quarta-feira, 30 de janeiro de 2013



O festim dos marimbondos



A expansão feroz, brutal, demoníaca, da jihad, só entra mesmo na cabeça de selvagens, assassinos e abaixo de primários.
Alimentar o ódio, fomentá-lo e baseá-lo nas palavras do Profeta é o maior crime que um muçulmano pode fazer e, sempre, hipocritamente clamando ser a “vontade de Deus”.
Maomé pode ser, e é, para os muçulmanos o maior profeta. Têm todo o direito disso. Cada um nasce livre para pensar e adorar o Deus como entender.
Mas se estes crimes horrendos são cometidos em “nome de Deus, O clemente, O mesicordioso”, e de Maomé, muito destorcida é a idéia que fazem de Deus/Alá e da eternidade.
Está escrito na Sura IX, versículo 29: “Matai os que não crêem em Deus, nem no Dia derradeiro, que não consideram proibido o que Deus e o Seu profeta proibiram e aqueles entre os homens do Livro que não professam a crença da verdade, até que paguem o tributo, todos sem excepção, e fiquem himilhados.”
“E quando vos enfrentardes com os incrédulos (em batalha), golpeai-lhes os pescoços...”
Com esta filosofia e suas atuações – os “incrédulos”, se não forem mortos, pagarão, pela mesicórdia, o tributo, e ainda ficarão subjugados – a eternidade não será mais do que a continuação do inferno que estão a semear aqui na terra entre os homens indefesos.
Espantou e indignou o mundo quando os talibãs, que são contra representações humanas de divindades, começaram por destruir, há sete anos, as maiores estátuas de Buda que existiam no mundo. As estátuas representavam Buda de pé e mediam entre 38 e 55 metros, e pela sua beleza e antiguidade eram consideradas Património da Humanidade! Do mesmo modo destruíram inúmeras outras obras de arte, incluindo pinturas.
Agora os extremistas que ocuparam o Mali têm feito o mesmo, destruindo “os túmulos de todos os santos de Timbuktu, e a cidade tem 333 santos".
E a maior catástrofe cultural, a destruição dos manuscritos dos séculos XII e XIII que os enviados do demónio queimaram!
Cortaram pés e mãos de “incréus”, açoitaram as mulheres que sairam às ruas sem o véu integral, assassinaram, enfim fizeram o festim do inferno.
"O único tribunal que nós reconhecemos é o tribunal divino de Shariah (...) A destruição é uma ordem divina (...) Temos que fazer isto para que as gerações futuras não fiquem confusas e comecem a adorar os santos como se fossem Deus".
Destroem túmulos, as belas imagens da arte africana e destroem sobretudo a liberdade dos outros.
São uns covardes que só atacam gente indefesa, e agora estão a fugir das tropas francesas.
Sequestram trabalhadores, assassinam-nos, aparecem nos vídeos com ares de machos, mas, sendo assim tão machos e defensores da jihad, porque não vão atacar Israel? Um país pequenino onde vivem seus maiores inimigos, os judeus, aí sim os terroristas poderiam mostrar a sua macheza!
Mas vão lá? Isso eu queria ver. Infelizmente eles, mesmo bandidos atrasados mentais, não devem ter esquecido a famosa guerra dos seis dias entre Israel e Egito. E com medo, sim com medo, atacam só gente indefesa.
Se um dia o seu Alá se dispuser a olhar para as bestialidades que eles fazem em Seu nome, vai transformar os seus redutos em Sodoma e Gomorra, e derretê-los todos.
É evidente que ninguém precisa sugerir o que quer que seja aos israelitas, mas eles sabem, muito bem, como ajudar a fazer esse “milagre”!
E se o sionismo é uma das causas de tudo isto que estamos a assistir, é hoje também a única esperança de um dia – quando? – se dar um basta nessa gente.
O problema é que estão a expandir-se demais. A tal Primavera Árabe que o mundo ocidental, ingénuo, tanto aplaudiu, abriu as portas aos terroristas que já estão a desgraçar o Egito, vão mandar na Líbia e Argélia, a Tunísia vai a seguir, e mesmo Marrocos está nos seus objectivos.
No médio oriente o outro bandido, o tal Bashar, agoniza perante o esforço dos rebeldes, que ao conquistarem o poder vão fazer como os comunistas na Polónia no fim da 2ª Guerra Mundial e em Portugal depois da “pacífica” revolução dos cravos, apoderando-se do comando e impondo a xária. A seguir à Síria irá o Líbano e a Jordânia, o Iémen, e os países do Sael, mais Sudão, Somália, Eritreia, e... o que vier “au diante” se verá... como Nigéria e...
Espalhados os marimbondos pelo mundo – o ataque à exploração de gás na Argélia foi comandado por dois canadenses, é verdade que de origem árabe – não vai haver mais sossego em toda a Europa nem EUA, nem África. E como ficam o Paquistão e a Indonésia?
A França vive sob ameaças diretas, está em alerta vermelho, e todos os países que, de qualquer modo estão a ajudar o Mali a livrar-se da invasão, têm sob seus tetos dezenas de jihadistas kamikases prontos a fazer os maiores estragos.
E sempre, sempre, quem mais paga toda esta loucura é a população civil.
A guerra contra os talibãs está perdida, e mais uma vez os americanos, vão de lá sair com a rabo entre as pernas e a vergonha na cara, como já lhes sucedeu na Somália, Coreia, Vietnam e noutra aventuras em que se arrogavam o direito de comandar o mundo.
As perspectivas agora estão piores. Espalharam, ainda mais, os marimbondos!
Sempre houve muçulmanos “normais”, e felizmente continua a haver. A maioria. Mas fecharem, e fecharmos os olhos a tamanha calamidade, tornamo-nos colaboradores.
No final do século XV no Oeste Africano, Soninke, região de Bafur, o Sheikh Al-Hajj Salim Suwari foi um karamogo (acadêmico islâmico) que se debruçou sobre as responsabilidades de minorias muçulmanos que residiam em uma sociedade não-muçulmana. Ele formulou um raciocínio teológico importante para a convivência pacífica com as classes dominantes não-muçulmanos chamados a tradição Suwarian, que sobrevive até hoje, apesar das pressões do modernismo. Ela pregava o comportamento exemplar para assim atrair mais gente para o Islão.
Mas salafitas jihadistas preferem fazer isso à bala e espada!
Atenção espanhóis: têm que manter um exército para proteger o Alhambra!
E o Al-Gharb? Paraíso de turistas?
Sejamos pró ou contra o sionismo; parece ser, por enquanto o único travão.
Que mais nos espera?

30-jan-13





sexta-feira, 25 de janeiro de 2013




AFONSO DE ALBUQUERQUE

O PRIMEIRO PRESIDENTE

DA CÂMARA DE LISBOA

(Texto do historiador António Baião,
in “Boletim Cultural e Estatístico”
da Câmara Municipal de Lisboa, 
Janeiro-Março de 1937)

Afonso de Albuquerque, o Grande, saindo para a Índia em 1506, deixou no reino um filho natural, por nome Braz, legitimado em 26 de Fevereiro do mesmo ano, quando tinha apenas cinco anos de idade. Aos cuidados de sua tia paterna, D. Isabel de Albuquerque, casada com D. Pedro da Silva, o Reles, de alcunha, foi confiado e, após a morte de seu pai, por ordem de D. Manuel I, entrou no mosteiro de Santo Elói a cujos cónegos foi encarregada a sua instrução. D. Manuel decidiu também trocar-lhe o nome para Afonso, em homenagem ao seu pai.
Teria dezanove ou vinte anos quando, para casar com D. Maria de Ayala Noronha filha do conde de Linhares, D. António de Noronha, D. Manuel I lhe assinou um juro de 400$00 reais e lhe mandou pagar mais 180.000 cruzados dos soldos em atrazo ao governador da Índia e das quintaladas ao mesmo devidas.
Estava pois herdeiro de um grande nome e senhor de uma grande for­tuna, por cuja causa em muitas questões andou envolvido.
«Em 1521 escreve Joaquim Rasteiro – Afonso de Albuquerque, ou melhor, o genro do escrivão da puridade de D. Manuel, foi escolhido com fidalgos de boa estirpe para acompanhar a Saboya a infanta D. Brites, filha do rei, casada com o duque Carlos e teve o comando de um galeão de duzentos e trinta toneis.”
Com efeito na Hida da infante dona Breatriz a Saboya, Garcia de Rezende, a isso minuciosamente se refere, tendo o séquito saído de foz em fora a 10 de Agosto de 1521.
Em Fevereiro, de 1526 foi também um dos portugueses que acompanha­ram a imperatriz D. Isabel quando foi para Castela. Assistiu ao seu casa­mento em Sevilha, regressando pouco depois a Portugal, onde o chamavam cuidados da sua casa.
Vejamo-lo agora como proprietário e proprietário abastado.
“D. Brites de Laura vendeu, escreve Joaquim Rasteiro, em l de Dezembro de 1528, a Afonso de Albuquerque, filho, por quatro mil cruzados de ouro a sua quinta em Azeitão da banda dalém, em Ribatejo, com todos os seus paços, casas adegas, lagares, terras de pão, vinhas, pomares, olivais, etc.
Aí, na quinta da Bacalhôa, habitou Afonso de Albuquerque com sua mulher muitos anos e no friso do portão que, pelo norte, dá entrada para o páteo do palácio lê-se a seguinte inscrição: Anno 1554—Alfonsus Albuquercus Alfonsi Magni indorum debellatoris filius sub Joanne III Portugaliae rege condidit—anno mdliiii).
Além disto bem conhecida é a Casa dos Bicos, que mandou edificar pelos fins do primeiro quartel do século XVI (*).
Afonso de Albuquerque assiste às cortes de 1562 celebradas em Lisboa, a 15 de Setembro, aquelas em que D. Catarina renunciou à administração do reino, que assim passou para as mãos do cardeal D. Henrique e foram as primeiras do reinado de D. Sebastião.
Em 15 de Abril de 1564 foi determinado que a Afonso de Albuquerque fossem pagos os cem mil reais de tença pelo rendimento das sisas de Azeitão.
“Da união de Afonso de Albuquerque com D. Ma­ria de Noronha, escreve Rasteiro, nasceram dois filhos, António que morreu moço e D. Joana Albuquerque, mulher de D. Fernando de Castro, primeiro conde de Basto, capitão-mor de Évora e que faleceu sem geração.”
Afonso de Albuquerque, em 1568, era sem sucessor e no dia 27 de Janeiro, em Azeitão, ele e sua mulher D. Maria de Noronha, vincularam a quinta de Azeitão com seu assento de casas, pomar e vinha, cercados, foros havidos e por haver e as casas de Lisboa às Portas do mar, que partiam com o dr. Luiz da Veiga e com a mulher, que foi de Ayres Tavares, instituindo um hospital na igreja do bem aventurado S. Simão, que era junto da quinta de Azeitão, para nelle se agasalharem pobres caminhantes. O título foi escrito a rogo dos instituidores, pelo licenciado Aleixo de Albuquerque, seu capelão, e foi aprovado no dia 28 de Fevereiro do mesmo ano, na quinta do Snr. Affonso de Albuquerque pelo tabelião João Rodrigues».
Em Setembro de 1578 foi Afonso de Albuquerque convidado para ir assistir às cortes de Almeirim. Qual seria a sua opinião em tão grave e momentoso assunto? Não o sabemos e apenas nos chega a notícia de, a l de Junho de 1579, prestarem, perante D. Henrique, juramento os três estados do reino. Em tal acto com­pareceu, como procurador de Lisboa, Afonso de Albuquerque.
«Nos últimos dias, escreve Rasteiro a pág. 23 da sua monografia Quinta e Palácio da Bacalhoa, talvez dementisado pela idade, peralta, encontramos Albuquerque, filho, requestando uma jovem fidalga, D. Catarina de Menezes, com quem casou fazendo política ibérica contra a independência da pátria e concorrendo a entrevistas com Cristóvão de Moura disfarçado com barbas postiças».
Do respectivo assento paroquial consta que a 6 de Maio de 1581 se finou o autor dos Comentários, deixando por testamenteiro sua viuva D. Ca­tarina de Menezes que, diga-se de passagem, pouco tempo se conservou nesse estado pois veio a casar com D. João Coutinho de quem teve dois filhos.
Vários são os aspectos que nos apresenta a personalidade do autor dos Comentários. Se não manejou a espada soube empunhar a pena; se não con­quistou cidades deixou nos Comentários um perdurável monumento à me­mória do pai. Com um intervalo de dezanove anos duas edições dessa obra publicou: a primeira em 1557 e a segunda já no declinar da existência, em 1576. Conselheiro de D. João III, como tal figura no livro dos moradores da casa real com 5.500 reais de moradia.
Provedor da irmandade da Misericórdia de Lisboa, como tal o sabemos em 1542, 1545, 1552, 1563, 1571 e 1577.
Presidente do Senado da Câmara de Lisboa foi nomeado pela carta régia de 12 de Dezembro de 1572, que deu nova forma à eleição e orga­nização da Câmara, estatuindo para ela um presidente fidalgo principal e dois vereadores letrados que hão de ser meus desembargadores.
Como se vê por este diploma só no reinado de D. Sebastião vem a Câmara de Lisboa a ter presidente, pois que até aí presidiam os vereadores às semanas e portanto foi Afonso de Albuquerque o primeiro presidente da edilidade lísbonense. Durante dezoito meses exerceu Albuquerque o seu ele­vado cargo até ser-lhe nomeado, como sucessor, D. Duarte da Costa por carta régia de 17 de Junho de 1574.
Nestes dezoito meses são de iniciativa da câmara presidida por Albu­querque
- l.° As diligências feitas para o abastecimento da «Ágoa livre» à cidade             agradecido por D. Sebastião em Carta Régia de 2 de Março de 1573;—
- 2.° A demolição da torre do muro da cidade, «diante da porta principal da igreja de N. S." do Loreto», para o que el-rei deu permissão por Carta Régia de 1º de Junho de 1573;
- 3.° Jurisdição que os vereadores obtiveram por Alvará Régio de 3 de Março de 1574, por 2 anos, como soli­citaram, para devassarem e conhecerem em Câmara das delinquências sobre venda de pão, vinho e azeite, até 10 léguas fora de Lisboa, etc.;
- 4.° As pro­vidências para o  calcetamento de algumas «Ruas mais correntes» da cidade de Lisboa, mandando o Alvará Régio de 3 de Março de 1574 que todos os barcos que viessem do Porto e de Viana, trouxessem por lastro pedra da que no Porto serviu para calçar a Rua das Flores, e em Viana as ruas desta vila, a fím de se calçarem com ela algumas ruas de Lisboa;
- 5.° A permissão para que a Câmara elevasse a taxa do vinho, pelas razões constantes da Carta Régia de 3 de Abril de 1574.
Foi, pois, um cidadão prestante à sua pátria e à sua terra natal. À sua pátria como autor duma das obras mais requintadamente patrióticas da literatura portuguesa, à sua terra natal como autor de vários melhoramentos locais, seu representante em cortes e Presidente da sua edilidade.
 
Notas:
*.- O que diria hoje Afonso de Albuquerque, uma das mais nobres figuras do reino, se visse a sua Casa dos Bicos entregue à fundação de um fundamentalista comunista, que sempre pretendeu ridicularizar a nobreza?
- E a Quinta da Bacalhôa, hoje propriedade de alguém com fortuna de origem... incógnita?
- Seria interessante também saber se as primeiras ruas calcetadas com pedra foram as do Porto, de Viana do Castelo ou de Lisboa! 
Os Presidentes das respectivas Câmaras poderiam dar alguma informação?
É história! Todos agradecem.

19/11/2012

terça-feira, 22 de janeiro de 2013




CORONYQUA DOS REIS DE PORTUGAL


INTROITO DA OBRA

ESTAM em este presente vollume recopilladas, sumadas, abreviadas todas lembranças dos Reys de Portugal das caroniquas velhas e novas sem mudar sustamcia da verdade; as quaes copillou o Bacharel Cristovam Rodrigues Acenheiro, natural e morador na cydade d'Evora, e as fes o mês de Mayo de myl e quinhentos trinta e sinco anos, reynamte Dom Joam terceiro do nome quinzeno dos Reys de Portugal, semdo elle Ba¬charel em ydade de sesemta e um ano, e as recopillou neste modo: do Conde Dom Amrrique, prymeiro senhor, té EllRey Dom Affomso, setimo, do Sallado, e a fym delle, e asy as lembramças dellRey Dom Manoel e dellRey Dom João seu filho, que sam dez Caronicas; e as seis a sa¬ber delRey Dom Pedro oitavo Rey té EllRey Dom Joam segundo, as achou asy, e por serem bem feitas e na verdade as pôs com todo, e lhe pôs as eras e adiçois que nellas se acharam, e porque já nellas acrecemtou ysto, porque nom tome louvor alheo, e sam tays.

Um pequeno excerto:

Ouvymdo dizer o Papa que ElRey Dom Affomso Emrriquez tinha sua mai em ferros, lhe mamdou dizer per o bispo de Coimbra que a tirase de prizam, e senão que o escomúgaria a elle e a terra: dixe que o nom faria pollo Papa nem por nimguem; e o Bispo escomúgou EllRey e Reino, e se foi de noite, e quamdo veio polla manham lhe diserão que era escomúgado: e elle meteo todos os coniguos na craustia, e dixe amtre todos dade-me hum Bispo; e elles dixerão Senhor, Bispo avemos e nom podemos dar outro. E ElRey lhe dixe Ese que vos dizês nûca aqui será Bispo em todos meus dias, mas saide vos polla porta, e eu catarei Bispo ou quem o faça. E EllRey vio estar hum negro, e lhe pergumtou: Como hás nome? e elle dise Senhor ey nome Çolleima: Como lhe diz EIlRei és bom crériguo? e elle dixe nom há milhores dous na companhia. EllRei dixe, tu serás bispo de Çolleima, guisa como me camtes Miça, e elle dixe Senhor não vos camtarei misa ca não sam ordenado: dixe EllRey eo te ordeno, ora guisate como me quamtes misa senão cortarteei a cabesa; e elle com medo camtou-lhe misa. E soube o Papa em Roma este caso, cuidarão que era yrege, mãodou-lhe hum Cardeal que lhe emsinase a feé, e todos d’Espanha lhe faziam muita omrra por omde vinha, e lhe beijavão a mão, e EllRey dixe nom sei Cardeal nem Apôstollico que me dese a mam a bejar, que lhe não cortase pollo covado* o braço: o Cardeal chegou a Coymbra, e ouve medo; ElRey no quis sair a recebello e o Cardeal o teve a mal, e tamto que chegou foi-se ao allcasar d’EllRey, e EllRey o saio a receber homrradamente. Dixe-lhe EllRey, Dom Cardeal que viestes aca fazer, nuca me veo senão mal, quais riquezas me vierão a aquá de Roma pêra estas ostes que faço, que de noite nem de dia não faço senão gerrear Mouros, e Dom Cardeal se tracedes allguo que me de dês dade-mo, senom yvos vosa via. O Cardeal dixe eu sam aqui vymdo pêra vos emsinar a fé de Christo, e EllRei lhe dise, tam bos livros hemos nos aça, como vós alláá em Roma, e também sabemos veio Deos em Santa Maria, e cremos a Samta Trimdade também como aloo vós os Romãos; e Dom Cardeal nom queremos ora cousas de Roma, mas dem vos todallias coisas que ouverdes mister, e crás ver-nos-emos eu e vós se Deus quiser; e o Cardeal foise emtam pêra sua pousada, e maõdou loguo dar sevada ás bestas, e quamdo camtava o gallo escomúgou toda a Villa e toda terra, e se foy; e EllRey que o sobe polla menham, foi após elle e o tomou em hum Lugar que chamão a Vímieyra, e deitou-lhe â mão pello cabeçam pêra lhe cortar a cabesa e fidallgos o tolheram: o Cardeal dise, Rei nom me faças mal que farei qualquer partido que quiseres; dixe EllRey quero que em meus dias eu nem Portugal nûca seja excomügado, que o ganhei ás lamçadas, e que quamto levados me deixedes estes vosos sobrinhos filhos de vosa jrmam, e que daqui a quatro meses me mãodes as letras senão cortarlhei as cabesas: aprouve ao Cardeal, e todo veo com breve tempo; e sempre este Cardeal despois nogoceava todas as couzas em Roma que pertemciam a Portugal, e ao dito Rey, o qual Rey, amtes que o Cardeal partice, mamdou hum seu escudeiro que fose em a Corte de Roma pêra o avizar do, que lá pasava, e lhe escreveo o caso todo per estemço, que quamdo o Cardeal disera ao Papa como acomtecera, o Papa lhe respondera que elle Papa nom podia fazer tal nem comprir, e que se espamtava muito delle: o cardeal lhe respomdeo se tu Samto Padre viras sobre ti hum Cavaleiro tam bravo terte pollo cabeçam, e espada nua pêra te cortar a cabeça, e seu cavallo tam bravo arranhar a terra que ja fazia a cova pêra te emterrar nom somente deras as letras, mas o Papado e cadeira de Sam Pedro: mas o Papa o comprio todo e mamdou a EllRey amtes do termo que o Cardeal lhe ficou, e EllRey lhe mãodou seus sobrinhos ao dito Cardeal com muitas homrras, e gramdes mercês. Devem bem de notar os Reis e Primcipes cristamõs estas façanhas de Cardeal e Bispo, e quamto devem de punar por a homrra de suas pessoas e Reino, quamdo com justiça e verdade o persegem, como este Catollico Rey fazia e fez. Porem dalli em diamte foi Bispo de Coymbra Dom Solleima, e todo o que elle mamdava se fazia em seu Byspado.
E pasado ysto EllRey Ysmar Mouro, vemcydo no Campo dOurique, como dito he, com este ódio que sempre teve dezejo de gerrear Christâos, ajumtou suas gentes, veo se a Samtarem, e levou comcyguo Auzerim Allcaide e correo aterra ate Leirea, e a combateo fortemente e a emtrou por força, e matarão os Christâos que em ella acharam, e levaram cativo Paio Goíterrez Allcaide do Castello, e deixaram o Castello com muita jemte, e foi esto tam depresa que EllRey o nom pode amtes saber, que estava em a Cidade de Coymbra: esta tomada foy na era de mil e cemto e coremta**.

* Cotovelo
** Ano de 1137. As datas desta CORONYQUA estão quase todas erradas!

Nota adicional: que falta faz hoje aos portugueses um Afonso Henriques! Imaginem os “tryokanos” a entrar em Portugal e pedir, aliás exigir, ao rei que lhes beijasse as mãos, esmagasse o povo e os enriquecesse a eles?





Sorria,

você está sendo roubado



Escrito por Guilherme Fiuza, jornalista


O “Financial Times" disse que o jeitinho brasileiro chegou ao comando da política econômica. O jornal britânico se referia à solidariedade entre os companheiros Fernando Haddad e Guido Mantega, num arranjo para que a prefeitura de São Paulo retardasse o aumento nas tarifas de ônibus, ajudando o Ministério da Fazenda a disfarçar a subida da inflação. A expressão usada pelo "Financial Times" é inadequada. Os britânicos não sabem que esse conceito quase simpático de malandragem brasileira está superado. O profissionalismo do governo popular não mais comporta diminutivos.

No Brasil progressista de hoje, os números dançam conforme a música. E a maquiagem das contas públicas já se faz a céu aberto: o império do oprimido perdeu a vergonha. No fechamento do balanço de 2012, por exemplo, os companheiros da tesouraria acharam por bem separar mais 50 bilhões de reais para gastar. Faz todo o sentido. Este ano as torneiras têm que estar bem abertas, porque ano que vem tem eleição e é preciso irrigar as contas dos aliados em todo esse Brasil grande. A execução do desfalque no orçamento foi um sucesso.
Entre outras mágicas, o governo popular engendrou uma espécie de "lavagem de dívida" para fabricar superavit. Marcos Valério ficaria encabulado. O Tesouro Nacional fez injeções de recursos em série no BNDES, que por sua vez derramou financiamentos bilionários nas principais estatais, e estas anteciparam sua distribuição de dividendos, que apareceram como crédito na conta de quem? Dele mesmo, o Tesouro Nacional — o único ente capaz de torrar dinheiro e lucrar com isso. Ao "Financial Times" seria preciso esclarecer: isso não é jeitinho.
É roubo.
A "contabilidade criativa" — patente requerida pelos mesmos autores dos "recursos não contabilizados" que explicavam o mensalão — não é vista como estelionato porque o brasileiro é um amistoso, um magnânimo, deslumbrado com seu final feliz ao eleger presidente uma mulher inventada por um operário. Não fosse isso, era caso de polícia. A falsidade ideológica nas contas do governo Dilma rouba do cidadão para dar ao governo. Ao esconder dívidas e "esquentar" gastos abusivos, a Fazenda Nacional fabrica créditos inexistentes — que serão pagos pelos consumidores e contribuintes, como em toda desordem fiscal, através de impostos invisíveis. O mais conhecido deles é a inflação.
Em outras palavras: o jeitínho encontrado pelo companheiro-ministro da Fazenda para maquiar a inflação é um antídoto contra o jeitinho por ele mesmo usado para aumentar a gastança pública.
O maior escândalo não é orgia administrativa que corrói os fundamentos da estabilidade econômica dificilmente alcançada. O grande escândalo é a passividade com que o Brasil assiste a isso, numa boa. Se distrai com polémicas sobre "pibinho" ou "pibão'! repercute bravatas presidenciais sopradas por marqueteiros, e não reage ao evidente aumento do custo de vida, aos impostos mais altos do mundo que vêm acompanhados, paradoxalmente, por recordes negativos de investimento público. A bandalheira fiscal é abençoada por um silêncio continental. Nem a ditadura conseguiu esse milagre.
No auge da era da informação, o Brasil nunca foi tão ignorante. Acha que as baixas taxas de desemprego — fruto de um ciclo virtuoso propiciado pela organização macroeconômica — são obra de um governo com "sensibilidade social". Justamente o governo que está avacalhando a estabilização, estourando a meta de inflação e matando a galinha dos ovos de ouro. Esse Brasil obtuso acha que as classes C e D ascenderam ao consumo porque o que faltava, em 500 anos de história, era um governo bonzinho para inventar umas bolsas e distribuir dinheiro de graça.
Esse mal-entendido pueril gera uma blindagem política invencível. Os passageiros que assaram no Galeão e no Santos Dumont, no vergonhoso colapso simultâneo de dezembro, são incapazes de relacionar seu calvário ao caso Rosemary — a afilhada de Lula e Dilma que protagonizou o escândalo da Anac, por acaso a agência responsável pela qualidade dos aeroportos. O governo popular transforma as agências reguladoras em cabides para os companheiros e centrais de negociatas, e o contribuinte sofre com a infraestrutura depenada como se fosse uma catástrofe natural, um efeito do El Nino. Novamente, nem os generais viveram tão imunes à crítica.
Com a longevidade do PT no Planalto, o assalto ao Estado vai se sofisticando. A área económica, que era indevassável à politicagem, hoje tem a Secretaria do Tesouro devidamente aparelhada: um militante do partido com a chave do cofre. E tome contabilidade criativa. Definitivamente, o Brasil não aprendeu nada com a lição do mensalão. Os parasitas progressistas estão aí, deitando e rolando (de tão gordos), rumo ao quarto mandato consecutivo. Não contem para o "Financial Times”, mas a conta vai chegar.

Jornal “O Globo”, 18/01/2013



sábado, 19 de janeiro de 2013



O  Vazio



Bem procuramos “conversar” com São Pedro, ou com o Pedro, e tentar compreender algo do que se passa no “além”. Mas sempre saímos com a mesma sensação de ignorância. Sem dúvida que o futuro não nos pertence.
Podemos prever, ou melhor, calcular sobre algumas situações que se vão passar aqui nesta mal tratada Terra, com suas intermináveis e cada vez mais brutas guerras, como este descalabro avanço dos jihaistas sobre África, podemos ficar com isso preocupados, mas só sabemos que do “tal após” nada sabemos.
Escrevi um dia um texto, plagiando um pouco Agostinho Neto, que terminava com um lamento, dizendo “O oceano separou-me de mim”, em que eu disse “O oceano separou-me duas vezes”!
Primeiro, ao ir para Angola, separou-me da família, dos amigos de infância e estudos e mais tarde separou-me dessa nova terra e dos amigos onde tão intensamente vivi.
Por fim nova terra, novas gentes e com idade em que são já fracas e raras as oportunidades de fazer amigos. Amigos, com A maiúsculo, aqueles com quem sabe bem conversar, diversificar assuntos, enfim passar “horas mortas” em agradável companhia e papo, um copo de vinho, sabendo que ninguém tem a pretensão de impor idéias aos outros, mas sim curtir a empatia que corre com tanta naturalidade.
Os anos foram-me subtraindo muitos desses amigos. A maioria, que o oceano separou, vão indo embora lá longe, e fica a tristeza de saber que não os voltamos a encontrar se por acaso pudermos visitar mais uma vez essas terras da outra margem. E é uma tristeza fria, distante, mas que magoa muito, e nos faz lamentar quanto tempo perdemos sem o gozo da sua companhia.
Na nova terra, onde fazer novos amigos é um quase milagre, quando se definem uns poucos, pouquissimos, agarramo-nos a eles como a mais gratificante sensação, e não os queremos ver longe, afastados, e sobretudo que não nos deixem.
Além da família - filhos e netos – todos com suas vidas definidas e seus ambientes de amizades, crescidos que foram em nova terra, esses poucos que aqui viemos encontrar são um enorme estímulo e uma forte raiz que nos interliga.
Os anos correm, com uma velocidade que parece acelerar cada vez mais, e somos obrigados a assistir à degradação física de alguns que, após mais ou menos prolongado sofrimento, encontram por fim o último descanso.
Mas, quando na cidade onde se vive só se tem um amigo, cuja amizade começara nos tempos de rapazes, há bem mais de sessenta anos, com quem se mantém um como que ritual de encontro mais ou menos semanal, onde se passam cinco, seis horas em muito amena conversa, e de repente se vê esse amigo a enfraquecer, a não conseguir reagir a uma qualquer doença estranha que por fim acaba de o levar, a dor é muito grande.
Empobrecemos de repente, mesmo sabendo com antecipação que isso vai acontecer. E, no meio da solidão que fica, voltamos a perguntar ao Pedro, porque a aproximação da morte, que é o mais natural processo da vida, há-de ser sempre sofrida? Ou por inesperado desastre, ou doença mais ou menos prolongada.
Quando chegar a minha vez vou falar com o Criador. Sugerir-lhe que à nascença todos tragam uma espécie de guia de validade, indicando o dia em que deve regressar ao Além, mas sem ter que sofrer! Parece loucura, mas seria a única maneira de enfrentar o fim da vida sem sofrer e fazer sofrer, e dos amigos se despedirem dele com um simples “Até já” sem se chocarem, ou chorarem a sua ausência.
Para sofrer bastará ter vivido e olhar o que se passa à sua volta.
Quando se perde um ente querido fica sempre um enorme vazio. Mas quando esse ente era o único com quem, por proximidade geográfica, podíamos ainda gozar a sua companhia, o vazio é muito maior.
E nós, em vez de nos alegrarmos por saber que ele deixou de sofrer e goza agora do descanso total, sentimo-nos frustrados e mais pobres.
Sempre que a morte nos rouba um amigo a solidão aumenta.

18 jan. 13

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013


Deixemos as meditações para "cair na real!


O roubo das jóias

1975.  Luanda.



Reina a anarquia, o medo. A economia pára, as gentes estão a abandonar o país que em breve alcança a independência (dependência dos dois blocos que dividiam o mundo), o exército português estraçalhado, entregue à escumalha vermelha, o alto comando na mãos de um traidor, e como é da natureza dos traidores, enriquecendo com a desgraça de todos, africanos, brancos, colonos ou não, a incerteza do futuro e uma imensa sensação de insegurança dominava.
No trabalho todos procuravam fingir que se trabalhava, mas a economia congelara. Entreolhavam-se, interrogavam-se, num dia já faltava um que voltara à terra, no dia seguinte mais outro, por fim restavam meia dúzia que teimavam que queriam ficar.
Para não atrapalhar os estudos, os filhos teriam que procurar terminar aquele ano lectivo, o que os obrigava a não sair de Angola antes de meados do ano.
Na casa ao lado da nossa foi instalar-se o comando de um dos grupos militares, a FNLA, que havia de ser, também, traído, pelos comandos portugueses. Esta gente, em boa maioria do Congo, mal falava português.
Balas assobiavam por cima da nossa casa e, não longe ouviam-se explosões de granadas! A luta não se passava mais entre o colonialismo e os colonisados, mas entre as diversas organizações que lutavam pela hegemonia do futuro país.
Empregados em casa, que procuravam fazer o mínimo possível, um. Chegava de manhã e à tarde ia embora para casa.
A minha mulher, já com parte das roupas e imbambas preparadas para uma saída de emergência, guardava no fundo de uma gaveta da cômoda, lá bem atrás, misturada com camisas, meias e cuecas, uma pequena embalagem com as suas jóias. Nada que se parecesse com o Koh-i-noor ou com a coroa dos Romanov, mas algumas pequenas pulseiras, um ou outro anel, um ou dois fios de pescoço e outras miudezas dos filhos. Era a nossa “fortuna” em jóias.
Uma bela noite mamãe mete a mão lá dentro para confirmar a sua presença não encontra mais do o vazio! Mexe, remexe, desmonta a gaveta, e o saquinho com as jóias evaporara.
Desesperada, lágrimas a cairem-lhe pela cara: “Roubaram-me as jóias! Roubaram tudo. Só pode ter sido o Zé. Ele é o único que entra aqui em casa!” (O Zé era o suposto nome do tal empregado.)
- Deixa que ele volta de manhã e eu vou interrogá-lo.
- Ele não volta mais. As únicas jóias que nós tínhamos! Algumas da minha mãe.
- Espera até de manhã. Agora nada pode ser feito.
Noite passada em claro, nervosismo e lágrimas, até os filhos que, como nós, nada podiam fazer.
Bem cedo, todo o mundo a pé, mãe e filhos no andar de cima, logo no topo da escada, bem juntos, aguardavam a hipótese do regresso do ladrão. Eu, calmamente na sala, sentado, silêncio total, as portas da frente e da cozinha trancadas, chaves no bolso.
Finalmente à hora habitual vem o descarado. Abri-lhe a porta de serviço que logo voltei a fechar à chave para que ele não fugisse, chamei-o à sala:
- Zé! Você roubou as jóias da senhora!
- Eu, patrão? Não roubou, não siô.
- Roubou sim. Só você é que entra nesta casa e apesar de não ter nada que fazer no andar de cima você foi lá e roubou tudo.
- Não roubaste nada, patrão. Eu jura mesmo.
- Roubou sim. E eu vou chamar à polícia.
- Eu nunca roubaste nada.
A cena repetia-se sem evoluir: você roubou, não roubou, roubou, não roubou... e eu já sem saber o que fazer, espreitava do fundo da escada para a minha mulher, encolhia os ombros como a dizer-lhe “o sujeito diz que não roubou, e o que é que eu posso fazer?”
Lá do alto, a cabeça da mãe rodeada duma porção de filhos, testas franzidas, dedo levantado faziam-me sinal de que só poderia ter sido o tal Zé. Ela tinha a certeza!
Voltava eu à carga. Roubou, sim. Não roubou, não...
Nova conferência mímica através da escada. E a certeza do andar de cima não punha qualquer dúvida que aquele era o ladrão.
Cofiei a barba à procura duma solução.
Tinha ali pendurado na parede um javite - um pequeno macho africano de caçador, com uma cabeça que serve de moca, que ainda hoje orna uma das nossas paredes, uma peça que hoje tem mais de cem anos.



Agarrei nele, vou direto ao Zé com ar desvairado (mas com vontade de rir), agarro-o por um braço e a voz alterada:
- Foi você quem roubou as jóias e eu vou abrir-lhe a cabeça! (Isto aos gritos!)
- Fui eu sim patrão! Fui eu! Mas não me mata, patrão, não mata.
- Senta aí e fica quietinho. Vou telefonar para a polícia.
Do alto da escada a “torcida” vibrava com a vitória, e eu tive que me esconder atrás da parede para não mostrar o quanto “irado” estava, porque me ria!
Veio a polícia. Polícia ainda portuguesa, que me foi avisando que, além e ser perigoso estavam proibidos de entrar nos muceques, mas que iriam procurar saber alguma coisa, e levaram o Zé.
No dia seguinte, de uns dez ou doze objetos, somente haviam conseguido recuperar uma pulseira de ouro fininha de valor irrisório, que o miserável ladrão vendera pelo preço de um refrigerante! O resto...
Quanto ao Zé, deve ter sido logo posto em liberdade, mas não o voltámos a ver.
Não tardou muito éramos forçados a dizer adeus a Angola.
Sem jóias.

15/01/2013

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013



O sonho que me persegue!



Aquele sonho não me saíu da cabeça. Durante o dia voltava sempre a mesma imagem do bom velhinho, que nem soube quem seria, nem bem se lhe distinguiam as feições.
Quanto velho ele era? Podia estar ali, além, há minutos, milênios, desde sempre!
E, segundo me disse, não era o São Pedro, porque no Espírito Eterno não há santos! Seria então o Pedro! Ou qualquer um outro Pedro, ou Joaquim, ou Abraão, ou Mohamed, ou Nkwame, ou Lao Tsé ou Sidarta, ou...?
Certamente que naquela eternidade não há religiões, nem se discutem dogmas, nem ritos, muito menos hierarquias.
Como gostaria de voltar a encontrar aquele “Pedro” e tentar penetrar um pouco mais nessoutro mundo a que na Terra lhe chamam trevas, mas que será cheio de luz.
Fui-me deitar, a cabeça latejava com uma inesgotável série de dúvidas que o sonho anterior me deixara.
Às tantas, meio difuso, começa a aparecer a figura que pensava ser novamente do Pedro. Também não se viam bem as suas feições, e no meio das nuvens que o envolviam nem se chegava a perceber se tinha barba ou não!
Com medo que esta nova visão desaparecesse depressa, não perdi tempo, e atirei logo a primeira pergunta:
- Senhor se aí é a eternidade, a pureza, a harmonia, aqueles que durante a vida terrena foram criminosos, de qualquer espécie, como podem ficar aí recompensados?
- Não ficam. Retornam para espiar a sua vida errada.
- E quem os manda de volta?
- Ninguém. Eles mesmos, que não se sentem bem nesta paz, porque afinal a sua consciência não é material, é espiritual. É o espírito deles, sujo, pelo que conscientemente fizeram de mal, que não lhes permite gozar a paz. E assim são eles quem escolhem para onde e como voltar. Vêem logo que aqui não é o lugar deles.
Aqui ninguém os julga. Não há hierarcas, nem juízes. As suas consciências pesadas é que os condenam, e eles têm, uma vez mais, ou tantas vezes mais quantas quiserem, a liberdade para escolher como se redimirem. Talvez um só retorno não seja suficiente, mas tempo não falta, nunca.
Esta é a liberdade dada aos humanos.
- O que eu continuo sem compreender, e talvez jamais compreenda, é porque o espírito, talvez da maioria dos homens, tem muito mais força para o mal do que para o bem. Afinal como é possível conceber que o Espírito de Deus, do Criador, o Espírito Eterno, que existe desde a eternidade, continue a residir, a perturbar, tantos bilhões de pessoas? Porquê não recebem todos aquele “sophos” já puro, sem maldade? Qual a vantagem de martirizar a humanidade com tanto mal? Só para se assistir a um vai-e-vem das almas, dos espíritos que terão que se redimir? Certamente que não é esta a razão. Mas então?
- Os desígnios do Criador não são revelados aos que ainda vivem com a carne, enquanto seres materiais. Nem mesmo depois, quando se juntam à multidão dos que estão em paz. Assim como nós estamos agora a falar, outros o fazem, e se nós tivéssemos resposta para essa questão, a questão fundamental do homem, o que você, ainda mortal, pensa que se passaria?
Imagine que por qualquer descuido, algum, ou alguns homens tomariam conhecimento dos desígnios de Deus. Seria o caos, o fim da humanidade.
- Essa agora! Porque?
- Porque sabendo o que não consegue controlar, destruirá tudo! Veja o retrato, bem concebido pelos antigos que deixaram algo escrito sobre tal situação. O Génesis. Esses homens que escreveram a expulsão do paraíso, tiveram uma visão do que seria o mundo no caso do Adão aceder aos conhecimentos de Deus. É um retrato, uma forma poética de mostrar como tal situação seria impraticável.
- Mas porque?
- Lá vem a mesma pergunta, para a qual não encontrará nunca resposta nem mesmo depois que se consiga juntar ao Espírito Eterno, onde não há dúvidas, nem perguntas. O que interessa ao homem vivo ou espiritual, por paradoxo que pareça, é o mesmo: paz. Na terra não a encontra porque não quer. Aqui, só depois de muito ter lutado para encontrá-la em vida.
Penso que estava acordado nesta conversa, porque a minha cabeça zoava!
Gostaria de ficar eternidades neste papo. Mas para quê? Para ser castigado como Adão, apesar de ficar sempre na mesma ignorância?
Decidi despedir-me.
- Meu amigo. Creio que não falta muito, em termos terrenos, para nos voltarmos a encontrar. A verdade é que a paz geral e a minha, interior, por muito que eu faça, ou procure fazer, não consigo encontrar. Há uma insatisfação permanente, uma luta, fazendo com que as idéias girem dentro da cabeça e me deixem cada vez mais cansado.
Muito queria eu que os homens se amassem como os cães nos amam! Como dizia...
- Eu sei quem disse isso!
- Obrigado. Em breve nos veremos.
Tentei adormecer depressa, mas... já nem sei se o consegui.

11-jan-13

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013





Um sonho ?

Sem saber como, bem na minha frente um velho de barba branca, olhar doce, em paz, tal como alguns de nós têm imaginado como será a figura de São Pedro quando lá chegarmos, se lá chegarmos.
Devia ser mesmo o guardião das chaves dos vários “hoteis” que nos aguardam: os paradisíacos e os infernais!
Sem se interessar em saber o meu nome, nem o que eu havia feito durante a estadia na Terra – isso ele já o deveria saber; está inscrito na eternidade – quis ouvir a minha opinião sobre a humanidade, o seu comportamento e até o que eu pensava do futuro do pequenino planeta onde vivia.
Coisa estranha! Se era mesmo o São Pedro, nada do que eu lhe contasse poderia aparecer inesperado!
Assim mesmo atrevi-me a falar, não deixando dúvidas ao bom e simpático velhinho, o quanto eu era descrente nos homens.
Sem se perturbar foi-me ouvindo contar que na Terra os homens matam pelos motivos mais fúteis!
As torcidas, no futebol, agridem e matam os que aplaudem os seus adversários, há lutas ferozes a que se atrevem a chamar desporto, em que os homens, e mulheres se esmurram até perderem os sentidos, os ditadores, que ainda os há e muitos, prendem, torturam e dão sumiço a cantores da liberdade, que as indústrias farmacêuticas inventam e criam epidemias para aumentarem o lucro do seu negócio, que tratam os miseráveis de países pobres como cobaias descartáveis, que há países onde os medicamentos custam cinco a dez vezes mais do que em outros, que se fazem guerras com mentirosas ideologias de religião, e também, mas principalmente, porque os fabricantes e negociantes de armas embolsam fortunas inimagináveis, que o infame tráfico de drogas não acabará nunca porque além dos financeiramente interessados, a população mundial está cada vez mais descrente no seu futuro e prefere alienar-se com psicotrópicos, que o provento dos trabalhadores, em todo o lado, tem diferenças abissais entre os que fazem as leis e os que a ela têm que se sujeitar, enfim, senhor – lhe disse eu ­– em algum momento o Criador deve ter errado ao dar vida ao homem.
Se o céu, o paraíso, é para os bons e o inferno para os maus, como o cristianismo nos fez crer, neste último não deverá haver mais lugares disponíveis!
São Pedro olhava-me e, apesar de contra a luz, pareceu-me ver uma pequenina lágrima sair de um olho. Para não mo mostrar, deu uma volta enquanto passava a mão nos olhos, e voltando-se para mim disse:
- Não. O Criador não fez nada de errado. Por muito amar tudo, mas tudo, quanto criou, deu liberdade a todos os seres, tanto animais como vegetais! E isso é fácil de compreender, quando, por exemplo, se vêm plantas, árvores frondosas, crescerem em lugares que os homens abandonaram, mostra que foram livres de escolher onde querem viver, os animais a que os homens chamam de irracionais, que vivem em total liberdade jamais competindo com os da mesma espécie, e ao homem foi concedido, além de tudo, o privilégio de pensar, a inteligência para coordenar a vida de toda a natureza de forma a que ela transforme a vida na Terra no verdadeiro Paraíso.
Mas o Criador, Deus, ou como lhe queiram chamar, sempre teve que lutar com um muito feroz e invejoso competidor, a quem costumam chamar de Satã ou Diabo.
Os homens não pensam muito sobre o Diabo, mas ele consegue ser tão real, desconhecido, incognito e temido quanto o Criador. O Diabo aparece sob a forma de ouro, jóias, poder, inveja, soberba, vingança, e todos os outros males que os homens conhecem bem e fingem desconhecer.
O Criador que existe desde sempre, não tem pressa. Na eternidade não há pressa. Tudo é instantâneo, e quando os homens pensam que estão há cem mil anos na Terra, esquecem-se de que esse tempo não conta.
Aqui, no éter, na eternidade, não há hotéis paradisíacos nem infernais, nem entes bons nem maus, o que não significa que aqueles cujo comportamento, na sua tão breve passagem na terra, tenha sido condenável, não devam pagar por isso. O mais natural é que voltem, noutro corpo material e sofram o que fizeram sofrer aos outros.
Só redimidos serão aceites no Espírito Único, integrados no Criador, só assim, como dizem os cristãos, poderão ver a Face de Deus! A Face de Deus que é o sopro que dá a vida do espírito.
Alguns homens têm disto uma noção mais profunda do que todos os outros. Têm até um nome curioso para aqueles que estão prontos a estar com o Criador: encontrar o Nirvana.
Para eles não há paraíso ou inferno; há somente que cumprir com a vontade de Deus, que o fez superior a todos os outros seres. Não para os destruir ou escravizar mas os conduzir, todos, à perfeição.
Eu continuava a pensar que o meu interlocutor seria mesmo o São Pedro, o bom velhinho pescador, como o imaginamos. Mas estas suas afirmações baralharam mais a minha cabeça, e decidi aproveitar a ocasião para lhe fazer algumas perguntas:
Mas Senhor, se Deus foi o criador de tudo e existe desde antes de tudo, porque criou o Diabo? E nessa mesma ordem de idéias porque, ao criar o homem lhe deu a possibilidade de escolher o mal, em vez de o ter deixado a viver como todos os outros seres vivos, sem guerra, nem hierarquias, nem vaidades, nem invejas, etc.?
Se a nossa inteligência, a nossa alma, o nosso espírito, são fruto do “sophos”, do sopro do Espírito de Deus, ou Deus fez uma trucagem e nos deu um espírito maligno, o que ninguém entende porquê, ou, mais grave e pode parecer a mais profunda das heresias, se esse espírito é o espírito de Deus, alguma coisa está errada. De que adianta a minha alma, ou o meu espírito ter que reencarnar para voltar a sofrer, se esse espírito nos foi dado por Deus.
Porque Deus faria isso com os homens?
Se o espírito, a alma, ou como lhe queiram chamar, nos foi “dado” por Deus, “à sua imagem e semelhança”, e se existe desde... sempre, e sempre continuará a existir, e se eu posso encorporar-me ao espírito eterno, isso significa que de lá saí, e se agora tenho que me purificar para voltar, é porque terei saido de um espírito impuro!  
Se Deus desde o “primeiro” infinito antes de mim não teve tempo de se purificar, como poderá fazê-lo no infinito seguinte?
O que não foi feito na eternidade anterior ao meu momento, não vai poder fazê-lo na eternidade posterior!
Eu, com toda esta argumentação já estava todo baralhado e o amável São Pedro parecia estar a fixar as minhas observações para as ir expôr...
Achei melhor terminar, dizendo-lhe:
Senhor, eu acho melhor não saber nada, do que me alimentar de afirmações ilusórias e inconciliáveis.
Prefiro ficar com um infinito incompreensível e sem limites do que me restringir a um Deus cujo incompreensível é delimitado por todas as partes.
São Pedro parecia um pouco confuso, mas com seu olhar tranquilo despediu-se com esta mensagem:
Nada te obriga a falar do teu Deus, mas se decidires fazê-lo é necessário que as tuas explicações sejam superiores ao silêncio que elas rompem.
Só mais uma pergunta: o senhor é o São Pedro?
Não. Aqui não há santos!
E sumiu entre as nuvens!
E eu?
Creio que acordei... e fiquei em silêncio.
Ainda estou indeciso se terá sido um sonho, mas tem dado muito o que pensar.

8-jan-13

sábado, 5 de janeiro de 2013



A propósito do texto “Assassinato das Tradições”


Citations do Général De Gaulle en 1959

rapporttées par Alain Peyrefitte:


Il y a 52 ans ce grand monsieur, que l'on aime ou pas, en 1959 il nous avait averti . Aujourd'hui, il irait en prison pour avoir dit ca !!

“C’est très bien qu’il y ait des Français jaunes, des Français noirs, de Français bruns. Ils montrent que la France est ouverte à toutes les races et qu’elle a une vocation universelle. Mais à condition qu’ils restent une petite minorité. Sinon, la France ne serait plus la France. Nous sommes quand même, avant tout, un peuple européen de race blanche, de culture grecque et latine et de religion chrétienne.
Qu’on ne nous raconte pas des histoire! Les musulmans, vous êtes allés les voir? Vous avez regarder leur turbans et leur djellabas? Vous voyez bien que ce ne sont pas des Français!
Ceux qui prônent l’integration ont une cervelle de colibri, même s’ils sont très savants. Essayez d’integrer de l’huile et du vinaigre. Agitez la bouteille. Au bout d’un moment, ils se separent de nouveau. Les arabes sont des arabes, les Français, sont des Français.
Vous croyez que le corps français peut absorber dix millions de musulmans, qui demain seront vingt millions et après-demain quarante?
Si nous faisons l’integration, si tous les arabes et les Berbères d’Algerie etaient considerés comme Français, comment les empechez-vous de venir s’installer en métropole, alors que le niveau de vie y est tellement plus elevé?
Mon village ne s’appellerait plus Colombey-les-Deux-Eglises, mais Colombey-les-Deux Mosquées.

Ainda é dele esta frase: Todas as doutrinas, todas as escolas, todas as revoltas, só têm um tempo.

7-jan-13



O futuro do presente


Estou cansado de afirmar que o Brasil é um país lindo, gente maravilhosa, recursos quase inesgotáveis, mas...

- quando crápulas condenados à cadeia pelo Supremo Tribunal, e por vários anos, assumem “seus lugares” de deputados na Câmara Federal...
- enquanto os des-governos continuarem a desviar verbas, fabulosas, de auxílio a populações que tudo perderam nas enxurradas, e continuam a assistir ao descalabro...
- quando, por exemplo, num município em três anos só tenham feito obras de contenção em 4 quilômetros do rio, quando 27 são os que perigam a povoação...
- quando continuamos a ter mais de 50.000 homicídios por ano, enquanto na guerra civil da Síria morreram 60.000, mas em DOIS anos, e já é considerado um genocídio...
- quando cai uma chuva e a minha casa fica sem telefone e com falta de energia elétrica...
- quando permitem a construção de dezenas e dezenas de prédios com mais de meio milhar de apartamentos, num bairro que não tinha infra estrutura para isso, e agora, na minha rua há cerca de um mês ninguém recebe água...
- como os lobbies das construtoras são imensos, como imensas as verbas por estes oferecidas aos governantes para se elegerem, primeiro constrói-se, depois o governo arruma facilidades de crédito para os compradores e depois, depois, depois, se pensa em infra estrutura. Quando pensa. Porque só remenda.
e... etc., etc., etc....

Por muito bonito que o país seja e carinhosas as suas gentes, um mau estar se instala e fica difícil de remover.
Vivi vinte e um anos em África. 21. Naquela África a que chamavam atrasada. Não recordo, nem ninguém da minha família, que alguma vez nos tivesse faltado a água, a luz ou o telefone e isto desde os começos dos anos 50, quase sessenta anos passados. Luanda tinha o seu abastecimento de água a funcionar perfeitamente desde 1889. (Infelizmente hoje não está mais assim. Luanda cresceu loucamente. Mas só se tornou independente há 37 anos, e o Brasil há 190!)
Naquela África onde o analfabeto presidente desta pindorama manifestou “oficialmente” o seu espanto por ver ruas alinhadas e limpas e a população a comportar-se com cidadania, o que ainda não acontece por aqui em todo o lado.
Neste país tudo parece jogo infantil e, pior, de mentirinha.
O percentual de desemprego está no seu nível mais baixo. Infelizmente não é por o país estar a crescer, mas pelo fomento dado ao consumismo. Loucura.
A indústria terá encolhido cerca de 2,6%.
O PIB de 2012 deve ficar abaixo de 0,9%, apesar do governo já estar a preparar outro “método” contábil para enganar o povão.
A Balança Comercial ficou no mais baixo nível dos últimos dez anos.
Mas, e então a “inesgotável riqueza” do petróleo do pré-sal ??? Ah! É verdade. Dizem, dizem, que o petróleo está lá. Lá em baixo, a uns 4.000 metros de profundidade, no mar, e a alguns centos de milhas da costa. Mas parece que está.
É só ir lá buscá-lo. Só.
Só que para isso o governo, perdão, o des-governo, tem que abrir os leilões de exploração dessas áreas. Mas... voltamos a esta horrível palavra, o “mas”... os interesses são tão escusos que há anos se vêm adiando esses leilões. Pasmem agora ó incultas gentes: as empresas BRASILEIRAS, ligadas à exploração de petróleo, como o governo nada resolve... saíram para ir investir no estrangeiro.
E a Marinha Mercante? Aquela que transporta para dentro e fora do país tudo quanto se movimenta? Não tem um navio, unzinho só. Tudo é estrangeiro! E quais planos existem? Planos? O que é isso de planos?
Isto é uma maravilha.
E em minha casa... não tem água!!!

4-jan-13