sábado, 12 de julho de 2025

 Mais um pouco sobre o meu bisavô 

FRANCISCO GOMES DE AMORIM - 1827-1891

Escrito em 2002, que deve estar também algures neste blog, mas que vale a pena relembrar e, sobretudo, ajudar a despertar o conhecimento da medicina da Amazônia.

Os Açores e Gomes de Amorim

 Aquelas Ilhas Afortunadas, afortunadas pelas suas belezas naturais, pela sua história bonita, agitada, e por tantos filhos ilustres, entre os quais sempre sou levado a destacar o grande e controverso mestre Antero de Quental, controverso em si próprio e mestre sobretudo pela grandeza do seu caracter, desde a minha infância exercem sobre mim um atrativo que a vida não me proporcionou concretizar: visitá-las!

Há ali pairando um misto de tradição envolvido pelo verde dos seus campos e o azul do oceano que... deve ser respirado, vivido. Um dia, ainda pode ser... e como a esperança é a última que abandona o homem...

O nosso Gomes de Amorim, como disse um dia o Dr. Macedo Vieira, Presidente da Câmara da Póvoa de Varzim, não teve adolescência. Saiu menino de 10 anos de Portugal e assim que chegou ao Brasil, na Amazónia, passou  a viver como um adulto. Fez-se homem de súbito num clima ainda hoje difícil, insalubre, e não tardou que a sua saúde começasse a pagar os rigores dessa sua vida e desse clima.

Em 1840, então com 13 anos de idade subiu o rio Xingu para ir explorar borracha. Diz ele, na Nota LV de “Ódio de Raça”:

Saímos do Pará em duas canoas com todo o necessário para os trabalhadores e tripuladas por uns doze tapuios e um branco natural do Rio de Janeiro. ...logo que passámos a última vila (Pombal)... (já teriam navegado mais de 1.000 quilómetros rio acima) desembarcámos defronte de uma ilha que depois soubemos chamar-se de Santa Maria... Derrubámos uma porção de arvoredo junto à borda do rio... amarrámos com cipós quatro travessas nas árvores dos lados. Cobrimos tudo com folhas de palmeira e ficámos proprietários de uma casa.

Não era exatamente um hotel cinco estrelas, não tinha ar condicionado, nem levavam com eles antimaláricos ou outras “modernidades”.

Dois anos depois

...Eu era caixeiro duns portugueses que fizeram um navio no sertão. Aqueles tratantes... obrigaram-me a trabalhar como carpinteiro e remador. Andávamos a tirar madeira de maçaranduba na margem austral do Amazonas, três dias de viagem acima da boca superior do rio Alenquer, quando adoeceu com sezões o mestre dos carpinteiros. ...peguei no machado do mestre dos carpinteiros e subi para cima dum grosso tronco de maçaranduba que andava a lavrar. Dei o primeiro golpe com tal força que o machado entrou dentro da linha do giz, por onde devia ser aparelhada a madeira; desci imediatamente para cortar o cavaco do lado oposto, mas, apanhando-o em falso o machado resvalou , correndo como um raio pelo pau fora, e veio dar-me um profundo golpe abaixo da articulação tíbio-társica do pé esquerdo, cortando-me o tarso obliquamente até à planta!

Perguntou a um dos tapuios:

- Que é bom para isto?

- Isca queimada.

- Dá cá.

... foi ao cesto (uru) onde se guardava, num canudo de taboca, o pano queimado que nos servia de isca, e voltou a correr. Rasguei um pedaço da camisa e limpei o sangue. O tapuio encheu o golpe com pano queimado e – um outro ­– pegando numa faca foi para o interior da floresta. Passados alguns instantes voltou trazendo um cipó de cujas pontas escorria um leite gomoso e avermelhado que ele me deitou no pé. Este suco grudou a isca sobre a carne.

Os remédios com que me curavam, além do pano queimado, eram cascas de árvores silvestres e leites de várias plantas.

Assim se curou o pé, depois de muitas outras peripécias, do nosso Aprendiz de Selvagem, como tão bem o retratou o Dr. Costa Carvalho no seu livro com este nome, que acaba por dizer que fiquei com o pé doente mais sólido do que o outro!, homenageando deste modo a sapiência tradicional dos índios da Amazónia.

Mas sezões, pés cortados a machado e outras violências dum ambiente hostil, um dia cobram os seus impostos.

Pouco tempo depois de casar, aos trinta anos, em 1857, foi acometido duma congestão cerebral, cujas consequências o acompanharam pela vida fora, impossibilitando-o de comparecer com regularidade ao seu trabalho, retendo-o em casa com enxaquecas e quase permanente falta de saúde, que o levaram a considerar-se um “valetudinário”.

À procura de solução para a sua saúde, que os médicos não conseguiam resolver, decide, não se sabe a conselho de quem, ir aos Açores, São Miguel, procurar nas águas quentes e sulfurosas de Furnas, o alívio que tanto desejava.

São de jornais de Ponta Delgada as seguintes notícias:

“Persuasão” - 24 de Setembro de 1862: Gomes d’Amorim, Francisco – Este notável poeta português que nas águas das Furnas veio procurar alívios a grandes padecimentos que sofre, vai para Lisboa nesta viagem do “Açoreano”. Sentimos que o ilustre enfermo não encontrasse as melhoras que deseja mas também não se lhe agravaram os males. Sabemos que o sr. Amorim vai muito penhorado da obsequiosa maneira com que foi recebido nesta ilha e de que leva gratas impressões de todos os lugares que visitou.

“Aurora dos Açores” - 27 de Setembro de 1862: Francisco Gomes de Amorim, desejando dar ao público um testemunho do seu reconhecimento pelas muitas provas de afectuosa consideração e simpatia, que recebeu durante a sua residência nesta ilha, e não lhe permitindo o seu mau estado de saúde despedir-se pessoalmente de todas as pessoas que lhe fizeram o favor de o visitar, tanto no vale das Furnas como em Ponta Delgada, a todos agradece por este modo, despedindo-se com profunda saudade e protestando conservar sempre viva a memória dos favores que recebeu nesta formosa terra.

Apesar de não ter obtido resultados volta no ano seguinte.

“Persuasão” - 3 de Junho de 1863:  Este mimoso poeta (Gomes d’Amorim) chegou a Ponta Delgada. Demora-se poucos dias na cidade e segue para as Furnas a fazer uso dos banhos termais.

Pior ainda se deu.

“Persuasão” – 9 de Setembro de 1863:  O ilustre poeta Gomes d’Amorim regressou das Furnas para esta cidade em muito mau estado de saúde. O sr. Dr. José Pereira Botelho, ornamento da medicina portuguesa, que tão desveladamente tratou nas Furnas o sr. Amorim, acompanhou o seu regresso e hospedou-o em sua própria casa, onde ele, sua excelente esposa e muito estimáveis filhas não poupam desvelos e carinhos na convalescença do sr. Gomes d’Amorim. Está muitissimo melhor do que veio das Furnas. Já se levanta, passeia e conversa há bastantes dias, sentindo ainda, infelizmente repetidas perturbações cerebrais. É possível que os banhos de mar, que já toma há dias, sejam proveitosos ao desditoso enfermo. Para tranquilidade de sua família e amigos do continente, asseguramos com profundo conhecimento, que o sr. Amorim, nem mesmo no meio de sua família seria tratado com mais afago e comodidades do que está sendo em casa do distinto e desinteressado médico de Ponta Delgada, o sr. Dr. José Pereira Botelho.

“Persuasão” – 30 de Setembro de 1863:  Sr. Redator.- Próximo ao movimento de seguir viagem para Lisboa venho pedir-lhe o favor de me conceder um cantinho do seu jornal, para eu dar público testemunho do meu sincero reconhecimento pelas muitas provas de afectuoso interesse que recebi durante a minha residência nesta bela ilha.

O doloroso estado em que vou partir, impede-me de agradecer pessoalmente os favores que me honraram, e tira-me toda a esperança de tornar a ver os que mos fizeram; mas creiam todos aqueles a quem devi um cuidado ou um afecto, que a minha memória e o meu coração lhes serão sempre fiéis enquanto eu viver.

Os banhos de Furnas, propícios para tantos males, não me foram favoráveis; e a não serem os estremecidos cuidados com que me rodeou a mais pura, a mais caridosa, a mais fervorosa afeição, eu teria achado no meio das formosuras d’aquele vale, um lugar de repouso eterno, em vez do alívio que buscava.

Não o quis Deus assim. Ao lado da desventura, que agravou os meus padecimentos, surgiram logo milagres de zêlo, grandes afectos, uma nova família, que Deus mandava para substituir a que tinha longe: tudo, enfim, quanto o favor do céu produz na terra! Se a saúde fosse possível, eu tê-la-ia recobrado. De todos os lados me amparavam mãos abençoadas pela providência; e, ao partir, não posso deixar de derramar sobre elas todas as lágrimas da minha gratidão e da minha saudade.

Se me não é permitido citar nomes, nem dirigir mais claramente os meus agradecimentos àqueles a quem mais devo, e a quem mais amo, tenho-os todos no pensamento, ao dizer este último adeus à terra que os viu nascer.

Adeus, pois, formosa e querida ilha! Adeus, pátria dos bons corações! Que Deus te dê sempre destes belos frutos, e pague por mim  as dívidas que eu aqui deixo.

Ponta Delgada, 28 de Setembro de 1863. F. Gomes de Amorim.

Não ganhou saúde o nosso poeta, mas ganhou uma família nova, a família desse grande médico e grande homem que foi o Dr. José Pereira Botelho. Grande e muito conceituado médico, sendo o filho, homem, mais velho de 10 irmãos, como morgado, devia herdar a quase totalidade dos bens de seus pais. Fez questão de abdicar do morgadio e dividir a herança com os irmãos, coisa rara, e talvez única no seu tempo, o que demonstra o valor do seu temperamento moral.

É pois o Dr. Pereira Botelho, sem qualquer favor, uma das grandes figuras de São Miguel. Salvou a vida do nosso Gomes de Amorim e ganhou mais um admirador e um grande e reconhecido amigo.

Na biografia deste médico, publicada na revista “Insulana” em 1954, escreve António Augusto Ripley da Mota em “O Dr. Botelho e o seu tempo”:

Havia clientes que o adoravam. Daqui e de fora da Ilha! ... distinguiremos Francisco Gomes de Amorim, o conhecido biógrafo de Garrett que viera experimentar (aliás sem resultado) as águas termais de Furnas;

Mais adiante: Todos ficavam agradecidos, alguns permaneciam seus íntimos amigos, como Gomes de Amorim que bem o manifesta numa longa correspondência de mais de 20 anos ... e no Cap. IV do seu livro “Fructos de Vário Sabor” (Lisboa, 1876), intitulado “Saudades” e dedicado ao “Dr. J. P. B.”.

Deste modo, acabou Francisco Gomes de Amorim entrando para a história dos Açores.

Rio de Janeiro, Junho de 2002

 

 

segunda-feira, 30 de junho de 2025

 

SOMOS TODOS CRIMINOSOS

SE PERMANECERMOS CALADOS

 

O título deste texto é uma frase de Stefan Zweig, no seu livro AMOK, um drama pior do que horrível, mas que se aplica com a maior desfaçatez ao que está ocorrendo pelo mundo todo, com talvez especial incidência no Brasil.

No Brasil, o poder total, absoluto, está nas mãos de uns facínoras (não o posso afirmar em público e alta voz, se não serei “amokeado! Uma espécie maligna de aiatolás ou líderes supremos) que têm levado as pessoas, com especial e triste excelência de procedimentos aos mais altos chefes das Forças Armadas, mais exatamente às forças amordaçadas e amedrontadas ao total silêncio subserviente

Qualquer um que se permita fazer uma crítica ao staus quo, pode ser condenado, preso – sem julgamento – e, se expulso das FA, além de ir para a cadeia, perde salário, aposentadoria e quaisquer outros benefícios arriscando-se assim a deixar a família a pedir esmola. Mentira? Não, não é mentira.

Então o "boca calada e bico fechado" é hoje o dogma, quase lei imposta ao rebanho não só militar como civil, para parecer que tudo está bem. Mas está tudo mal.

O máximo que se pode dizer é plagiar os famosos Dupond e Dupont: calados e sobre nessa mudez insistirem na magnífica frase: “Eu direi mesmo mais”!

Imagem digital fictícia de personagem de desenho animado

O conteúdo gerado por IA pode estar incorreto.

Por outro lado há quem se permita emitir opiniões, científicas, a partir dos seus muitos conhecimentos e atrevimentos.

Stephen Hawking, um grande cientista, um dos maiores do nosso tempo, “desvendou” inúmeros problemas na esfera dos seus principais interesses: termodinâmicarelatividade, gravidade, mecânica quântica e etc.

Mas... navegou um tanto perdido entre o princípio da criação do mundo, dos buracos negros e outros assuntos que não mereceram a aprovação unânime do mundo científico.

E tanto falava em Deus, como se dizia ateu.

Eu nada, absolutamente nada sei sobre aqueles temas onde Hawking penetrou e se notabilizou, mas há sempre um detalhe que me faz desconfiar que muitas dessas “maravilhosas/científicas” descobertas não passam de uma espécie de “show-off”, já que o cientista, sendo uma sumidade terá sempre gente à espera de novos conceitos e descobertas.

Um desses casos, um dos últimos que deixou, no livro “The Grand Design”, afirma que Deus não criou o universo, sustentando uma nova visão sobre a origem do cosmos, baseada em leis naturais como a gravidade.

E eu, “mané”, não beato, fico perguntando a mim mesmo (Hawking faleceu há 7 anos), se Deus nada teve a ver com a criação do cosmos:

1.- Porquê sempre se escrever Deus com letra maiúscula? Se Ele nada fez...

2.- E então quem criou essas “leis” naturais, como a gravidade? De onde surgiram?

Diz Hawking que surgiram do Nada.

Boa piada. Tudo que eu sei, e sem querer parecer o dono da verdade, sei mesmo, é que do nada, NADA pode surgir, e até posso arranjar imensa quantidade de exemplos que estão em todo o lado.

Para não cansar as meninges, as minhas, puídas e esfarrapadas, basta deitar os olhos para o que nos rodeia, aqui e além, Norte e Sul e outros quadrantes.

Falam uns, discutem outros e a esmagadora maioria, o rebanho dos covardes, dos bons, dos idiotas e semelhantes, que olham, vêm, não entendem ou não se interessam, dos que não querem perder as corruptas bocas que os alimentam, ficam quietinhos, sem fazer ondas.

Uns não acreditam no Lobo Mau, outros dele fogem, mas ele está sempre à espreita.

Entrámos já numa nova Era que prepara o Governo Global. Dominam-se os meios tradicionais de comunicação que pouco já influem e, sobretudo, controlam-se os chamados “meios sociais” como Facebook, Twitter, Instagram e outros que estão aparecendo. Divulgam-se sub-repticiamente comunicados falsos corrompendo as mentes, com o objetivo de levarem os “calados” a obedecer a “ordens” ou “sugestões”, à obediência de algo que desconhecem e de que têm medo e raiva.

O COVID foi a primeira grande experiência mundial, resultando a 100%. Meteram-se bilhões, trilhões, muitos trilhões de todas as moedas nos bolsos dos assassinos e suas indústrias.

Como? Com o medo muito bem articulado, divulgado e apoiado por corruptos imbecis. A finalidade não foi só financeira, mas um ensaio político.

E continua a festa do Covid, através da falácia do álcool gel, que mais atrai bactérias e semelhantes, através do gel emulsionante do que os dez ou pouco mais por cento de álcool que o compõe.

Mas a natureza manda mais do que os homens.

Lembro Orwell, tanto com a “Fazenda dos Animais” como o “1984”, e admiro a premonição do escritor.

Com a tecnologia atual, os hackers e os “cientistas cibernéticos” um novo “1984” se prepara e já está em evolução faz tempo. Nada se consegue “do pé para a mão”, mas não esqueçam daquele pequenino pingo de água que acaba furando a rocha!

Para terminar é só ver como os EUA, com o babaca do Biden mancomunado com a tal esquerda mundial que prepara o colapso geral, interferiram na votação para Presidente aqui no Brasil, dando o cargo ao maior corrupto da história universal. E o Trump não ainda ligadão ao Putin?

Se por aí ainda andasse o Adolfinho Hitler, diria: wir sind lixadem!

Eu que já tenho as malas prontas para ir embora (fáceis de arrumar: nada levo), ainda vou reclamando.

Os que cá ficarem vão andar direitinhos às ordens de uns facebooks quaisquer.

 

29/06/2025

quarta-feira, 25 de junho de 2025

Há mais de um Mês que não tenho escrito nada no blog.
Escrevi alguns livros mas tenho andado extremamente ocupado e sobretudo preocupado com a saúde da minha companheiro de há há quase 3/4 de século.

A saúde complicou e nós continuamos à procura da raiz do problema que não tem sido fácil definir. Muitos exames, muita ida a médicos e hospitais e a cabeça, com tanta pancada que levou nestes últimos 12 meses, está muito esgotada.

Hoje lembrei-me que é o dia em que um grande amigo, um irmão muito querido, que nos deixou há muitos anos, faria anos e que, certamente nos iriamos encontrar e beber uma ou mais garrafas de vinho branco bem geladinho e conversar durante muitas horas.

Escrevi sobre ele, um pequeno apontamento que está aqui no blog desde 2018, junto com outros amigos que já descansam. Passei todos para um livros onde esta mais de 170!

De vez em quando vou ler, visitar esses amigos, chorar de saudade e e rir com algumas das nossas  vivências.

Leiam o que escrevi sobre o João Macedo, tão forte amizade nos unia:

Na Cuca, em Nova Lisboa fui um dia encontrar um dos funcionários da secretaria, que, amável, me vem dizer que era muito amigo dos Teixeira de Abreu, amigos nossos desde... solteiros. Achei simpático, mas pouco mais tínhamos a dizer um ao outro, o que não impediu que sempre que me deslocava àquela cidade, lhe fosse falar.
Já eu tinha saído da companhia quando ele e família foram viver em Luanda, e por sinal, bem perto da nossa casa. A amizade começou a brotar, e foi, nessa altura, muito forte entre um dos meus filhos e um deles, o Nuno Mindelis.
No Brasil consolidámos essa amizade que foi, e é, apesar de já cá não estar, muito forte, deixando de sermos simplesmente amigos para nos sentirmos como irmãos.
Quando o íamos visitar, no condomínio em que morava, a uns 30 quilômetros de São Paulo, a portaria tinha que dar o meu nome e pedir-lhe autorização para entrar. A primeira coisa que ele fazia era correr para o frigorífico e pôr no freezer uma garrafa de vinho branco! Depois ficávamos no bate-papo, um copo, uns petiscos e muitas vezes acabávamos por jantar com eles.
Teria muita história para contar dos nossos encontros, mas só lembrar dele, e dos outros amigos, numa pequenina situação já é uma espécie de hino à amizade.
Custou-me muito vê-lo partir.
Grande e humilde amigo João Macedo Martins.

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sexta-feira, 16 de maio de 2025

 

Teologices Bíblicas

 

Diz a Bíblica, logo no comecinho, Génesis I 25, que Deus fez os animais viventes segundo a sua espécie (evidente! Não iria fazer dos já mortos e sem espécie) e os animais domésticos etc., e depois criou o homem à sua imagem, varão e fêmea ... mandou-os crescer e multiplicar-se, encher a terra, sujeitá-la e dominar todos os peixes e aves e amimais que se movem.

Isto foram uns indivíduos que escreveram, sobre um tal Deus inventado quando ninguém lá estava para verificar a veracidade do tão fantástico acontecimento.

Mas esses primeiros escritores não dominavam talvez nem a fala quanto mais a escrita, como Machado de Assis, Camões, Fernando Pessoa, Goethe, Dante, etc., ou mais para trás como Homero ou Hesíodo, porque isto começa com afirmações muito esdrúxulas, que vamos tentar analisar.

1.- Deus fez os animais viventes! Já haveria animais mortos? Por que viventes? Porque não escreveram simplesmente “Deus fez os animais”?

2.- Segunda a sua espécie: Não dá para saber se haveria só uma espécie ou aquilo era uma ribaldaria onde todos se misturavam. O que significa a afirmação “segundo a sua espécie”? Vou ter que consultar um zoólogo?

3.- Criou o homem à sua imagem. Isto não passa de uma elegante metáfora que algumas religiões teimam em aceitar como verdade, quando ninguém tem a mais mínima (talvez ... menor...) ideia de como era, e é, a imagem de Deus. Mas vamos em frente. Deixemos o Deus, um velho barbado e o Adão um jovem! Não faz sentido, como nada no Génesis.

4.- Sujeitai a terra:  Assim, desde sempre, o crente bíblico arrasa a terra e nem toma conhecimento do meio ambiente. Precisava sujeitar a terra, quando ainda se consegue ver, já dificilmente, que a terra não sujeita é a saudável, que preserva animais, plantas, etc.? O que dizer dos milhões de toneladas de plástico nos oceanos?

E a poluição de rios e mananciais de água? E da destruição das florestas? E... etc.?

5.- Dominai todos os peixes, aves e animais que se movem. Esta afirmação é muito grave, porque parece que Deus não sabia que o homem haveria de aniquilar milhares de espécies de peixes, de aves e outros animais moventes (safaram-se os tetraplégicos?)

Que dizer quando se assiste a ver cada vez com mais violência e intensidade dizimar a fauna marítima aves, e outros ainda viventes ou pouco sobreviventes?

 

Aqui entra a segunda parte deste problema.

Primeiro ninguém sabe quais seriam os animais domésticos, porque, pelo que consta, os animais domésticos começaram a ser domesticados pelos homens no Neolítico, há uns 15.00o anos (As testemunhas de Jeová dizem que Deus criou o homem há uns 4 a 5.000. ????  Mas com base n conhecimento, então que animais domésticos Deus criou? Estranho, né?

Depois o homem, o único animal que mata somente por matar, e desde tempos, imemoriais com uma bestialidade inconcebível. Hoje gasta mais em material de guerra e de destruição do que em saúde e alimentação mundial.

O homem é o único que mata possivelmente até por prazer. Assassina a mulher ou o marido, que até cortam em pedaços e guardam no congelador (para quê), estupram-se crianças que depois se matam, desfazem quimicamente ou à paulada milhões de filhos que ainda estão a crescer no ventre das mães (e, pasmem, com o beneplácito de leis assassinas!), as guerras só no século XX mataram centenas de milhões de subalternos pelo macabro prazer de alguns “chefes” pelo poder, e isso continua até hoje.

E os peixes, matam-se dentro da mesma espécie, ou só matam o que caçam para se alimentarem? E os pássaros? Alguém já vi naquelas revoadas de milhares de pássaros, todos da mesma espécie, brigarem entre si? E numa manada de bovinos, eles brigam? Numa alcateia, numa manada de antílopes, zebras, símios, etc.? Lutam sim alguns machos na altura dos cios, porque sempre querem transmitir à sua espécie as características dos mais fortes.

Então podemos concluir, com mentalidade de criança que diz o que pensa sem se preocupar com os que escutam:

- Segundo os escribas da Bíblica (que tanto se venera ainda hoje), Deus iria criar um homem à sua semelhança sabendo (onisciente) que ele viveria matando o seu semelhante durante milênios, e ainda não aprendeu que o Éden pode ser aqui mesmo desde que nos comportemos como os animais domésticos ou selvagens.

Será que alguém contou que “a vida na terra começa com dois homens e um mata logo o outro” (assim mesmo tendo deixado milhares de descendentes diretos) ? Caim depois de matar Abel deu o fora e foi fundar uma cidade. Teve tanto filho assim, ou o Génesis está mal escrito?

Parece que a Bíblia menciona especificamente que Adão e Eva tiveram três filhos: Caim, Abel e Sete. No entanto, a tradição judaica e outras interpretações mencionam que Adão e Eva tiveram muitos mais filhos, incluindo outros homens e mulheres, chegando a números como 60, sendo 33 homens e 27 mulheres. Boa parideira a Eva, hein! E Caim? Só consta um filho chamado Enoque, segundo a narrativa bíblica em Gênesis. Enoque, por sua vez, teve outros filhos e filhas, mas o texto bíblico não especifica quantos. A Bíblia menciona que Caim construiu uma cidade e a chamou pelo nome de Enoque, seu filho. 

Construir uma cidade para um só filho, nem os príncipes sauditas!

Complicado, mas mais ainda quando escreveram os escribas há talvez quase 3.000 anos, que Deus viu todas as coisa que tinha feito e eram muito boas.

Ótimas. O Homo Sapiens terá uns 200.000 anos. Mais ou menos. E há alguém em sã consciência que diga que isto está muito bom, com usinas e bombas atómicas, inveja e ganância em ritmo crescente, com indústrias farmacêuticas a aterrorizarem o mundo com uma pandemia lançada para matar velhinhos e novos e crianças, para depois virem dizer que se enganaram com as vacinas que mataram mais um monte de gente, e não contentes com isso continuaram a convencer os oito bilhões -8.000.000.000 -  de babacas, que precisavam desinfetar as mãos com Gel–Alcool 70, que além de não ter 70 de nada tem 80% de água, 20% de emulsionante e 10% de álcool, e que esse gel é ótimo para fixar bactérias na pele? Mais outro crime que meteu muitos bilhões nos bolsos dos vigaristas.

Que mundo é este meu Deus, se é que Dus está em algum lugar assistindo ao descalabro que, segundo a Bíblica Ele criou?

Baseados nestas aberrações ainda os homens se dividiram em religiões que se matam com fervor, traições, etc.

Alguém está realmente satisfeito por pertencer a essa calamidade bíblica, descendendo desse varão e fêmea que o que melhor sabe fazer é matar?

Não seria melhor que tivessem ficado na Terra só os animais “domésticos” e selvagens?

 

13/05/25

quarta-feira, 7 de maio de 2025

 Continuação


CALOTEIROS  *  II

 

Continuemos com mais uns caloteiros que, parece, sumiram já da minha vista. Guardo os “acidentes” financeiros, porque ainda hoje tenho vontade de lhes dar uns sopapos, de preferência em frente da família... deles.

 

IV

Definindo o pilantra: político desde nascença, deputado, tendo chegado a substituir o governador na ausência deste por ser presidente da Assembleia Legislativa, menos uns 5 a 6 anos do que eu (eu, que na ocasião, como hoje, matando cachorro a grito ou pouco menos), depois de ter assinado, com os restantes comparsas, que cada deputado não podia utilizar mais do que uma viatura e respetivo motorista (assim se chamam os carros que são nossos e eles usam e abusam), o sujeito, tinha ao seu serviço, que eu vi, contei e os próprios motoristas me confirmaram, cinco – 5 – carros, aliás, viaturas! Um para ele, outro para a mamãe dele, um para a esposa dele, e mais um para cada uma das duas filhinhas dele irem e voltarem do colégio (na faixa dos 12 aninhos).

Estava a mudar para um apartamento (imenso, novo) deixando o “velho” num bairro chique, encomendou-me uma mesa de som, daquelas cafonas, cheias de aparelhos e luzinhas coloridas que piscam com o ritmo, que foi devidamente construída e instalada no novo lar e fez sucesso.

Um dia, sexa, disse-me para ir eu ao apê anterior, onde já não moravam, mas ainda estava cheio de coisas, moveis, etc., ver ou buscar não sei já o quê. Não precisei de gritar “Abre-te Sésamo”, que em português deveria ser “Abre-te Gergelim”, porque o porteiro, instruído pelo patrão, abriu a porta. Entrei para buscar o “?” e tive ocasião de me deparar com o covil dos ladrões; o meu espanto foi igual ao do Ali Babá ao ver as riquezas acumuladas! Num dos quartos teria uns 20 ou 30 tapetes persas e franceses, ainda enrolados, aguardando o transbordo para o novo apê/palacete, e ao lado umas oito a dez caixas, caixotes, de louça de Limoges. O ouro não estava à vista, mas as pratas estavam empilhadas em outro cómodo.

Cumpri a missão que ali me levara e comentei depois com o cliente:

- Lindos tapetes, e que louças magníficas.

- Isso são tudo coisas que me oferecem! Já nem sei onde guardar tanta coisa,

Coitado. Olhem o póbrema deli! Arrisquei, com ar de brincadeirinha:

- Se o sr. quiser eu possa guardar alguns tapetes.

Sorriu com ar alarve e nada disse.

A seguir lembrei-lhe que faltava pagar-me a última parcela do obra que fiz, além das visitas técnicas que tanto eu como o meu filho Luis fizemos diversas vezes à sua nova casa, porque as mininas não sabiam mexer naquilo e já tinham avariado vários equipamentos.

- Eu nada lhe devo!

- Deve sim. O saldo da mesa de som e as visitas que temos feito. Tenho-lhe mandado sempre nota de tudo. Deve-me ainda o equivalente a US$ 200,00. (Penso que era esse o valor, mas... já lá vão uns 40 anos...)

O sujeito levanta a voz:

- Não lhe devo nada.

- Deve sim. US$ 200,00

- Se insistir nessa teimosia vou mandar o meu irmão a sua casa. Ele é o inspetor chefe do Imposto de Renda... (já nem sei o que seria) e vamos ver quem ganha.

- Pode mandar o seu irmão e mais quantos inspetores quiser. Se ele encontrar alguma coisa errada pode multar, expropriar os bens, que se resumam a 7 ou 8 camas, porque os meus filhos dormem em camas, meia dúzia de cadeiras um ou duas mesas e o fogão da cozinha. Eu até hoje ainda não aprendi a roubar nem explorar ninguém.

O besta ficou vermelho, mandou que me expulsassem do gabinete (gabinete de presidente dessa assembleia de ...), ao que lhe disse que não precisava, que sabia onde era a porta. Mas à saída virei para trás e ainda lhe disse:

- O sr. é milionário, mas um dia vai pagar-me isto. Nem que seja um cêntimo, mas pagará.

Não pagou.

Fui agora procurar o nome dele na Internet, que foi fácil encontrar, cheio de referências políticas, sem nada ter feito pelo país. Não posso dizer o nome dele. Já bateu as botas.

Também não posso dizer que a terra lhe seja leve. É melhor pesada e com laje votiva em cima.

 

V

Mais um, talvez o último, porque não adianta chorar em cima do vinho derramado... e não bebido.

Este um comerciante de origem libanesa, loja enorme na 25 de Março de São Paulo, só vendia meias. Aos milhares.

Milionário, um palacete imenso no bairro mais caro, o Morumbi, no meio de um terreno enorme, garagem para dez ou mais caros, enfim, um muitíssimo bem sucedido comerciante, com a loja sempre cheia de compradores de todo o lado que carregavam caixas de meias.

Não se chamava Hassan nem Efrahim, mas era algo desse tipo.

Para casa dele fiz também uma espampanante mesa de som.

Enquanto negociámos foi sempre atencioso, recebeu-me em sua casa onde tomei um café árabe, que devo dizer apreciei.

Foi pagando a entrada, a segunda parcela, depois quis trocar um dos aparelhos de som por outro importado, bem mais caro e... aí começou o póbrema.

Quando fui à loja para receber o saldo que era relativamente pequeno (ainda lembro, uns US$ 150,00) o meieiro... reclamou que já me tinha pago!

- Não pagou. - Paguei. - Não pagou ... e a conversa azedou.

Rápida discussão no meio da loja, sempre cheia e clientes e empregados, o caloteiro a querer ridicularizar-me perante todos aqueles espectadores, alguns já com aparente vontade para correrem comigo da loja.

Não gostei. Aproximei-me da mesa dele, no centro da imensa loja para ver que ninguém o roubava (!), olhei-o bem nos olhos e, com voz macia só lhe disse:

- Sr. “x”, não precisa me pagar. Esses 150 dólares devem fazer-lhe falta para aumentar o luxo do Morumbi. Boa tarde.

Frase muito bonita, mas, ainda dessa vez fui roubado.

Não aumentei os meus luxos, nem deixei de viver.

06/05/25