sexta-feira, 16 de maio de 2025

 

Teologices Bíblicas

 

Diz a Bíblica, logo no comecinho, Génesis I 25, que Deus fez os animais viventes segundo a sua espécie (evidente! Não iria fazer dos já mortos e sem espécie) e os animais domésticos etc., e depois criou o homem à sua imagem, varão e fêmea ... mandou-os crescer e multiplicar-se, encher a terra, sujeitá-la e dominar todos os peixes e aves e amimais que se movem.

Isto foram uns indivíduos que escreveram, sobre um tal Deus inventado quando ninguém lá estava para verificar a veracidade do tão fantástico acontecimento.

Mas esses primeiros escritores não dominavam talvez nem a fala quanto mais a escrita, como Machado de Assis, Camões, Fernando Pessoa, Goethe, Dante, etc., ou mais para trás como Homero ou Hesíodo, porque isto começa com afirmações muito esdrúxulas, que vamos tentar analisar.

1.- Deus fez os animais viventes! Já haveria animais mortos? Por que viventes? Porque não escreveram simplesmente “Deus fez os animais”?

2.- Segunda a sua espécie: Não dá para saber se haveria só uma espécie ou aquilo era uma ribaldaria onde todos se misturavam. O que significa a afirmação “segundo a sua espécie”? Vou ter que consultar um zoólogo?

3.- Criou o homem à sua imagem. Isto não passa de uma elegante metáfora que algumas religiões teimam em aceitar como verdade, quando ninguém tem a mais mínima (talvez ... menor...) ideia de como era, e é, a imagem de Deus. Mas vamos em frente. Deixemos o Deus, um velho barbado e o Adão um jovem! Não faz sentido, como nada no Génesis.

4.- Sujeitai a terra:  Assim, desde sempre, o crente bíblico arrasa a terra e nem toma conhecimento do meio ambiente. Precisava sujeitar a terra, quando ainda se consegue ver, já dificilmente, que a terra não sujeita é a saudável, que preserva animais, plantas, etc.? O que dizer dos milhões de toneladas de plástico nos oceanos?

E a poluição de rios e mananciais de água? E da destruição das florestas? E... etc.?

5.- Dominai todos os peixes, aves e animais que se movem. Esta afirmação é muito grave, porque parece que Deus não sabia que o homem haveria de aniquilar milhares de espécies de peixes, de aves e outros animais moventes (safaram-se os tetraplégicos?)

Que dizer quando se assiste a ver cada vez com mais violência e intensidade dizimar a fauna marítima aves, e outros ainda viventes ou pouco sobreviventes?

 

Aqui entra a segunda parte deste problema.

Primeiro ninguém sabe quais seriam os animais domésticos, porque, pelo que consta, os animais domésticos começaram a ser domesticados pelos homens no Neolítico, há uns 15.00o anos (As testemunhas de Jeová dizem que Deus criou o homem há uns 4 a 5.000. ????  Mas com base n conhecimento, então que animais domésticos Deus criou? Estranho, né?

Depois o homem, o único animal que mata somente por matar, e desde tempos, imemoriais com uma bestialidade inconcebível. Hoje gasta mais em material de guerra e de destruição do que em saúde e alimentação mundial.

O homem é o único que mata possivelmente até por prazer. Assassina a mulher ou o marido, que até cortam em pedaços e guardam no congelador (para quê), estupram-se crianças que depois se matam, desfazem quimicamente ou à paulada milhões de filhos que ainda estão a crescer no ventre das mães (e, pasmem, com o beneplácito de leis assassinas!), as guerras só no século XX mataram centenas de milhões de subalternos pelo macabro prazer de alguns “chefes” pelo poder, e isso continua até hoje.

E os peixes, matam-se dentro da mesma espécie, ou só matam o que caçam para se alimentarem? E os pássaros? Alguém já vi naquelas revoadas de milhares de pássaros, todos da mesma espécie, brigarem entre si? E numa manada de bovinos, eles brigam? Numa alcateia, numa manada de antílopes, zebras, símios, etc.? Lutam sim alguns machos na altura dos cios, porque sempre querem transmitir à sua espécie as características dos mais fortes.

Então podemos concluir, com mentalidade de criança que diz o que pensa sem se preocupar com os que escutam:

- Segundo os escribas da Bíblica (que tanto se venera ainda hoje), Deus iria criar um homem à sua semelhança sabendo (onisciente) que ele viveria matando o seu semelhante durante milênios, e ainda não aprendeu que o Éden pode ser aqui mesmo desde que nos comportemos como os animais domésticos ou selvagens.

Será que alguém contou que “a vida na terra começa com dois homens e um mata logo o outro” (assim mesmo tendo deixado milhares de descendentes diretos) ? Caim depois de matar Abel deu o fora e foi fundar uma cidade. Teve tanto filho assim, ou o Génesis está mal escrito?

Parece que a Bíblia menciona especificamente que Adão e Eva tiveram três filhos: Caim, Abel e Sete. No entanto, a tradição judaica e outras interpretações mencionam que Adão e Eva tiveram muitos mais filhos, incluindo outros homens e mulheres, chegando a números como 60, sendo 33 homens e 27 mulheres. Boa parideira a Eva, hein! E Caim? Só consta um filho chamado Enoque, segundo a narrativa bíblica em Gênesis. Enoque, por sua vez, teve outros filhos e filhas, mas o texto bíblico não especifica quantos. A Bíblia menciona que Caim construiu uma cidade e a chamou pelo nome de Enoque, seu filho. 

Construir uma cidade para um só filho, nem os príncipes sauditas!

Complicado, mas mais ainda quando escreveram os escribas há talvez quase 3.000 anos, que Deus viu todas as coisa que tinha feito e eram muito boas.

Ótimas. O Homo Sapiens terá uns 200.000 anos. Mais ou menos. E há alguém em sã consciência que diga que isto está muito bom, com usinas e bombas atómicas, inveja e ganância em ritmo crescente, com indústrias farmacêuticas a aterrorizarem o mundo com uma pandemia lançada para matar velhinhos e novos e crianças, para depois virem dizer que se enganaram com as vacinas que mataram mais um monte de gente, e não contentes com isso continuaram a convencer os oito bilhões -8.000.000.000 -  de babacas, que precisavam desinfetar as mãos com Gel–Alcool 70, que além de não ter 70 de nada tem 80% de água, 20% de emulsionante e 10% de álcool, e que esse gel é ótimo para fixar bactérias na pele? Mais outro crime que meteu muitos bilhões nos bolsos dos vigaristas.

Que mundo é este meu Deus, se é que Dus está em algum lugar assistindo ao descalabro que, segundo a Bíblica Ele criou?

Baseados nestas aberrações ainda os homens se dividiram em religiões que se matam com fervor, traições, etc.

Alguém está realmente satisfeito por pertencer a essa calamidade bíblica, descendendo desse varão e fêmea que o que melhor sabe fazer é matar?

Não seria melhor que tivessem ficado na Terra só os animais “domésticos” e selvagens?

 

13/05/25

quarta-feira, 7 de maio de 2025

 Continuação


CALOTEIROS  *  II

 

Continuemos com mais uns caloteiros que, parece, sumiram já da minha vista. Guardo os “acidentes” financeiros, porque ainda hoje tenho vontade de lhes dar uns sopapos, de preferência em frente da família... deles.

 

IV

Definindo o pilantra: político desde nascença, deputado, tendo chegado a substituir o governador na ausência deste por ser presidente da Assembleia Legislativa, menos uns 5 a 6 anos do que eu (eu, que na ocasião, como hoje, matando cachorro a grito ou pouco menos), depois de ter assinado, com os restantes comparsas, que cada deputado não podia utilizar mais do que uma viatura e respetivo motorista (assim se chamam os carros que são nossos e eles usam e abusam), o sujeito, tinha ao seu serviço, que eu vi, contei e os próprios motoristas me confirmaram, cinco – 5 – carros, aliás, viaturas! Um para ele, outro para a mamãe dele, um para a esposa dele, e mais um para cada uma das duas filhinhas dele irem e voltarem do colégio (na faixa dos 12 aninhos).

Estava a mudar para um apartamento (imenso, novo) deixando o “velho” num bairro chique, encomendou-me uma mesa de som, daquelas cafonas, cheias de aparelhos e luzinhas coloridas que piscam com o ritmo, que foi devidamente construída e instalada no novo lar e fez sucesso.

Um dia, sexa, disse-me para ir eu ao apê anterior, onde já não moravam, mas ainda estava cheio de coisas, moveis, etc., ver ou buscar não sei já o quê. Não precisei de gritar “Abre-te Sésamo”, que em português deveria ser “Abre-te Gergelim”, porque o porteiro, instruído pelo patrão, abriu a porta. Entrei para buscar o “?” e tive ocasião de me deparar com o covil dos ladrões; o meu espanto foi igual ao do Ali Babá ao ver as riquezas acumuladas! Num dos quartos teria uns 20 ou 30 tapetes persas e franceses, ainda enrolados, aguardando o transbordo para o novo apê/palacete, e ao lado umas oito a dez caixas, caixotes, de louça de Limoges. O ouro não estava à vista, mas as pratas estavam empilhadas em outro cómodo.

Cumpri a missão que ali me levara e comentei depois com o cliente:

- Lindos tapetes, e que louças magníficas.

- Isso são tudo coisas que me oferecem! Já nem sei onde guardar tanta coisa,

Coitado. Olhem o póbrema deli! Arrisquei, com ar de brincadeirinha:

- Se o sr. quiser eu possa guardar alguns tapetes.

Sorriu com ar alarve e nada disse.

A seguir lembrei-lhe que faltava pagar-me a última parcela do obra que fiz, além das visitas técnicas que tanto eu como o meu filho Luis fizemos diversas vezes à sua nova casa, porque as mininas não sabiam mexer naquilo e já tinham avariado vários equipamentos.

- Eu nada lhe devo!

- Deve sim. O saldo da mesa de som e as visitas que temos feito. Tenho-lhe mandado sempre nota de tudo. Deve-me ainda o equivalente a US$ 200,00. (Penso que era esse o valor, mas... já lá vão uns 40 anos...)

O sujeito levanta a voz:

- Não lhe devo nada.

- Deve sim. US$ 200,00

- Se insistir nessa teimosia vou mandar o meu irmão a sua casa. Ele é o inspetor chefe do Imposto de Renda... (já nem sei o que seria) e vamos ver quem ganha.

- Pode mandar o seu irmão e mais quantos inspetores quiser. Se ele encontrar alguma coisa errada pode multar, expropriar os bens, que se resumam a 7 ou 8 camas, porque os meus filhos dormem em camas, meia dúzia de cadeiras um ou duas mesas e o fogão da cozinha. Eu até hoje ainda não aprendi a roubar nem explorar ninguém.

O besta ficou vermelho, mandou que me expulsassem do gabinete (gabinete de presidente dessa assembleia de ...), ao que lhe disse que não precisava, que sabia onde era a porta. Mas à saída virei para trás e ainda lhe disse:

- O sr. é milionário, mas um dia vai pagar-me isto. Nem que seja um cêntimo, mas pagará.

Não pagou.

Fui agora procurar o nome dele na Internet, que foi fácil encontrar, cheio de referências políticas, sem nada ter feito pelo país. Não posso dizer o nome dele. Já bateu as botas.

Também não posso dizer que a terra lhe seja leve. É melhor pesada e com laje votiva em cima.

 

V

Mais um, talvez o último, porque não adianta chorar em cima do vinho derramado... e não bebido.

Este um comerciante de origem libanesa, loja enorme na 25 de Março de São Paulo, só vendia meias. Aos milhares.

Milionário, um palacete imenso no bairro mais caro, o Morumbi, no meio de um terreno enorme, garagem para dez ou mais caros, enfim, um muitíssimo bem sucedido comerciante, com a loja sempre cheia de compradores de todo o lado que carregavam caixas de meias.

Não se chamava Hassan nem Efrahim, mas era algo desse tipo.

Para casa dele fiz também uma espampanante mesa de som.

Enquanto negociámos foi sempre atencioso, recebeu-me em sua casa onde tomei um café árabe, que devo dizer apreciei.

Foi pagando a entrada, a segunda parcela, depois quis trocar um dos aparelhos de som por outro importado, bem mais caro e... aí começou o póbrema.

Quando fui à loja para receber o saldo que era relativamente pequeno (ainda lembro, uns US$ 150,00) o meieiro... reclamou que já me tinha pago!

- Não pagou. - Paguei. - Não pagou ... e a conversa azedou.

Rápida discussão no meio da loja, sempre cheia e clientes e empregados, o caloteiro a querer ridicularizar-me perante todos aqueles espectadores, alguns já com aparente vontade para correrem comigo da loja.

Não gostei. Aproximei-me da mesa dele, no centro da imensa loja para ver que ninguém o roubava (!), olhei-o bem nos olhos e, com voz macia só lhe disse:

- Sr. “x”, não precisa me pagar. Esses 150 dólares devem fazer-lhe falta para aumentar o luxo do Morumbi. Boa tarde.

Frase muito bonita, mas, ainda dessa vez fui roubado.

Não aumentei os meus luxos, nem deixei de viver.

06/05/25 


terça-feira, 29 de abril de 2025

 Há mais de 3 meses que nada escrevo neste blog. Outros escritos mais  importantes me ocuparam.
Vou ver se agora escrevo, enquanto tiver disposição para isso, uns apontamentos autobiográficos, por capítulos.
Este primeiro, que segue, é sobre CALOTEIROS.

FLASHS BIOGRÁFICOS

de

Francisco Gomes de Amorim

 

Muitos amigos/as me têm sugerido que escreva as minhas memórias. Não. Já não tenho nem tempo, nem disposição para me meter numa andanças dessas.

No entanto decidi que poderia ir escrevendo alguma coisa. Nada de ordem cronológica como “nasceu em tantos do tal, era um bebé bonitinho e gordinho, etc.” mas vou dividir estas memórias por capítulos, independente de tempo e cronologia.

E faço-o porque pouco mais do que isso tenho para fazer e não penso em escrever mais biografia nenhuma de quem quer que seja.

Assim o primeiro capítulo ou bloco vai-se chamar

 

OS CALOTEIROS

É verdade, teve alguns pilantras que não me pagaram o que deviam, e só um deles era vigarista pobre ou desempregado. A maioria foi de corruptos milionários.

 

I

Luanda Aí talvez em 1964 fui, com a família toda a Portugal (tinha direito a férias) e encantei-me com um imponente Jaguar, usado, bem em destaque numa loja de carros usados.

Carro imponente, Jaguar XK VII, chamado até o Rolls Royce dos pobres, forrado a couro vermelho, uma lindeza, em perfeitas condições, porque tinha pertencido ao diretor da representação da marca, que havia falecido e a família não queria mais aquela máquina. Custo barato US$ 1.000,00, o equivalente na altura a Esc. 23.500,00.

Carro antigo estacionado na grama

O conteúdo gerado por IA pode estar incorreto.

Levei para Angola. Não era carro para ir trabalhar todos os dias e a verdadeira dona foi a minha mulher, baixinha, quase sumia dentro daquele carrão ao ponto de um dia um amigo me ter telefonado a dizer que tinha visto o carro ir direitinho para casa, mas sem ninguém dentro! Ela mal chegava para ver pelo para-brisa, e assim mesmo só por baixo do volante!

Tivemos esse carro uns poucos anos e um dia, um “cara” conhecido não me largava: queria comprar aquele carro. Eu sabia que o sujeito não era de muito boas contas, mas pensei que se ele pagar pelo menos metade... já não choraria.

Levou o carro por 33.000$ 00 pagando metade no fim do mês e a 2ª metade 30 dias depois.

São passados, hoje, uns 55 a 60 anos e ainda não recebi sequer a tal “primeira metade”! Fui idiota, claro; não lhe devia ter entregado o carro antes de ter recebido os primeiros 50%!

Não lembro o nome dele nem me faz falta. O dinheiro faz sempre.

 

II

Quando, ao fim de meia dúzia de anos no Brasil consegui entender como é possível viver sem ser na miséria, isto é, sem pagar aquela montoeira de impostos que nos levam todo o lucro do muito trabalho que se tem, comecei a ter dinheiro para viver em ser no sufoco e não ficar aterrado pensando num amanhã incerto com uma mão cheia e filhos para alimentar e educar.

Comecei a trabalhar com as cafonas “mesas de som” cheias de aparelhos bonitos, alguns até caros, que davam um lucro confortável, e outras instalações profissionais de som, em boates, quarteis, hospitais, hotéis, escritórios, etc.

O maior calote que levei foi até muito interessante.

Chamado para fazer um projeto de instalação de som numa grande Base Aérea, em SP, fui recebido pelo comandante que me mostrou tudo quanto queria ver feito: microfone na Administração para transmitir ordens gerais, altifalantes nos corredores dos alojamentos, nas salas de aulas, o mesmo devia ser previsto a partir da sala do comandante, etc. Obra grande e complexa.

Por fim apresenta-me um major, chefe da Secretaria, a quem devia remeter o projeto e a proposta.

Some o comandante, o major dá-me um cartão dele, com seguinte recomendação:

- Antes de mandar o orçamento, telefone para mim, para minha casa, a dizer-me o valor.

Já achei que havia moscambilha (ler trapaça, quem quiser).

No dia seguinte depois de fazer todos os cálculos de equipamento, mão de obra, deslocações de pessoal, etc. telefono ao tal major. À noite, para casa dele, como é óbvio.

- Quanto deu o total? Perguntou, voraz o major.

- 1,5 milhões em ORTN (o sofisma para aguentar o valor contra uma desvalorização absurda na altura, isto aí por 1989 (nesse ano a inflação ultrapassou 1.700 %, quer acreditem ou não, e diz a Internet que a moeda era “cruzado novo”)

- Olhe pode passar o valor para 3 milhões!

Eu nem ouvi bem o que ele disse, tal o absurdo.

 - Quanto???

- 3 milhões !!!!!!!!!!!!!!!

- Oh! Major! Eu vou fazer a obra, equipamento, mão de obra, impostos, etc., e peço 1,5 e o senhor quer outro tanto para si ???

- É.

- Então eu vou pôr mais outro milhão e meio para mim!

 - Pode pôr.

- Pagamento: /12 na confirmação da proposta e a outra metade na entrega da obra.

- Tudo bem, - diz o major como se estivesse a comprar um copo de água!

Elaborei a proposta por 4,5 milhões. Atenção; sempre baseando o pagamento em ORTN, e fiquei convencido que ia ganhar uma graninha extra.

Fizemos tudo direitinho mas o primeiro pagamento não havia meio de sair. O tal major enrolava, enrolava, porque transferia da conta da FAB para a dele, em vez de ser para a minha e ganhou muito com a desvalorização.

Quando finalmente liquidou tudo, eu recebi, com a desvalorização, ainda menos do que esperava com a primeira proposta. Quer dizer: perdi dinheiro!

Não fui lá dar uns tapas no major nem fazer queixa ao comandante, porque entretanto estive em Portugal a tratar de florestas!

A isto chama-se idiota. Eu.

 

III

Entre 77 e 80 trabalhei para uma empresa (fabriqueta) no Rio, que pertencia ao Prof. Gonçalves de Proença, um ex-ministro do Salazar, fugido também para o Brasil pós 25/4. Ele montou uma fábrica/oficina de móveis e objetos de decoração, com um ótimo técnico português igualmente refugiado, depois que lhe assaltaram a oficina em Lisboa.

Faltava o “braço” comercial e através de conhecimentos diversos o prof. entregou-me os clientes de São Paulo e eu ganhava 10%. Tinha pouco trabalho, aceitei!

Logo com as primeiras encomendas vi que o acabamento era excelente, mas as proporções erradas!!!
Tive que medir cadeiras, mesas de centro, de jantar, laterais, camas, abajures chiquérrimos, etc. e pedir depois ao filho Chico que desenhasse tudo em tamanho pequeno, com base nas medidas que lhe entreguei, o que ele fez num instante e, além de ter modificado tudo na fábrica, fiquei com um ótimo documento de vendas, porque os cliente podiam saber o que fazíamos.

O prof, quando amainou um pouco a revolução bolchevista em Portugal para lá regressou e entregou a firma ao técnico, meu amigo Fernando Silva e a mim!

Consegui dar um forte impulso às vendas, mas, burro e emigrante inexperiente, pagava demasiados impostos e não dava para folgar, tanto mais que eu vivia em São Paulo. Saía de casa, na velha e ótima Variant de 1969, às 3 horas da manhã para estar na fábrica antes das 7.

Isto durou quase dois anos, até que entreguei tudo a um novo sócio e... dei o fora.

Mas entre muita coisa que vendia, eu mesmo carregava tudo na nossa Kombi (minha) e fazia a entrega aos clientes de SP, além de levar cadeiras por estofar que o fazia em casa, com a minha mulher, trabalhinho perfeito.

(Estofámos talvez mais de 300 cadeiras!)

Mas, outra vez, ia dizendo que vendi uma mesa de centro em tubo de latão e tampo de vidro para um cliente. Pagamento 50% no pedido e 50% 30 dd.

Na entrega ele e a sua madama foram muito amáveis, receberam-me em casa, elogiaram o trabalho deram-me um cafezinho, etc. Quando fui receber o saldo, o “gajo” já não me mandou subir; que eu esperasse na entrada do prédio. !!!??? Estranhei. Aqui tem caso!

Lá desceu, um boa noite seco e começa logo a dizer que a mulher passava o tempo todo a reclamar porque tinha que limpar o latão que escurecia.

- É verdade, escurece, mais ainda em áreas de maior poluição como é este bairro. Mas tem Mil e uma maneiras de o limpar, deixando-o novo, e depois, durante o dia proteja-o com uma pano.

O cara depois insistir na reclamação e de não se ter interessado pelos doutos conselhos, disse logo não ia pagar o que devia.

Aí eu não gostei.

Mirei bem nos olhos dele:

- Sr. “x”, nós vendemos para as melhoras lojas de São Paulo, casas de gente de muito dinheiro, jamais alguém tomou semelhante atitude ou mesmo reclamou. Sabiam o que era latão. O sr. está a roubar-me, mas não se preocupe, não vou chamar a polícia nem lhe vou dar um tapa na cara porque nem isso merece. Não vou empobrecer, mas vou dar-lhe mais dois conselhos: um, atire a mesa pela janela e sua mulher cala a boca, ou atire-a a ela, o segundo, não apareça mais na minha frente porque eu não vou gostar.

O babaca estava lívido... com medo que eu lhe desse um tapa no focinho, coisa que nunca fiz a ninguém.

E saí. Sem o pagamento, mas aliviado por ter dado tão bons “conselhos” ao miserável.

O porteiro do prédio, ali a uma meia dúzia de metros estava lívido. E ficou.

 N.- A continuar

29/04/25

domingo, 19 de janeiro de 2025

 

O Lobo Mau e os 3 Porquinhos

Era uma vez... Não, já por várias vezes, sempre pelo mundo fora desde que a humanidade entrou na sua fase mais destrutiva e a que se deu o nome de Homo Sapiens, por eles, nós, aprendemos rapidinho a destruir tudo que aparecesse pela frente.

Mas esta é mais uma história à la George Orwell, e qualquer semelhança com a realidade hodierna, não é coincidência. É história.

Todos sabem que os Três Porquinhos, no original, representam o povo, o povinho, humilde e desprotegido. Neste caso são “figuras importantes”!

Fábula de que se não sabe a origem - Contos de Fadas Celtas? Ésopo? -  mas que ficou na cultura talvez de todo o mundo (exceto Coreia do Norte?) divulgada que foi por Joseph Jacobs em 1853. Consta até que já se contava essa historinha no século X.

A verdade, se é que verdade existe, é que continuam, por todo o lado, muitos porquinhos a viver mal, ameaçados por maus, péssimos lobos, que por sua vez sabem que acima deles há uma foça maior que os pode derrubar se eles não cumprirem ordens que vêm lá do “alto”.

Nesta história mudamos os nomes dos porquinhos até porque ninguém sabe como eles se chamavam no tempo de Etelredo, rei da Inglaterra no ano 1000; estes são atuais.

Porquinhos espertos, artistas, mas sem representação popular, tipo puxa saco construíram casas de todo o tipo, interessaram-se por artes, adotaram nomes das cores com que pintaram suas casas, e nunca mais pensaram nos outros porcos que de entrada punham neles a esperança de se verem livres de maus lobos e de deuses enraivecidos.

Um deles construiu a casa perto da costa, chamou-se Azul, como o mar; o segundo, mais dentro da floresta, o Verde, e o terceiro numa capina, plana, muito sol, Branco.

O Lobo Mau, bem gostaria que lhe chamassem o rei da matilha e adotou o nome, inglês, de King Cefalop, o “Mau”, mas temia algo superior, chamado Camulus, nome que ouvira (?) aos celtas, alguma coisa a que mais tarde se definiu na Bíblia, como Tzevaot, o Deus da Guerra, mesmo que em outras línguas tenha outro nome, como Xandaot, mas sempre a mesma incógnita, o mesmo poder de vida e de morte sobre qualquer ser vivente.

O lobo, King Cefalop, era psicopata, sociopata, sonhava perpetuar-se como King, mas sempre à sombra do medo que Tzevaot lhe fazia, podendo tirar-lhe o poder terreno.

Para agradar ao seu deus King Cefalop fazia guerra aos mais indefesos, e de muitas maneiras.

Roubava tudo quanto podia, exigia tributos absurdos mas, esperto, precisou de três capangas para executar a sua maldade, ameaçando-os com a destruição de sus casas e até com a hipótese os comer.

E assim obrigava os Três porquinhos a lhe fornecerem alimentação, sempre boa. Cordeiros, perdizes, vitelos, que pacificamente pastavam nos prados onde morava o Azul, que há tarde se deliciava vendo os bandos de patos que voavam por cima da sua cabeça irem aterrar num lago no meio da campina, lagosta, ostras, vieiras, camarão grande, peixe fresco que o Branco tinha que lhe arranjar, queixando-se em segredo às brancas ondas do mar 1que vinham quase lavar-lhe os pés (as patas!), e o Verde, sentindo-se senhor das florestas e montanhas onde habitavam os grandes animais como búfalos e elefantes, explorava também outros infelizes para dali obter verduras saudáveis, como trufas, alho poró, espargos, pupunha. Nenhum trabalhava diretamente. Todos tinham subalternos que obedeciam, para que os Três não levassem desaforo para casa, ou perdessem tão elevada posição...

Cantava assim o king Cefalop:

- Estou muito contente, na boa festança, sempre bons petiscos para encher a minha pança!

Uma voz grave ouviu-se ressuou:

- E o que bebes? Também é o Verde que fornece?

- É. Ele esmaga umas frutinhas que dão um líquido muito bom, e chamam-lhe PerMank, Rotxil, Bruto do Montalchin, Pedradus, etc. Até um que ele chama Castel Amargou.

- Ao almoço. E à janta?

Ah! A jenja também come e bebe tudo isto.

Era uma vida luxuosa e miserável que os porquinhos viviam, sempre ameaçados de perderem as suas casas, que se iam transformando em mansões, medo de perderem, os Três, o seu sossego, sem atinar como sair daquela tirania, com pavor à medida que satisfaziam as exigências do Cefalop, este absoluto escravo obedecendo ao deus Xandaot.

O deus dos Três era o deus do bem bom, do “não te preocupes, não te rales nem te entales”, mas a vida estava a tornar-se impossível para os outros milhares ou milhões de porcos, carneiros e restantes mamíferos que viam tudo degradar-se, sem encontrarem um líder que os conduzisse para a paz geral.

O Verde, o Branco, e o Azul, sectários do King Cefalop, iam vivendo bem, bem demais, mas lá no fundo sabiam que um dia o pau os ia comer...

Nesta difícil situação começaram algumas vozes a levantar-se contra a situação.

Quando chegavam aos ouvidos do deus Xandaot (este deus ouvia muito bem, coisa rara) logo essas vozes eram abafadas e os falantes ameaçados, maltratados, sem apoio perdiam até o que comer porque lhes era retirado o espaço de pastagem!

A natureza tem o seu modo de reagir. Nada é a correr. Os mais desprezados começaram a movimentar-se e do meio deles saíram uns jovens porcos, carneiros e até mulas, cavalos e bois, que, em reunião supersecreta estabeleceram um plano.

“Temos que correr com o king cefalop das nossas terras e passarmos também a adorar outro deus que não este feroz e imoral xandaot.”

Aplauso na reunião.

“Mas quem assume a liderança?”

Dois respeitados idosos, que assistiam à reunião aconselharam:

“Nós lutámos muito quando jovens. Hoje não temos mais condições; mas o caminho, para evitar assassinatos e outras mortes é juntar o maior número possível de todos os animais – o ideal seriam todos – e chamar para a reunião os Três covardes e que tragam o Cefalop. Nessa altura dizemos-lhes:

Não queremos mais a vossa presença em nossas terras.

Podeis trazer mais capangas para nos matarem.

Mas reparem, nós somos milhões!

Vão-nos matar a todos? Vocês serão esfolados vivos.

Cefalop tremeu. Ficou lívido. Teve um ataque e ali mesmo virou cadáver. Teve um AVC (naquele tempo conhecido como paulada na testa). Os Três covardes coloridos saíram de fininho da reunião e desapareceram com suas fortunas para muito longe.

E os velhos terminaram com esta solução:

Quem vai agora escolher aqueles que nos possam governar somos nós. Estamos pobres porque nos roubam tudo e nos ameaçam. Se algum novo escolhido se atrever a roubar nem que seja uma pequena palha, nós corremos com ele. E notem bem, a partir de agora, desacreditamos também o deus Xandaot. Ele que vá dar ordem no reino de Hades. Aqui... chega. Não mais nos ameaçará. Já escolhemos uma deusa. As fêmeas são mães, protetoras. Os machos são guerreiros. A nossa deusa a partir deste instante será Freya, associada à paz, harmonia e natureza, assim como à compaixão, beleza, magia e fertilidade.

Naquelas terras a harmonia voltou, Cefalop apagou-se, e Xandaot entrou no reino de Hades. Vai lá arder até ao fim dos tempos.

Oxalá!

O póbrema é, de acordo com Orwell, que sempre haverá uns porcos que são mais porcos que outros!

 

18/01/25