porque nada mudou para o bem, pelo contrário, evoluiu para pior. Começava assim:
Ética é um assunto que vem sendo discutido, pensado, matutado e até complicado por pensadores, filósofos, teólogos e outros matutos, desde há milênios até aos dias de hoje, divergindo os mais modernos à medida que vai evoluindo o conhecimento científico.
Concordam com uns aspetos, discordam de outros, mas para leigos obtusos, como eu, fica sempre no ar uma pergunta inocente: “Será que a evolução científica tem algo a ver com a ética, sendo esta simplesmente a “ciência” da moral e dos costumes?”
Segundo alguns desses pensadores “o Estado representa o ponto de partida e de chegada na ética...” E se o Estado nega todos estes princípios, desmontando de forma implacável tudo aquilo que levou milhares e milhares de anos a definir, permitindo os mais sujos jogos de corrupção, apadrinhamento, enriquecimento ilícito, corporativismo, e outras práticas abomináveis? Como ficamos?
Etc.
Agora que ando a desfazer-me de muitos livros que enchiam uns 75 metros lineares de prateleiras (já mandei, e vou mandar mais, para Moçambique, doei pra uma biblioteca de uma das favelas do Rio, vou dando a filhos e um dos netos que sobrou aqui pelo Rio, a amigos, etc.) vou pegando num ou outro que não me lembro de ter lido (sempre lá encontro uns pequenos pontos, sinal que o li!) e chamou-me à atenção um deles, pequeno, exatamente Ética, edição de 2003, escrito por quatro intelectuais brasileiros, e encontrei lá frases e ou pensamentos interessantes.
Diz um deles que hoje vivemos, não uma época de mudanças, mas uma mudança de época. Bonito, hein! Não sei o que o senhor pensador/intelectual quis dizer com isso mas é uma frase de efeito.
Um pouco adiante começa a ser um mais conciso: O mercado é o novo fetiche religioso da sociedade em que vivemos. Dantes os nossos avós consultavam a Bíblia diante dos fatos da vida, depois nossos pais consultavam a meteorologia “Será que vai chover?” Hoje consulta-se o mercado: “Será que o dólar desvalorizou? Subiu a Bolsa?” ao ponto de alguns crânios, nas suas poltronas, face a uma agitação qualquer só pensarem no “vamos ver como o mercado reage”!
Sempre houve publicidade, desde sempre, mas hoje em dia a publicidade é uma  irrefreável lavagem cerebral. Educação e cultura não estão mais na visão de futuro.
Só “felicidade”! Famintos de felicidade egocêntrica. E os publicitários ocuparam essa vaga: abre-se o telefone celular e entre cada notícia, quando não é notícia mas mentalização política, há dezenas de anúncios, de carros, soutiens, pílulas para emagrecer, outras para aumentar a potencia sexual masculina (alguns garantem que aumenta 15x... o que eu gostaria de ver!), outros prometem que podem aumentar também o pênis em 10 cm. (devem ficar iguais a burros antes de cobrir a burra), descontos em faculdades (sobretudo naquelas que nem para instrução primária deveriam abrir), relógios, joias, clínicas de estética, agências de viagens que prometem até 80% de desconto, roupas para “elegantes”, dezenas ou milhares de produtos de beleza e de rejuvenescimento, fotos de homens e mulheres que malham nas academias e não tarda apodrecem, importantes notícias sobre lésbicas que trocaram de parceiras, idem para gays, no computador é igual, e na TV filmes super asquerosos, com intervalos intermináveis carregados de publicidade, novelas com um nível de baixaria doentio, revistas pornô, Playboy e Playgirl e por aí vai, sem fim, o que leva a humanidade à alienação.
É o supérfluo a inflar o ego. Raros são já os que olham para dentro! Só para o espelho e para as revistas de fofoca à procura de se igualarem com os “famosos”!  Milhares sonham em conseguir participar de uma novela. Outros mais vivaços começam a cantar, apesar da música brasileira hoje ser pouco menos ainda do que lixo, e ganhar milhões de fãs e dinheiro. Elas despem-se para cantar por é o que têm para mostrar, eles, gritam, dizem obscenidades e... Outros são a nova moda dos influencers digitais, alguns conseguindo milhares de seguidores e ganhando dinheiro que a publicidade lhes dá.
Mas a grande preocupação da maioria da juventude é arranjar, não um trabalho, mas um emprego. Sobretudo funcionário público onde as regalias são inúmeras e o futuro parece garantido. 
No antigamente (eu sou do muito antigamente) namorava-se, ficava-se noivo, casava-se, e a grande maioria se a malvada não batesse à porta comemoram as bodas de prata, de ouro e, já raros, um pouco mais.
Dantes casava-se para criar família, para se respeitarem. Sempre entre os casais houve momentos de discórdia e tensão, mas o conceito de família e respeito prevalecia. Hoje... casa, se casa, descasa, namora que é o antigo conceito de amancebar-se, ao mínimo desacordo troca-se de mulher ou de homem, voltam a ser namorados, separam-se, namoram e... e, cadê a família? 
Há uns resquícios de famílias, enquanto existirem ou “velhos”. Depois... tende a implodir.
No meu tempo (bota tempo nisso) os mais velhos (ainda) me diziam “vais casar, mas olha que não deves pagar mais de 1/6 do teu salário pelo aluguer!” Hoje os jovens acabam não podendo casar, a menos que ganhem muito bem, ou então um trabalha só para pagar o aluguer e o outro para as restantes despesas! Resultado, filhos ficam para um dia se... e sobretudo na Europa, para que os países não fiquem desertos, em muito breve tempo, há que receber o máximo possível de estrangeiros, sejam eles, asiáticos, semitas, africanos, cristãos ou maometanos.
Que importa? As igrejas, as que não são comércio, esvaziam-se, não há vocações sacerdotais, as sinagogas, idem, os mosteiros vão-se abandonando ou transformando em hotéis, sobram as mesquitas, cheias!
Será que os maometanos têm mais religiosidade do que os outros?
Não. Só conseguem, aliás só os deixam ver o cisco nos olhos dos outros sem que vejam as toras, imensas, nos seus próprios olhos. E ouvem a mentalização de que um dia tudo será deles.
Será uma questão de espiritualidade?
Evidente! Parece que não há tempo para as pessoas olharem para dentro de si mesmas, para procurarem dentro de si o que lhes falta, que é muito simples: falta-lhes o Outro.
Hoje não sobra tempo para olharem para o Outro, aquele, igual a nós, rico ou pobre, para todos aqueles que deveriam ser e são mais excluídos, mas parte da nossa família. Somos todos da mesma Familia Hominidae (que, por muito que alguns não gostem, compartilhamos com os gorilas, chimpanzés, orangotangos) e dizem que até alguns humanos são sapiens, o que parece estranho face à estupidez que grassa como vírus (pior do que o Covid !).
Vale citar Hannah Arendt quando ela disse que o alheamento é uma forma pela qual se manifesta a banalidade do mal. As pessoas alheiam-se de si próprias, do que passa à sua volta, só lhes interessa o seu umbigo! O mal pode correr mesmo ao seu lado, mas... se não é comigo... não me meto!
Hoje quer-se refazer a história. Querem condenar os que, mesmo há milênios já condenavam as atitudes de agora! Édipo foi um infeliz. Sem saber, matou o pai e casou com a rainha que era sua mãe. Quando tomou conhecimento de tamanha desgraça, chorou, abandonou tudo e sumiu. Apesar desta peça de teatro ter 2.500 anos, entretanto houve muitos “édipos” que se refestelaram matando pais e mães, dormindo com irmão filhas e mães e... dando risada!
Vergonha desapareceu! Cresce a ganância, a inveja e a estupidez.
Um dos nossos netos, vivo, dinâmico, inteligente (chega de encômios, mas teria mais para defini-lo!) foi chamado por um deputado estadual para ser seu Assistente Parlamentar, e só tinha 17 anos. O tal deputado, como os outros TODOS dispõem de uma verba mensal de R$160.000 para contratar assessores (Loucura, mas é o que reza a legislação... que ninguém se atreve a alterar) o que dá para uns vinte (20) penduras que não fazem ABSOLUTAMENTE nada.
Pois bem, o nosso neto, que não se vende, quis alterar o sistema de comunicação entre essa turma de vagabundos, porque todos usavam (e continuam usando) o Whatsapp para se comunicarem. Todos querem perguntar a este, aquele a esta, e assim ficam o dia todo sem nada resolverem. O novo assessor propôs alterar o sistema, por outro MUITO mais eficiente. O que foste fazer!!! Os mais antigos disseram que era complicado mudar o sistema, que isto e mais aquilo e tentaram crucificar o jovem! O deputado, que o respeita foi obrigado a dispensá-lo! Progresso aqui é assim, na política.
O neto, agora muito mais velho, 18 anos, não parou, nem de  estudar e no mesmo dia estava de volta na empresa de onde tinha saído!
Já escrevi o que vou reconfirmar:
Estava no Brasil há uns 3 ou 4 anos e um dia fui visitar uns possíveis clientes, num bairro de grã-finos de São Paulo, sábado. Havia uma festinha porque o filho fazia 18 anos. Não quis entrar mas insistiram e lá fui eu. Churrasco e cerveja a correr, amavelmente sentaram-me na mesa do dono da casa, onde estava um seu irmão, na altura deputado da Arena, o partido do Governo militar que começava a afundar-se porque se tinha aberto a lei para entrarem novos partidos. Este disse-me que se ia candidatar ao novo partido MDB, da oposição aos militares, e eu logo lhe fiz a minha previsão: “Não vai ser eleito! – Porquê? – Sai do partido do governo e quer entrar logo na oposição? O povo tem memória curta, mas não tão curta! – O senhor acha isso? – Não tenho bola de cristal mas tudo parece ser lógico.”
A conversa seguiu e depois perguntou-me (eu tinha já uma razoável experiência de vida, 46 anos com 20 anos em África, que eles nem sabiam onde ficava Angola!) como eu achava que se devia resolver o problema do Brasil, seu crescimento, etc. A resposta foi fácil:
- Seguir a filosofia chinesa! Se os teus planos forem a 1 ano, semeia trigo, ou milho; a 10, planta árvores, a 100, educa o povo!
- Cem anos ???
- Sim, depois que na verdade e com qualidade começarem a educar o povo. Todo. E parece que isso está ainda longe.
São passados mais de quarenta anos desta conversa.
Hoje o problema do Brasil está muito mais complicado.
Não se educa o povo, a corrupção corre solta (em 1980 era rara) o tráfico domina as cidades, agora com máfias que se chamam milicianos, os desgracentos “Direitos Humanos” não deixam resolver o problema que só irá a tiro (infelizmente), o país já não é governado por um Presidente, mas por uma pandilha, que domina o STJ, o mundo inteiro malha no Presidente porque não alinha com a tsunami mundial de uma mistura marxismo/capitalismo (que se está a entender às mil maravilhas), e o caminho para uma nova época, para uma revolução mundial, caminha a passos largos.
Quando um intelectual, que começa por escrever... “nós os intelectuais”, se orgulha de ter sido secretário de um governo no Rio de Janeiro, quando era sabido que o governador foi um dos maiores ladrões de todos os que por ali passaram, como pode falar de ética? Se toda a gente sabia que o governador era um corrupto e um vendido, como pode um indivíduo que se diz ético trabalhar sob sua orientação! Cadê a tal ética? Algo vai mal no reino da Dinamarca!
No livro em questão, outro dos autores, e que eu considero, engenheiro, como técnico põe o dedo na ferida:
“Os intelectuais saíram da liberdade do mundo onde agiam e pensavam e se alojaram dentro das universidades, aprisionados pela categorização do pensamento em cada departamento. Transformaram-se em doutores e professores, e esqueceram de pensar. Perderam a liberdade de pensar e caíram na malha da burocracia acadêmica... A situação é tão patética que aquele que tentar escrever em linguagem acessível ao grande público deixa de ser reconhecido entre os colegas”.
Daí o ensino que temos. Primeiro agradar ao status quo e depois...
Parece que não há mais professores como um Agostinho da Silva, Sófocles ou bem mais perto de nós um Ariano Suassuna.
Em 01/06/03 escrevi o seguinte texto sobre
Os Intelectuais 
Até hoje ainda não entendi bem o que é ser-se “intelectual”, menos ainda os que se afirmam “nós, os intelectuais”, uma vez que a simplória significação de referente a intelecto, e este ser a faculdade de compreender, não convence, já que qualquer cão compreende muito bem, mesmo, muita coisa que lhe dizemos e ainda outras que somos nós que não compreendemos!
Também não encontrei um antônimo para esta palavra, que proporcionasse um outro tipo de aproximação ao seu significado real. A não ser que os antônimos sejamos nós, os Outros, os que não nos auto proclamamos.
Não faltam intelectuais. Sobretudo aqueles que bramam contra os governos, que despejam sobre nossas cabeças e ouvidos frases lindas, cheias de referências a outros intelectos - que não os cães - que apontam, dedo mais ou menos em riste, o que está mal no mundo, nas sociedades, na nossa desequilibrada sociedade.
Todos, intelectuais ou não, como o meu caso, que sem qualquer falsa modéstia não me considero nada mais do que um comum, sabemos que muita coisa está mal, péssima, na nossa sociedade, mundial e especificamente brasileira, na concentração de renda, na miséria, etc.
Bramam contra isso os 170 milhões de brasileiros, descontados os tais 10% dos mais ricos, mas todos esperamos, ou antes, temos esperado, que dos eleitos cérebros desses auto proclamados intelectuais venha a grande revelação: a fórmula para acabar com este estado de coisas.
Aí... o tal intelecto parece sofrer um bloqueio e emudece!
Entretanto os mesmos intelectuais, normalmente autointitulados também de esquerda, já que parece não haver intelectualidade na direita - geometria curiosa esta - publicam livros, teses de mestrados ou superiores, crônicas em revistas, encaixam-se em cargos políticos, e acabam por deixar, a quem lê, uma espécie de amargo de boca igual ao que nos provoca o cheiro daquele feijãozinho minêro maravilhoso, mas que... não nos é servido!
Senhores intelectuais e/ou intelectualóides: apontar o mal é fundamental. Mantê-lo ou viver à custa dele já é crime, no mínimo de consciência.
Porquê havemos de ficar o resto da vida, farisaicamente a apontar os males e virar a cara para o lado quando esse mal nos passa mesmo ao lado?
Há dois mil anos um Homem, a quem jamais alguém chamou de intelectual, mas de Simples, trouxe a solução: “Faz! Faz aos outros o que gostarias que te fizessem a ti.”
Não tenhais medo de morrer pelo “ideal” intelectualmente apregoado nos vossos discursos acadêmicos ou políticos ou comerciais, na venda das “vossas ideias”, conhecidas há milênios, e mantidas no mesmo status quo, que tão bem serve a esquerda quanto a direita, mas não serve ao povo, à sociedade.
 
Hoje, se não está na mesma, está pior!
E continuam a faltar 100 anos, além do que falta para começar um verdadeiro ensino e alcançarmos a igualdade.
Utopia? Será. Só é necessário passarmos todos as ser utópicos.

 

27/fev/2021

 

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