sábado, 22 de outubro de 2022

 

Silvana e Vittorio * Encontrados

 

Quem se lembra deste simpático casal de velhotes que sumiram “atrás da neblina que às primeiras horas da manhã subia das águas do Laco di Garda”, cuja história contei há em 2014 e só coloquei no blog há 5 anos? (https://fgamorim.blogspot.com/search?q=Silvana)

Passou-se muito tempo, e parecia que eles tinham “sido sugados” por uma nuvem, como hoje se faz com arquivos do computador!

Até que surge nova personagem que nos elucidou sobre o final da história.

Lembram-se que Silvana tinha já 80 anos e Vittorio 85, estavam de boa saúde, a prova foi aquele passeio matinal, onde desapareceram das vistas de quem os procurava.

Um jovem motorista passou àquela hora da manhã pela mesma estrada. Viu o casal de velhotes, muito agarrados (estava fria aquela neblina) e parou o carro para os ajudar.

O curioso é que esse motorista os reconheceu, a todas as família eram daquela região e, o curioso é o jovem ainda é da família da minha mulher, Meunier, e mais curioso ainda, tem o mesmo nome do avô dela!!!

A família Meunier, com várias gerações engenheiros especializados em tecelagem, em meados do século XIX dividiu-se e parte foi para Portugal e a outra ficou em Schio, onde até hoje têm fábrica de equipamentos.

Este parente seguiu a mesma profissão que lhe vinha de há uns dois séculos, veio há dias ao Brasil estudar um projeto de nova indústria, e sabendo que em Portugal havia família com o mesmo nome de família, ao passar por Lisboa tomou conhecimento da existência de uma senhora da sua família aqui no Rio de Janeiro e, muito amável veio visitá-la. Almoçou conosco, conversámos muito e no meio da conversa eu disse-lhe que tinha escrito uma pequena história sobre dois italianos, que haviam “sumido” passeando à bordas do Lago di Garda, e que quem leu se “zangou” comigo porque não tinha dado fim à história! Como podia, se eu não sabia o que lhes tinha acontecido?

Adriano (nome também do avô da minha mulher) fez uma cara de espanto, e disse que havia alguns anos tinha encontrado na estrada um casal idoso, que até conhecia bem as famílias, que moravam a menos de 20 quilómetros, e fez com que entrassem no seu carro, disposto a levá-los de volta ao hotel ou até a suas casas.

O casal entreolhou-se, abanaram significativamente a cabeça com um “não” e pediu-lhe que os deixasse onde houvesse um taxi para os levar a Milão.

- Adriano espantado: Milão???

- Sim, Milão. Decidimos ir para a Austrália.

- Para a Austrália???

- Sim. Tu, Adriano, sabes bem que eu vivo lá desde que saí de Vicenza, há mais de 60 anos!

E contou ao jovem como tinha encontrado a sua velha amiga de infância, e que tinham decidido juntar-se.

- E as malas onde estão?

- Vamos assim mesmo, antes de nos arrependermos. Compraremos no Aeroporto o que for necessário para a viagem e lá em casa, em Melbourne, teremos muita roupa!

- Mas sabem se tem voo, lugares marcados, etc.?

- Tem a toda a hora algum voo que vai para aquele lado, sabemos que haverá que fazer uma conexão no caminho, mas vamos lá chegar sem dizer nada a ninguém! Tudo quanto agora queremos é passarmos juntos o tempo que nos resta de vida, e não como dois viúvos meio isolados, mesmo com filhos e netos, e vivendo só de memórias. Tenho lá três filhos e uma boa quantidade de netos e bisnetos que nos irão ajudar. E mais, muito melhor para a Silvana, do que ficar só, num hotel, à espera de visitas de favor.

Minha mulher e eu, aqui em casa, ficámos espantados com a incrível história, mas não deixámos de aplaudir a coragem e decisão do casal.

Cada minuto que nos sobra de vida deve ser vivido com a mesma alegria de todos os outros. E a vida a dois é muito melhor do que a viuvez!

Perguntei: Adriano, você depois disso teve notícias deles?

Adriano: Eu pedi-lhes que me dessem dissessem alguma coisa após a chegada, mas só quase um ano depois é que soube, sem ser por eles nem alguém da família, que estavam muito bem. E nada mais. Imagino que nesta altura podem até estar já a dormir o sono dos justos, depois de terem aproveitado muito bem o que lhes restava. Achei sensacional.

Adriano pouco depois do almoço teve que seguir para o seu objetivo, e nós ficámos a cogitar como o mundo é pequeno: do nada surge-nos um parente, com o mesmo nome do avô da Dona Bela!

E mais, podendo finalmente dar a conhecer a uma amiga, carioca, que há anos nos pergunta se sabemos algo do casal “que desaparecera na neblina” e, por curiosa coincidência também através de um Adriano!

Tout est bien qui fini bien! Deo Gratias.

 

22/10/2022

Nenhum comentário:

Postar um comentário