quinta-feira, 21 de junho de 2018


Antes de ler este texto, sugiro que leiam um comentário

 ao texto anterior – Amigos -3

 PROLEGÓMENOS e AMIGOS – 4

Hoje vou apresentar-lhes uma série de “guerreiros”! Todos de Cavalaria. Gente que optou pela vida militar e alguns estiveram envolvidos nas infelizes, indesejáveis e forçadas guerras coloniais, que a falta de diálogo e ignorância fizerem eclodir. E matar muita gente, de ambos os lados, que poderiam ainda hoje estar gozando a vida com a família em serenidade. Mas as guerras são a manifestação primeira, primária, da índole dos homens. Não se entendem pela simples razão porque não querem, pelos interesses pessoais em jogo, pela ganância e vaidade.
Estamos no século XXI e continuam guerras e matanças por todo o mundo, desde a “civilizada” Europa, onde ainda dominam os europeus (até quando?), África, Américas, Ásia, etc.
Os “guerreiros” de hoje, meus amigos de há muitos anos, todos militares, todos gente sensível e de Paz. Alguns já alcançam o Grande Descanso.

Vou começar pelo mais humilde.
Fizemos juntos o serviço militar como sargentos milicianos. Acabou em Agosto de 1952, e se para mim a sensação foi do “dever” cumprido e acabado, para ele, jovem humilde, de família modesta, com poucos recursos, continuar militar foi a solução para não voltar para a terra, lá para as bandas de Ansião e Lousã, onde não conseguiria trabalho decente.
No meio do nosso curso, um dia o oficial de serviço chamou-o. Tinha nas mãos um telegrama para ele, que dizia “Josefa morreu”.
O oficial perguntou se conhecia alguma Josefa. “A minha mãe.” Foi um drama, mas para não lhe dar um choque, diz-lhe que a mãe estava muito mal, e que ele fosse a casa. Deram-lhe uma semana, e lá vai ele, pesaroso, pensando ir encontrar a mãe às portas da morte. Demorou a chegar. Comboio para Pombal, depois autocarro para Figueiró dos Vinhos. O oficial respondeu ao telegrama dizendo que o filho estava a caminho de casa. As irmãs e a mãe ficaram assustadas porque quem tinha morrido fora uma prima velha com o mesmo nome da mãe, e foram esperá-lo à estação com as roupas mais alegres de que dispunham.
O nosso militar, ainda dentro do comboio vê a família toda alegre a acenar-lhe e ficou perturbado. Quando saiu foi recebido com alegria, abraçou a mãe a chorar, e depois gozou uma semana de férias!
No quartel, ele, como eu, vivíamos com uns míseros escudos, e tínhamos uns quantos colegas mais afortunados de quem ficámos também amigos.
Chegou o Natal e houve férias no quartel, Cavalaria 7, em Lisboa, mesmo encostado à residência do Presidente da República, e o nosso amigo estava triste: não tinha dinheiro para ir a casa e ficaria duas semanas “de castigo” no quartel. Quando me contou isso, falei aos colegas, e todos abriram a carteira. Foi para ele uma felicidade, e passou o Natal com a família.
Durante muitos anos deixei de o ver, foi sendo promovido, andou por Angola quatro anos, na guerra, em Moçambique, sempre em zonas de guerra dura, esteve por duas vezes às portas da morte por doença, e durante todo esse tempo, podemos nos termos cruzado, sem que eu tivesse sabido. Tínhamos perdido o rasto um do outro. Bem mais tarde, 45 anos depois, recebi uma carta dele. Tinha passado à reserva, e foi aí que contou essa história de termos arranjado o dinheiro para que ele fosse a casa, gesto que jamais esqueceu. E trocámos alguma correspondência.
Quando fui a Lisboa, telefonei-lhe e encontrámo-nos. Foi um momento grande. Já de cabelo quase todo branco, a mesma pessoa sensível e humilde, contou-me que se tinha aposentado como major. Estando em número um para ser promovido a tenente coronel, e sabendo que em pouco tempo passaria à reserva, um colega mais novo pediu-lhe para o deixar na frente, na promoção, porque ainda tinha alguns anos de serviço pela frente.
O meu querido amigo, homem simples, a vida organizada, as duas filhas já formadas em curso superior, não hesitou e deixou o colega ser promovido. Só um homem grande teria semelhante atitude.
O Ramiro, homem humilde, grande de alma e caráter, ficou como major. Mas feliz por ter ajudado um colega.
Infelizmente não consegui encontrar nenhuma foto dele. Ramiro da Conceição Antunes.
***

Neto de general, seguiu a vida militar, e a sua ambição seria atingir a mesma posição do avô. Cedo foi para Moçambique, ali chegando jovem tenente, ajudante do governador. Dinâmico, oficial de cavalaria, como todos os do mesmo ramo apaixonado por cavalos, logo obtém do governador autorização e apoio para criar o Centro Hípico de Lourenço Marques que durante anos iria ser lugar de socialização e mundanismo para a alta sociedade colonial. O centro era reputado e às suas competições vinham competidores de países vizinhos."

O belo Centro Hípico

Ainda em Moçambique tenta a vida fora do exército, trabalha na SONAREP, a primeira refinaria de petróleo em Moçambique, mas ao fim de um ano, fartou-se e saiu dizendo: “no exército se eu mandar um general à mer... apanho dez dias de cadeia e tudo volta à mesma, se fizer o mesmo com o administrador de uma empresa sou posto na rua e fico desempregado.”
Voltou à vida militar, esteve dois anos numa zona de guerra na Guiné, deixando a família em Lourenço Marques, regressa a Moçambique e é enviado para novas zonas de guerra, até 74 quando avisado pelo comando do exército, que tudo estava acabado, vai para Portugal.
Não era da cor dos “heróis de Abril”, fica na prateleira. Vai então para o Brasil onde um jovem milionário lhe pede para montar um haras, o que lhe deu vida nova. O milionário casa, a esposa não gosta de animais e o haras... acabou!
O nosso coronel tem então que se virar na vida civil. Os primeiros passos são difíceis, entra depois como auditor numa empresa grande, corre o Brasil, não pára, e fica até que a idade lhe recomenda que descanse. Fizera já muito. Vai para Portugal, saudoso de toda a sua longa luta e história, aos 90 anos descansou.
O jovem e dinâmico tenente

Foi um homem que não parou um momento e sempre enfrentou com galhardia, como um bom oficial de cavalaria, e bom português, todos os desafios que teve que enfrentar.
Nossos pais eram primos direitos. Saravá, meu amigo e primo Carlos Vasconcellos Porto.

Vamos agora aos concursos hípicos, tão na moda em Lisboa sobretudo por volta dos anos 40 e 50. Quase todos os cavaleiros eram militares, raros endinheirados que se davam ao luxo de ter cavalos de alta competição, oficiais houve que se tornaram famosos.
Para as famigeradas olimpíadas de Berlim, em 1936, no tempo do todo poderoso Adolf, Portugal envia vários atletas e um grupo de cavaleiros. Vieram de lá com medalha de bronze, tendo um dos oficiais da equipe recebido uma carta pessoal do tal Adolf a felicitar os portugueses. Carta rara. (Há poucos anos a RTP quis fazer uma reportagem sobre essas olimpíadas, pediu ao atual detentor desse espólio, a medalha para fotografar, mas, por razões políticas, os cretinos não quiseram exibir a carta! Um documento histórico...). Os chamados covardes do politicamente correto!

A equipe portuguesa em Berlim. O nosso “homem” à direita (como sempre foi!)

Casado, mais de uma dúzia de filhos lindos e ótimos, o nosso oficial parou em coronel, mas até ao fim da vida continuou a ser delegado de Portugal aos Jogos Olímpicos. Era uma pessoa de exceção!
Algumas cenas da sua vida.
Enviuvou e houve uma senhora que decidiu “tomar” conta dele, e não o largava.
Teria já 80 anos, com um filho no Paraguay, vai visitá-lo, senhora á ilharga. À despedida diz ao filho: “Estou farto de a ter sempre atrás de mim. Não queres ficar com ela?” Resposta do filho: “Não pai, muito obrigado!”
Uns anos antes, aí por 1970 foi a Luanda, onde viviam pelo menos quatro filhos. Chega de manhã e vai direto ao banco onde eu trabalhava; fiquei muito espantado de o ver às 10 da manhã, nem sabendo que ele estava em Luanda. Tinha acabado de chegar de Lisboa!
Aparece à porta do meu departamento, vejo lá no fundo um senhor com uma mala ao lado, mandei ver quem era. Quando me disseram, corri para o receber, e perguntei-lhe se já tinha estado com algum dos filhos.
Não. Primeiro quero ir almoçar contigo e com o Renato Lima (uma figura inolvidável da Cuca)! Depois então vou ter tempo para me chatear com eles.”
Grande figura, Grande Senhor. Boa parte dos seus filhos são, há muitos anos, como meus irmãos.

Aqui está, um muito querido amigo, Dom Domingos de Sousa Coutinho, Marquês de Funchal, com o neto, homónimo, já avô e futuro Marquês.
***
Quando o conheci, em 1963 já ele com 48 anos era coronel de cavalaria, e estava em Luanda a comandar o famoso e imenso Campo do Grafanil, um acampamento onde estacionavam todos os militares que chegavam a Angola e todos os que, finda a missão, aguardavam o regresso à Metrópole.
Era um militar aprumado, muito disciplinado, características que guardou até ao fim, quando, já sofrendo muito com vários problemas de saúde, descansou.
Foi através dos Cursos de Cristandade que uma forte amizade nos uniu por mais de trinta anos.
Um dia decidimos ir visitar as famosas e impressionantes Pedras Negras, N’pungo-a-Ndongo, terra do meu compadre e colega de trabalho, Luis Neto, e que no meu livro “Contos Peregrinos a Preto e Branco” já descrevi:
No meio de uma extensa área planáltica, a dezenas de quilômetros de distância começam a recortar-se no horizonte uns imensos blocos de pedra, que não fosse a distância, podiam confundir-se com uma grande manada de elefantes! À medida que nos vamos aproximando, essas rochas crescem de forma desmesurada, até que chegados à sua base se tem então noção do seu tamanho. Algumas passam os duzentos e cinqüenta metros acima do chão! São escuras, como os elefantes. Negras.
A sensação, de longe, é que a manada de elefantes está unida, e então, já mais de perto a imaginação leva-nos a pensar em algum gigante, imenso, que carregou, ninguém sabe de onde, essas pedras monstruosas, como almas penadas, para as deixar ali esquecidas, entregues a si próprias, amontoadas!
E a nossa sensação de pequenez cresce, perante a grandiosidade daquele espetáculo. Em alguns desses imensos blocos graníticos estão marcadas pegadas que parecem de gente e de cães. Ninguém sabe o que é, de quem, de quando. Chamam a algumas pegadas, que pelo enorme tamanho só poderia ter sido deixada por algum “patagon”, o pé da Rainha Jinga! Contam-se lendas. Tudo ali é mistério, mas um mistério que encanta, pela sua imensidão e beleza. Não sei se há, e onde, algo parecido, mas as Pedras Negras são inesquecíveis.

Duas vistas impressionantes (a 2ª - vista do satélite)

Dormimos em dois “burros” militares que armámos na entrada de uma escola (era tempo de férias, não tinha ninguém) e ao nascer do sol acordámos com três mulheres paradas em frente à escola, muito admiradas com o espetáculo! Depois procurámos na aldeia ali perto o tio do meu compadre, e fomos recebidos que nem dois príncipes, o que muito impressionou o coronel, até porque a guerra estava acesa, e nós, únicos brancos naquela imensidão fomos recebidos com tanta lhaneza e carinho.
Os “burros”, as camas de campanha assim chamadas, no regresso duma rápida caçada, encontrámo-las com lençóis brancos impecáveis. Ao lado uma mesa posta com dois lugares, onde nos recusámos sentar sem que o nosso anfitrião se sentasse conosco.
Foi uma vivência inesquecível.
Anos mais tarde o “nosso coronel” escrevia-me, quase sempre em verso, que ele tanto gostava de fazer:
“Eu cá por mim,
Julgo que aprendi contigo
A arte de ser amigo
E de gostar de arriscar
E viajar pelo mundo além”
Com 80 e alguns e sempre a barretina dos “Meninos da Luz” na lapela

Meu querido e saudoso amigo António. Saravá, António de Miranda Dias.

20/04/2018


segunda-feira, 11 de junho de 2018


Deixemos agora um pouco a História (lá voltaremos) e vou lembrar de mais alguns dos grandes amigos que nos deixaram, e que continuam a fazer-nos muito falta.

PROLEGÓMENOS e AMIGOS – 3

Angola vivia e vibrava, finalmente, com o aparecimento da Universidade, que por razões da mesquinhez de alguns mestres lusitanos, não pôde ser chamada de Universidade, mas Estudos Gerais, regredindo aos tempos do fabuloso Diniz.
Muitos dos professores nem mestrado tinham, mas eram profissionais de alta qualidade e dedicação, sem os galardões que enfeitam tanto burro que vegeta por tanta faculdade, e quem por lá passou e estudou tinha toda a competência que se podia exigir após a sua formatura, quer fosse de engenharia ou medicina.
Nesse tempo eu trabalhava com material fotográfico, mas cedo dediquei a maior parte da minha atenção à “fotografia e ótica” especializadas – fotografia aérea, impressão de cartas geográficas, artes gráficas, microscopia e as novas máquinas de revelar e imprimir fotografia a cores e reveladoras de películas de raios X. Era um campo bem mais interessante do que a máquina fotográfica e toda a parafernália de miudezas e acessórios para profissionais.
Por meu intermédio chegaram a Angola equipamentos nunca ali vistos e que pouca vida ainda tinham pela Europa. Assim a primeira reveladora-impressora de fotografia a cores, pequenos e muito úteis equipamentos para artes gráficas, uma colossal máquina para os Serviços Geográficos e Cadastrais, (onde trabalhou o pai do meu querido “sobrinho” general Fernando Andrade), e através do criador da disciplina de Radiografia do Hospital Universitário, as primeiras reveladoras de chapas de Raios X para o que foi o Hospital Universitário.
Grande amigo, o melhor médico que conheci, sempre com uma espantosa boa disposição contagiosa – (que deixou esses genes no filho, hoje médico também e Grande Professor) – quando eu me sentia menos bem ia visitá-lo. Resposta habitual: “Olha, isso deve ser... (já não lembro o que) mas é bom consultares um médico!” Ao mesmo tempo sempre pronto para ajudar quem precisasse.
Todos os alunos que lhe passaram pelas mãos ainda hoje o adoram.
Tinha dinheiro, do seu trabalho e da mulher, um dia comprou um avião. Um pequeno monomotor. Foi a Malange com ele, e um “amigo” que tinha sido piloto, e por fazer várias asneiras tinha perdido o brevet, pediu-lhe para dar uma volta, fazer o gosto ao dedo! Uma pequena volta por cima da cidade, o “ex” piloto nos comandos, quase no final, na aproximação, vai muito baixo, antes de alcançar a pista as rodas batem em campo de plantação, o avião vira, quebra-se todo e ambos ficam também quebrados.
Avião para a sucata, o nosso médico, precisou de algum tempo para curar umas fraturas e o “ex” passou um tempinho no hospital, tudo bancado pelo amigo. A quem tinha destruído o avião.
Como agradecimento, esse tal “ex” teve o desplante e a covardia de mover um processo contra o amigo que lhe tinha feito um enorme favor. E ganhou o processo, que envolveu uma indenização pesada.
Perguntado sobre o assunto, tranquilamente respondia: “Coitado.” Ainda teve pena do cretino que lhe deu cabo do avião e dos dois ocupantes, mesmo não tendo gasto um cêntimo enquanto esteve no hospital.
Em 75 veio para o Brasil e, quase trivial, foi enganado por colegas! Regressou a Portugal, e lá ficou meio entristecido, apesar da sua alegria natural.


Muitas histórias tem este grande médico, tão alegre, impecável o saudoso, o Grande Amigo, Zé Guilherme Pereira Caldas.
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Para quem viveu em Luanda, e onde lhe nasceram e cresceram uma boa quantidade de crianças, não falar no pediatra, sempre disponível, carinhoso e grande médico, seria um ato vergonhoso.
Quase nosso vizinho, na mesma rua, presença indispensável nos dias em que em nossa casa havia ou um jantarada ou uma noite de fados – a mulher também “viajava” na dolência do fado e era muito aplaudida – eram os dois uns bons e eternos amigos, amizade que continuou por Portugal.
Um dia voltou de férias da Europa onde tinha comprado um Mini-Cooper. Quando chegou a Luanda diz-me que não gostava do carro, era pequeno, etc., e que mo vendia pelo preço que lhe custara. Estava novo. Comprei, entrei em vários ralis (aproveito para dizer que ganhei TODAS as provas complementares!...) o carro andava que era uma beleza, mas em breve também conclui que era apertado, incómodo, mais ainda para a minha mulher que estava de barrigão e sentia-se mal lá dentro. Vendi-o, tinha à volta de 10.000 kms!
Os nosso filhos adoravam aquele simpático tio que velava pela saúde deles.
Expulsos também de Angola, não se adaptou a Portugal. Não era a terra dele. Um dia desligou-se de tudo, fechou-se, não conseguiu vencer a onda da saudade e, infelizmente, não tardou a nos deixar

Ainda novinho...

Querido amigo António Castro Ferreira, que deixou imensa saudade em todos os que o conheceram
+ + +
Falando no António, pediatra, não é elegante esquecer o irmão, cirurgião. Os dois irmãos casados com duas irmãs, todos angolanos. O pediatra tinha três filhos, o cirurgião nenhum, o que se traduzia que os três filhos acabaram por ter nos tios, um complemento perfeito de mais uma mãe e um pai.
O nosso filho mais novo nasceu com uma hérnia pubiana, larga, e cada vez que chorava ou fazia força para que o seu cocó saísse, logo pela hérnia saia também um pedaço de intestino que ficava entalado, e era necessário, com a mão remetê-lo para dentro. Assim o neném não podia chorar! E como todos os neófitos, têm manhas que sabem interpretar perfeitamente: este só queria colo, o mal educado!
Cirurgia. E o paciente tinha só 45 dias de vida. Casa de saúde, o pai, eu, senta-se numa cadeira, espera, super nervoso, e ao fim de quase uma hora devolvem aquele boneco ainda anestesiado.
Logo a seguir entra o médico e diz-nos com ar até divertido:”aquela hérnia deu um trabalho de cerzideira! O músculo estava que parecia esfarrapado. Vai resolver por um tempinho, mas voltará a abrir. E não adianta voltar a operar antes dele ter uns 12 ou 14 anos!
Foi o que aconteceu. Apesar disso, ainda hoje, acaba de fazer 49, ainda sente a hérnia, mas é ele que toma conta do problema. Evidente!

O nosso bom cirurgião, Zé Castro Ferreira. Bom homem, bom médico, bom amigo.

Os dias passavam e o nosso doente não melhorava.
Um dia a mulher dele telefona para a Cuca, e diz-me secamente, voz entrecortada, que ia levar o marido para casa para morrer junto dela e dos filhos!!!
O que se passa? Ele está muito mal e o médico só lhe dá calmantes.
Pedi-lhe que nada fizesse, corri para a clínica, e mandei que alguém entretanto procurasse o médico responsável e o informasse que o doente estava muito mal.
Entrou entretanto o diretor da clínica, cirurgião, apresentei-lhe o problema e respondeu-me que o caso era com o dr. “x”, ao que eu lhe disse “se ele morrer vou pôr a clínica e seus responsáveis em tribunal!
Foi ver o doente e ficou horrorizado. Preparou tudo para que fosse operado imediatamente.
O médico da companhia, avisado do caso de extrema gravidade, em vez de correr para a clínica foi... ver o futebol. A minha indignação foi enorme. Fiz um relatório para a administração da companhia, que lavou as as mãos, como Pilatos e resolveu da maneira mais simples: “os empregados que escolham o médico que quiserem.”
A Assistente Social escolheu alguns nomes, fez-se uma votação e entrou novo médico, que por acaso eu já conhecia, e duas vezes por semana dava consulta lá na fábrica.
Nesse tempo, apesar dos meus trinta e poucos anos, alguma coisa volta e meia corria mal (Estômago? Dos copos?) e lá ia eu à consulta. À segunda, terceira ou quarta vez o novo médico diz: “Não te passo mais nenhuma receita. Tu não tomas o que te aconselho!” “Tens toda a razão, mas devo dizer que médico assim é que é bom! Enquanto os sintomas me incomodam tomo o remédio, direitinho. Quando não sinto mais nada, nunca mais me lembro disso!”
Riamos, ele ralhava comigo, mas era ótimo médico. Nunca mais o vi, nem sei se ainda anda a penar neste mundo dos medicamentos.
Para onde estiveres vai um forte abraço, meu amigo Salvador Rodrigues.

§§§
Havia em Angola um médico que em criança deve ter recebido algum vírus de avião a jato! Não parava. Otorrinolaringologista. Tinha que ter uma especialidade “comprida”.
Consultório em Luanda, além de atender pacientes com problemas mais ou menos menores que não necessitavam de intervenção cirúrgica, operava gargantas, narizes e outras áreas complementares, já não lembro em que dia, mas suponhamos que era à segunda-feira. Terça metia-se no avião e ia dar consulta e operar em Sá da Bandeira, Lubango.
Saía dali, passava em Nova Lisboa, Huambo, e repetia os procedimentos. Na quarta estava de volta a Luanda para ver os pacientes operados na segunda. E recomeçar novas consultas e cirurgias se fosse necessário. Depois voltava ao périplo anterior para ver se tudo estava a correr bem. Estava.
E isto repetia-se semana após semana, sem que o nosso otorino... parecesse cansar-se.
Era um indivíduo de espírito bem desempoeirado, e sempre com uma boa piada para contar, gostando muito de dizer, quando se encontrava entre as senhoras, num jantar ou reunião de amigos “que ele era o homem que até hoje mais mulheres teve entre as pernas! Ah! E homens. Mas estes não têm graça!”
Porque nas consultas, ele abria as pernas, mandava as/os pacientes se chegarem bem para perto para ele poder analisar goelas, etc. Uma figura a não esquecer. Não esqueci, mas também nunca mais soube dele, depois do famigerado vintecincobarraquatro. Onde estiveres, tão velho ou mais do que eu, gostaria que continuasses a ter mulheres entre as pernas! Seria sinal que ainda estarias entre nós. A qualquer lugar muito desejo que um forte abraço vá ter contigo, Henrique Soudo.

§§§
Convocado pela Marinha, chegou mais um médico. Ortopedista. E foi morar na nossa rua, talvez um 50 a 100 metros mais para baixo.
Era ótimo porque os nossos filhos lá iam, volta e meia, quebrando qualquer coisa, nada de grave, mas que a assistência de um especialista facilitava a cura!
Em Portugal, o “chefe” do hospital onde ele trabalhava, homem metido a gostoso, lá... na Europa só andava de camisa e gravata de seda, e outros requintes. Foi a Luanda num congresso qualquer e o nosso médico marinheiro, que em Portugal não o suportava bem, entendeu que era de bom tom, convidá-lo para almoçar em sua casa.
Domingo, dia de África, solzinho agradável, a varanda onde sempre corria uma aragem, e para “tão ilustre personalidade” o almoço foi o mais descontraído possível: gambas cozidas – uma delícia – e sardinhas assadas”. Traje: mangas de camisa. Ali ninguém suportaria esquisitices de sedas!
Bem vista a descontração e o à vontade com que todos se falavam, sem que houvesse chefes, nosso amigo marinheiro decidiu: no fim da comissão não voltaria para Lisboa. Em Luanda vive-se melhor!
Um dia lá foi de férias e aproveitou para fazer algum tipo de curso ou “improvement” na sua especialidade, e quando voltou, encontrámo-nos e diz-me com ar bem descontraído:
- Agora diz aos teus filhos podem quebrar o que quiserem. Eu venho a endireitar muito bem!”
Rimo-nos, mas creio que não precisámos daquela ciência. Os filhos continuaram inteiros.
Entretanto fui para Moçambique, em 1971, e nunca mais o vi,
Um abraço, Carlos Vilão, e se ainda tiveres força, continua a endireitar os alquebrados!

05/05/2018

domingo, 3 de junho de 2018



Desde a Idade Média!

Afonso Henriues e Luis XV, por exemplo. A diferença entre estes que foram reis é razoável. Um, rei por mérito próprio, trono conquistado no braço, o outro é rei parido, nascido em berço de ouro!
Um reinou 46 anos, o outro 72.
Meio milénio os separam, 1139 ou 1143 para um, 1643 pra o outro, mas algumas curiosidades os unem como veremos. E tudo tem a ver com comida. O que se comia na idade média, os nomes de alguns objetos e alimentos, e ainda as “comidas”, as que alimentavam o estômago e as... que passaram a ser conhecidas como “as oferecidas” ou “o pular da cêrca”!
Comiam, desde muito antigamente, pão.  O pão considerado pão fino era o pão de trigo, mas fazia-se pão de milho, barona ou boroa, de centeio, de mistura centeio e milho, e quando a fome era grande até de cevada, que era o que davam aos cavalos.E havia ainda pão de bolota!
O pão era pão coito, cozido e até pão biscoito, cosido duas vezes para mais tempo se aguentar sem se estragar, e guardava-se na saquitania!
Carne havia muita: vaca, cabra, cordeiro, láparos, galinhas, frangos, frangões, porcos, e muita caça, muita dela hoje desaparecida como ursos, porcos monteses, cervos, perdizes, adens (patos), garças, etc.
Também se fazia muito uso de termperos, mesmo antes de serem os portugueses a trazê-los de África ou do Oriente, como pimenta, gengibre e outros.
No século XIII Urraca Vaz que vivia com a Rainha Isabel de Aragão, mulher de D. Diniz, sofria de ataques, e nessas alturas atavam-lhe pés e mãos, que de outra forma não a podiam segurar, e lancavam-lhe pimenta moida pelo nariz! E nem assim acordava. Foi a Rainha Santa que a curou. Mas olha que tratamento simpático, hein? 
D. Dinis e D. Isabel de Aragão

Também se preparavam uns electuários – medicamento feito à base de diversas drogas, esmagadas sob duas pedras - e alguns deles faziam dormir prolongadamente! O próprio Infante D. Pedro o confirma: “deu lectuário ao cavaleiro com que o fez dormir longo tempo. O qual era composto de espécies tam estremadas para fazer deleição mais saborosa”!

Assinatura do Infante D. Pedro, Duque de Coimbra

Havia várias condimentos, com ervas naturais, que hoje se perderam.
Uma planta, comum em toda a Europa meridional, era oruca (que deve ser a que hoje chamamos de rúcula” – Brassica eruca), de sabor acre, ardente, considerava-se como um excitante e só deviam ser usadas em saladas. No século XIV condimentavam com ela jantares (almoços) e também se faziam saladas juntando-lhe mel e açúcar e água, chamando-lhe “oruga de mel ou de açúcar”.  O primeiro Arcebispo de Braga, Dom Pedro (1071-1091) dizia que “os alimentos quentes que picam, como pimento, oruga... e uma grande jantarada incitam à luxúria!”
Tendo-se bebido vinho desde tempos imemoriais, não havia vinho tinto. Vinho tinto é coisa tardia. Havia vinho branco, “rosetes” e vermelho (em França é rouge, em inglês red, e só nós, os hispânicos é que tingimos o vinho!) e de repente, não se sabe quando, na Península Ibérica o vermelho virou tinto! Porquê?
Havia o que consideravam o vinho bom e o vinho mau! E até havia uma vinho “ffurmjgento” – que formigava na boca. Seriam os vinhos verdes?
Os ingleses importavam bastante vinho, sendo “vinho bastardo” e “vinho dos Algarves”, mas no século XIV muito cântaros eram de vinho da Azoia, Atouguia e da Lourinhã! Anrique da Mota, poeta do ancioneiro Geral:
É uma coisa muito sã
Para os corruptos ares
Nos dias caniculares
O beber pela manhã
Atouguia ou Lourinhã

Em 1388, D. João I fez da dízima, doação dos vinhos que vêm da Atoguia para Lisboa. Seria o “meu” maravilhoso Ramisco???
O Bispo Dom Bernardo, enviado pelo Papa (Clemente VI) fazia ao rei um formoso arrazoado fundado na Santa Escritura, procurando a paz entre Castela e Portugal. D. Afonso IV respondeu-lhe: “Vós me falais em teologia, e eu sei mais de beber que dela, por o que me parece que já é horas. Será bom que o vamos buscar!” Acabou o “sagrado papo” e beberam uns copos!
Não eram só os homens que bebiam. As monjas do convento de Santa Clara de Vila do Conde , fundado por Afonso Sanches, bastardo de D. Dinis, em 1318, tinham, por determinação do fundador uma boa ração de vinho: “uma canada, pois seis targas faziam um almude coimbrão, que é um cântaro de vinte e quatro quartilhos.”
E diz mais: “... mandamos que a cada dona dem senhas (?) tagras de vinho cada dia puro, e a tagra seja tamanha que como aquela que i deixamos, que fazem seis tagras e meia um almude de Coimbra.” (Se fosse o almude do tempo de D. Pedro, 19,7 litros, cada tagra, igual a canada, era de quase 3 litros. Quer isto dizer que as seráficas e consagradas donas à regra Franciscana mamavam três litradas de vinho por dia, e do puro? No fim do dia aquilo lá dentro devia ser uma grande farra.)

Igreja de Santa Clara – Vila do Conde

Conta-se até que a certa altura da história do Convento, havia bastante relaxamento na vida religiosa das monjas. Orgulhosas, recusavam os trabalhos, davam-se a falatórios inconvenientes e eram pouco zelosas em acorrer à reza nas horas canónicas. (Pudera não! Mamando 3 litradas de vinho “bom” por dia...)
E na segunda metade do século XV deu-se uma transformação nos hábitos! Parece que os homens passaram a beber menos do que as mulheres, pelo menos de acordo com Garcia de Resende:

As Portuguesas honradas
Vemos por desonra haver
No rosto e face poer
E trazer averdugadas,
E também vinho beber;
Por desonestas haviam
As tais coisas que faziam,
Depois foram tão usadas,
Que todas hão que as passadas
Nem sabiam, nem viviam.

Já por lá haveria muitas Marias Pardas!
Cerveja, não havia. Parece que só no começo do século XV é que aparecem dois navios em Portugal que carregavam cerveja.
À cerveja chamavam-lhe sicera, o que, de acordo com alguns pesquisadores equivaleria ao que hoje se chama cidra, o que tem mais lógica. Mas parece que essa tal sicera se tornou famosa e tão desejada nas tabernas, tão agradável como os eflúvios do vinho, mas naquela época ainda escasseava nas tabernas dos peões.
Sicera era toda a bebida alcóolica distinta do vinho.
Mas, curioso: em meados do século XV há notícia de Portugal exportar lúpulo!
Muita coisa tinham os portugueses de antanho para comer: leite, manteiga, queijo (e, olha, não pasteurizado!) atabefe (coalhada), ovos, rábano, legumes, hervanco (grão de bico), hortaliças, azeite, vinagre, mel, açúcar, e as castanhas que eram uma das frutas mais consumidas. E entermoço! Tremoços. No começo do século XIV já se cultivava a cana de açúcar no Algarve e pouco tempo depois passou a vir em maiores quantidades da Ilha da Madeira. E começam a aparecer os “açúcareiros” do rei!
Frutas havia à vontade, tanta variedade ou mais do que hoje. Famosos os figos lampãos, que o Duque de Bragança pediu para comer na sua última refeição, antes de ser decapitado!
Nas cozinhas usavam-se inúmeros instrumentos: caldeiros grandes e pequenos, panelas, “peelas” de cobre (sertãs), “catores” (?), colheres de ferro e de pau... e um malhadeiro, almofariz onde se malhavam as ervas ou grãos a reduzir a pasta, agumil, jarro de boca estreita para líquidos, almotaria, vasos grandes para guardar azeite, já havia cabaças, as vasilhas feitas de do fruto do cabaceiro, e almarcovas ou coitela, cutelos, etc.
E para tudo havia nobres responsáveis: copeiros, reposteiro, manteeiro, açucareiro, confeiteiro. Copeiro era o responsável por levar a comida e o vinho para a mesa, e servi-lo.
A história conta, ou duvida, que D. João II tenha sido envenenado. Não admira, apunhalou o Duque de Viseu e mandou decapitar o de Bragança, a nobreza tinha-lhe um medo terrível. O que é verdade é que Fernão de Lima, copeiro-mor, Estevão de Sequeira copeiro-menor e Afonso Fidalgo, homem da copa, morreram todos poucos dias antes dele. (Andaram a treinar qual o melhor veneno?)
Algumas cozinhas reais ou de nobres começaram a ter bacias e outros utensílios de prata.
E as mesas eram forradas com toalhas de Holanda, manteis para mãos e para água (guardanapos), e ainda manteis para cobrir as mesas ou o  assento dos bancos, e uns mais compridos usados por cima da roupa para não se sujaream tanto!
Comiam com as mãos, mas sempre as lavavam antes e depois das refeições!
Na segunda metade do século XVI (entre 1558 e 1583) escreve Fernão Mendes Pinto, ao falar duma estadia no Japão:
«porém (o rei) ali nos mandou chamar a todos cinco a casa de um seu tesoureiro onde já estávamos aposentados, e nos rogou que por amor dele quiséssemos perante ele comer com a mão assim como fazíamos em nossa terra, porque folgaria a Rainha de nos ver. E mandando-nos logo preparar a mesa muito abastada de iguarias muito limpas e bem guisadas, e servida por mulheres muito formosas, nós nos entregámos todos no que nos punham diante bem à nossa vontade, porém os ditos e galantarias que as damas nos diziam, e as zombarias que faziam de nós quando nos viram comer com a mão, foram de muito maior gosto para el-Rei e para a Rainha que quantos autos lhe puderam apresentar, porque como toda esta gente costuma a comer com dois paus, como já por vezes tenho dito, tem por muito grande sujidade fazê-lo com a mão como nós costumamos.
Ao comer seguiu-se uma farsa desempenhada pela filha do rei e mais seis moças. A filha fazia de mercador; as seis, também fantasiadas de mercadores, faziam de filhos dele. O mercador procurava que o rei recomendasse aos portugueses a compra da mercadoria não reve­lada e cujas amostras, para o rei ver, as tais seis traziam.»
Escreve Fernão Mendes Pinto:
«...e depois que o mercador com outra prática muito bem concertada lhe deu (ao rei) as graças da mercê que lhe queria fazer de lhe fazer vender aquela fazenda, as seis desembrulharam os envoltórios que traziam, e deixaram cair na casa uma grande soma de braços de pau como os que cá se oferecem a Santo Amaro, dizendo o mercador com muita graça e com palavras muito discretas, que pois a natureza por nossos pecados nos sujeitara a nós outros a miséria tão suja que necessariamente as nossas mãos haviam sempre de andar fedendo ao peixe, ou à carne, ou ao mais que comíamos com elas, nos armava muito aquela mercadoria, porque enquanto nos servissem umas mãos se lavariam as outras».
De qualquer modo, em Portugal, pelo menos, eram lautos os banquetes. E já se chamavam banquetes porque todos os coonvidados se sentavam em bancos que ladeavam as mesas. Bancos do comprimento das mesas. Não havendo hierarquias cerimoniais cada se sentava onde queria, era um perfeito “chega pra lá”, “bunda com bunda”!
Mas há mais histórias de outras comidas... interessantes.
Em determinada ocasião D. Afonso Henriques foi hóspede de D. Gonçalo de Sousa, que o convidou para jantar (o jantar era pelo meio dia); este foi à cozinha para que tudo se arranjasse como deve ser. Quando regressou para anunciar que a comida estava pronta apanhou o rei em “amores com a própria mulher”, e disse simplesmente: “Senhor, levantai-vos que ca adubado (a comida) a tendes.” O monarca levantou-se e foi comer! Já devia ter saboreado o aperitivo com a D. Sancha, a terceira mulher de D. Gonçalo, que após a refeição a mandou para fora de casa. Não parece que D. Sancha fosse grande cozinheira, mas devia ser um ótima recepcionista, obrigando-se a acompanhar tão ilustre hóspede! Isso não causou grande prejuízo ao cornudo que além de ouvir uns “porros” do rei, casou pela quarta vez!
Noutra refeição D. Afonso Henriques comia com alguns dos seus nobres. A comida devia estar boa e suculenta e Fernão Mendes, o Bravo, o Braganção, aparece com um pouco de molho a escorrer-lhe pela barba!
Os outros convivas, entre os quais se encontrava Sancho Nunes de Celanova, riram-se muito o que o deixou furioso e não descansou enquanto o rei não lhe deu uma das suas irmãs que estava casada com um dos gozadores! E também se chamava Sancha. O que lhe não deve ter feito grande confusão porque esta Sanchinha separou-se do Sancho de Celanova e despachou o novo marido Fernão Sanches com razoável rapidez!
Estas Sanchas deviam ser bem frescas!
A mãe de Afonso Henriques, assim que o Conde Henrique se finou ela logo se aconchegou com o o Conde Fernão Peres de Trava. Não era nada de especial esta troca troca!
O filho não lhe ficou atrás porque teve descendência de, pelo menos quatro mulheres.
D. Pedro I casou com Constança de Castela e Aragão, mas quem ele traçava mesmo era a Inês e Castro.
O filho de Constança, o fraco Fernando I, casou com Leonor Teles, mas era o Conde de Andeiro quem usufruia das “graças” da Rainha, na maior cara de pau, até que um dia o Mestre de Avis lhe acabou com a festa.
Eram confortáveis as almadraques em que repousavam (repousavam?) as cabeças!
E o D. Pedro II? Prende o irmão, rouba-lhe o trono e a mulher, a quem fez um filho, depois corre com ela, casa com  Maria Sofia de Neuburg a quem faz mais sete além de mais três de variadas oferecidas.
Mas, o que tem Luis XV a ver com tudo isto? Instaladão em Versailles, exbanjando dinheiro e rodeando-se de inaptos e inúteis nobres, não deixava, nunca, de estar rodeado de lindas mulheres, até porque a lista das que queriam ir para a cama do rei era grande. Sempre dali viriam benesses.
Como sua magestade não tinha tempo para apreciar todas com os devidos e indispensáveis cuidados,  resolveu o problema de forma real: nomeou um dos seus criados de Versailles como “provador oficial” das “oferecidas”.
O zeloso funcionário passava uma noite na cama com a preposta amante, e no dia seguinte apresentava o seu “veredito”; o rei então decidia se aceitava ou não a preposta.
Pelo menos aceitou a linda Madame Du Barry, que já tinha um longo curriculum camarário, gostou e esteve com ela até bater a bota.
Coitada da linda Barry. Perdeu a cabeça coma Revolução!
A tal Madame Du Barry... não era pra se jogar fora!

Ora vejam lá no que dão os manjares da Idade Média e a média de outros “manjares” da nobreza!
Mas um dos campeões, foi D. Pedro I/IV – Brasil e Portugal: sete filhos com a Leopoldina, um com Amélia, quatro com Domitila, mais um com a irmã desta, Benedita, e outro com Henriette. Isto é o que se sabe, mas tem muita gente dizendo-se descendente deste mulherengo!

01/06/2018