sábado, 12 de novembro de 2022

 

Histórias da Velha do Arco

Como o Ali virou Ali Baba

(Relembrando...)

 

Há uns poucos meses escrevi um pretencioso poema, em que falava numas noites passadas com a famosa e formosa Sherazade!

Contou-me imensas histórias. Algumas delas, garantia ela, como se tendo passado, autênticas, mas tão embebido estava eu a contemplá-la e ouvi-la que não me interessou acreditar, mas simplesmente ouvir aquela voz doce e carinhosa contar-mas para me entreter... malgré houvesse outros entretimentos entremeados! Mas esses são íntimos, que não seria correto contar.

Passou algum tempo e comecei a recordar umas quantas dessas, aliás famosas, histórias, que me fizeram pensar que tinham até sido sugeridas pelo, igualmente famoso Nostradamus, tal a coincidência de premonição.

A bela história de Ali Baba.

Todos sabem que Ali era um jovem, modesto, dizem uns que era lenhador, outros que andava à procura de notícias, correndo o reino, para informar o rei lá daquela banda, a Pérsia, outros ainda afirmam que ele nada mais fazia do que limpar as cavalariças do rei, cheia de cavalos e camelos, o que é confirmado por historiadores mais recentes.

Assim corria a vida do alegre e descuidado Ali.

O pobre Ali pertencia à dinastia dos Ghznévidas que fugira dos Seldjúcidas quando estes ocuparam toda a área da Pérsia, e depois dos mongóis, comandados pelo simpático Gengis Kan, e a seguir por Tamerlão, que conquistaram novamente a Pérsia, destruíram tudo na sua passagem, e o Ali perdeu o emprego de estafeta/limpador de cavalos, pois teve que dar o fora... Se ferrou!

Fugiu, desempregado, analfabeto, foi ter a um lugar escondido, onde seu pai, o Baba, era o chefe dum bando de ladrões, assaltantes, e estava cheio de riqueza. Quarenta era o número dos bandidos, conhecido na época por Κλέψτε ό,τι μπορείτε (está escrito assim, nos livros antigos, em grego), fora os que por fora o iam informando onde havia riqueza para assaltar, e que recebiam uma “comissão” pelo “serviço de informação”.

Papai Baba, assim que viu o filho na pior chamou-o para “trabalhar” nos assaltos e roubos, a seu lado.

Foi nessa altura que Ali passou a usar também o nome do pai e virou Ali Baba. Os 40 ladrões eram comandados pelo Baba, e estavam com um enorme depósito cheio de riquezas, até de presentes que adversários lhe tinham dado para fazerem acordos. Todos ricos. Compravam juízes, políticos, etc. Tudo.

Um deles, que se chamaria algo como Dhan Dhantass, rico, havia já pago generosamente ao Baba para que o deixasse continuar a negociar, e nessa altura Baba lembrou-se que o parceiro ideal pra o Dhantass seria o seu Ali Babazinho que, apesar de fraco de meninges e raciocínio, lhe serviria, não para levar mais notícias ao rei que havia sumido, mas para seu papai, o Baba, vulgo o καλαμάρι. Era um portador de notícias, como hoje são os telefones celulares, para fofocas, fake news e informações ‘.

Ali Babazinho, com o que o tal Dhantass lhe ia dando para manter o Baba quieto, não tardou a ficar rico, riquíssimo, e logo era grande proprietário e, agradecido, para recompensar o Dhantass, abandonou-o e o traiu!

O Baba quis até que ele fosse ouvido em tribunal... de malandros. Surgiram vários indivíduos que tanto queriam defender um quanto atacar o outro, ambos com nomes complicados (persas...) como o sr. Proto Genius Sathyagrah e o sr. γκρινάλντα.

Baba viu que o filhotinho, o limpador de cavalos, corria perigo com o desjo de vingança do Dhantass, chamou o seu secretário que ficou conhecido – e ainda é – por Guyl Querqus, o feroz, o sanguinário, obediente aos maléficos desígnios do Baba.

Logo o Querqus mandou liquidar o Sathyagrah (até pelo nome parecia que ia suceder o contrário), o Dhantass fugiu e refugiou-se na Mongólia, e o γκρινάλντα, subiu mais uns pontos na esfera do Baba.

Ali Babazinho, vendo a fortuna do Dhantass, parada, a dar moleza, meia abandonada, deitou-lhe a mão e ficou tão rico quanto o Baba. Isto é um pouco de exagero, mas que ficou riquíssimo, para os padrões da época – século XII – quanto mais para os padrões atuais, é o que reza a história.

Nunca mais cheirou as fezes de um cavalo, nem as dele, porque comprou logo uma privada japonesa (eles já as fabricavam nesse tempo) que lhe lavava as “partes” com água morna, fria ou quente conforme as estações do ano.

Não andou mais a pé, mas em carruagens cobertas a ouro, puxadas por quadrigas de zebras que outros escravos limpavam e, mesmo cada vez mais fraco, meningiticamente falando, logo se atreveu a fazer pronunciamentos políticos contra todos aqueles que não tinham um papai tão bonzinho. Se em vez disto se ter passado há dez séculos, hoje o Babazinho andaria de avião a jato.

Deixou de beber água de poços e, para satisfazer as suas sedes, e mandava buscar à Arménia e à Galiza (não é a da Espanha) os melhores e mais caros vinhos (reza a história que ele e o Baba gostavam muito de um chamado Tariri, que corresponde ao Chateau Lafitte deste tempo moderno, um dos mais caro vinhos do mundo naqueles tempos) e que bebiam nele como quem bebe água que os deixava normalmente αλκοολισάδος.

Também se entretinham, nas horas de folga da roubança, a fumar umas opiáceas, reclinados em camas de seda roubada aos mongóis.

Bem tentou o Danthass oferecer-lhes umas caixas dessa preciosidade enológica, para ver se recuperava parte do que lhe haviam subtraído. Mas não só não se livrou do ostracismo, como teve que sumir.

E assim anda, até hoje, o mundo: uns bebem do bom e do melhor, roubam, riem até que...

Outros bebem o que o diabo amassou.

São, uns as zelites, e os outros...

Eu sou dos “outros.

 

N. Quem souber grego... que se vire. Procure Aristóteles

 

09/11/22

4 comentários:

  1. Muito legal Tio Chico, perfeita analogia com a situação atual ! com uma ressalva apenas: no seu texto o estrago do Babazinho é menor rsrsrs
    grandissimo abraço!
    André

    ResponderExcluir
  2. Hahahahaha!!! Ammeeiiii essa versão!!!
    Muito melhor!!!

    Meu tradutor do Google não tem grego 😒 sequer consegui pronunciar as palavrinhas lançadas no texto interativo e com essas pegadinhas...

    Mas estou a pensar aqui, cá com meus botões, se não seria o Arco da velha...e Não a velha do arco...🤔

    ResponderExcluir
  3. Meu Amigo, como admiro a sua criatividade, o seu humor, a sua capacidade, agora comprovada, na arte das analogias! Tiro-lhe o chapéu pela capacidade primorosa na didáctica do grego: num ápice aprendi que quando quiser insultar alguém, direi, de forma veemente, «kalamári alkoolizado»! Seguro de que não correrei o risco de ter um processo crime em tribunal... Aguardamos o próximo.

    ResponderExcluir