domingo, 28 de abril de 2019



Recordações Britânicas ou British Memories

Não se passam quarenta dias em Londres, mesmo sem fazer quase nada, sem que isso deixe de afetar a nossa “caixa de memórias”.
Desta vez a mais grata foi conhecer a bisneta, que fez um ano enquanto lá estávamos, aquela idade em que pais, avós, bisavós e outros membros da família passam horas a apreciar o seu evoluir, a graça das suas risadas, as tentativas para começar a andar e a falar, lembraram do meu avô, que face ao seu primeiro bisneto, com a família toda à volta, dizia his magesty, the baby” !
Eu já não visito museus nem beijo mãos de rainhas ou similares, não gosto de almoçar fora, muito menos em Londres onde a gastronomia... (também não gosto de falar mal!), de modo que ocupei o tempo a curtir a bisneta, a ler, a fazer de cozinheiro (Chef privé!), e logo que a temperatura máxima alcançou os miseráveis 11°C (antes não passava de 8) comecei a desenferrujar as pernas e dar umas passeatas naqueles maravilhosos parques de que Londres está cheia. Uma beleza, a grama, ou relva, sempre verde, um sossego imenso, uns quantos londoners passeando os seus cães (e apanhando os seus poops que guardavam britanicamente em saquinhos de plástico).


Um despontar da primavera que se notava já nas árvores frutíferas que embelezavam alguns parques e jardins residenciais, com florações branca, rosa e até azul, coisa que eu nunca tinha visto!


Um festival de cores e flores, com “amores-perfeitos”, tulipas e outra grande variedade de plantas, à mistura com uma imensidão de corvos e pegas, duas espécies de pombos, uns de colarinho branco (seriam da City?) e outros mais “classe média”, todos gordos e grandes, diversos outros passarinhos menores, ajudavam a alma a bendizer o clima que, mesmo por vezes gelado, geladíssimo, sempre nos retira o calor imenso com que este verão fomos bombardeados no Rio.
Depois, sempre saí de casa umas quantas vezes, andar de carro, ou bus, naquelas ruas é um show! O respeito, um trânsito imenso mas que flui com paciência, com a cabeça fresca, sem conseguir encontrar buracos nas ruas para poder dizer que afinal eles também têm buracos, ver os famosos bus que passam em ruas estreitas e nem reclamam nem batem nos carros que ali estão estacionados, os jornais, gratuitos, que todos os dias a minha filha trazia do Underground, e que eu lia de fio a pavio, tudo isto e muitas outras coisas me levavam a pensar na Cidade Maravilhosa, que só tem de maravilhas aquilo que o bom Deus aqui deixou e os homens , e mulheres, têm estragado.
Para o Brasil a Libra está cara, pois assim mesmo muita coisa por lá acabava por ser bem mais em conta do que nos supermercados populares do Rio!
Bebi bom vinho, com muito bom preço, da África do Sul, Austrália, Roménia e Grécia, além de outras origens, como Portugal, Espanha, França e etc. (continuo a dar um bom gasto nesse medicamento milagroso que sai das uvas), deliciei-me com um festival daquelas frutinhas azuis e vermelhas (tudo berries) cujo gosto, delicioso, os sommeliers de hoje gostam muito de dizer que aparece nos vinhos, mais os famosos lamb chops, grilled em casa, of course, e muitos outros petiscos que, comprados nos supermercados acabam sendo, por vezes, muito mais baratos do que neste “país tropical...”.
Peixe! Belo peixe com imensas espécies daquelas águas frias, grelhados com umas batatinhas sauté, ameijoas do Vietnam (aqui nem se sabe o que isso é!) para recordar o amigo Bulhão Pato, camarão grande por metade do preço do Rio... estas são memórias que deveriam fazer água na boca, mas devido à carestia carioca, nem isso acontece.
E o Brexit? Ah! O Brexit é uma festa. Como todos os dias vem o relato desta novela, em todos os noticiários do planeta, pouco se pode dizer sobre isso que não seja mais do que sabido.
Uma mulher arrogante e burra, e dois adversários políticos. Um comunista e preguiçoso, e outro farrista e perdido. Os ingleses que sempre foram mestres em relações internacionais, e os mestres em sense of humor, sobretudo quando dominavam metade do planeta com o seu Império fajuto, hoje estão perdidos. Discutem muito, todos os dias, berram, mas nada concluem. Parece até o Parlamento italiano como disse o ex-primeiro ministro da Itália: Tutti parlano, urla e nessuno capisce.
Os jornais já quase só trazem notícias em termos de gozação, como há dias diziam que este ano May ends before end of April. E assim vão gozando, irritando o povo, que começa a revoltar-se, mas as apostas no final de tudo não deixam de ser feitas.
Uma espécie de Ascot no Parlamento!


A fronteira entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda está a matar qualquer acordo.
Assim, os MPs, Members of Parliament, são os primeiros a fazerem chacota com o caso, e sempre a adiarem qualquer solução “viável”, que tudo indica deverá passar por novo referendum, no que o comunist labour  não está muito interessado porque diz I can’t do this! It’s too stressful!!
Entretanto, dentro da própria EU, igualmente ninguém se entende sobre este assunto. Uma beleza de governantes, por toda a parte.
Para nossa despedida o casal Gripper levou uns 3 kilos de bacalhau que a bisavó transformou num petisco de fazer chorar as lágrimas da calçada, e dias antes o hóspede Kamisch apareceu com uma bonita variedade de peixes e mariscos – lulas, camarões, ameijoas e... – que proporcionou ao bisavô exibir, uma vez mais, as suas credenciais de Chef Privé, com uma caldeirada portuguesa que se acompanhou com muito Chablis e Alvarinho.
Quem disse que em Inglaterra se come mal?
Final: naquele aeroporto de Heathrow, dá para se tirar o chapéu à organização britânica. Tudo perfeito, simples, eficiente. Passadas onze horas e pouco, os passageiros arrasados, estafados, incomodados, chegam, ao Rio de Janeiro.
Saem do avião e têm que caminhar mais de dois quilômetros dentro do Terminal 2, para ir buscar a bagagem. Um terminal imenso, quase vazio – sem referir o Terminal 1 que funcionou durante muitos anos, e razoavelmente, que agora está fechado, abandonado – para finalmente poder sair para a tristeza duma cidade que só por piada chama de maravilhosa.
Trânsito fácil porque era dia feriado (dia de São Jorge !!!), atravessa favelas, avistam-se, por todo o lado muitas favelas, muito xicoesperto a querer ultrapassar por qualquer lado e a furar a fila nas cabines de pedágio, e um aperTo na garganta e no peito nos entristece por ver o abismo entre as duas civilizações.
O Brasil, com uma superfície maior do que duas vezes a Europa toda, com ótima engenharia, magníficos arquitetos, industriais e profissionais em todos os campos, que absorvem os cabeças pensantes, parece que se limita a imitar o Haiti ou o Congo.
Quem sobra? Os penduras, os gananciosos, incapazes, ineptos, inaptos, ladrões, que acabam por se encaixar na administração pública, em todos os ramos e níveis, e o Brasil... Ah! O Brasil? Para que pensar nisso.
Há exceções. Mas não é verdade que são as exceções que confirmam a regra ?????

28/04/2018

N.- Só para chatear o esquerdismo populista: faz hoje 130 anos que nasceu António de Oliveira Salazar!



sábado, 20 de abril de 2019





Estamos, ainda na Páscoa.
Tempo de continuar a meditar sobre o que andamos a fazer neste mundo!
Não há, certamente, alguém que não abomine guerra, exceção, talvez os doentes mentais.
O texto abaixo, sobre uma das grandes figuras do nosso tempo, pode, e deve, também ser enaltecida nos dias de hoje, nesta época da Páscoa, quando os judeus festejam a saída do cativeiro do Egito, os cristãos celebram a vitória de Cristo sobre a morte e devem aprofundar os seus ensinamentos para reconhecer, e amar, todos os OUTROS como irmãos.
Ambas as atitudes pressupõem PAZ, a não-violência, o grande tema e objetivo de vida de Sua Santidade o Dalai Lama, que começa por dizer que a humanidade, em primeiro lugar deve procurar a felicidade.
Pois sejamos judeus, cristãos, budistas ou de qualquer outra religião a nossa passagem por este mundo deve orientar-se fundamentalmente pelo Amor ao Próximo, pela felicidade.
Boa Páscoa a todos. Muita PAZ. Muita FELICIDADE.

-              *             -
Senhor do Lótus Branco

Há milhões ou bilhões de pessoas que buscam algum refrigério das suas vidas na religião, seja ela qual for. A sensação que nos fica é que a imensa maioria transfere para o seu etéreo Deus o problema que aflige, quando deveria começar por tentar olhar para o mais dentro de si próprio até descobrir o que realmente o perturba.
Há quem diga que o budismo não é uma religião, porque não terá um Deus criador e celestial, sendo assim só uma, muito profunda, filosofia de vida. O Dalai Lama dá-nos uma explicação bem mais simples: ... se definirmos o budismo como uma prática espiritual de orações e meditações que visa um resultado para além desta vida, nesse caso podemos dizer que o budismo é uma religião. Será uma religião, filosofia e ciência.
Mais um livro que, pelo seu imenso interesse, foi lido num instante, mas sempre com o máximo de atenção e penetração, porque dele não se pode passar sem ir ao âmago da vivência e dos terríveis problemas que assolaram, e continuam a assolar o Tibete, onde o maoísmo e seus seguidores, os de hoje, fizeram inconcebíveis atrocidades, matando mais de um milhão de tibetanos, destruindo mais de seiscentos mosteiros, torturaram, decapitaram, queimaram monges e agricultores vivos, uma barbárie inconcebível, e ainda hoje dominam aquele país na brutalidade.
Aliás a China continua a ser mais maoísta do que o próprio Mao, porque agora, para acabar com as religiões, obrigaram o Papa a autorizar o governo chinês a nomear os bispos - leia-se funcionários do Partido – assim como estão a fechar mesquitas, obrigando os muçulmanos a comer carne de porco, juntando-os em campos de concentração para lhes fazerem lavagem cerebral, um descalabro total, mas... quem se vai meter com a China: Tem que, um dia, cair de podre.
Ricardo de Saavedra, uma vez mais nos conta muita coisa sobre o Senhor do Lotus Branco, o Ser Supremo, O Dalai Lama, Kundun, Tensin Gyatso, numa escrita que nos prende, não só pelo assunto como pela cativante qualidade.
Por todo o mundo se fala no Dalai Lama, na desgraça do Tibete, ONU e outras organizações internacionais se manifestam, mas dum modo artificial porque parece que hoje todos dependem daquele gigante que não respeita nada nem ninguém.
E nós continuamos a comprar tudo que de lá vem, máquinas, brinquedos, automóveis, matérias primas, e os chins, com o seu tradicional sorriso amarelo, tal como a Rússia e os EUA, mandam, desmandam, matam à bala ou com o domínio económico e com a poluição, sem que possamos fazer alguma coisa para os impedir.


O Budismo ensina-nos o caminho da vacuidade em direção à iluminação para bem de todos os seres vivos.
(No budismo tibetano “O Caminho do Meio” diz respeito a percepção do ‘vazio’ – shunyata – que transcende os extremos da existência e da não-existência)
O Dalai Lama obrigado a fugir do Tibete, porque os chineses queriam reduzi-lo a uma espécie de prisioneiro de luxo – sem qualquer luxo – quando viram que o Senhor do Lotus Branco não aceitava a anexação do seu país à China, começaram a bombardear o mosteiro de Lhasa, por acaso não tendo acertado onde ele se encontrava.
Refugiou-se na Índia onde vive até hoje, e onde sempre admirara a filosofia de Gandhi, a ahimsa, a não violência, que adotou inteiramente.
Mais tarde confessou que a fuga me foi realmente útil. Aproximou-me mais da realidade e aprofundou a minha compreensão religiosa, sobretudo em relação à sagacidade da vida. Apesar do mundo estar em constante mutação, ninguém o nota. E, de repente, tudo desaparece. O teu lar, os teus amigos, a tua pátria. Isso mostra a perda de tempo que é mantermo-nos presos a esses valores.
O caminho da verdade é tão estreito quanto retilíneo e o mesmo acontece com a ahimsa. É como tentar equilibrar-se sobre a lâmina de uma espada. À mínima distração cai-se para o chão”.
E sempre a sua postura se baseou em difundir e “combater” pela não violência, como o único caminho que conduz à salvação da Humanidade, e foi seguindo este princípio que passou a ser admirado em todo o mundo... e odiado pelos comunistas chineses, que tanto o queriam eliminar mas são obrigados a assistir à imensa consideração de que  continua a gozar.
Como líder supremo e chefe do governo do Tibete teve que montar um governo no exílio. Só que, como desde menino sentiu, o Tibete tinha que caminhar para uma democracia, apesar de ver que a sociedade continuava amarrada a conceitos medievais e feudalistas. Valeu-lhe estar num país que caminhava para a abertura, bem como todas as dificuldades enfrentadas pelo exílio.
Renunciou a pompa e circunstâncias, introduziu a democracia como prática comum, e acabou criando um Estado aberto, mais simples e mais aberto nas suas decisões, sem jamais descurar a cultura tibetana, o ensino da língua, e pessoalmente a continuação permanente dos seus estudos, para continuar a ser um monge, com os mais altos graus académicos possíveis de atingir.
A certa altura da sua vida passou a ser um entusiasta da dieta vegetariana, enriquecida de frutos secos e muito leite. Ao fim de pouco tempo sentiu que estava a perder forças e acabou verificando que tinha contraído a hepatite B.
Curou-se com medicação tibetana, de que tomou grande quantidade. Já no exílio tinha instalado uma Faculdade de Medicina, onde a formação de um médico demora sete anos, com os conhecimentos milenares, de 2500 anos, trazidos do Tibete.
No entanto, apesar da eficácia dessa medicação o que mais lhe recomendaram foi cortar radicalmente com nozes e outros frutos secos, reduzir o exagerado consumo de leite e, apesar da relutância que sentia, comer carne. E assim se curou, deixou de ser vegetariano, sem ficar com sequelas!
Mas sempre, sem interrupção os chineses continuavam a perseguir, torturar e matar quem, ainda no Tibete, se destacasse, sobretudo como monge.
Quando, em 2001, concedeu a entrevista ao jornalista Ricardo de Saavedra que deu origem ao livro que acabamos de ler, referiu-se a sua ida a Portugal, Fátima, como peregrino, por respeito, admiração e apreço para com o catolicismo, e ainda dizendo que as principais religiões possuem basicamente a mesma mensagem: amor, compaixão, perdão, tolerância, felicidade e autodisciplina.   
Só mais uns pontos chaves para quem continua a manter a sua ética inalterada e não pactua com a pouca vergonha que se espalha cada vez mais pelo mundo como doença contagiosa, imparável, como eu procuro e, mesmo toscamente, manifesto nos meus escritos.
Sobre televisão: Na televisão privilegia-se quotidianamente o sexo e a violência. Duvido que os produtores dessas emissões desejam realmente prejudicar a sociedade. Desejam apenas um lucro financeiro. Parecem já não possuir o sentimento da responsabilidade social.
Para terminar esta difícil crónica sobre Alguém que vive uma moral e uma disciplina que a nós, mais fracos, e menos criados no rigor e por vezes no intolerável exemplo das nossas religiões, seja ela cristã ou outra, uma pequena meditação que o Dalai Lama, o Senhor do Lotus Branco, recita sempre que se levanta:
Pois enquanto houver espaço
E enquanto os seres vivos existirem
Até lá também eu posso ter esperança
De afastar a angústia do Mundo
Livro altamente recomendável.
Mais uma vez obrigado ao Ricardo de Saavedra que me proporcionou esta lição.

15/04/2019

domingo, 14 de abril de 2019




Um pouco do Pará

Esta coisa de vir a Londres, um tempinho – sempre pouco – para estar com filhos, netos e a bisneta, sem nada mais para fazer além duma ou outra rápida saída com um tempo friaco, miserável, tem proporcionado bastante folga para ler. E como só gosto de boa leitura, sobretudo história, tenho enchido o papo!
Parei até um pouco com “Os Amigos” (alguns só aguardam uma brecha para voltarem ao blog!) e, desde a história dos Plantagenetas, às lusas vergonhas do abandono de África, e até de volta ao grande professor Agostinho da Silva (de que não se faz qualquer comentário de ânimo leve; é muito sério) acabei agora de ler a primeira parte de um livro de imenso interesse sobre a Fundação de Belém do Pará.
Só a primeira parte, porque a continuação é a genealogia do Fundador, e daí, ou se entendem bem aquelas complexas ligações e/ou famílias, ou se fica perdido, sem já saber quem é a mãe ou o pai de quem quer que seja, apesar de lá (onde?) aparecer um simpático parente da minha família!
Mas o que interessa são as primeiras 120 páginas com a história do tempo em que os portugueses ainda andavam a fundar povoações, procurando ocupar o que lhes pertencia de acordo com o Tratado de Tordesilhas, a que só Portugal e Espanha dizia respeito, e sobretudo procurar demonstrar que ocupavam o território, contra franceses e holandeses que nos queriam roubar parte do Brasil, uns com a França Antártica e os outros, que pouco tempo depois se instalaram, quase definitivamente, em Pernambuco.
O Livro está muito bem documentado, vê-se que exigiu uma profunda pesquisa, e para além da descendência ali descrita, impõe-se como uma bela História de um curto, mas agitado, período da vida no Nordeste Brasileiro e um pouco no Amazonas, nos finais do século XVI e começo do XVII.


Por ele tomei conhecimento (ignorante que sou) que espalhados pelo interior da Amazónia e Maranhão já lá estavam, antes dos portugueses, umas centenas de franceses e holandeses, estes até com, pelo menos, duas plantações de cana de açúcar que mandavam para a Europa, sem que os portugueses soubessem onde e desde quando.
Todos, com a cara e a coragem de meia dúzia de portugueses, a que não podia faltar o capitão Pedro Teixeira, figura incontornável daquele tempo e região, desmontaram aquela prévia ocupação, submetendo uns e outros à coroa portuguesa.
Tempos difíceis, cheio de intrigas, invejas, mesquinhices , selvajarias, sobretudo da parte de alguns portugueses que conseguiram destruir o bom entendimento que se procurava com os nativos, num clima pesado, doentio, lutando ainda com falta de alimentos, faz-nos ser obrigados a admirar a força de vontade e determinação daqueles pioneiros.
Interessante ainda um pouco da descrição, e praticamente descoberta, da costa do Maranhão, sempre perigosa, da entrada no Amazonas com seus baixios, citando até a entrada forçada na barra do Apereá onde o patacho tocou num banco de areia de que escapou milagrosamente porque, levando todas as velas enfunadas o cortou, ou saltou como quem salta uma fogueira de S. João.... (Frei Vicente do Salvador – História do Brasil).
Quem se interessar pela História do Brasil, especificamente de Belém do Pará, ou também quiser saber se o Fundador de Belém, Francisco Caldeira de Castelo Branco é seu antepassado, vai encontrar neste livro, muita informação.
No Brasil, de uma forma geral é raro o interesse pela genealogia. Agora o que se vê é um tremendo afã na descoberta de avós ou bisavós portugueses para obterem a cidadania lusa, ou de qualquer outro país europeu, como Itália. E a verdade é que a grande maioria da população, se tem um pé na cozinha, tem outro nalgum português e numa aldeia tapuia, tupinambá ou outra. Sem esquecer os angolas, benguelas, iorubás, etc. Mas as pessoas não estão interessadas em saber, concretamente de onde veem.
O que é pena. Porque desprezando o passado...
O que sabe bem, no fim desta mistura toda é conhecer o povo brasileiro. Cordato, às vezes de mais, que descendo do fundador do Pará ou por exemplo do simples soldado Sebastião Amorim que ajudou na fundação de Belém. E certamente seria da Póvoa de Varzim!

N.- O soldado não deverá ser meu antepassado! Mas a origem será a mesma!

05/04/19



domingo, 7 de abril de 2019



Os Dias do Fim

Não referi no último texto que tinha sido presenteado por mais de um livro pelo meu amigo jornalista Ricardo de Saavedra, por uma razão muito simples: ainda só tinha recebido um!
Poucos dias passados recebi mais um, com uma dedicatória extremante simpática, e como o tema era do mesmo assunto de “O Puto” (a exemplar descolonização) interrompi a leitura de um outro autor (de imenso interessante também) e ataquei este, que relata, por meio de escritos de autores coevos, e que viveram duramente a página mais vergonhosa da História de Portugal, que foi a venda aos sovietes e à China das colónias portuguesas.
A vergonha não ficou só na matança de brancos e pretos – dezenas de milhares – até às respectivas independências, mas de milhões nos anos de guerras civis que se seguiram à liberdade colonial, como na destruição de todas as fontes de produção e renda, das infraestruturas, etc.
Começo por reproduzir uma passagem do livro, que de Os Centuriões, de Jean Larteguy, cita o padre Mornelier: Um grande número de centuriões do proconsulado de África abandonou as legiões para se instalar em Roma. Eles tornaram-se os guardas pretorianos dos Césares, até ao dia em que adquiriram o hábito de os nomear, depois de os escolherem no meio deles. E então foi o fim de Roma...
Tal como quando os catipãesinhos abandonaram a África portuguesa e passaram a desmandar e destruir um Portugal que, por teimosia e inépcia, já agonizava.


Falar no vintecincobarraquatro, hoje em dia é chover no molhado.
Mas este livro leva-nos aos meandros da covardia, das negociações escusas, ao conhecimento das ordens entretanto recebidas dos comunistas, às cenas do exército português (português ?) a metralhar portugueses, o mesmo com os terroristas (sim, terroristas) a dizimarem moçambicanos, ausência de poder de decisão de muitos oficiais portugueses que não sabiam mais se deviam apoiar e defender o povo em geral ou submeterem-se às ordens chegadas de Lisboa, enfim às intrigas, espionagem e falta de caráter, que levaram à hecatombe que a seguir de abateu sobre Moçambique.
Descreve, com detalhes, as atividades de Jorge Jardim que se quis arvorar em defensor da democracia, mas que foi sempre servindo de ingénuo anjinho no meio de hábeis e experimentados informantes sovietes. Houve até os que queriam elogiá-lo com o epíteto de O Lawrence de África, quando se constata que andou todo o tempo a dar uma no cravo e outra na ferradura, sem ter resolvido coisa alguma.
Chegou ao desplante de ter escrito até a Samora Machel “informando-o” que a China queria ser reembolsada imediatamente após a independência, dos empréstimos feitos durante a guerrilha... coisa que parece jamais ter acontecido, e por isso hoje mais manda por lá a China do que o governo moçambicano!
Aqueles que viveram em Moçambique, e ainda lá estiveram na época da s confusões pré independência, devem lembrar-se da vergonha que foi ver o exército português a meter na cadeia todos os funcionários da PIDE e saber o que estes deixaram dito quando foram soltos no famigerado, malogrado e inconsciente 7 de Setembro.
Grave ainda o que o texto deixa transparecer sobre ligações de Samora com a PIDE e da forma como assassinaram Eduardo Mondlane!
A venda de atestados escolares de passagens de ano em todos os níveis, permitindo que entrassem para as universidades verdadeiros atrasados... mentais!
Revê-se o arrogante e incapaz senhor do monóculo e o falso chefe geral das forças armadas de Portugal, protegendo amigos e condenando outros.
Este livro deixa ao mesmo tempo um amargo de boca e no coração, mas está muito bem escrito, e mesmo sendo por vezes brutal, as fontes são autênticas e escritas por quem estava no centro de grande troca de informações.
Quem viveu em Moçambique, e quer reviver um passado, mesmo triste e doloroso, como eu também vivi, deve ler este livro.
É um “relatório” de dentro, muito de dentro para fora, e daí também o seu grande interesse.
Daqui a poucos dias haverá um monte de ignorantes que irão para as ruas dar vivas aos cravos vermelhos. Era bom que antes de se meterem nessa farra se lembrem que o 25/4, covardemente, assassinou milhares de portugueses e de africanos. O 25/4, neste caso as tropas portuguesas.
Dá para celebrar?
Só uma missa solene por alma daqueles que foram mortos pelos vendilhões de Portugal.

4-abr-19