domingo, 3 de novembro de 2024

         DONDE VIEMOS?  PARA ONDE VAMOS?


São poucas as perguntas que pusemos no título do que hoje vamos tentar escrever.

Sabem que tenho escrito pouco, problemas muitos, psicologicamente muito derrubado, fisicamente a minha incurável doença, que se chama 1931, não tem perspectivas de melhora, e a inspiração de escrever, com tanto problema na cabeça a que ainda tenho que atender e resolver quando é possível, me têm mantido afastado da escrita. Incapaz.

Voltemos ao título, e completemos as perguntas, que tanto pensador já fez: “Por quê viemos? Para quê?”
Os chineses diziam, há muitos séculos, que se conseguissem uma lupa com visão ao infinito, e por ela espreitassem, o que lhe apareceria, uma vez que estariam curvados na observação, seria o seu próprio “traseiro”!

Voltaire foi mais direto: “Os filósofos são como dançarinos; partem de um ponto, ágeis, volteiam graciosamente mas voltam sempre ao mesmo ponto!”

E nós?

Uns a roubar, rindo e cuspindo nos pobres e desventurados, outros procurando seguir A Palavra, ainda outros à procura da Verdade, como Buda, como ao morrer disse que não a tinha conseguido encontrar, e a esmagadora maioria indo de cá para lá e de lá para cá, sem pensar, desligados os neurónios para não incomodarem.

Eu não sei a que tipo pertenço, mas sinto a cabeça cheia de problemas: às vezes algumas alegrias me distraem mas ultimamente muita dor e tristeza, poucas interrogações, porque sei que não há resposta, sendo obrigado a seguir em frente, sem saber o por quê e o para quê.

Muito interessante os estudos filosóficos sobre o “livre arbítrio”, uma liberdade condicionada “a priori”, pela cor da pele ainda hoje, a família, o clima, a educação, a escola ou faculdade, a religião, alguns até consideram nessa conjuntura o signo zodiacal! Mas sobretudo pela política, pelos governantes, pelas finanças, e uns quantos outros detalhes.

O Brasil já esteve mais perto dessa liberdade, mas desde 1500 sempre liberdade condicionada, limitada, muita vez até perigosa.

O mundo vive numa mentira cada vez maior, mais destruidora, não só em países de terceiro mundo como em todos os outros.

Há poucos anos, na Noruega, um dos países com “o melhor IDH” (!) do mundo, uma mulher já de idade avançada foi assaltada por um imigrante ainda sem estatuto de residente, e queixou-se ao tribunal. O juiz, como a mulher não foi atacada, mas “simplesmente” ameaçada e roubada, obrigou-a a pagar as custas do processo e a uma multa equivalente a 15% do valor da sua aposentadoria, já de si miserável. Liberdade, isto?

Por aqui a liberdade é pouco mais do que uma palavra que se encontra “ainda” nos dicionários, mas mais do que limitada, cerceada, vendida.

A censura é uma profunda realidade, uma triste nódoa em todo o mundo, e nesta “terra de boa gente” tem dois processos de a usar. Um pela compra da maioria da mídia, com dinheiro que o governo subtrai ao desenvolvimento do país e a outra por meios policiais comandados por quem nos devia proteger, a Justiça.

Há talvez uma dúzia de anos, um dos meus filhos organizou, com autorização da prefeitura local, uma festa rave (só música eletrônica) numa cidade a pouco mais de uma centena de quilômetros do Rio. Festa ao ar livre e, como acontece em todas essas festas, a droga correu à vontade, porque sempre há quem venda e quem compre. A polícia entrou, e além de prender um ou outro traficante conhecido, prendeu o organizador da festa que nada tinha que ver com o que o público fazia.

Enjaulado como um bandido, numa gaiola para quatro ou cinco, onde trancafiaram uns quinze ou mais, foi a julgamento naquela cidade e condenado com este “brilhante” argumento do juiz: “Na minha cidade não quero essas festas. Não gosto de festas rave, por isso o condeno!”

O juiz sentia-se o dono do mundo. Ali, era. Recorreu-se da sentença e na segunda instância, no Rio, o desembargador, anulou a sentença e libertou-o de imediato.

Esse “livre arbítrio” hoje está sujeito ao, que escreveu Laurence Peter: Num sistema hierárquico, todo funcionário tende a ser promovido até ao seu nível de incompetência!  O famoso princípio de Peter, no Brasil, não existe; aqui o que rege é o compadrio político, a ganância do poder pelo poder, para enriquecimento fácil e rápido, sem que alguém se preocupe com a capacidade do comparsa que vai "governar”.

A fobia é tal magnitude que a Polícia Federal chega a prender, por exemplo, governadores e seus assessores, todos os magistrados, desembargadores de um tribunal de justiça, presos esses que nunca vão pagar o que roubaram, nem entram numa cadeia como presos comuns.

Agora o des-governo prepara o maior desastre que a Amazônia vivenciou até hoje, e têm tido imensos e profundos desastres.

Há anos que a esquerda-caviar se prepara para destruir o país. Vale a pena dar uma rápida lida no que escrevi no neste blog, há quatro anos, sobre Roraima (procurar “Roraima”; posta em 14/fev/20). Já o processo estava em marcha.

Agora, saiu uma lei que mostra com clareza, as intenções:

Militares são excluídos da gestão do projeto Calha Norte, considerado crucial para a defesa nacional

“O Programa Calha Norte sempre teve como objetivo não só o desenvolvimento, mas também a presença militar em áreas estratégicas para a soberania nacional”, declarou um oficial das Forças Armadas.

Os comandates militares das três forças, paus mandados, aceitam tudo, exibem-se cheios de condecorações, incapazes de reclamar porque o vencimento que auferem, exorbitante, ferem o estado de pobreza de grande, grande parte do país. A mamata é gora. O país que se dane.

Este comentário, que me mandou um oficial superior: define bem do que está em andamento:

O intuito parece ser a criação, por pressões internacionais, de um narcoestado indígena, corrupto como os miseráveis países africanos assentados em riquezas do subsolo, e vulnerável o suficiente para ceder seus recursos naturais a países interessados.

Como é evidente trata-se de um imensíssimo negócio. Não se vende a Amazônia por uns “mireis”! Há certamente largos mi ou bilhões envolvidos, e a porta aberta ao comunismo Rússia-China.

Militares afastados do controle da Amazônia significa, em breve tempo a perca de toda aquela região.

Alguém reclamou? O famigerado e super corrupto STJ – o supremo mandante nesta terra – não se manifestou. Está tudo mancomunado.

E o tal “livre arbítrio”? Os militares da ativa estão proibidos de se manifestarem, os civis não têm suporte para fazer valer as suas opiniões, o “sapo-barbudo” que nada governa, assina tudo porque lhe rende muito dinheiro, e continua a passear pelo mundo, levando uma cáfila de comparsas, como na ida a Dubai, onde uma centena de apaniguados o acompanhou, e se hospedaram em hotéis de 10 ou mais milhares de dólares por dia!

Disse há dias a um amigo que tenho pena de não ter nascido uns dez anos mais cedo. Já aqui não estaria para ver o desmonte de uma civilização, de uma cultura e do assassinato da ética e da moral.

Vejo o panorama apocalítico aproximar-se e nada posso fazer.

Triste fim de uma já longa vida

 

03/11/2024

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Esta não é uma nova Postagem"! Texto escrito em 2003 e posto neste blog em 2011. Mas, haverá ainda quem se lembre ou discorde?


 É de supor, pelo interesse sempre demonstrado pelos portugueses, que poucos se lembrem da chegada do € euro a Portugal. Foi uma festa. Uma euforia. Estavam ricos, iguais à Alemanha, França, etc.

E vá de gastar, comprar, comprar, conceder empréstimo para tudo (banco quer é juros), fazer estradas e... os investimentos produtivos ficaram esquecidos os postergados... ad semper. Esqueceram.
Foi em Janeiro de 2002, que o € entrou em Portugal como os generais em Roma depois duma grande vitória!
Em Março de 2003 escrevi este texto que parece continuar a ser oportuno para lembrar as burradas (crimes) que fazem os políticos e os “homo pseudo-sapientes” nas coisas da economia.

 

A história, a inflação, as moedas e...



Hoje vou contar-lhes uma história. Aliás, para ser verdadeiro vou mostrar uma história escrita há muitos anos...

Era uma vez... - a bem da verdade também não era a primeira vez, mas façamos de conta que sim, para nos deixarmos de entretantos e irmos aos finalmentes - juntaram-se uma porção de nobres, ou reis ou presidentes e, com uma pseudoconsulta feita às gentes das suas terras, ou países, ou regiões, ou aldeias, decidiram mudar a moeda circulante. Bem dito, melhor feito.
Ninguém se lembrou (será que conheciam?) a mais elementar lei de mercado: a economia, que é um animal vivo, vivissimo, cujo domador é o intermediário, ou comerciante, ou... a lei da oferta e da procura! Enfim, como queriam uma moeda forte (moeda só é boa quando existe na mão do povo, mesmo sendo fraca; se for bastante, torna-se forte!) resolveram criar uma que valesse bem mais do que a existente e conhecida.

De entrada foi uma alegria confusa. Uns pensavam que pela moeda ser “forte” ficariam ricos, raros entendiam o novo câmbio, e os atravessadores - comerciantes, fabricantes, etc. - logo se aproveitaram para “arredondar” tudo para cima. Pouco. Só, só umas “migalhitas” de dez ou vinte por cento!

Faz contas, calcula câmbio, troca uma moeda por outra, de repente o povo clamou: “Mas a vida está carissima! Porquê?”

No Brasil, acostumados com mudança de moeda, retirada de zeros, muitos zeros, inflação de até oitenta por cento ao mês, e outras “singularidades da França (?) antártica”, a troca de moeda, sempre favorecendo os mesmos intermediários, como é óbvio, era recebida com naturalidade. Mais moeda, menos moeda... aliás, sempre menos moeda, já era o “pão nosso de cada dia”, quando pão havia nesse dia.

Mas e na Europa? Ah! Na Europa só os ingleses devem ter lido a história e ficaram fora dessa! Agora os “europeus unidos” (para não serem vencidos) choram amargamente a nova moeda imposta de cima para baixo como canga. Aguenta...
Ora leiam a história abaixo que, segundo reza e será verdade, mostra que há setecentos e cinquenta anos se passou exatamente o mesmo! O maravedi que se desdobrava em cento e oitenta pipiões e metaes, passou a desdobrar-se somente em noventa burgaleses e soldos, deixando de haver “dinheiro miudo”!
Ninguém parece ter aprendido e quem paga sempre “o pato” para variar, é o povo!

SUBIDA AO TRONO DE AFONSO X


CRÓNICA DEL REY DOM AFONSO O DEZENO DE CASTELA E LEOM


[CAPITULO 1]


Do reynado del rey dom Afonso, filho deste rey dom Femando, e das parias que lhe dava el rey de Graada. E como mudou as moedas en começo de seu reynado e doutras cousas que fez.
1 Morto el rey dom Femando, alçarom por rey de Castela e de Leom, na muy nobre cidade de Sevilha, onde el finou, o infante dom Afonso, seu filho, primeiro herdeiro. E começou de reynar aos XXIX dias do mes de Mayo da era de mil e duzetos e novêeta annos; e andava a era de Adam en çinquo mil e XXVII ãnos ebraicos e duzentos e oiteenta e sete dias mais; e a era do diluvyo en mil e trezentos e çinquoenta e tres annos romãaos e cento e çinquo dias mais; e a era del rey Nabucodonosor en mil e novecentos e noveeta e oito annos romãaos e mais XXII dias; e a era do grande Phillipe, rey de Greçia, en mil e quinhentos e seteenta e tres annos romãaos e XXII dias mais; e a era do grande rey Alexandre de Macedonia en mil e quinhentos e sesseenta e dous annos romãaos e duzentos e quareeta e quatro dias mais; e a era de Cesar en mil e duzentos e LXXXIX ãnos romãaos e cento e çinquoeeta dias mais; e a era da nacença de Jhesu Cristo en mil e duzentos e LII annos; e a era de Gallizanos, o Egiptiãao, en oitocentos e LXVIII ãnos; e a era dos aravigos en seisçetos e viinte e nove annos; e a era de Sparsiano, segundo a era dos Persiãaos, en seis centos e XX ãnos.
2. E reinou este rey dom Afonso XXXII ãnos e foy / o dezeno rey de Castela e de Leon que per este nome foy chamado.
3 Este rey dom Afonso, en começo de seu reynado, firmou por tempo certo as posturas e aveeças que el rey dom Femando, seu padre, avya posto con el rey de Graada; e que lhe desse aquellas parias que dava a el, pero que lhas non derom tam compridamente como as davam a el rey dom Femando, seu padre.
4 Ca, en tempo deI rey dom Femando, lhe dava el rey de Graada a meatade de todas suas rendas que eram apreçadas a seis centos mil maravidiis da moeda de Castela. E esta moeda era de tantos dinheiros o maravidil que chegava a valer o maravidil tanto como huu maravidil d'ouro, por que, en aquel tempo del rey dom Fernando, corria en Castella a moeda dos pipiõoes e no regnado de Leon a moeda dos leoneses; e, daqueles pipiõoes, valia cento e oiteenta o maravidil.
5 E as compras pequenas faziãnas a metaaes e a meos metaaes que faziam XVIII pipiõoes o metal e dez metaaez o maravidi. E destes maravidiis eram apreçadas as rendas do reyno de Graada en seiscentos mil. E davam a el rey dõ Fernãdo a meatade daquelas rendas.
6 E, como quer que el rey de Graada desse estas parias a el rey dom Fernando, por que o leixasse viver em paz, pero mais lhas dava por manieyra de reconheçimento, por que este rey dom Fernando deu ajuda de gentes e doutros logares do reyno a este rey de Graada contra huu linhagen de mouros que eram seus cõtrairos muy poderosos e chamavanlhes os d'Escabuuvela.

7 Este rey de Graada foy o primeiro rey a que chamaron Abenalhamar. E ajudouho sempre el rey dom Fernando en toda sua vida, de guisa / que nuuca se lhe poderon alçar os mouros daquel reyno. E por estas razõoes avya el rey dom Fernando dos mouros tã grãde contia d'aver en parias.

8 El rey dõ Afonso, seu filho, no começo de seu reynado, mandou desfazer a moeda dos pipiões e fez lavrar a moeda dos burgaleses que valiam noveeta dinheiros o maravidil. E as compras pequenas fazianse a soldos; e seis dinheiros daqueles valiã huu soldo; e quiinze soldos valiam huu maravidil. E destes lhe dava cada ano el rey de Graada duzentos e çincoeenta mil maravidiis.

En este tempo, per os mudametos destas moedas, ecarecerõ todalas cousas nos reynos de Castella e de Leon e pojaron a muy grandes cõtias.

9 En aquel primeiro ano, se trabalhou el rey de fazer as cousas que entendeo que eram prol de seus reynos. E basteçeo e requeri o as villas e logares e casteIlos que erã fronteiros dos mouros e esso meesmo as villas e logares do reyno de Murça que elle guaanhara en vida del rey dom Fernãdo, seu padre, seendo iffante, as quaaes erã pobradas de mouros.

10 E, como quer que os ricos homees e cavaleiros e infanções e filhos d'algo de seus reynos vivyam cõ elle en paz e en assessego, pero elle con grãdeza de coraçõ e por os teer mais prestes pera seu serviço quando os mester ouvesse, acrecentouIhes nas contias muyto mais do que avyam no tempo del rey dom Fernando, seu padre. E outrossy, das suas rendas, deu a algus delles mais terras das que tiinham e outros que as ataaly non ouveron deulhes terras novamente. E, por que a estoria trage o conto dos anos deste rey des o mes de Janeiro, poserom estas cousas sobreditas nos primeiros sete meses deste anno de mil e duzentos e noveenta annos.



[CAPITULO 5]

Como el rey pos almotaçarias en todalas cousas e as tirou depois



1 Enno quarto anno do reynado deI rey dom Afonso, lhe veerom muytas querelas de todallas partes de seus reynos, que as cousas eram assy caras e postas en tã grandes contias que as gentes as non podiam aver. E por esta razom pos el rey almotaçarias en todallas cousas, quanto cada hua ouvesse de valer.

2 E, como quer que, ante que el rey esto fezesse aos homees era muy grave de as poderem aver, muyto peor as ouveron depois por que os mercadores e os outros que as tiinham pera vender guardavãnas que as non queriã mostrar.

3 E por esto se viron as gentes en tam grande afficamento que el rey ouve de tyrar as almotaçarias e mandou que se vendessem as cousas livremete por os preços que se as partes aveessem.

4 E non se acha en este anno outra cousa que de contar seja que a esta estoria perteeça.



Curioso, né? Porque os governantes de hoje (e de ontem) não aprendem mais com a história?

O texto acima foi retirado da “Crónica Geral de Espanha de 1344” .

01/03/03

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

 

1.- Origem do nome Amorim

 O sobrenome Amorim surgiu na Península Ibérica, originado a partir do latim "amabilis", que quer dizer "amável". Assim, o significado do nome Amorim é "local dos amantes" ou mesmo "local de amar". Amorim deriva do Latim, e significa local de namoro/namorados. Os sobrenomes/apelidos portugueses ''Amorim" e "Morim" têm origem nesta freguesia antiga, e estão entre os nomes mais comuns na cidade, mas em especial nesta freguesia.

Amorim é  uma zona localizada no município de Póvoa de Varzim, em Portugal, mas acredita-se que a família Amorim tenha surgido na região espanhola de mesmo nome, na região da Galiza. Em Portugal, os primeiros a terem esse sobrenome teriam sido habitantes da zona de Amorim. A teoria mais aceita é que o nome Amorim seja de origem espanhola e que tenha chegado a Portugal devido à história dos dois países que, diversas vezes, estiveram sob o mesmo governo. Um dos registros ocorre durante o reinado de D. Joao I, quando o galego Hilário de Amorim, senhor da Torre de Amorim, se fixou em Ponte de Lima.

Assim como todas as famílias europeias antigas, a família Amorim também possui seu brasão. Este é de cor vermelha e possui o desenho de cinco cabeças mouras decapitadas, o que leva a conclusão de que a família Amorim esteve envolvida na guerra de reconquista, na expulsão dos mouros da Península Ibérica.


Amorim é uma antiga paróquia, que aparece pela primeira vez no século XI. É popular na Póvoa de Varzim devido ao seu pão, caracteristicamente consumido a altas temperaturas, logo após ser cozinhado - a Broa de Amorim.

Paróquia muito antiga que se estendia até ao mar. O nome da Paróquia de Santiago de Amorim aparece pela primeira vez em 1033. 0 Censual de Braga regista-a então sob o titulo "De Santo Jacobi de Amorim". Note-se contudo que Varzim era, desde a fundação do condado de Portugal, um vasto território feudal com autonomia administrativa e militar, uma honra de cavaleiros, abarcando todo o território desde a costa aos montes de Laundos e Terroso. Após o conflito dos cavaleiros da Honra de Varzim com Sancho I de Portugal, boa parte do território de Varzim é incorporado na Terra de Faria.

A área é, contudo, habitada desde épocas pré-históricas, como evidenciam os topónimos Leira da Antas (entre Terroso e Amorim) e Montinho, Amorim de Cima, que terão origem na existência de mamoas ou antas pré-históricas.


2.- Mais um pouco sobre  FGA

 Entrevista do jornalista do Expresso, em 2000.Valdemar Cruz ao autor de “Aprendiz de Selvagem”Dr. Costa Carvalho,

 O Filho do Amazonas 

A pretexto de um mestrado em Estudos Portugueses e Brasileiros, Costa Carvalho, 66 anos, ensaísta e ex-director dos principais jornais diários do Porto, acaba de publicar Aprendiz de Selvagem – O Brasil na Vida e na Obra de Francisco Gomes de Amorim (Campo das Letras). São 747 páginas destinadas a resgatar a memória de um homem responsável por uma torrencial produção literária com forte inspiração nos problemas da escravidão, na emigração brasileira e no exotismo da selva amazónica.

Mas se hoje alguém reconhece o nome deste escritor oitocentista, com quem o romantismo português está em divida, e apenas pela quase inacessível e monumental obra Memorias Biográficas de Almeida Garrett. Da glória do seu tempo já pouco resta, apesar do imenso espólio revelado por Costa Carvalho e agora disponível para outros estudos na Biblioteca Municipal da Póvoa de Varzim.

O que mais o surpreendeu ao descobrir a personalidade e a obra de Gomes de Amorim?

É preciso dizer que todo este trabalho nasce graças a uma sugestão de Arnaldo Saraiva, o meu orientador no primeiro mestrado de Estudos Portugueses e Brasileiros, iniciado no ano lectivo de 1995/96. Na altura, eu pouco sabia acerca de Gomes de Amorim, mas aceitei este desafio acima de tudo por se tratar de uma figura obscura, que não me dizia nada. O que mais me surpreendeu, para lá da sua vida de aventureiro, foi o facto de, tendo partido para o Brasil aos 10 anos, não seguir o percurso normal do emigrante que vai a procura da árvore das patacas. Regressa nove anos depois, com uma apetência cultural que considero única na literatura portuguesa. Quando parte, é quase analfabeto. Quando regressa, inicia um percurso fantástico, sem nunca ter frequentado uma escola.

Como é que foi possível essa transformação?

Há um momento decisivo, quando, em plena selva amazónica, descobre o poema Camões, de Almeida Garrett, juntamente com outros livros velhos, em casa de uma família indígena, dentro de um cesto com folhas de bananeira brava. Isto acontece em 1840, e Gomes de Amorim faz um esforç0 tremendo para ler o livro. Quando o consegue, é uma revelação,

e passa a olhar para a Amazônia com um olhar feito de poesia. Cinco anos mais tarde, ainda mal sabe escrever, mas dirige-se a Garrett por carta, pedindo-lhe para ficar ao seu serviço. É uma carta horrível, cheia de erros de português. O interessante e constatar que Garrett, apesar de não o conhecer de lado nenhum, responde-lhe um ano depois, o que leva Gomes de Amorim a ver nessa resposta um apelo a que regresse a Portugal. Esta e uma relação extraordinária, porque acaba por ser esse rapaz, nascido em A-Ver-o-Mar, a acompanhar até a morte e a fechar os olhos do grande Garrett.

Essa relação com Garrett é pelo menos invulgar e proporciona as Memórias Biográficas, que Gomes de Amorim tem o cuidado de não chamar biografia...

O modo como tudo começa é que é fantástico. Depois da troca de correspondência, em 7 de Julho de 1846, uma terça-feira, Gomes de Amorim apresenta-se em casa do escritor. O criado João comunica a Garrett que está lá fora um rapaz vindo do Brasil. Garrett recebe-o de imediato e, em 1852, a pedido de uma editora alemã, nomeia-o seu biógrafo oficial. Porém, entre 1846 e 1849 quase não tiveram contacto. Gomes de Amorim passa por vários ofícios, entre os quais o de chapeleiro, e depois começa a escrever umas poesias patrióticas e republicanas. Em Agosto de 1849, é-lhe promovido um jantar de homenagem, presidido por Garrett. Nessa altura, restabelecem contacto, e a partir daí Gomes de Amorim é de uma dedicação total ao escritor.

Garrett vê nele qualquer coisa de especial. Há um pormenor elucidativo: como recebia muita correspondência, Garrett, de tempo a tempos, deitava fora maços de cartas; mas guardou desde início as cartas boçais enviadas por Gomes de Amorim. 

Mas essa relação não é o objecto do seu estudo, que aponta claramente para outras latitudes. É curioso que comece o livro com uma referência ao Evangelho Segundo Sao João, quando escreve: «No principio era o preto.» No final diz que a «a carne fez-se verbo». Pelo meio deixa claro que a relação com o negro, o problema da escravatura, constitui um dos pilares da obra de Gomes de Amorim...

As palavras não têm memória, embora a memória seja feita de palavras. E as palavras de Gomes de Amorim circulam muito em torno da figura do negro. Essa foi uma luta que travou até ao fim da vida. Opôs-se a todo o gênero de escravatura e a qualquer atentado contra a vida e a existência do indivíduo que estava condenado a ser escravo no Ocidente, dito cristão e civilizado. Ao longo da sua vida, tem situações dolorosíssimas. Fica em estado de choque pelo modo como são tratados os negros no Amazonas. Talvez seja o único que, em meados do século XIX, ataca frontalmente todos os negreiros. Longe de ser apenas o biógrafo oficial de Almeida Garrett, Gomes de Amorim acaba por ser vítima dos seus dois grandes amores: o Brasil e Garrett. E vítima por

parte do Brasil porque foi votado a um completo esquecimento, ao ponto de nem sequer figurar no rol de escritores de temática amazónica; isto apesar de obras como O Cedro Vermelho, Ódio de Raça, Viagens no Interior do Brasil, Os Selvagens ou O Remorso Vivo. Quanto a Garrett, é sabido que a relação entre os dois ofuscou tudo o mais. 

Quando é que Gomes de Amorim começa a escrever? 

É preciso ter em consideração que ele possuía uma memória fabulosa. Ainda adolescente, já sabia de cor Os Lusíadas. Tratava-se de uma personagem que era uma autentica folha em branco. Era o verdadeiro selvagem. Antes de ser escritor, era um bom conversador. Nesse sentido, entra pela oralidade e só depois, a partir dos 30 anos, e que começa a escrever. O que espanta e como, tendo regressado do Brasil com apenas 19 anos, mantem viva a memória de tudo quanto viveu. 0 vocabulário utilizado para descrever a flora da Amazónia é de uma precisão fantástica. Lê-se aquilo e respira-se a selva brasileira, os seus mitos, as suas lendas...

Ficou por tratar um espolio muito vasto...

Sim, o que toma o estudo da sua obra muito difícil. Oscar Lopes, no Dicionário do Romantismo Português, diz que Gomes de Amorim é mais importante do que aquilo que se poderia pensar e que era importante alguém fazer um estudo que o tomasse mais legível. Este 1ivro poderá ser um contributo, mas há ainda muita coisa dispersa. Os problemas começam logo porque nunca foi um homem com dinheiro. Quando morreu, o seu espólio viajou por vários continentes. A maior parte da documentação ficou na posse do filho, que a tem disponibilizado aos investigadores. Agora foi tudo oferecido a Bib1ioteca Municipal da Póvoa de Varzim, onde passara a ser possível consultar todos os manuscritos, em que se incluem as suas memórias e as que escreveu sobre Alexandre Herculano e Latino Coelho. Há ainda poemas, correspondência, algumas dezenas de comédias inéditas, coleções de jornais, coleções de folhetins recortados dos jornais da época e infindáveis autógrafos... 

Que conclusões é que tira desse espólio? 

Ainda agora, depois da publicação do livro, estão a aparecer novos documentos. Tenho a esperança de que possam surgir mais achegas, mas no essencial o que ficará é a imagem de Gomes de Amorim como uma figura preponderante do romantismo português. A partir de 1858 e até a sua morte, em 1891, quase não sai de casa, devido a um espasmo cerebral, mas continua a ser procurado anos a fio por toda a gente, da literatura as artes plásticas. Uns vão apenas para conversar, outros querem prestar-lhe homenagem, e um terceiro grupo vai claramente à procura de opiniões e conselhos para o modo como devem desenvolver as suas obras. Isto acontece com vários pintores da época, para quem era essencial conhecer a opinião de Gomes de Amorim.

26/09/2024

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Entre muito livro, fotografias, documentos, pinturas e objetos colecionáveis deixados pelo meu filho, ainda desarrumados porque as obras da sua casa não estavam terminadas, e que procuro organizar, tenho encontrado muita coisa de interesse.

Hoje vai um texto, que considero muito bem escrito por um jornalista/escritor, Victor Mendanha (1941-2011), cujo nome me era totalmente desconhecido.

Victor Mendanha foi chamado em 1961 para cumprir o serviço militar em Angola, onde decidiu ficar, trabalhando em vários jornais. Esteve ainda em Moçambique, regressou a Angola pós- independência, simpatizante do MPLA que o prendeu e o obrigou a regressar a Portugal em 1977.

Texto dedicado, hoje, por mim, sobretudo àqueles que vivenciaram África, e sei que vão fazer suas as palavras do escritor.

 

XÊ  LUANDA! . . .        VOCÊ  É  MESMO  A  MINHA  TERRA

                             (VICTOR MEDANHA)


 

Já há muito tempo que estava para desabafar contigo, Luanda., Mas sentia uma vergonha boa de namorado que sabe ir receber um sim, mas prefere gozar o prazer desse momento devagarinho. Para ti  é novidade, o eu ter nascido longe, no quente Alentejo. Terra em que o Sol, igual ao teu, faz também, gretar com o seu tórrido calor, o chão que é o mesmo chão em que te ergues. E as gentes, Luanda, como são parecidas com as tuas!  Morenas de face, rijas de corpo, em ambas se notam os riscos de suor que o trabalho árduo faz cair pela testa.  Vou-te fazer uma confidência, mas não f'iques zangada... lá...  Olha... Eu, quando cheguei, não gostava de ti. Sentia uma coisa cá dentro a roer... a roer. Maldito bicho aquele!... Não me largava nem me deixava dormir... Vê lá tu que até o Mussulo, a tua ilha encantada, me parecia feio. Estive mesmo para voltar pelo mesmo caminho. Sentiria talvez a troça de quem nunca te quis conhecer. Mas deixá-lo... ao menos tornaria a beber e saborear a água de minha aldeia por cocharro de cortiça. . . Ao menos tornaria a pescar barbos no Guadiana. . . Ao menos sentiria renovado prazer da sesta dormida  à sombra retemperadora da azinheira. E então Luanda, quando me lembrava disto virava-me e revirava-me na cama solitária onde se perdiam as minhas esperanças de dormir. Mas tu ias-me perdendo, maliciosa e docemente, como prendem os braços macios das mulatas.

Devagarinho, de mansinho. . . dei por isso quando era tarde. Estava eu em cima no terraço da Fortaleza, olhando para o horizonte onde se perde o teu casario, quando me deu para filosofar. E reparei que te aceitava melhor. Tu para mim, já eras a cidade onde eu ganhava o meu pão. Fiquei mais calmo, mas tremente. . . Talvez fosse devido à fresca brisa que, àquela hora, começava a soprar do mar! ? ­ Talvez! ?. . . A pouco e pouco, este sentimento, indefinido ainda, consolidou-se sem eu fazer nada para que isso acontecesse. A água da f'onte de minha aldeia foi esquecida pela do Bengo, que parece nisto de saudades e a sombra frondosa de um imbondeiro fez-nos varrer da memória a da minha azinheira. Dei por mim a pescar no Cuanza, sem me lembrar sequer do Guadiana,  que continuava a correr longe. E a partir daí, Luanda, aconteceram-me coisas maravilhosas. Dia a dia apercebi-me de quem tu eras. Da tua força prosaicamente traduzida por mais de 300 prédios construídos por ano. Da tua  energia; demonstrada nos 200..000.000 Kw/h. que consomes em cada doze meses. Da tua beleza, evidenciada pela Natureza, que sempre te deve ter amado. E então embriaguei-me por ti.  Perdi noites nas rebitas dos subúrbios   que acabam no outro  dia, quando o sangue fica em fogo e os olhos das mulheres fazem convites felinos de amor. Rebolei-me nas  areias das tuas praias de sonho e mergulhei no azul do acolhedor mar que vem suplicar favores a teus pés. Comi com gula o teu churrasco e a tua moamba Saboreei o teu ananás. Senti nos meus lábios o sumo do coco e deitei-me à sombra das f'olhas nervosas dos coqueiros, lá na ilha do Mussulo, na tua ilha encantada, cuja beleza me era indiferente e agora fico horas e horas, a verchimbicar” um pescador de samba, na sua canoa, em prodígio de equilíbrio. Exulto de alegria quando passo por uma rua e vejo uma casa térrea ceder lugar a um gigante de cimento. Descanso vendo, de um dos teus miradouros, o sol mergulhar no Oceano. Gozo a alegria dos teus mercados e a frescura dos teus parques. E, como muitos dos teus filhos, vou de vez em quando ao aeroporto ver quem chega da Metrópole. Sem medo de uma caída de saudosismo. Noto até que os que chegam trazem a pele branquinha, e perderam lá na Europa, o à vontade de andarem em mangas de camisa. Até dei por mim torcendo por um do teus clubes, numa tarde de futebol nos Coqueiros. Não sei como foi isto... mas gosto de ti, das tuas coisas boas, critico os teus defeitos... foi precisamente ao fazê-lo pela primeira vez que conheci o meu sentimento por  ti. Desejava que fosses mais perfeita mas só queremos que sejam melhores as pessoas e as coisas de que gostamos... Foi para te dizer tudo isto que te pedi para me escutares. Fiquei contente por o teres feito. Enquanto falei contigo até parece que tudo em ti parou para me dares atenção. A tua vida palpitante de trabalho e movimento próprios do dia a dia de uma grande cidade, acalma progressivamente, neste momento. São seis horas da tarde. O perfil exótico das ramagens dos mamoeiros dos quintais, esbatem-se no azul escuro dos céus, enquanto o dever cumprido se estampa no  rosto dos que procuram o lar.                            

Lá em baixo, na Marginal, as folhagens das palmeiras reais murmuram segredos que ninguém sabe traduzir. As luzes da cidade espalham-se na baía. Os automóveis, mais parecendo pirilampos gigantes, rasgam as tuas ruas com a luz dos faróis. O dia cai, Luanda! A calma das noites tropicais convida aos sentimentos quentes de afetos.

   XÊ  LUANDA! . . .        VOCÊ  É  MESMO  A  MINHA  TERRA