domingo, 12 de janeiro de 2025

 Faz tempo que não apareço!  Muita preocupação, muito trabalho, computador avariado, etc. Vou tentar voltar a comunicar um pouco mais. Espero que os leitores habituais não tenham desistido de me procurar!

Doações ou Ofertas? – 1ª parte

 

Doar ou dar? Em muitos casos ambos os verbos são indiferentemente aplicáveis, mas não se doa, por exemplo, “um aperto de mão ou um beijo em alguém”. Nem quando se um tapa na cara de outrem se pode dizer que doou. Talvez só que doeu!

Doar é mais elegante, vem do latim donare, e significa fazer dom! Dar, vem igualmente do latim dare e é mais para oferecer, outorgar, serve até para “dar uma sentença judicial” que nenhum juiz se lembraria do “doar” (talvez o xandão..........).

Dei, ou doei ?, muita boleia, ou carona ?, a muita gente. Em Portugal, França, Angola, Moçambique e Brasil, e as pessoas agradeciam com um sorriso que me servia de consolação.

Durante toda a minha ligeiramente longa vida, doei muita coisa e também dei muitas. Aqui vão algumas histórias.

 

1.- Devíamos estar em 1986. Não sei já onde encontrei um caro velho (igual a um em que tinha trabalhado há mais de meio século, o dono queria vendê-lo porque estava muito velho (o carro, do vendedor não lembro) mas ainda conseguia andar. Um Morris Minor (1956? 1960?).

Comprei-o, muito barato, para que os filhos, Luis, João, Tiago e Lourenço o restaurassem o que ficaria a valer bom dinheiro e seria uma coisa rara e bonita. Muito barato, é evidente que não estava bonito como o da foto! Saíam com ele para a farra, o carro parava e o pai que o mandasse rebocar! Vários avisos... não se importaram, cansei, avisei, não ligaram, dei o carro a dois marceneiros que trabalhavam comigo! Venderam logo a alguém que o ia pôr lindão, e por razoável valor!

 2.- Mais ou menos na mesma altura comprei também um pequeno veleiro, um Dingue, para que o Tiago se exercitasse na vela na represa de Guarapiranga. O Barco sem pintura como o da foto, mas todo envernizado em perfeitas condições para velejar.

O Tiago entusiasmou-se, foi muita vez para lá, criou amizade com um senhor que o ajudou nos primeiros dias, aprendeu os rudimentos da vela, mas com a sua vontade de ir sempre mais além, um dia abandonou o barco, porque queria coisa diferente, e o dingue ficou “lá” para apodrecer. Podia tê-lo vendido na Represa, mas... Fui lá buscar o mastro e ofereci o casco aos mesmos carpinteiros que fizeram dois remos e nos fins de semana iam pescar!

 

3.- Aí por 89/90 senti que o negócio das “cafonas” mesas de som ia acabar, como a da foto, e algumas muito mais sofisticadas (que me deram bom dinheiro), e tive que redirecionar a minha vida.

Tinha montado uma carpintaria com todas as máquinas necessárias e, em vez de abandonar os carpinteiros, ofereci-lhes todo o equipamento (serras, plainas, desengrossadeira, bancadas, tudo) para que ficassem autónomos. Um deles, tranquilo, infelizmente faleceu pouco depois. O outro levou tudo para sua casa, montou a sua carpintaria e com isso viveu bem.

 4.- Outra história de carros: em 1985 dei ao nosso filho Chico, já casado, um VW TL, 1600, azul, já entrado de anos (1970?), mal cuidado, pintura decadente, que custou baratinho. Andava e... falhava um pouco!

Nessa altura o Chico era ainda um motorista bem distraído (!), nada entendia de mecânica, o carro precisava de cuidados e ninguém cuidava dele. Andava... aos tombos, mas andava. Um dia a polícia mandou-o parar, constatou que o carro não estava em condições de circular, e o Chico tomou a decisão certa: foi embora e deixou o carro entregue aos polícias. Nunca mais se soube dele.

 

5.- Aí por 1969 um grande amigo e primo, comandante do navio Vera Cruz, pediu ao carpinteiro de bordo, que fizesse uma miniatura do meu veleiro Argus, projeto de um arquiteto naval americano de 1911. Eu tinha os planos, entreguei-los planos, fez um “estaleiro” na sua oficina do navio, e saiu uma perfeição. Construído como o original. No “estaleiro”: 


A navegar! Era uma lindeza!

Pronta a maquete, linda, guardei-a, exibi-a durante muitos anos até que chegou uma altura em que não cabia em lugar algum na nossa casa. Dei-a ao Tiago. Não passou muito tempo e o barquinho (cerca de 70 cm. de comprimento) ficou sem lugar onde “fundear”. Regressou a casa, velas rasgadas, mastro... etc. Reconstruí-o todo, ficou lindão, e ofereci-o (doei!) ao Club Naval de Luanda, onde tinha feito a sua vida inscrito com o número 29. Foto abaixo à direita. À esquerda acabada a restauração. 

      

Está hoje em lugar de destaque em Luanda.      

Quem quiser saber mais da saga da viagem do Argus para Luanda:

https://fgamorim.blogspot.com/2017/02/a-argonautica-do-argus-os-argonautas-em.html .

 6.- A um dos “novos sobrinhos” que ganhei quando fui a Angola no “Mussulo”, Fernando Andrade, general na reserva que tinha sido o Comandante da Força Aérea, de quem fiquei muito amigo, infelizmente por pouco tempo, pedi um dia que levasse para o Instituto de Agronomia de Angola, em Nova Lisboa, uma interessante quantidade de livros sobre agronomia de angolana.

Já não lembro quantos foram, talvez uns trinta ou quarenta, todos de muito interesse.

O meu amigo achou a ideia muito boa, mandou buscar os livros aqui em casa, levou-os para Benguela, onde residia, e contatou o Diretor do Instituto, para fazer a entrega dos livros.

Escreveu-me logo a seguir: “Infelizmente são todos burros. Não se interessaram. Vou eu ficar com eles. Pode ser que um dia apareça alguém mais consciente”!

E assim a “Agronomia Angolana” ficou a secar em Benguela!

 

7.- Outra doação, feita há uns tantos anos, de pouco me lembro tanto mais que o meu PC apagou muita memória, onde estaria a troca de correspondência com o “doado”. Tenho lutado para estabelecer contato com a pessoa que me agradeceu, mas... sem êxito.

Recebido de um amigo que tinha “herdado”, um magnífico compasso, obra de arte, feito por um famoso metalúrgico alemão de Dresden. Guardado no seu, ainda, impecável estojo, tinha neste uma pequena placa com o nome do artista.

Foi fácil na ocasião encontrar a origem, porque teria sido professor universitário de mecânica no final do século XIX. Escrevi para Desden, Tecnische Universitat Dresden (traduzi pelo Google !) mandando a foto da peça (lindona) dentro do seu estojo e logo recebi uma carta, amável dizendo que dentro da Universidade tinham até uma sala no museu com as peças desse professor artista e a que eu lhes mostrava era para eles ainda desconhecida.

Disse logo que tinha prazer em doá-la, e assim foi despachada. Pouco depois recebi uma amável carta de agradecimentos, escrita em alemão e inglês mas que terminava com um MUITO OBBRIGADO!

De tudo isto só lembro do nome de quem assinava Andreas, que era o reitor – Chanceler – da Universidade. Voltei a escrever para lá.

Recebi há dias a seguinte mensagem:  

Dear Francisco Amorim,

Dr. Andreas Handschuh is no longer the chancellor of the TU Dresden as he is since 2022 the State Secretary in the Saxon State Ministry for science, culture and tourism.

Não desarmei e escrevi novamente, agora para a tal Secretaria de Estado. Este senhor deve lembrar-se da doação e poderá mandar-me os elementos que lhe pedirei: data da doação e foto da peça.

Faz parte também da minha história!

A ver!

12/01/2025