Índia – 4
Foram
mais os filólogos do que os arqueólogos que se aproximaram do conhecimento da
origem dos arianos, uma vez que encontraram inúmeras ligações entre o
sânscrito, o grego e o latim, que obrigatoriamente os levaram a concluir que
algum dia tinham tido uma fonte comum, como por exemplo as palavras que designam
a bétula e a faia –árvores de climas frios, mas não gelados – e ainda a tartaruga e o salmão, com áreas de desenvolvimento original bem específico, que em
sânscrito, eslavo antigo, alemão, lituano, grego e outras línguas tem muita
semelhança.
Ao
mesmo tempo foi difícil entender como povos que não tinham deixado grande
cultura na sua origem, tivessem dado um avanço às tradições milenares do sub
continente indiano.
Mas
é preciso lembrar que eles atravessaram regiões onde grandes civilizações
despontavam, principalmente na Mesopotâmia.
Esses
arianos não chegaram todos à Índia numa só vaga, mas foram-se sucedendo, as
primeiras encontraram as grandes cidades das zonas do Hindus e do Pendjad – Pend, cinco, ab, rio, Cinco Rios – como
Harappa e Mohenjo Daro, talvez no fim do seu apogeu, mas exibindo ainda as suas
grandezas.
Este
imenso fluxo de povos arianos e iranianos, durou uns seis séculos, apesar de se
ter conhecimento que há talvez uns 20.000 anos as migrações haviam começado.
À
medida que os novos migrantes foram penetrando para Leste, sempre à procura de
melhores terras, ao encontro da região do rio Ganges deparavam-se com as
populações autóctones, em sua maioria de origem africana. Os negros, com
sistema de vida muito primitivo, que se distinguiam dos povos do Oeste e Norte,
de pele mais branca.
E
começa aqui um dos mais longos sistemas coloniais e de escravatura de todos os
tempos.
Os
arianos, invasores, mais fortes, mesmo quando em alguns casos tiveram que se
misturar com os autoctones, quase que só o faziam através de casamentos de
interesse, com os chefes locais, porque precisavam de paz e sobretudo da mão de
obra.
E
assim nasce o que se chama brahmanismo, palavra do sânscrito que significa os de
caracter nobre, os nobres, os brahmanes, e com eles o sistema de castas.
Sendo
o povo indiano extremante religioso, os brahmanes reservaram para si o
exclusivo de conduzir os rituais religiosos, ficando assim com o “poder” de
comunicar com os deuses, estando acima de todos os outros, eles que eram os
sacerdotes, e os poetas, os que nos deixaram a história antiga, mesmo via oral.
A
seguir vinham os nobres e os guerreiros que não podiam deixar de ser
contemplados, os kshatryia ou rãjanya, depois os vahisya ou viç, os agricultores, mercadores e artesãos,
e por fim a classe dos servos, os Çudra
possivelmente o nome de uma tribu Dasa
conquistada pelos arianos. Os Shudra,
ou Dalit, palvra do século XIX para
designar os membros da mais baixa casta, para parecer menos pejorativos, que
nós conhecemos comos os Párias.
Os
três primeiros grupos pertencem ao grupo dos conquistadores arianos e o último
aos Dasyus. E a distinção entre eles
foi simples, uma questão de varna, ou
jati, côr ou pele: os arianos eram
coletivamente conhecidos como os de “côr clara” e os Dasyus como de “côr
negra.”
Tão
forte foi este sistema implantado que afetou todas as outras religiões, e todo
o povo indiano, o que justifica que o budismo tenha quase desaparecido de
muitas regiões da Índia, absorvido pelo sistema de castas passado para o
hinduismo.
E
pior, a proibição, salvo casos muito especiais, de casamentos entre gente de
classes diferentes.
Com
o sistema de castas implantado, os rituais e sacrifícios foram ganhando cada
vez mais importância e codificados na literatura védica, o que permitiu sempre
concentrar mais e mais poder e riqueza nas mãos dos membros das duas primeiras
classes.
Os
Shudra – notar a relação com a
palavra portuguesa “choldra” – coisa
imprestável, ralé – eram os intocáveis, aqueles que fazem trabalhos considerados
indignos, sujos, lidando com os mortos (animais ou pessoas), com o lixo, ou
outros empregos que requerem constante contato com aquilo que o resto da
sociedade considera abjeto e desagradável.
Privados
de direitos e sendo propriedade privada, como “coisa”, foram a mão de obra, os
grandes obreiros dos monumentos, hoje considerados maravilhosos, que pouco
adiante os poderosos foram mandando construir.
Pouco
falam os Vedas sobre a estratificação
do povo em classes, mas isso ficou marcando e distanciando, sempre os poderosos
dos mais fracos, desgraçadamente ainda classificados pela cor da pele.
Só
mais tarde fazem referência a indivíduos que não merecem o “status” nem os
privilégios dos nascidos duas vezes. Com o tempo, os Shudra, ficaram excluidos dos rituais de purificação, como
impedidos de atingir o moksha – última
serenidade de libertação da transmigração – devido ao seu carma – a lei de causas e efeitos que transcende o limite da
existência – e deste modo condenados a permanecer eternamente na terra.
O
homem esquece com facilidade o que não lhe interessa recordar.
Talvez
não soubesse, como ainda hoje a maioria não deve saber que o Homo Sapiens, a espécie a que pertencem os
seis ou sete bilhões de habitantes deste planeta, terá surgido em Africa, como
já dissémos, há uns duzentos mil anos, o que demonstra que todos, mas todos, viémos
do mesmo lugar e que os nossos antepassados foram, repito, todos, negros.
Não
é preciso lembrar a “vovó” Lucy, que terá vivido há mais de três milhões de
anos, porque essa estava ainda muito longe do Homo Sapiens. Era um Australopithecus
afarensis. Talvez tenha sido,
talvez, um antepassado do homem moderno. E também era de África.
02/04/2014
Continua
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